Há
dias, a propósito do artigo sobre a digitalização dos jornais pela Biblioteca
de Castelo Branco, não respondemos à dúvida sobre se existiria o Pelourinho na Biblioteca Hipólito
Raposo. De facto não existe. Há apenas um exemplar que foi doado, há tempos,
pela Maria José (Alfaiate). É o número 2, publicado em 15 de setembro de 1960,
era diretor o padre Sílvio.
Era
bom que fosse possível reunir todos os números publicados (também de O Vicentino)
e torná-los acessíveis através da digitalização. É que, dando-nos conta,
mensalmente, dos acontecimentos mais importantes em cada uma das povoações da
freguesia, foi um documento fundamental para ficarmos a saber quase tudo sobre
a vida de São Vicente durante várias décadas: dados económicos, sociais, demográficos,
culturais, costumes, valores, etc. que muitos vivemos e ainda recordamos, mas a
maior parte da população mais jovem nem imagina.
Deixo
algumas das notícias deste Nº2; acho-as significativas porque testemunham bem
como estávamos todos irmanados nas alegrias, nas tristezas e nas necessidades
mais básicas:
- No Mourelo pedia-se às “Exmas. Autoridades”
que fosse feito um chafariz para abastecimento de água à população, porque a
única fonte disponível era ainda a Fonte de Mergulho, “pouco higiénica e muito
distante”; realizara-se a festa de Santo António, “glorioso protector”, com
missa e sermão feito pelo Padre Sílvio e cânticos dirigidos por um seminarista
da Guarda; deu-se ainda conta da visita de várias pessoas aos seus familiares.
- Na
Partida ansiava-se ainda pela chegada da estrada e pedia-se ajuda para o arranjo
de alguns caminhos; a população viveu em festa, entre os dias 26 de agosto e 5
de setembro, pela presença de um grupo de seminaristas da Guarda que “… proporcionaram
a todos momentos de inesquecível prazer espiritual”; também houve grande
satisfação pela chegada de alguns conterrâneos vindos de França ou de Lisboa
para passarem férias com a família; no dia 3 de setembro faleceu a senhora
Amélia Bonifácio de Carvalho.
-Nos
Pereiros festejava-se já a chegada da nova estrada que tanto iria beneficiar a
população; mas chorava-se a morte de uma criança de 2 anos, num incêndio num
palheiro, e queimaduras graves na mãe ao tentar salvar o filho; esteve de
visita à família o senhor João António Varandas, sócio gerente da Fogás Lda.
- Na Paradanta esperava-se com impaciência a
construção da escola, tanto mais que a população estava disposta a ceder o
terreno no local que as “Exmas. Autoridades” julgassem mais adequado; estavam
ainda de férias alguns estudantes da terra (6, no total!), e também o “menino”
Norberto Gomes Filipe tinha ficado bem no exame de admissão ao Liceu; o senhor
António Gomes Filipe e esposa pediram, para seu filho, a mão de D. Maria Emília
Ventura Russo “Professora Oficial”, filha do senhor Alfredo Ventura Russo e da
senhora D. Trindade Diogo Ventura Russo; faleceu inesperadamente a esposa do
senhor Álvaro Martins Faustino.
- No Vale de Figueiras festejava-se o início
das obras de alargamento do caminho de acesso à povoação; pedia-se a construção
de uma fonte com “água pura”, em alternativa à dos poços e presas; deu-se
também conta da participação de muita gente em algumas atividades e cerimónias
religiosas realizadas pelos seminaristas da Guarda (na Partida) onde viveram
uma “alegria sã e vida piedosa”.
- No
Casal da Serra fora caiada a igreja e dourado o altar, que “ficou muito bonito”;
continuava também em construção a estrada até ao Louriçal, que vinha encurtar o
caminho de acesso à Estação e pediam-se também melhoramentos no caminho para a
sede da freguesia; dava-se notícia da visita de várias pessoas, residentes
fora, às suas famílias.
- No
Violeiro pediam-se melhoramentos nos caminhos, autênticos lodaçais no inverno;
festejava-se ainda os bons resultados nos exames dos estudantes José António
Rato e Conceição de Jesus Rato e a partida de Francisco Magueijo para o seminário
de Fátima; desejava-se boa viagem ao senhor José Roque, esposa e filhos, que
regressavam a França onde residiam há sete anos.
- No Tripeiro festejava-se a chegada do
telefone com muita alegria porque “já podiam fazer-se ouvir ao longe sem a
triste necessidade de percorrer longos caminhos lamacentos”; dava-se a notícia
de que a escola estava quase pronta, pelo que se agradecia muito ao “Estado”; iam
também ter água canalizada em breve, coisa para admirar porque outras terras
maiores ainda não a tinham; dava-se também conta da vitória, num jogo amigável,
entre a equipa da terra e a do Mourelo.
- Em São Vicente iam realizar-se, nos dias 18,
19 e 20 as festas em honra do Santíssimo Sacramento, do Senhor Santo Cristo e
de Nossa Senhora do Carmo; No dia 15 de Agosto tinha-se realizado “com grande
fervor”, a festa em honra da nossa Padroeira: “… a imagem da «Senhora da Ordem»
foi conduzida processionalmente até à Sua Capela. Subiu ao púlpito o Rev. Frei
Crespo…”; estiveram em São Vicente, entre muitas outras pessoas, Amélia Rey
Colaço Robles Monteiro e Mariana Rey Monteiro e filhos; esteve também a D.
Aldina Caldeira com o marido e uma excursão, vinda de Lisboa, organizada pelo
senhor Elias; estiveram na Vila os “montadores” do relógio novo para darem
algumas instruções sobre o seu funcionamento e já havia quem tivesse
contribuído para o seu “badalar”; no dia 21 de agosto a equipa de futebol “os
Novatos de São Vicente da Beira” tinha ganhado à equipa da Partida (parece que
pela primeira vez…); pelos “ Novatos” alinharam Chico, Martins (1 golo), Dias e
Jaime, Nicolau e Ribeiro, L. Bruno, Quica (3 golos), Barroso, Inverno e Luís.
M.L.
Ferreira
Nota: Há comentários novos na postagem anterior.
José Teodoro Prata