quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Um São José de azulejo

(…) Pensamento dá-me uma dica; neste momento nada me ocorre…
Vai ao teu arquivo fotográfico e fala sobre as imagens de azulejo que decoram muitas casas da tua terra.
- Deste-me uma ideia genial, vai-me dar algum trabalho vasculhar, mas penso que irá valer a pena.
- Essas representações são painéis de religiosidade e devoção popular e servem, julgo eu, para protecção da família que habita a casa. Se no painel está uma imagem de São José, com certeza quem o mandou colocar chamava-se José: pode ser Pedro, João, António…


Sendo assim; começo pelo São Jorge. Segundo reza a tradição, São Jorge foi um soldado romano que viveu no tempo do imperador Dioclesiano, também foi padre; o que lhe valeu o martírio. Estamos habituados a vê-lo montado num cavalo, espada em riste matando o dragão que simboliza satanás; desde o tempo do nosso rei D. João I que é o patrono do exército português, também é dos escoteiros, quem introduziu o culto foram os soldados ingleses. Os primeiros reis de Portugal quando andavam em guerra, gritavam: Santiaaago… o problema era quando os exércitos de Castela e Portugal se defrontavam, os dois a pedirem a protecção ao santo, já viram a confusão, devia apanhar cada afronta!
- Diria: a minha sede está na Galiza, mas o portuga também é filho de Deus. Não queria estar na pele dele. Os nossos reis resolveram a situação adoptando o São Jorge, desta maneira Santiago deixou de ter problemas de consciência…
- Adiante; era tanta a fé no São Jorge que o santo condestável dizia que a batalha de Aljubarrota foi ganha graças a ele. Por influência inglesa ou pela fé, o rei D. João I substituiu Santiago pelo São Jorge.
- Terminaste?
- Acho que escrevi o essencial.
- Volta ao teu arquivo e descobre mais um painel de azulejos, conta também a história resumida da imagem.
- Numa casa ao lado encontra-se um painel que representa São João Baptista.
- Pensamento; repara na beleza, um São Joãozinho muito ternurento tendo por companhia um lindo e manso cordeiro, conta um pouco da história deste santo.
- Passou uma grande parte da sua vida no deserto, alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre, era um asceta. Um dia resolveu aparecer e começou a pregar, tinha muitos seguidores e baptizava no rio Jordão. Certo dia, estava baptizando, ao longe avista uma pessoa, era Jesus. 


Quando se aproximou disse-lhe: João baptiza-me… Senhor, eu não sou digno de desatar as tuas sandálias.
- Baptiza-me.
- Eu te baptizo…
- O rei Herodes mais tarde mandou-o degolar. É o São João das fogueiras, dos folguedos.

- Os lares querem-se abençoados, guardados, protegidos; dificilmente entra o maligno nesta habitação.



- O Menino não tem medo de nada, está protegido pelos braços fortes do pai. Cresce em sabedoria e força.
- Jesus, dá-me a serra para cortar esta tábua; pega na vassoura e varre a oficina.
- Jesus, anda para a praça brincar à espada lua.
- Agora não; estou ajudar o meu pai.
- Jesus: diga mãezinha;- vai à fonte buscar um jarro de água para fazer a ceia
- Assim que acabar de varrer a oficina do pai, vou logo.
- Não te demores; passa pela loja e compra um litro de petróleo.
- Ó pai, deixa-me aplainar esta tábua! Para que queres tu aplainar a tábua! Para fazer um banquinho.
- Essa não, pega antes esta. A plaina corre ligeira, tornando lisa a madeira, Jesus transpira, martela e o banco começa a tomar forma.
José, Maria e Jesus; família modelo. Tinha 33 anos quando o crucificaram numa cruz.

- António santo, de Jesus querido, valha-nos sempre o vosso patrocínio:-cantava-mos na sua capela durante a trezena. Santo casamenteiro, português, tinha um carinho muito grande para com o Menino, ainda hoje lhe confiam os animais para que os guarde e proteja.


- Que achas da ideia?
- Genial, não sei que seria de mim sem a tua ajuda. Também não é necessário exagerar. É verdade; se não fosses tu abrires as portas à minha memória…

- Não precisa de apresentação; o nosso São Vicente foi um mártir. Temos o privilégio de guardarmos na igreja paroquial um pedaço do seu queixo oferecido por D. Afonso Henriques.

                                    
Homem rude, forte, valente. Segue-me, a partir de agora vou fazer-te pescador de homens. Desde já te aviso, antes que o galo cante três vezes tu vais negar-me.
- Eu mestre, nunca.
- Nunca diga nunca.
- Perdoa-me Senhor.
- Simão, és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, o que ligares na terra será ligado no céu, o que desligares na terra será desligado no céu.


Terra de Santa Maria, Senhora da Conceição nossa padroeira e rainha, mãe carinhosa, bondosa, salvé santa mãe de Deus, avé ó cheia de graça o Senhor é contigo, bendito o fruto do teu ventre…


A treze de Maio, na Cova da Iria… Não há português no mundo que não conheça a história da Senhora de Fátima. Não tenhais medo, eu sou a Senhora do Rosário. Vocemecês não a viram? É uma Senhora muito bonita, mais brilhante que o sol, o seu brilho não nos ofusca, seu sorriso é doce, sua voz meiga…


Ó anjo da minha guarda, ó meu doce companhia, guarda minha alma noite e dia… é uma oração do meu tempo de criança, que minha mãe me ensinou. Todos temos um ser celestial que o Pai nos cedeu para nos guiar, ajudar, orientar e guardar, não o vemos, mas ele acompanha-nos. É ou não é verdade Pensamento! Podes crer.



J.M.S





José Teodoro Prata

3 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Quem diria que há tantos painéis de azulejos, em São Vicente? E, segundo o autor, não estão aqui todos!
Acrescentei a Amália, que fica sempre bem e neste caso ainda melhor.

Anônimo disse...

Aqui há tempos, a propósito da publicação “ Alminhas!”, o Pedro Gama Inácio desafiou-me a fazer o levantamento das imagens dos santos das nossas devoções e encontramos em muitas paredes das nossas casas. Achei que era uma boa ideia, por várias razões, mas devolvi-lhe o desafio porque, disse-lhe, já vai sendo tempo de ele começar a escrever e a partilhar connosco o muito que sabe sobre a nossa terra.
Mas ainda bem que foi o J.M.S. a ter a iniciativa! Sobre estes temas de santos, e não só, não há ninguém que lhe ganhe.
A propósito de santos, ouvi hoje nos “Sinais” da TSF uma cantiga bem interessante à Santa Bárbara (uma das nossas mais queridas). Chama-se “Santa Barborinha Bendita” e deve ter sido recolhida para os lados da Idanha porque o acompanhamento musical é de adufes, e o modo de cantar é bem à moda raiana.

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Foi uma interessante ideia esta de fotografar e publicar a azulejaria dos santos protetores das casas!
Se virmos cada santo em seu lugar, não temos este efeito de conjunto que lembra um "album".
As ideias simples de trabalhar com o que está à nossa frente, são muitas vezes as melhores!
Esta questão dos santos e das suas histórias é, por vezes, complexa.Sobretudo quando há vários santos com o mesmo nome. Só nos Doze Apóstolos, havia 2 Judas (o Tadeu e o Iscariotes), 2 Tiagos (um, filho de Zebedeu e o outro de Alfeu), 2 Simões (o chamado Pedro e o Zelote ou Cananeu).
Nos azulejos aparece S. João Batista, mais popular, mas não esqueçamos S. João Evangelista, outro dos Doze (irmão de Tiago, ambos filhos de Zebedeu) e que se crê ser um dos autores do Evangelho. Portanto, se assim for, ele foi uma testemunha ocular dos acontecimentos. Daí o seu nome.
Mas de histórias de santos percebe o JMS, que se tem revelado um verdadeiro hagiógrafo.
ML Ferreira, também ouvi o programa "Sinais" na TSF e a dita música, cerca das 08:50 h., rubrica de Fernando Alves, esse excecional jornalista (que, digo eu, faz "jornalismo poético").

Abraços.
ZB