quarta-feira, 19 de abril de 2017

O guião do amor

MORTE MATRIS

Disseram-me que faleceste,
Mãe!
Venho pela estrada, veloz,
Anseio fútil.
Coração a saltar do peito,
Com uma súplica nos lábios,
Prece inútil!
Já estás, inerte, deitada no teu leito
E não proferes qualquer palavra,
Quando tanto precisava,
Nesta minha angustiada hora!
Ao despedir-me de ti, da última vez,
Ainda te vi o sorriso e a luz branca do olhar!
E, decerto, ainda me iludo agora,
Pois pareces tão calma e serena!
Porém, como o rigor dessa quietude
Te roubou a suavidade
Da frágil linha da tua face amena.
Estás tão terrificamente imóvel,
Mãe!
Que te fez a realidade severa da morte,
Que te tornou o traço imperturbável
E o rosto tão estranho e reto?!
Ainda estás aqui comigo e já não te conheço,
Porque não mostras mais o jeito amável
Do antigo afeto.
Como vou eu suportar a vida
Desta punição profunda, perpétua, dura
E o sofrimento que tu me deixas,
Com esta ferida,
Sem o bálsamo da tua ternura?
No entanto,
Sei que me podes ouvir no etéreo ignoto,
Aos viventes não permitido.
Percebo que estás aí,
E, todavia, não sei em que lugar!
Mas pressinto-te!
Espera, dá-me a tua mão,
Ensina-me a andar,
Porque não sei o caminho.
Sim, guia-me pela estrada,
Como a ave ensina os filhos a voar ao sair do ninho.
Sempre o fizeste, como ninguém,
Com abnegação, trabalhos e dor!
Assim! Vês?!
A Morte não pode mais que o Amor,
Mãe!

Joaquim Benedito

3 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Comovente homenagem à MÃE.
Todos nós, tarde ou cedo, passamos pelos momentos de tão intenso amor aqui descritos em verso.

Anônimo disse...

Com três letrinhas apenas
Se escreve a palavra mãe
Que é das palavras pequenas
A maior que a gente tem

Quantas canseiras, quantos cuidados, quantos sacrifícios passam as mães para criar os filhos.
Velhinhas e sem força, ainda se preocupam com os filhos, netos... Rezando por eles, pedindo ao Senhor que os ampare e proteja.
J.M.S

Anônimo disse...

Fosse eu poeta e seria assim que, ainda hoje, falaria da dor imensa que foi a morte da minha mãe (do meu pai também). Primeiro a esperança de que não fosse verdade (mãe não morre nunca!); depois o confronto com a realidade que ainda parecia ser um sonho mau. E a falta que me tem feito neste meu caminhar pela vida.
Sendo pouco crente na eternidade que nos apregoam, é a crença de que ela está em qualquer lado, sob que forma for, que tantas vezes me tem alumiado o caminho.

M. L. Ferreira