domingo, 5 de maio de 2024

Conta-me histórias, 3

 

Participação livre de todos os intervenientes na visita.
Penso que não há condições para organizar um almoço-convívio: pilates de manhã, missa às 12.30-13:30h e merendas no domingo seguinte, o da romaria.
Agradeço divulgação nas redes sociais frequentadas por cada um.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Conta-me histórias, 2

 Este objeto com história não foi apresentado na segunda tertúlia do Conta-me histórias, realizada a 28 de abril, sob o tema 25 de Abril. Como animador das sessões, tenho de ter sempre algo na manga e este objeto não saiu da minha pasta porque nesta tertúlia as duas horas foram bem recheadas de histórias de tantos participantes.

Aguardo o envio dos textos dos intervenientes nesta e na primeira tertúlia, para os dar a conhecer, aqui, a quem não esteve presente.


O (meu) Capital

Este é o 1.º volume do livro I de O Capital, de Karl Marx. O preço marcado a lápis parece indicar 25 escudos. Está rubricado e datado por mim: 23-Agosto-1974.

Comprei-o na Papelaria Central do Tortosendo, situada no largo central desta vila. Pela data, foi durante a minha habitual ida ao seminário, a meio das férias grandes. Eu tinha então 17 anos e frequentava o Seminário do Verbo Divino, no Tortosendo, uma vila operária com grandes tradições de luta contra o regime ditatorial que governara Portugal cerca de 48 anos.

Os padres do seminário, formados em universidades da Alemanha e dos Estados Unidos, eram adeptos da democracia, mas não faziam abertamente campanha, junto dos alunos, contra o regime que vigorara até ao 25 de Abril. Prova disso é que só há três anos soube a razão porque pessoas da povoação nos perguntavam pelo padre Jerónimo, pois o queriam no comício do 1.º de Maio, que antecedeu o desfile até à Ponte Pedrinha, onde milhares de pessoas se espalharam pelas margens do rio Zêzere, partilhando as suas merendas. Ele tinha direito a honras de palanque, a que se esquivou, porque em finais de 1973 escrevera no Jornal do Fundão um longo artigo advogando a democratização do país.

Sabíamos dos presos no 1.º de Maio de anos anteriores, trabalhadores que faltavam ao trabalho nesse dia e se juntavam debaixo de uma latada a petiscar e a beber uns copos, mas a meio da tarde eram levados pela GNR, pois logo de manhã os patrões tinham comunicado à PIDE quem faltava ao trabalho. Mas no ano seguinte, lá teimavam eles em comemorar o dia do trabalhador!

Eu frequentava o 6.º ano, atual décimo (na época, o ensino secundário tinha a duração de dois anos e não três, como atualmente). Por serem mais velhos, os alunos do secundário tinham direito a uma noite de televisão por semana, à sua escolha. Nesse ano letivo, mas ainda antes da revolução, o padre Vaz, nosso prefeito, deu-nos uma noite extra para ouvirmos as Conversas em Família do presidente do Conselho, Marcelo Caetano. Recusámos, mas ele disse-nos que para vencermos um inimigo tínhamos primeiro de o conhecer bem. Foi em vão, preferimos ir para a cama, às 21:30h.

Um dia, num passeio ao entardecer, o mesmo padre Vaz, pessoa bastante conservadora, partilhou comigo e com o meu colega José Antunes a história do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que escrevera uma carta a Salazar, criticando a sua política e aconselhando-o a iniciar um processo de democratização. Salazar castigou-o com o exílio, por 10 anos (1959-69).

Eram boas as relações do Seminário com o Unidos do Tortosendo, um clube operário que se dizia ser dirigido por comunistas. Ficou até célebre, e com direito a retrato para a posteridade, a informação que o padre Garibaldi, um missionário brasileiro do nosso seminário, deu a um governante do Estado Novo, que, cerca de 1971, foi ao Tortosendo conhecer o projeto da nova sede para o Unidos. Tão bem falou da coletividade que o Governo abriu os cordões à bolsa e a obra fez-se.

Ainda representámos teatro na antiga sede: O Lugre de Bernardo Santareno e O Assassínio na Catedral, relativo à morte do bispo católico Thomas Becket, na Inglaterra medieval. Havia no clube um senhor já idoso que todos referenciavam e que sempre cumprimentava os seminaristas com especial simpatia. Era o senhor Ribeiro, soube anos mais tarde, pelo Jornal do Fundão, quando foi homenageado no Tortosendo. Depois do 25 de Abril, também se falava muito de um preso, não comunista, que fora libertado. Então pensei que fosse do MRPP, que na altura tinha alguma expressão na Vila, mas soube há poucas semanas que era da LUAR e se chamava Ramiro Raimundo.

Aqui chegados, pode o leitor ser levado a concluir que nós, os seminaristas, éramos muito politizados. Não, vivíamos numa bolha, que apesar de tudo nos abria horizontes para a existência de pessoas que pensavam de forma diferente e para a necessidade da democratização do país. Mas só isso. Desconhecíamos partidos e ideologias, como quase todos os portugueses.

Voltando ao objeto deste texto, o meu O Capital está forrado com um cartaz lindíssimo de cravos em fundo negro, com a foice, o martelo e a estrela sobrepostos, em amarelo. Roubei-o ao Partido Comunista, no outono de 74. Estava afixado no lagar dos Garret, à beira da estrada, a meio caminho do cruzamento do seminário com a povoação. A altura de 3 metros não foi para nós, jovens adolescentes, um obstáculo. Um colega meu, menos pesado, trepou por mim acima e, com os pés nos meus ombros e uma mão encostada à parede, com a outra arrancou o cartaz, que já estava pouco seguro e nem se rasgou.

No verão de 75, a minha prima Carmita, já estudante universitária, então nas habituais férias em São Vicente, questionou-me sobre as minhas leituras (ou eu falei no assunto, para me gabar, não me lembro bem). Disse-lhe e a quem nos rodeava que tinha lido O Capital. Ela ficou estupefacta e informou-me que O Capital de Karl Marx era uma obra vasta, com vários livros e volumes. Não, eu só lera um volume, esclareci!

A leitura não me foi fácil, pois a economia era então uma área quase não abordada nos livros de História do secundário. Mas ficou-me para sempre a questão das mais valias: o patrão cria a empresa, equipa-a, paga as matérias-primas, a luz, a água…, recebe o seu ordenado e paga os salários aos trabalhadores. Pagas todas as despesas, incluindo o vencimento do empresário, ficam os lucros, dos quais este se apodera na totalidade, embora tenham sido obtidos com o trabalho de todos. Era natural que os lucros, as mais valias, fossem distribuídos equitativamente, ficando o empresário com uma larga percentagem, para o premiar do investimento realizado e do cargo desempenhado, mas certa percentagem deveria ser distribuída pelos trabalhadores, igualmente fundamentais na criação dessa riqueza.

Por isso ninguém enriquece a trabalhar e a distância entre os rendimentos dos assalariados e os dos empresários é cada vez maior. Situação agravada quando os aumentos salariais não acompanham o aumento da produtividade, como aconteceu nos últimos 20 anos, na Europa, segundo um estudo recentemente divulgado.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 1 de maio de 2024

V.P.C

Ando a recolher a obra dos poetas da nossa terra, no âmbito de um projeto de que falaremos lá mais para diante. O Pedro Inácio Gama facultou-me alguns poemas assinados com as iniciais V.P.C., referentes a acontecimentos da década de 1950, na Vila. Alguém faz ideia de quem foi este V.P.C.?

Na época, uma das pessoas que publicava poesia, além do José Lourenço, era o professor Couto (Artur Eugénio Couto). A serem dele, as iniciais seriam A.E.C.. Ou será que ele queria ficar incógnito? Mas alguma poesia dele vem assinada...

José Teodoro Prata

terça-feira, 30 de abril de 2024

Abril em Lisboa



Estive no 25 de Abril da Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Estas fotos dão uma ideia de quantos éramos - tiradas dos Restauradores, no Marquês de Pombal, lá ao fundo, ainda estão parados; para trás de mim, os Restauradores e o Rossio, destino da marcha, está tudo cheio!

Um dever de agradecimento pelos que o fizeram há 50 anos, um acto cívico de afirmação da liberdade, e um acto político, pelas razões que sabemos. Por isso lá estive.

JMT

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Abril em São Vicente da Beira

 No domingo, dia 28, os vicentinos juntaram-se e partilharam as suas memórias do 25 de Abril, na Biblioteca, em mais uma tertúlia do projeto Conta-me histórias, que visa animar esta comunidade.

Recordaram-se os tempos em que a Pide vinha inquirir junto do pároco sobre as três pessoas que habitualmente não iam à missa e contou-se o caso do rapaz que aos domingos ia namorar a terra alheia, faltando à missa, e concorreu à Polícia, à GNR e à Guarda Fiscal, mas só foi chamado depois de levar um cabrito ao senhor vigário. E a história daquela menina de Aldeia de Joanes, que lia semanalmente o Jornal do Fundão ao pai e que um dia foi abordada pela Pide que lhe perguntou o que mais gostava de ler no jornal, mas ela respondeu que só lia o anúncio que o pai mandava publicar no jornal.

Lembrámos o nosso militar de Abril, o nosso padre democrata e o nosso empresário que numa noite mudou o nome da nossa Praça, de Salazar para 25 de Abril. E as primeiras férias pagas e a ameaça de incendiar a casa a quem as pagava e fazia descontos para a Segurança Social.

Mais a criação dos autocarros para estudantes e as colónias de férias em que as crianças apreendiam um mundo novo. E as greves por melhores salários, o fim da guerra, a alegria de sermos livres, o recenseamento eleitoral com pausa para a Gabriela, as primeiras eleições e a vizinha que demorou muito a votar, porque havia muitos partidos com quadradinho onde traçar a cruz.

No dia 19 de maio voltamos a encontrar-nos em nova tertúlia, pelas 15 horas, com a Senhora da Orada como tema e local.

Esta segunda tertúlia foi quase totalmente organizada pelas responsáveis da Biblioteca (Celeste, Libânia e Conceição) e pela Maria da Luz. O nosso obrigado e as minhas desculpas, pois na sessão esqueci-me de lhes agradecer, assim como ao presidente da Junta.

José Teodoro Prata

Seguem-se as fotos da Rita Amaro:









sábado, 27 de abril de 2024

quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril - 50 Anos

 Está a ser bonita a festa!

Tenho andado pelas escolas e sente-se um entusiasmo com o 25 de Abril / Democracia, como não me lembro de existir, mesmo em 1975.

Penso que o genocído em Gaza, patrocinado pelo Ocidente, a par do que se passa na Ucrâcia e da ânsia dos políticos europeus de levarem a guerra o mais longe possível, a par dos populismos de extrema-direita na Europa (tipo Chega em Portugal) estão a criar uma crise existencial nas pessoas, que as leva a agarrarem-se à nossa democracia, simbolizada no 25 de Abril.

Vemo-nos domingo, no nosso 25 de Abril, às 15:30h, na sala da Junta de Fregueisa,

Deixo-vos com o grande Fausto e o seu Marcolino, das longas viagenshttps://youtu.be/v_1VjgA_7Go?si=OqJ8Mj1J9VwgYjZz

José Teodoro Prata