(…) Vou dar-te uma ideia, só a
aceitas se achares que te pode servir
-Diz ó Pensamento.
Não sei como se tem portado a
Memória, se já cedeu alguma coisa ou continua amuada sem abrir mão do quer que
seja.
-Mesmo que me abra algum
armário para me ceder algo, prefiro a tua ideia, não estou satisfeito com a
atitude que anda a ter comigo, portanto…
Sei que és um defensor
acérrimo da tua Pátria natal e pensei…
-Onde queres chegar com esta
conversa?
Passo a explicar; a tua vila
tem umas quadras muito bonitas que podias esmiuçar e começam assim:
Ó meu São Vicente amado
Tu és banhado pela ribeira
Tu és a terra mais linda
Para nós tu és a primeira
Cada verso teria uma
fotografia para enfeitar o ramalhete, queres experimentar?
-Vamos a isso.
Ó meu São Vicente amado
Tu és banhado pela ribeira
A tua paisagem é deslumbrante,
verdejante, por todo o lado jorram fontes, os regatos cantarolam de pedrinha em
pedrinha para se irem juntar à ribeira tornando-a mais forte, és o nosso rio
temeroso, caudaloso no inverno, bazofeiro no verão. Teu leito resume-se a
alguns poços onde os aldeões colocam mangueiras para levar a água aos terrenos
ressequidos, no teu leito corre um pequeno fio de água, mesmo assim és bela.
Não tens castelo é verdade; não
precisaste nunca de muralhas. Os antepassados diziam: Nossos guardadores,
vigilantes, estão sempre de atalaia, são os santos da nossa devoção. Santa
Bárbara no campo, São Domingos no cimo da vila, Santo André no fundo da vila, e
a Senhora da Orada na serra. Querem melhor!
Infelizmente as capelas de São
Domingos, Santo André há muito que desapareceram, ficou o nome. A Santa Bárbara
foi obrigada a mudar de local, como ficava a meio caminho entre o Sobral e São
Vicente no dia da sua festa as duas comunidades não se entendiam lá muito bem.
Santa Bárbara é nossa; diziam
os sobralenses. Isso é que era bom, a santinha é nossa retorquiam os
vicentinos. O padre da vila aconselha as autoridades a tirarem a imagem da
ermida. Anos mais tarde novo templo se ergueu no Casal. A ermida encontrava-se
dentro dos limites de São Vicente. Então; amigos…
Não tinhas castelo! Não é
verdade, situava-se no alto da serra, qual atalaia altaneira, o inimigo a
léguas de distância já se vislumbrava. Há muito que ruiu, mesmo assim quem visitar
o local descobre com facilidade bocados de panos da muralha.
Sem qualquer favor,
salamaleque ou rapapé.
Nesta casa estudei; ó meu São Vicente amado.
Dando
continuidade ao assunto em questão, digo:
Ó vila de São Vicente
Duas coisas te dão graça
É o
relógio a torre
E o pelourinho na praça
Diria mais:
Ó vila de São Vicente
É alegre
Religiosa
É uma vila formosa.
E pronto.
E pronto.
J.M.S
3 comentários:
Uma bela viagem para matar saudades, esta, ó JMS! Ao mesmo tempo que ias dizendo os nossos versos, acrescentando fotografias e, de certeza, trauteando a música, tudo enquanto escrevias!
És um sentimentalão por esta terra! Ainda há muitos. Felizmente!
Às vezes ponho-me a pensar naquela questão que é a de saber como é que houve pessoas de S. Vicente que conseguiram cortar definitivamente com as suas origens! Não ter memória é quase...desumano! Por isso, não creio que essas pessoas tenham perdido o passado. Apenas, por alguma razão, devem resistir melhor às saudades! Só um exemplo: o que é feito do João Passaião que já não vejo há 50 anos?!
Abraços.
Zé Barroso
É realmente um belo postal ilustrado da nossa terra, como já o fora o trabalho sobre os painéis de azulejos.
Enquanto andei por lá, uns quarenta anos, lembrava-me muitas vezes desta quadra que o Zé Manel aqui tão bem ilustra. Lembrava-me também, frequentemente, duma cantiga que, a dada altura, diz: “ Ai quem nasceu lá por Castelo Branco, não é feliz noutra terra…”. Grande verdade!
E tinha razão o Francisco Barroso quando chamou a este blogue “A nossa Praça”. Um ponto de encontro de amigos, presentes e passados. O João Passaião e tantos outros que, ausentes por diferentes razões, continuam sempre entre nós.
Belos exercícios de memória, os do Zé Barroso!
M. L. Ferreira
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