Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quarta-feira, 20 de maio de 2020
domingo, 17 de maio de 2020
Biodiversidade
A revista National Geographic deste maio de 2020 traz um estudo sobre os insetos.
São dela as duas imagens que se seguem, resultantes de recolhas de insetos, na mesma região da Alemanha, em 1989 e 2016, usando o mesmo método de captura.
O 1.º copo é de 1989 e o 2.º de 2016. Entre estes dois anos, registou-se, naquela região, uma diminuição de 76% da biomassa de insetos.
Segundo li há uns tempos, no Alqueva deslocam abelhas entre olivais, para fazerem a polinização das oliveiras, uma vez que a monocultura intensiva da oliveira destruiu o habitat dos insetos.
Segundo os autores deste estudo, as causas de tão drástica descida da população de insetos serão as alterações climáticas, o uso de pesticidas e a destruição dos habitat naturais.
A propósito de pesticidas, ainda não percebi porque é que os nossos autarcas teimam em pulverizar as ruas das nossas terras com pesticidas, várias vezes por ano.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 14 de maio de 2020
Os Sanvicentinos na Grande Guerra
Carlos Moreira
Carlos Moreira nasceu em São Vicente da
Beira no dia 10 de novembro de 1892. Era filho de Francisco Moreira, criado de
servir, e Perpétua Maria, residentes na rua do Convento.
Assentou praça em 12 de julho de 1912
e, presente no Regimento de Infantaria 21, foi incorporado no 2.º Batalhão, no
dia 14 de janeiro de 1913.
Foi licenciado em 1 de maio de 1913,
por ter concluído a instrução da recruta, e regressou à terra. Nessa altura,
era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Foi novamente convocado em setembro
desse ano, mas não se apresentou na sua unidade dentro do prazo estabelecido,
possivelmente porque já teria mudado a residência para Águeda e não terá
recebido a convocatória atempadamente. Por este facto foi acusado do crime de
deserção. Na sua folha de matrícula, não é referida a data em que se apresentou,
nem a punição que sofreu, pelo que pode significar que foi ilibado.
Em 24 de maio de 1915, passou ao
Regimento de Infantaria n.º 28, de Águeda.
Voltou a ser convocado em 17 de abril
de 1916, e foi mobilizado para a província de Moçambique, para onde seguiu em
24 de junho integrado na 3ª Expedição enviada para aquele território. Terá
participado nas operações que tinham como objetivo ultrapassar as margens do
rio Rovuma, para norte, e ocupar alguns postos que estavam na posse dos
alemães.
Regressou à Metrópole em agosto de 1918,
e desembarcou em Lisboa no dia 5 de outubro. Após ter sido licenciado, em 1 de
julho de 1919, regressou a Águeda onde ficou a residir.
Passou ao Regimento de Infantaria de
Reserva n.º 28, em 31 de dezembro de 1922, à reserva ativa, em 31 de dezembro
de 1926, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1933.
Condecorações:
· Medalha de cobre
comemorativa das campanhas em Moçambique.
Família:
Carlos Moreira casou com Ângela
Madeira, na Conservatória do Registo Civil de Águeda, no dia 10 de outubro de
1925. O casal viveu na Borralha, onde Carlos Moreira trabalhava como motorista
e feitor do Conde. Foi lá que lhes nasceram os dois filhos que tiveram:
1.
João Moreira, que faleceu com 11 anos de idade;
2.
Maria de Fátima Moreira, que casou com Ângelo Miranda e tiveram duas
filhas.
Vinha frequentemente à terra, principalmente quando
tinha que conduzir o Conde da Borralha nas suas deslocações a S. Vicente da
Beira. Um dos sobrinhos, Albino Moreira, lembra-se desses tempos e conta que «era uma alegria para a família quando ele cá
chegava. E então para nós, os sobrinhos, estávamos sempre desertos que ele cá
viesse porque nos “convidava” sempre a todos com vinte e cinco tostões. Era
dinheiro, naquele tempo; e se nós já éramos muitos!...». Durante muitos
anos veio também com a mulher e os filhos, mas, a pouco e pouco, à medida que
foram morrendo os familiares mais próximos, os contactos foram rareando.
Sobre o tempo da guerra, a filha Maria de Fátima
diz que se lembra de o ouvir contar que «… passaram
por lá muitos maus bocados, principalmente por causa da fome e da sede. Muitas
vezes o que lhes valia era a água da chuva que ficava nas poças que as patas dos
elefantes deixavam no chão».
Quem o conheceu, diz que era um homem bom,
trabalhador e muito generoso. Carlos Moreira faleceu no dia 14 de junho de
1975. Tinha 82 anos.
(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria de
Fátima Moreira e do sobrinho Albino Moreira)
Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
domingo, 10 de maio de 2020
Os Sanvicentinos na Grande Guerra
Bernardo da
Cruz
Bernardo da Cruz nasceu no Casal da Serra, a 1 de dezembro de 1894. Era filho de Bartolomeu Cruz e Anna de Jesus, esta natural de Alcongosta.
Bernardo da Cruz nasceu no Casal da Serra, a 1 de dezembro de 1894. Era filho de Bartolomeu Cruz e Anna de Jesus, esta natural de Alcongosta.
Segundo a
sua folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro quando
se alistou em 9 de julho de 1914. Ficou pronto da recruta no dia 12 de maio de
1915 e foi licenciado nesse mesmo dia, indo domiciliar-se no Casal da Serra.
Apresentou-se
novamente em 1916 e, fazendo parte do CEP, embarcou para França no dia 21 de janeiro
de 1917, integrado na 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria
21, como soldado com o n.º 379 e a placa de identidade n.º 8872-A.
Do seu
boletim individual e folha de matrícula militar consta o seguinte:
a) Baixa ao
hospital, em Março de 1917, onde permaneceu por quatro dias;
b) Em Junho,
ficou adido junto do Quartel-General da 1.ª Divisão, onde prestou serviço até
Fevereiro de 1918. Seguiu depois para a sua Unidade, onde chegou no dia 9 desse
mês;
c) Em Abril,
foi colocado no Batalhão de Infantaria 11, 1.ª Companhia. Talvez por esta
mudança de batalhão, terá sido um dos poucos vicentinos a participar na batalha
de La Lyz, que ocorreu no dia nove desse mês;
d) Em três
de Maio, foi internado na ambulância n.º 6, onde permaneceu cinco dias. Foi
dado como incapaz e ficou a aguardar o repatriamento, aprovado nos termos da
circular 475/11 de 25/05 /1918.
e) Embarcou
para Portugal, a bordo do navio Gil Eanes, e chegou a Lisboa no dia 23 de Julho
de 1918.
Condecorações:
· Medalha
Militar de cobre com a legenda: França 1917-1918;
· Medalha
da Vitória.
O seu
boletim individual do CEP não o refere, mas, de acordo com a relação dos militares
que participaram no raide de 9 de março de 1918, apresentada em "A Covilhã e a I
Grande Guerra 1914/1918", Bernardo Cruz também participou no referido raide e
deve, por isso, ter sido louvado.
Quando
chegou à terra, vinha ainda convalescente dos ferimentos e bastante perturbado
pelos gases e traumas de guerra. Apesar disso, ainda foi castigado por faltar à
inspeção no ano de 1921, tendo sido considerado ausente e sem domicílio
conhecido. Passou à reserva ativa, em 1928, e em 1931 foi considerado incapaz.
Em 1939, foi internado no Asilo de Inválidos Militares Princesa Maria Benedita,
em Runa, de onde saiu em 1945, por vontade própria.
Na sua folha
de matrícula constam ainda alguns castigos durante este período de internamento
psiquiátrico:
a) Punido
pelo comandante do asilo, em fevereiro de 1942, com privação de vinho por 30
dias, por levar para fora do refeitório a ração de manteiga que lhe estava
atribuída e tentar vendê-la a outros internados;
b) Punido
com 15 dias de detenção, porque tendo-lhe sido chamada a atenção por um seu
superior, por o não ter cumprimentado militarmente, tomou a rigorosa posição de
sentido e, com ar de troça, fez e desfez a continência 2 vezes, perguntando, no
fim, ao superior se estava satisfeito;
c) Punido
com 5 dias de prisão disciplinar, por não ter cumprido prontamente a ordem de
formatura para a 2.ª refeição, dizendo que não estava ali para isso.
Terá posteriormente
sido internado na Casa de Saúde do Telhal, onde passou o resto da vida. Ainda
recebeu a visita de alguns familiares, mas nunca mais voltou à terra.
Dizem que
era uma pessoa muito religiosa e, durante o tempo em que permaneceu no Casal da
Serra, passava os dias a ensinar a doutrina às crianças. Quando elas aprendiam
bem as orações, até lhes dava umas moedas para comprarem rebuçados. Também há
quem diga que foi ele que ofereceu a Sagrada Família que, durante muitos anos,
andou de casa em casa, no Casal da Serra.
Bernardo
Cruz faleceu na freguesia do Algueirão, no dia 22 de janeiro 1970.
(Pesquisa
feita com a colaboração de vários moradores do Casal da Serra)
Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
quarta-feira, 6 de maio de 2020
A Pneumónica
Já aqui publicámos artigos sobre a pneumónica de 1918-19, na freguesia de São Vicente da Beira (para consultar, escrever Pneumónica na janela da esquerda, ao alto). A revista VISÃO História deste mês é totalmente dedicada às pestes e epidemias que atingiram Portugal, desde a fundação.
Aqui deixa algumas informações:
Aqui deixa algumas informações:
Como escrevi antes, Castelo Branco foi dos distritos mais atingidos.
José Teodoro Prata
domingo, 3 de maio de 2020
Com um abraço!
Este confinamento físico a que estou obrigada está a
deixar-me macambúzia e a limitar-me também em termos psicológicos. Como não
consigo escrever nada, valho-me da capacidade criativa alheia e tenho andado a
ler alguns livros que já li há muito tempo ou fui deixando para trás. Nos
últimos dias voltei ao Mário Zambujal e, em «HISTÓRIAS DO FIM DA RUA» encontrei
uma passagem que me fez lembrar uma história publicada neste blogue (28 maio de
2013), uma das que mais gosto do livro «DOS ENXIDROS AOS CASAIS…».
A do Mário Zambujal, aqui fica também:
«Alguém falou aí no nome de Julião Galo? Respeito e a
máxima consideração em tudo o que disserem, fazem favor. Favor é como quem diz,
obrigação. Nesta rua passou muita gente boa, do melhor, mas homem como o Julião
Galo, meu amigo, irmão, nem procurando com uma candeia ou mesmo holofote. Tipo
mais completo ninguém conheceu, nas quatro partidas do mundo, não desfazendo no
distinto pessoal. A mim ensinou-me ele a tocar concertina. E sabia ele tocar
concertina? Não Senhor. Então, como? Muito simplesmente: assobiando. Quem não o
ouviu pode chorar-se, pouca sorte, nunca em dia nenhum há-de escutar um artista
assobiando assim. As modas todas. Davam-nas na telefonia, apanhava logo. E
depois tocando-as melhor, mais perfeição só com os beicinhos dele. Grande
homem. Qual violino, qual clarinete! Ao pé do assobio do Julião Galo, todo o
instrumento soava desafinado e fanhoso. E sem se cansar, de manhã à noite,
tirando os retratos ou encostado na porta da loja. Comprei a concertina, nem
arranhar sabia. E as músicas? Nada. Então ele afinca-se à minha beira, vá lá
esta Geraldo, agora aquela, o Geraldo no assobio e eu dando aos dedos, a ver se
engatava no tom, as voltinhas todas. Custoso. Aquilo não era homem, um pássaro.
E apertando comigo, só mais uma vez, olha que linda valsa, noites e dias, até
ser quem sou de concertina nas unhas. A ele o devo.
Deixou fama em toda a freguesia. Punha-se a assobiar e
calava as conversas, escutavam-no como a um bispo. As senhoras em especial,
verdade se diga. Não há esses das Índias que tocando flauta encantam as cobras?
Assim ele com o mulheril: pareciam periquitos atrás da alpista. E o Julião
afinadinho, a caprichar, apreciando os olhos delas na boca dele.
Foi assim o caso com dona Lucinda, sua esposa, mão do
Vitorino Francisco, inda cá anda. Fotografia Recordação. Complicado. Porque
dona Lucinda, anteriormente, encontrava-se casada com Arménio Fagolas, da
serração. Tipo decente, por acaso. Mas também o Julião e a dona Lucinda. Culpa
ninguém teve. Começou por ela: deu em prender-se ao assobio, vá de janela mal
lhe zunia no ouvido à espera. Tango hoje, valsa amanhã, rumbas, fox-trotes, à
mistura com olhares e fosquinhas, é o que dá: Julião ardendo pela ouvinte,
pedaço de mulher, respeitosamente, e vice-versa. Tanto se encegueiraram,
acontece o natural de acontecer nestas conformidades: fugiram. Sem malandrice
ou menos vergonha – gostavam, gostavam, resiste-se a tudo menos ao bom. Trouxa
às costas e aí vão, ele assobiando, ela toda ouvidos.
Quem rabiscou o seu bocado foi o Fagolas, temos de
compreender. Até me apareceu, a mim!, pedindo e teimando: «Geraldo, saímos à
busca deles.» E eu disse: «Agora, assobia-lhe às botas.»
Depressa se lhe gastou a pena, daí a nada pendurou-se no
rico braço da menina Salustiana, bem servido. Mas por causa das moscas, o
Julião e a sua senhora tardaram um ano a voltar para a rua. Sorte eu já ter
aprendido os segredos da concertina.»
Com um abraço!
M. L. Ferreira
sexta-feira, 1 de maio de 2020
Maio
Como um a vez ouvi na Antena 2: Ponham o volume no máximo, abram as janelas e desfrutem!
Do álbum Cantigas do Maio, com arranjos de José Mário Branco
José Teodoro Prata
Do álbum Cantigas do Maio, com arranjos de José Mário Branco
José Teodoro Prata
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