quinta-feira, 21 de julho de 2016

Lugares aonde se torna - 10

A mulher do próximo

Juro que não a cobicei! – mandamento é sagrado, do primeiro ao décimo, e nessa matéria, para mim, é comer e calar. Mas não é questão de cobiça o que segue, é outra coisa.

Contextualizando: Verão, calor, praia, sardinhas, cerveja, petisco, menos roupa, corpinho escaldado, havaianas, bolas de berlim, ainda mais calor, a água está um caldo, cuidado com as bolas, respeitar o tempo da digestão, não tirar os olhos dos miúdos, ver as espanholas, cuidado com o peixe-aranha, banhistas cristãos e de outros credos exibindo criativas ou vulgares tatuagens, as filas na ida e na volta.

Nós, o grupo do costume, é bola a abrir a jornada, café a seguir e vista de olhos nos jornais, eis que chegam as respectivas, aluguer dos chapéus e cadeiras, t-shirt fora, uma voltinha para estudar a evolução do fio dental e de caminho verificar se o Adão de peito depilado continua a ganhar terreno ao tradicional Adão peludo, por ali nos vamos entretendo, e tal, com comparências periódicas no poiso – os chapéus 8 a 10 de sempre e, este ano, também o 11, porque este Verão conseguimos trazer o pássaro esquivo, alguns de vocês conhecem, o Zé Miguel, foi uma surpresa e é uma grande alegria, como se percebe, e trazia a “legítima”, que nenhum de nós conhecia.

Mas, acontece que há um senão na coisa. De somenos, é verdade, mas desagradável; é do foro pessoal, mas no grupo de amigos, em que temos um padrão de convivência, uma medida para a felicidade, dói-nos quando alguém não se comporta como nós, na prática negando-se a ser feliz como nós. Explico: 30 graus celsius, a praia, a areia, o mergulho à vista, a temperatura a subir, 35 graus e mais, só um militar ou um recluso seriam capazes de conservar a t-shirt no corpo. E o nosso amigo pássaro esquivo também. Foi assim no primeiro dia, brincámos, exigimos, sugerimos jogar ao adivinha-e-despe, oferecemos dinheiro, e nada; seis dias passados, tudo igual nessa área. É com ele, está claro, mas enerva, todos dentro de água e ele não, todos de tronco nu a jogar às cartas, a lavrar a areia à procura de bivalves para o petisco ou de serviço ao churrasco, mas ele não. A coisa deixa-nos tristes, uma tristeza de cada um para si, mas generalizada ao elemento varonil, feminil e pueril – uma tristeza pegada!

Esta manhã decidimos avançar para a traição. A uma certa hora da manhã, o Zé Miguel e a respectiva costumam abandonar a posição 11 do nosso poiso colectivo, despedindo-se “à francesa”, vão dar uma volta, fazer o footing diário, por receita médica, no mínimo 5 quilómetros. Voltam duas horas depois, com o ar mais normal deste mundo. Hoje, dois de nós seguimos o casal, a uma distância prudente, eles na praia, os pezinhos dentro de água, nós no paredão que acompanha a linha das praias. Foi como suspeitávamos, ainda que inexplicável: umas centenas de metros andados, vimos o Zé Miguel tirar a bendita t-shirt, seguindo caminho de tronco nu, com evidente prazer. Ah, filho do meu pai, a coisa não podia ficar assim, havia que exigir explicações, que a amizade também é verdade e lealdade. Entrámos na areia, continuámos a caminhar paralelamente a eles, mais perto, cada vez mais perto do casal fugitivo. Foi quando se operou em nós o milagre da revelação.

Do lado direito da linha de cintura do Zé Miguel desenvolvia-se para cima, tatuada, uma moldura com palmo e picos de lado, tendo dentro, transposto, o rosto de uma mulher, tão bem tatuado que, a dois metros de distância, parecia a três dimensões, de altíssima qualidade gráfica. Seguiam de mão dada e nós a acompanhá-los, procedendo instintivamente às verificações ditadas pelas circunstâncias, da correspondência da mulher de carne e osso com a reprodução que o nosso amigo tinha à cintura – pelos vistos há homens capazes de se amarrar assim a um compromisso para toda a vida, gravando-o na própria carne para sempre. Senti crescer em mim a admiração pelo Zé Miguel.

Dois minutos depois, parámos e deixámo-los ir. Sem sabermos o que fazer quando voltássemos. Não fizemos nada, não comentámos com ninguém. A mulher que segurava a mão esquerda do nosso amigo não é a mesma da tatuagem.

Sebastião Baldaque

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A 2.ª praga

Depois do frio e da chuva fora de tempo, que inviabilizou a produção de fruta em muitas espécies de árvores, temos agora os javalis esfomeados (e brutamontes). 
Chegam a uma árvore com algum fruto ou mesmo nenhum (só a associação do cheiro a banquetes anteriores) e partem tudo!
Sei que os seus antepassados já cá andavam há milhões de anos, quando os nossos chegaram, mas...
Não há por aí um caçador a quem apeteça um pernil asado?
Vai ser um verão duro, para eles e para nós!


José Teodoro Prata

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Cultura, anos 80

            Andava eu procurando uns apontamentos “que ainda não achei”, quando encontro este folheto do Teatro Experimental de São Vicente. Divulga mais uma peça teatral, desta feita um auto do grande poeta e dramaturgo Gil Vicente: “Auto da Barca do Inferno”. O encenador foi o professor Francisco Barroso “já nessa altura tinha queda para a arte de Talma” O teatro Morcego de Coimbra editou um livro da sua autoria, “Assim Fala Zaratustra”, uma adaptação teatral do meu cunhado Francisco. A tiragem foi de 500 exemplares, teve o apoio do ministério da cultura e da câmara municipal de Coimbra… adiante.




            A partir de certa altura, o grupo fez uma parceria com o Sport Clube de São Vicente da Beira. Embora ligados, continuavam autónomos. Rapazes e raparigas talentosos entregavam-se com denodo à arte de representar: Cila; António Candeias; Edite, “faleceu tragicamente num acidente de viação”; António Esteves; Manuel Leitão; Tó Luís; Luzita…
          O barracão paroquial era o nosso centro cultural. Filmes, teatros, exposições, colóquios, casamentos, baptizados… nele se instalou “através do padre Branco” uma pequena indústria:- confecção de malhas; mais de vinte jovens raparigas trabalhavam nesse espaço, fazendo camisolas…
            Tem história o barracão. A missão para que foi criado há muito terminou, fica a memória de tantos eventos que lá ocorreram.
        Aproveitando a embalagem, no mesmo momento encontrei este folheto da primeira exposição organizada pelo GEGA e que o “barracão” acolheu. Desde trajes antigos, uma grafonola, pedras com inscrições, cantareira… alguns objectos eram propriedade do grupo, outros foram cedidos temporariamente por particulares. O entusiasmo, a alegria, a entrega e o empenho, que muitos de nós demos ao trabalho de por de pé este acontecimento, contagiou as pessoas. A RTP veio fazer uma reportagem sobre o evento, foi um sucesso!



J.M.S


Belos tempos, boas recordações e grande encenador o Francisco Barroso! Pegou num grupo de jovens com diferentes ocupações e capacidades académicas e conseguiu pô-los a representar o "Auto da Barca do Inferno" e "Frei  Luís de Sousa, fazer os adereços e os cenários, (o Tó Luís era um artisa). Fizemos um grande sucesso e chegámos a representar em aldeias próximas.
Aqui ficam fotos dos mesmos:


Barca do Anjo e do Diabo.(Eu, a Cila, o Paulo Inês (parvo), Tó "patrão", 
Edite, Manuel, Maria José Lobo e Zé Carvalho.


Numa saída ao Casal da Serra.
Maria da Luz Teodoro

sábado, 16 de julho de 2016

No pinhal

No início de 1964, fui contratado para ir trabalhar para um pinhal, na zona de Casegas, de um senhor chamado Bernardo, que tinha doze filhos. Na hora da refeição, até parecia uma boda, tal era o tamanho da mesa. Um dia jantei lá e a comida era batata cozida com farinheira. Todos comiam a pele da farinheira, mas eu não fui capaz. Para não dar parte de fraco, meti a pele no bolso.
            No fim do jantar, o patrão falou comigo para ir à Barroca Grande carregar uma carrada de pranchas. Fiquei todo feliz e contente por ir andar de camioneta. Carregámos o material e depois o filho do patrão levou-me até uma localidade chamada Cebolas, que hoje é São Jorge da Beira. Aqui chegados, disse-me que regressasse a pé, porque ele tinha de ir para o Fundão e não ficava em caminho.
            Como não conhecia nada para aqueles lados, fiquei muito preocupado e com muito receio de fazer aquele percurso de noite. Ele disse-me para seguir em frente, passar o cruzamento da Panasqueira e depois o cruzamento da Pampilhosa em direção a Cambões. E depois sempre em frente, até era perto. Ao todo, mais ou menos catorze quilómetros.
          Meti-me ao caminho, sempre a rezar para que Deus me ajudasse a fazer aquele percurso. Com muita dificuldade, consegui chegar ao destino, por volta das duas horas da manhã. Como não havia luz, entrei de gatas no palheiro, para me deitar no meio da palha, porque mantas ou outra coisa para me cobrir era o que não havia. Reparei que estava lá outro homem a dormir, um carvoeiro que andava a fazer carvão de torga nas florestas do patrão. Como estava muito frio, o homem foi simpático e disse-me para eu me encostar a ele, para me aquecer. Mas como tive medo, logo que vi que ele estava a dormir, pus-me a caminho do pinhal, porque era lá que tinha a merenda e a fome já era muita.
           Alguns dias depois, vi uma rapariga que andava guardar as cabras e me disse que tinha uma telefonia em casa, o que para mim era um milagre. Pedi-lhe se podia ir lá ouvir um bocadinho a telefonia. Ela disse que sim. Mas havia um problema. No caminho para casa dela, havia um ribeiro que levava muita água e não o conseguia atravessar. Pensei então em fazer um pontão e lá consegui ir ouvir a telefonia a casa da rapariga e passar lá o serão. Já noite dentro, tive medo de regressar e cair no ribeiro.  A rapariga disse-me que podia ir dormir no palheiro dos bois e deu-me uma manta para me agasalhar. Só que o frio e a fome eram tantos que resolvi voltar, mas, quando cheguei ao ribeiro, o pontão tinha abalado numa enxurrada. Lá tive de voltar novamente para o meio da palha dos bois. Logo de manhã, tive de contornar o ribeiro, andando cerca de quatro ou cinco quilómetros. Voltas e voltas que dei, até chegar onde tinha as minhas coisas.
          Passados uns dias, recebi um telegrama a comunicar-me para ir trabalhar para Lisboa. Fiquei muito feliz e fui logo falar com o patrão, para me pagar a semana de trabalho que tinha feito, o que me permitiu receber 240$00, ou seja, 40$00 por dia.
          Quando o patrão me pagou, estava lá um cigano que andava a vender machos ou mulas. Viu-me receber aquele dinheiro todo e disse-me que tinha de lhe pagar uma ou duas cervejas e que à noite íamos dormir juntos. Fiquei muito preocupado, porque o cigano até me chegou a ameaçar que pagava a bem ou a mal. Percebi logo que ele queria era roubar-me o dinheiro e então acabei por me esconder numa garagem. Fiquei lá sentado, sem cama e sem sono. Como não tinha relógio, ouvia o sino da igreja todas as horas, desde as dez da noite às três da madrugada. Como estava bastante frio, resolvi por-me a caminho, com os meus pertences que eram uma manta, o machado, a panela de ferro, batatas, feijão, garfo, azeite, sal e outras coisas. Ao fim de duas horas de caminhada, cheguei à Barroca Grande, onde apanhei a camioneta até ao cruzamento do Castelejo e depois a que vinha do Fundão para Castelo Branco.  Cheguei a São Vicente da Beira às sete da manhã, são e salvo e com o meu dinheirinho.
            Segui então para Lisboa, no dia seguinte, que era véspera de Carnaval.


Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Somos todos primos

Para quem é de fora, é difícil acreditar quando dizemos que, cá na terra, somos todos primos. Para nós, que crescemos com esta verdade, nem nos passa pela cabeça pô-la em causa.
Esta é a minha contribuição para provar que assim é. Recuei apenas à minha trisavó materna, Maria Castanheira, e, pelo número dos descendentes do seu segundo casamento até à minha geração, é fácil concluir que estaremos quase todos unidos por laços familiares mais ou menos próximos.    

Maria Castanheira nasceu no Souto da Casa no ano de 1844, filha de António Castanheira e Rosaria Maria da Costa Domingues.
Casou em 1865, com Lucas Martins, exposto na roda de Alpedrinha e dado a criar no Souto da Casa. Ela tinha vinte e um anos e ele quarenta e quatro.
Deviam ser boa gente e uma mulher e homem d’ armas, que pegaram na trouxa e vieram morar para S. Vicente. Viveram uns anos na Rua Nicolau Veloso, ela doméstica e ele criado, e aí lhes nasceram as duas primeiras filhas:

1 - Mariana (1865) que herdou o nome da madrinha, Mariana Robles Monteiro (é provável que o pai fosse criado daquela família). Casou com Joaquim António Craveiro e tiveram oito (?) filhos:

                        Francisco (1885)
                        Auta (?) (1887)
                        Álvaro (1888)
                        Patrocínia (1890)
                        António (1893)
                        Joaquim (1900)
                        Maria de Lurdes (1904)
                        Maria da Conceição (1905)

2 - Maria (1887) que terá morrido ainda criança.

Maria Castanheira e Lucas Martins mudaram-se para a Rua da Cruz e foi aí que lhes nasceu o terceiro filho:

3 - António (1872/1951) que casou no Souto da Casa com Josefa dos Santos.

(Deste ramo da família de Maria Castanheira descenderão os irmãos Craveiro, pelo que ficam aqui com muito trabalho para fazer...)

Maria Castanheira enviuvou de Lucas Martins em 1880 e casou com José Carvalho em Maio de 1881. José Carvalho, natural de Freixedo, Santa Comba Dão, tinha cinquenta anos e era também viúvo. Tiveram uma filha:

Maria da Conceição Carvalho, mais conhecida por Maria Carvalha (1882/1954). Foi uma das minhas bisavós e é a pessoa da família de quem tenho memórias mais remotas. Lembro-me dela na casa da rua Velha e a caminho da Oles, de saias rabudas e sempre de cesta enfiada no braço. Diz que era para apanhar as bostas com que estrumava a horta.
Casou aos dezassete anos com José Fernandes Trindade, de vinte e cinco, solteiro, cultivador, e tiveram cinco filhos:

Maria Carvalha (?) com alguns dos filhos e netos

1 - Maria do Rosário Carvalho (1901); diz que era parecida com a mãe no corpo, mas sobretudo no génio lutador e no amor pela sua Oles, onde via o dia a nascer e donde regressava já noite escura. No verão tinha a casa sempre cheia de netos, filhos e noras que todos os anos vinham passar férias, mas sobretudo ajudar nas hortas e na vindima.

Casou com José Fernandes Candeias, também ele um bom homem, trabalhador e amigo da família. Contam que um verão, só de imaginar que os filhos podiam estar a comer pão seco, passou o tempo todo a olhar para uma chouriça que a mulher lhe tinha posto na merenda que levou para o quinto, sem coragem de a comer. Quando voltou trazia-a inteira e comeram-na todos à ceia, uma talhadinha para cada um.

Maria do Rosário com o marido, no dia em que festejaram as Bodas de Ouro

Maria do Rosário e José Candeias tiveram sete filhos:

            João de Deus - Casou em primeiras núpcias com Deolinda Torres, com quem teve dois filhos: Teresa Candeias e Luís Candeias. Depois de enviuvar casou com Edite Pinto. Deste casamento não teve filhos. 

            Joaquim Fernandes Candeias - Casou com Ilda Saraiva, com quem teve três filhas: Luísa Maria Saraiva Fernandes Candeias (Alves) ;  Teresa Maria Saraiva Candeias (Rodrigues)  e Anabela Saraiva Candeias (de Assunção);
           
            Guilhermino Candeias - Casou com Maria de Jesus Candeias e tiveram tês filhos: João Manuel dos Santos Candeias, José Carlos dos Santos Candeias e Ana Paula dos Santos Candeias;
           
            Luís Candeias - Casou com Maria da Conceição e tiveram duas filhas; Filomena Candeias e Maria José Candeias;

            António Maria Candeias - Casou com Maria Augusta Vide  e tiveram dois filhos: Nuno Filipe Vide  Candeias e Maria Margarida Vide Candeias;

            Francisco Candeias - Casou com Lúcia Moura e tiveram dois filhos: Paulo José Moura Candeias e Carla Alexandra Moura Candeias;

            Maria José Candeias - Casou com José Afonso Reis e tiveram dois filhos. Ana Cristina Candeias Reis e Bruno Candeias Reis.
           
2 - Guilhermino Fernandes (1902) Um lindo homem, com um coração que não lhe cabia no peito. Quem queria, era vê-lo de charrua na mão ou à frente do carro de bois, sempre dum lado para o outro. Mas aos domingos, depois da missa, passava as tardes na sociedade com os amigos, e quando chegava a casa, noite alta e a cantar, tinha que ser algum dos filhos ou dos netos a descalçar-lhe as botas. A tocar os pratos, na banda, ninguém o igualava, sobretudo na alegria e gosto que tinha pela música.
Casou com Maria José dos Santos, uma santa mulher. Ouvi muitas vezes dizer que no tempo da guerra ajudou a dar de comer a muita gente; e no verão não era só o homem e os filhos que espreitavam a ver se já lá vinha ao fundo do caminho com o cesto da merenda à cabeça: havia sempre uma malga de sopa ou um prato de batatas ou feijões a mais para alguém que andasse ali por perto com fome. Para além dos muitos filhos que teve, ajudou também a criar alguns dos mais de trinta netos.

Guilhermino com o filho Joaquim

Guilhermino e Maria José tiveram nove filhos:

            Joaquim Fernandes - Casou com Maria Angelina e tiveram cinco filhos: Maria da Luz Fernandes, Maria José Fernandes, João Fernandes, José Manuel Fernandes e Maria do Carmo Fernandes;

            Maria da Luz dos Santos - Casou com Luís Moreira e tiveram quatro filhos: Maria Libânia S. Moreira, António S. Moreira, José Manuel S. Moreira e Maria José da Luz Moreira;

            Albertino Fernandes - Casou com Maria Ascensão Moreira e tiveram cinco filhos: José M. Fernandes, Luís M. Fernandes, Guilhermino M. Fernandes, Maria da Nazaré M. Fernandes Maria de Fátima M. Fernandes

            Maria Esmeralda Fernandes - Casou com Luís pinheiro e tiveram quatro filhos: Maria Manuela F. Pinheiro, José F. Pinheiro, Maria de Fátima F. Pinheiro e Cristina F. Pinheiro;

            Maria Libânia Fernandes (morreu ainda jovem);

            Maria Patrocínia Fernandes - Casou com António Tomé; não tiveram filhos;
            
Maria José Fernandes - Casou com João Jacinto e tiveram cinco filhos: António F. Jacinto, José F. Jacinto, Maria de Fátima F. Jacinto, Maia Teresa F. Jacinto e Manuel F. Jacinto;

            Maria Leonor Fernandes - Casou com João Caio e tiveram seis filhos: João F. Caio, José F. Caio, Maria de Fátima F. Caio, Luís F. Caio e Cristina F. Caio;

            Maria Adelaide Fernandes - Casou com Jaime Silva e tiveram três filhos: Isabel F. Silva, Pedro F. Silva e Cláudia F. Silva.

3 - Benevides Fernandes (1904) Um excelente homem, trabalhador e amigo de ajudar quem precisava. Dado à paródia, tinha sempre uma graça para tudo.
Em novo, ainda solteiro, trabalhou na agricultura e depois na construção dos caminhos de ferro. Casou com Maria Sabina Ramalho e abalaram para Lisboa onde a fama de artista como jardineiro o levou a trabalhar na casa de muita gente influente da sociedade lisboeta daquele tempo.

Benevides Fernandes

Benevides e Sabina tiveram um filho:

            João Fernandes - Casou com   Maria da Conceição Azevedo  e   tiveram um filho: João Fernandes.

4 - Maria de Jesus - Mulher meiga, generosa e sempre de sorriso nos lábio, mas também uma mulher de armas. Contam que numa noite de invernia lhe bateu à porta um homem a pedir alguma coisa de comer. Depois de lhe ter aconchegado a barriga e aquecido a roupa ensopada, reparou-lhe na falta de dedos numa das mãos; viu logo que era o Pistotira, que por aqueles tempos era o terror das gentes da Vila e arredores. Mandou um dos filhos, ainda criança, a chamar o pai à taberna do Arbotes, e foi assim que prenderam o malfeitor. Casou com José Maria Prata, primo direito, e tiveram seis filhos:

            António  Miguel Rodrigues - Casou com Maria Manuela Duarte e tiveram um filho-João Manuel  Duarte Rodrigues;

            João Maria Rodrigues - Casou com Maria Leonor  Duarte e tiveram dois filhos: Maria Fernanda Duarte Rodrigues e João Francisco Duarte Rodrigues;

            Maria Fernanda Rodrigues - Casou com Arnaldo Coutinho e tiveram duas filhas: Ana Cristina Rodrigues Coutinho e Carla Alexandra Rodrigues Coutinho;

            José Carvalho Prata – Não casou nem teve filhos


            Maria de Jesus  Prata - Casou com Miguel Hipólito Jerónimo e tiveram duas filhas: Carla Prata Jerónimo e Ana Margarida Prata Jerónimo;

            Miguel Carvalho Prata – Casou com Maria José Lourenço Prata e tiveram um filho: Luís Miguel Lourenço Prata.

5 - Maria dos Anjos (1907) - uma das pessoas mais generosas que conheci. Abalou cedo a servir para Lisboa, e por lá casou e ficou a viver. Na casa dela, pequenina, a porta estava sempre aberta e havia sempre lugar para mais uma cama ou um prato à mesa para quem precisasse. Raros foram os irmãos ou sobrinhos que não lhe tivessem batido à porta. E contava histórias como ninguém. Foi com ela que aprendi a Formiga Rabiga e a Cabra Cabrez.
Casou com Francisco Martins que com ela partilhava a generosidade e o amor à terra que adotou como sua. Nos últimos anos de vida já pouco cá vinham, mas, sempre que encontravam portador, mandavam visitas para toda a gente. Tiveram duas filhas:

            Liliana Martins - Casou com José  Rodrigues e tiveram dois filhos: José Rodrigues  e António Rodrigues; 

        Maria José Martins - Casou com António Pinheiro e tiveram dois filhos: Joana Martins Pinheiro e Gonçalo Marins Pinheiro.
           
Maria da Conceição Carvalho enviuvou de José Fernandes e casou com Joaquim Marques, do Louriçal do Campo, em 1914. Tiveram três filhos:

       Leonor de Jesus -  Casou com José Ramalho e tiveram um filho: João Ramalho – Teve dois filhos.

           Ana Marques - Casou com José (?) e tiveram  um filho: Vítor Carvalho que não teve filhos.

           João Marques – Lembro-me de o ver a subir a rua Nicolau Veloso, ao fim do dia, com as ferramentas de resineiro às costas. Lembro-me também que vivia em frente do Convento, numa casa que era o meu limite no avanço pelo Cimo de Vila. À janela estava sempre uma das filhas, com olhar estranho, os cabelos que nem palha, a balançar-se. O medo que aquilo me metia, a mim e às outras cachopitas da minha idade. Mesmo assim subíamos muitas vezes a rua e púnhamo-nos cá de baixo a fazer-lhe caretas. Ela ficava ainda mais agitada e arrepelava os cabelos, e nós fugíamos pela rua abaixo.
Ao longo da vida lembrei-me muitas vezes desta e doutras cenas, motivadas pelo medo, pela ignorância e por alguma crueldade própria da infância. Não lhes serviu de nada, mas muitas vezes dei comigo a abraçar os meus alunos e a pensar no mal que fiz a esta minha prima, ao Chalim, à Dita e a outras pessoas da nossa terra que nasceram diferentes, num tempo em que a deficiência era ainda entendida como qualquer coisa de demoníaco, da qual tínhamos que nos proteger. 
João Marques casou com Maria do Rosário e tiveram quatro filhos: Maria do Rosário Marques, Luís Marques, Isabel Marques e Maria da Luz Marques.
João Marques enviuvou e voltou a casar com Maria da Luz. Tiveram quatro filhos: Maria João Santos, Paula Marques, Maria dos Anjos Marques e Nuno Marques.

Maria Castanheira enviuvou de José Carvalho e casou com António Prata em 1884 (Este ramo da família de Maria Castanheira está referido em Prata 2 – Os avós mais novos). Contam que no dia do casamento, durante a troca de alianças, ela se terá atrapalhado por não saber em que dedo havia de a enfiar. Depois, para se desculpar, terá dito: «Também não é todos os dias que uma pessoa se casa…», ela que se tinha casado três vezes! O mais provável é nenhum dos noivos anteriores lhe ter oferecido uma aliança e ter usado uma emprestada no dia do casamento, como era vulgar naquele tempo.
Para além dos muitos filhos que teve, Maria Castanheira foi parteira e ajudou a nascer muitas crianças. Foi também ela que acareou e criou alguns dos meninos expostos na roda da Vila, ao cimo da rua da Cruz, onde morava.
Mulher de vida cheia e coração grande, terá sido dela que muitos dos filhos e netos herdaram as qualidades de que tantos de nós, seus descendentes, pudemos beneficiar.  

Nota: Esta pesquisa está em aberto, aguardando a contribuição de quem possa ajudar a corrigir alguma informação que não esteja correta, ou a acrescentar dados e documentos a que complementem. 

M. L. Ferreira

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Naturezas


O inseto era muito maior, mas, enquanto fui e voltei, ele partiu e chegou este.


Uma espécie de insetos fez ninho (casulo) numa caixa de persina.


Cocós: o resto da história.
O macho cuidou da fêmea, durante o choco, e dos primeiros filhos, ensinando-os a comer.
Depois, a cocó assumiu a educação dos filhos e ele entrou em depressão, 
sem saber o seu lugar na família.
Mas depressa recuperou e voltou a ser o machão de sempre: canta sem parar e pica nos filhos, arrogando-se no direito de ser o primeiro a comer.
Entretanto, a cocó recuperou as penas.
Durante o choco, esteve numa quase hibernação
e só uma semana depois é que as penas eclodiram.
Está toda bonita, já não parece o ET!

José Teodoro Prata

domingo, 10 de julho de 2016

A Justiça: sanções e controlo social

Dispõe a comunidade (Partida) de várias sanções sociais que influenciam e controlam o comportamento dos seus membros.
Há uma escala de valores socialmente aceite que cada indivíduo procura respeitar. Sempre que o não faz, a comunidade reage por diversos modos, exercendo uma censura por vezes bastante eficaz.
Um dos meios de que a comunidade se serve é a negação da salvação. Esta espécie de sanção só é, porém, praticada pela generalidade dos habitantes, para uma pessoa cuja reputação tenha descido muito baixo no conceito geral. É que o seu uso repugna a muitas pessoas que entendem que não devem negá-la nem aos próprios inimigos, desde que estes correspondam.
Contudo, ao nível de famílias ou de grupos, ela é algumas vezes usada e não há dúvidas de que exerce uma certa pressão sobre as pessoas visadas. Estas são constantemente obrigadas a uma reflexão dos motivos que a determinam e não raro tendem a eliminá-los.
Outra espécie de sanção é a que consiste na atribuição de alcunhas, traduzindo o comportamento vulgar de certos indivíduos ou até por motivo de uma única acção menos conforme com os padrões socialmente aceites.
«Aqui, como em todas as povoações da Beira Baixa, é corrente designarem-se as pessoas pelas alcunhas por que são conhecidas» - Dias, Jaime Lopes; «Etnografia da Beira Baixa», Vol. III, Lisboa, 1948.
Nem sempre, porém, as alcunhas são motivadas por comportamentos censuráveis. Por vezes derivam até do exercício de uma certa profissão e são aceites pacificamente pelos alcunhados. Mas geralmente representam uma crítica social. Não são chamadas directamente às pessoas a quem são atribuídas, senão em caso de desentendimento, mas as pessoas, sabedoras da alcunha por que são conhecidas, procuram corrigir o seu comportamento ou não voltar a praticar a acção que lhe deu origem.
(…)
Também o choro do entrudo representa uma sanção social «Não obstante estarem em declínio os folguedos do Carnaval, ainda hoje, na maioria dos povos do nosso distrito, noite alta, nos três dias consagrados à folia, continua a chorar-se o Entrudo… É uma sátira alegre que por vezes torna públicos acontecimentos íntimos, desconhecidos de muitos moradores» - Dias, Jaime Lopes; «Etnografia da Beira Baixa», Vol. I, Lisboa, 1926.
Assim acontece de facto na Partida e não apenas nos três dias consagrados à folia, mas durante uma semana ou mesmo mais, antes do Carnaval.
Ao longo do ano, vão os rapazes tomando nota dos comportamentos mais invulgares, para nos dias que antecedem o Carnaval os irem referir e comentar, durante a noite, às portas dos referidos moradores. Certos comportamentos ou acções mais íntimas é por este meio que chegam ao conhecimento público. Se as pessoas visadas reagem ou tentam, por qualquer modo, afugentar os «entrudos», estes voltam uma, duas e mais vezes a importuná-los.
           
Retirado de «PARTIDA  -  COMUNIDADE DA ZONA DO PINHAL NA BEIRA BAIXA», de Luís Leitão -  Composto e impresso nas Oficinas Gráficas do Jornal do Fundão, 1991.


M. L. Ferreira