Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
Fonte de Sto. António: em jeito de comentário
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
Fonte de Santo António
Beira Baixa, 22-05-1948
Em S.
Vicente da Beira
A
Inauguração do Chafariz de Santo António
Com a presença do Sr. Dr. Augusto Duarte Beirão, Presidente
da nossa Câmara Municipal, dos vereadores Srs. Dr. João Frade Correia, Severino
Martinho e Armindo Carvalhão, e dos Chefes de Serviços Municipais, Srs. Eng.º
João Bayan e Salles Viana, teve lugar, no passado domingo, a inauguração
festiva do novo Chafariz de Sto. António – mais uma obra meritória com que a
Junta de Freguesia de S. Vicente da Beira dota a antiga vila que é sua sede.
Pelas 18 horas chegava aquela vila o Sr. Presidente da Câmara
com os vereadores e chefes de Serviços Municipais. Eram esperados por grande
multidão. Ouviram-se foguetes e o Hino Nacional tocado pela Filarmónica de S.
Vicente da Beira, muitos vivas a Salazar, a Carmona, ao Estado Novo e ao Sr.
Presidente da Câmara Municipal. As creanças das Escolas, acompanhadas pelas
suas professoras, Sras. DD. Maria Suzana Barroso Lopes, Maria Emília da
Conceição Reis e Maria Teresa Barroso Lopes, atiravam braçadas de flores aos
visitantes.
A Junta de Freguesia a que preside o nosso amigo e grande Vicentino
Sr. Manuel da Silva, acompanhado pelos vogais, srs. Prof. Artur Eugénio Couto e
João Prata e pelo regedor, sr. António Craveiro, apresenta as suas saudações e
a menina Maria Santa Reis oferece, em nome das escolas primárias, ao Sr.
Presidente da Câmara um encantador ramo de rosas.
Na recepção, verdadeiramente entusiasta, viam-se as pessoas
gradas de S. Vicente da Beira, lembrando-nos os nomes dos Srs. Major Jaime
Duarte da Fonseca Fabião, Alexandre da Cunha Pignatelli, Dr. José Figueiredo
Alves, Médico Municipal, Dr. Leonardo José de Sousa, antigo e querido médico de
S. Vicente da Beira, Emídio Gomes Barroso, José Pires Lourenço, etc., etc..
Depois dos cumprimentos dirigiram-se todos, em cortejo, para
a rua de S. Francisco onde se ia proceder à cerimónia de inauguração do
chafariz de Sto. António.
As ruas do percurso estavam ornamentadas com arcos de verdura
e flores e das janelas caíam vistosas colchas de damasco.
Procedeu-se seguidamente à cerimónia: o Sr. Presidente da
Câmara Municipal corta as fitas que vedavam a entrada do nicho onde se
localizou o chafariz que é encimado por um interessante painel de azulejos
representando uma das cenas da Vida de Sto. António. Ouvem-se muitas palmas e
de novo muitos foguetes e os acordes do Hino Nacional atordoam aquela atmosfera
alegre do povo que bem diz a obra meritória da sua Junta de Freguesia.
Tem lugar pouco depois a visita à Vila onde se destacam
muitos exemplares de arquitetura dos Séculos XVI a XVIII. Estiveram os
visitantes no Calvário, capela de Sto. António, antigo Convento dos Frades
Menores de São Francisco, no novo troço da Estrada Nacional e por fim no
Hospital da Santa Casa da Misericórdia onde os visitantes eram esperados pelos
Mesários, Srs. Manuel Joaquim Hortas, João Lino Lopes e João Ribeiro Robles e
onde o médico, Sr. Dr. Figueiredo Alves, prestou amàvelmente esclarecimentos
sobre o funcionamento e acção social daquela instituição de caridade, embora de
parcos recursos.
Na sede da Junta de Freguesia trataram os membros da Junta de
Freguesia com o Sr. Presidente da Câmara das necessidades da freguesia que se
resumem em: aumento dos caudais abastecedores de água, pavimentação das ruas e
largos, construção de um edifício para as escolas primárias, iluminação
eléctrica, construção da estrada municipal para a Partida, pelos Pereiros,
construção de um cemitério e de uma escola primária em Casal da Serra e ainda
no abastecimento de água às povoações da freguesia.
Junto à nova fonte tocou durante a tarde a Filarmónica de S.
Vicente e teve lugar um ramo onde se venderam muitas ofertas para custeamento
das despesas da festa.
O Rev.º Pe. Tomás da Conceição Ramalho, arcipreste de S.
Vicente da Beira, na impossibilidade, por motivo de doença, de comparecer na
recepção enviou um escrito com os seus cumprimentos aos Sr. Presidente e
Vareadores da Câmara Municipal.
Á tarde em casa do Sr. Presidente da Junta de Freguesia
realizou-se um banquete onde se trocaram muitas saudações, tendo as gentis
filhas do nosso amigo Sr. Manuel da Silva, Sras. DD. Maria do Rosário e Maria
Manuela cumulado de atenções todos os seus hóspedes.
A despedida foi muito afectuosa.
Sem indicação do autor/correspondente
Manteve-se a ortografia tal como vem no jornal
José Teodoro Prata
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
O nosso falar: trania
Estava eu há bocadito a explicar à minha mulher o meu plano de atividades para esta semana, quando de repente me saiu a palavra trania. Isto a propósito de 5 implantes que na quarta-feira me vão colocar, em locais onde já não tenho dentes. São 5 buchas de ferro, salvo erro, a implantar no osso, em 5 buracos espalhados por toda a boca.
Uma verdadeira trania, no exato sentido que a minha mãe lhe dava. É curioso que a palavra, além de ser uma corruptela de tirania, tem aqui quase um novo sentido. Por vezes os médicos avisam o doente que lhe vão fazer uma maldade, porque ele vai sofrer com o ato que eles vão praticar. Era sobretudo nesse sentido que a minha mãe usava trania. Mas tambéma a usava no sentido tortura, de sofrimento infringido a outro, por verdadeira maldade, como um psicopata ou um tirano que tortura os seus opositores.
Certamente vou sobreviver a esta trania, mas o resto
da semana já fico nos mínimos…
José Teodoro Prata
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
Luís
Diogo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 31 de outubro de 1892, numa casa
na rua de São Francisco. Era filho de Francisco Diogo Patrício, jornaleiro, e
Maria da Piedade Casimira, doméstica.
Assentou
praça em 12 de Julho de 1912 e foi incorporado, a 14 de Maio de 1913, no 2.º
Batalhão do Regimento de Infantaria 21.
Pronto
da escola de recruta em 28 de agosto de 1913, continuou no serviço efetivo por
mais um ano, desde o dia 29, e por mais um ano, desde 29 de Agosto de 1914, por
se achar nos termos do Artigo 214 do Código de Processo Criminal Militar.
Passou
ao Presídio Militar, em 5 de novembro de 1914, a fim de cumprir a pena que lhe
foi aplicada, por sentença de 8 de outubro. Libertado por ordem do Ministro da
Guerra, passou ao Regimento de Infantaria 21, em 15 de Julho de 1915, vindo a
domiciliar-se em São Vicente da Beira.
Foi
novamente mobilizado em 5 de maio de 1916, passando a fazer parte do CEP. Embarcou
para França, no dia 18 de janeiro de 1917, integrando a 6ª Companhia do 2º Batalhão
do 2.º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 547 e a placa de
identidade nº 36168. Na mesma altura embarcou também para França o seu irmão
João Diogo.
Do
seu boletim individual como militar do CEP e folha de matrícula constam as
seguintes ocorrências:
a)
Baixa
ao hospital, em 20 de abril de 1917; alta em 22;
b)
Baixa
ao hospital, no dia 6 de dezembro de 1917; alta em 27 do mesmo mês;
c)
Passagem
ao quadro da 1.ª Brigada de Infantaria, em 20/12/1917;
d)
Vários
castigos, por ter faltado à formatura e apresentar-se muitas horas mais tarde;
e)
Nove
meses de prisão militar, por insubordinação;
f)
Por
ordem de 29/12/1918, foi castigado com trinta dias de prisão correcional, por
ter vendido uma bicicleta que não lhe pertencia, alegando que a mesma era de
uma praça que se encontrava ausente, sem licença;
g)
Foi
considerado desertor a partir das onze horas do dia 31 de dezembro de 1918.
Passados
vários anos, em 3 de outubro de 1932, Luis Diogo apresentou-se voluntariamente,
tendo sido detido nas prisões do quartel. Em 6 de novembro do mesmo ano, o
Tribunal Territorial de Viseu absolveu-o do crime de deserção e, tendo sido
posto em liberdade, veio domiciliar-se novamente em São Vicente da Beira.
Passou
à reserva territorial em 31 de dezembro de 1933.
Condecorações:
Medalha Militar de cobre pela participação na Grande Guerra.
Não
foi possível obter informações sobre a vida de Luís Diogo posteriores à
passagem à reserva. No seu registo de batismo também não constam quaisquer
informações sobre um possível casamento ou a data e local da sua morte.
Maria
Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
segunda-feira, 26 de agosto de 2024
A fonte da Praça
Jornal Beira Baixa, 25-08-1947
S. Vicente da Beira
Conforme noticiamos realizou-se no passado dia 15 a
inauguração da «Fonte de S. João de Brito» nesta antiga vila.
A festa decorreu com desusado brilho prolongando-se até de
madrugada.
A inauguração da Fonte realizou-se às 19 horas, sendo
presenciada por muito povo que em sinal de regosijo aplaudiu brilhantemente a
Junta de Freguesia.
Ao ar subiram muitos foguetes e a Filarmónica tocou vários
números do seu reportório. Á noite durante o arraial que decorreu muito animado
queimou-se muito fogo de artifício.
Na sessão solene que se realizou na Secretaria da Junta de
Freguesia foram descerrados os retratos do Presidente da República e do Chefe
do Governo. Usaram da palavra o Presidente da Junta sr. Manuel da Silva, DR.
José Alves de Figueiredo, sr. José Pires Lourenço, Prof. Artur Couto,
Tesoureiro da Igreja e por último o rev.º P.e Tomás da Conceição Ramalho.
É digno de nota um episódio que ocorreu na noite de 13 para
14.
Foram encontrados pelo Presidente da Junta de Freguesia na
nova fonte, sobre uma coluna de pedra uns versos alusivos a esta inauguração e
que pela sua originalidade a seguir transcrevemos:
(Ler o poema, na imagem abaixo)
Ignorava-se, pois. o seu autor. Porém, pelo seu discurso, sem
que o pressentisse, ele revelou-se, e sabe-se agora ser o sr. José Pires
Lourenço.
Esperamos que a Junta
de Freguesia auxiliada pelos poderes públicos possa dor’ávante prosseguir no
seu plano de melhoramentos.
C.
Nota: transcreveu-se a notícia tal como foi publicada no jornal.
A fonte ocupava o canto sudeste da Praça e adivinha-se no centro da foto, lá atrás, entre o pelourinho e o coreto.
José Teodoro Prata
sábado, 24 de agosto de 2024
Os figos
Começou a temporada dos figos. Os meus estão excelentes para comer (muito carnudos e sumarentos), mas difícieis de secar. A causa do positivo e do negativo foi a chuva abundante na primavera e início do verão, na nossa Gardunha, que fez com que o ribeiro secasse um mês mais tarde do que é habitual (no início de agosto, mas ainda persistem uns charquitos de água).
As figueiras armazenaram muita água, que agora usam em abundância para fazer os figos.
Esta semana, expliquei ao meu vizinho David a importância, para os nossos antepassados, das passas que se comiam no outono-inverno. Hoje há mais fartura, mas penso que é importante manter estes hábitos ancestrais, devido à riqueza alimentar que nos proporcionam.
Acho que não o convenci a ir fazer passas, nem tenho a pretenção de conseguir convencer quem vier a este blogue. Mas é triste ver, por estes dias, tantas figueiras tapeteadas com figos secos, sabendo que, em alternativa, as pessoas vão comer alimentos bem menos saudáveis.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
A frescura do Pisco
Barragem do Pisco, ontem, no
crepúsculo do anoitecer.
Apetece citar Sérgio Godinho:
«Ai, eu estive quase morto
No deserto
E o porto
Aqui tão perto»
Foto do
Francisco Barroso