sexta-feira, 1 de março de 2024

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Luís da Costa

Luís da Costa nasceu em São Vicente da Beira no dia dois de maio de 1895. Era filho de Maria do Rosário Costa.

Tinha a profissão de jornaleiro quando assentou praça no dia 14 de Fevereiro de 1916. Foi incorporado no 2º Batalhão do R. de Infantaria 21 de Castelo Branco nesse mesmo dia. Licenciado ainda em 14 de Fevereiro, foi domiciliar-se na freguesia de Santa Maria Maior, na Covilhã.

Apresentou-se novamente em 3 de maio para fazer a recruta que concluiu no dia 29 de agosto de 1916. Foi mobilizado para a Guerra e, fazendo parte do CEP, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917 integrando a 4ª Companhia do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 522.

Do seu boletim individual de militar do C.E.P. e folha de matrícula constam as seguintes ocorrências:

a)   Ferido em combate por gases, e baixa ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 24 de agosto de 1917; alta em 26 com 6 dias para convalescença;

b)   Baixa ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 21 de dezembro de 1917; evacuado para um H. Base em 29; alta em 2 de janeiro;

c)    Baixa ao hospital no dia 30 de janeiro de 1918, alta em 15 de fevereiro;

d)   Punido algumas vezes com vários dias de detenção por ter faltado ao trabalho sem motivo justificado;

e)   Punido com 15 dias de prisão correcional por ter estado em ausência ilegítima durante 38 horas (ordem de serviço de 23/12/1918);

f)     Punido com 15 dias de prisão correcional por se ter ausentado, sem autorização, desde as 10 h do dia 28 de fevereiro de 1919 e considerado desertor desde 2 de março, período a partir do qual a ausência foi considerada deserção.

g)   Regressou a Portugal no dia 4 de abril de 1919.


Passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1936.

Não foram encontrados registos nem testemunhos que possam dar alguma informação sobre a vida de Luís da Costa após o seu regresso a Portugal, nomeadamente o local ou a data do seu falecimento.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O nosso falar: abelhudo e desabelhar

 Andámos a fazer o desdobramento de uma colmeia e no final uma abelha não nos largava, por mais fumo que lhe lançássemos em cima.  

- Desabelha daqui! – disse-lhe o Chico. E rimo-nos, porque a expressão vinha mesmo a calhar.

A abelha anda sempre de um lado para o outro, numa constante azáfama, por isso chamamos abelhudo a alguém com a mesma caraterística, sobretudo se aparece de forma constante e inoportuna. E desabelhar é mandar o abelhudo dar uma volta, desaparecer. Neste caso era mesmo uma abelha!

José Teodoro Prata

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Conta-me histórias: sessão inaugural

 


Juntámo-nos à Comissão das Festas de Verão, para dar também o nosso contributo. O primeiro cartaz é o do projeto Conta-me Histórias, que será usasdo para publicitar todas(?) estas tertúlias.

A organização é d´Os Amigos dos Enxidros. Dos Amigos, porque a realização das tertúlias e o êxito que tiverem será sempre mérito de quem as anime e de quem vá assistir. Dos Enxidros, porque lancei o projeto através do blogue Dos Enxidros e porque os enxidros eram, no passado, os baldios da encosta da serra, entre a vila e os altos, da Oles à Senhora da Orada. Tal como os enxidros, este projeto também se quer de todos. A foto que serve de base ao cartaz é da Rua da Misericórdia, antes da demolição da casa do coronel (ela simboliza aqui um pouco do passado que estará presente em cada história que for contada).

Agradeço que divulguem o cartaz nas redes sociais que frequentam.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Homenagem ao ZÉ TALETA

 


Parabéns ao Zé, porque é um bom homem e um corajoso lutador.

Uma homenagem mais que merecida, que também honra quem com ela sabe ser agradecido pelo muito que o Zé nos deu a nós, com o seu exemplo, e à nossa terra, elevando o seu nome tantas vezes ao pódio.

Um dia, o José Mário Branco, 
preocupado com a pobreza da música portuguesa, lançou o repto: 
Que floreçam 100 Marcos Paulos!
Também entre nós todas as iniciativas devem ser acarinhadas, 
para darmos mais vida à nossa comunidade.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O nosso falar: espigos

 Levei grelos de couve-naba a uma amiga do Norte e ela gabou-me a excelência do arroz de espigos, em especial de couve galega. Cada vez que eu falava de grelos, ela respondia-me com espigos e a certa altura disparou:

- Porque é que não dizes espigos?

- Na minha terra também se diz espigos, mas aqui só se fala em grelos… - justifiquei-me.

Quis ser simpático e coloquei-me ao nível dos albicastrenses, mas lixei-me, pois a minha amiga não transige com as suas raízes.

No resto da conversa já só se falou de espigos.

José Teodoro Prata

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Sem pingo de compaixão

Viriato Soromenho Marques, professor universitário, in Diário de Notícias

O filósofo Schopenhauer (1788-1860) considerava a compaixão (Mitleid) como o sentimento moral por excelência, e por isso uma das características fundamentais da nossa condição humana. Ser capaz de sentir o sofrimento dos outros, sejam eles humanos ou animais, tinha, para o pensador alemão, uma raiz ontológica fundamental. A dor dos outros, despertava em nós uma espécie de compreensão intuitiva de que todos os seres partilham uma vontade de viver original.  Isso é válido para a mãe que corre risco de se afogar para arrancar o seu filho das ondas, ou para o homem que se deixa imolar pelo fogo na tentativa de salvar o seu cão. A comunhão do sofrimento rompe com a ilusão do egoísmo, mesmo antes da nossa mortalidade o provar definitivamente.

Lembrei-me de Schopenhauer ao perceber o crescente estado de morte ética do Ocidente. Bem sei que a política e a ética estão muitas vezes em rota de colisão. E que o moralismo na política internacional é usado, frequentemente, para esconder a face horrenda de interesses inconfessáveis. Contudo, tudo tem limites. Refiro-me concretamente à maneira inqualificável como uma série de países ocidentais reagiram a um “relatório” de 6 páginas apresentado por Israel aos países doadores da UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, que neste momento é o único suporte de vida de dois milhões de sobreviventes nas ruínas de Gaza, onde a violência das tropas de Telavive se transformou num horrendo “novo normal”.

Israel acusou 12 funcionários da UNRWA de terem participado nos ataques do Hamas de 7 de outubro. Mais tarde, o número caiu para metade, dando razão ao chefe da Agência, Philippe Lazzarini, que considerou inconsistente esse documento acusatório. Apesar de a Agência ter 13.000 funcionários, e de as acusações terem sido apontadas pelo Estado agressor, que tem a correr contra si no ICJ, em Haia, uma séria acusação de genocídio, a verdade é que, logo após a divulgação do texto acusatório, uma constelação de países ocidentais decidiu - antes de qualquer investigação independente se debruçar sobre a acusação - suspender o financiamento à UNRWA. Escrevo aqui os nomes mais sonantes desses países que resolveram juntar-se aos algozes do povo de Gaza: EUA, Austrália, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Países Baixos, Finlândia, Japão.

Portugal recusou integrar essa tribo de indignidade. Escrevo-o com a alegria rara de saudar alguma medida acertada do Governo. Pelo contrário, Lisboa aumentou o seu contributo, para compensar a perda de financiamento provocada pelos desertores. António Guterres nomeou uma Comissão de Investigação Independente, liderada por Catherine Colonna, ex-ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, suportada por 3 reputados institutos escandinavos. O relatório só estará finalizado em abril. Isso significa que corremos o risco de muitos milhares de vidas serem perdidas, vítimas da fome e da doença, se até lá a Agência continuar subfinanciada. Atrevo-me a dizer que o que está em causa não são os 6 funcionários acusados, mas a hipócrita desumanidade de Estados, saturados de uma retórica de valores e direitos, convertidos agora à lógica de extermínio praticada por Israel.

Quem pune um povo inteiro, é quem não reconhece dignidade pessoal aos seus membros. Sem compaixão, a vida humana ficará cada vez mais descartável. Pressinto que estes são apenas os primeiros sinais de uma imensa e crescente barbárie. Intensa e sem santuários.

 José Teodoro Prata

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

AMOC

Há novas notícias sobre a Circulação Meridional do Atlântico (sigla AMOC, do nome inglês), popularmente conhecida por Corrente do Golfo.

Já não é a primeira vez que aqui escrevo sobre este importante fenómeno natural, que permitiu os descobrimentos portugueses e todas as posteriores navegações à vela no Atlântico. É uma corrente de água no nosso oceano, que movimenta mais água do que todos os rios terrestres juntos.

Poder ler-se um artigo aqui (mas há muita informação na net sobre este fenómeno natural):

https://www.publico.pt/2024/02/09/azul/noticia/circulacao-atlantico-ja-estar-caminho-colapso-sugere-novo-modelo-2079544


Este rio oceânico traz água quente do Golfo do México, suavizando o clima europeu nas estações frias.

Era graças a ele que os portugueses davam a volta pelos Açores, quando queiram regressar da costa africana: quem vinha da Ásia, do Brasil ou simplesmente do Golfo da Guiné ou da zona de Angola, parava em Cabo Verde e depois dava a volta pelos Açores em vez de seguir em linha reta junto á costa africana. Era muito mais longe, mas mais rápido, devido à AMOC.

Também foi graças a ela que os viquingues, por volta do ano 1000, partiram da Escandinávia e povoaram a Islândia e a Gronelândia, chegando à América do Norte. Há indícios de que também terão povoado nessa altura os Açores, pois, como podem ver pelas setas da AMOC, a corrente levava-vos em linha reta da escandinávioa para a Gronelândia, mas no regresso tinham de dar a volta por baixo.


Nesta imagem podemos ver a AMOC em toda a sua extensão atlântica.

Infelizmente, as novidades acima referidas não são boas. A corrente está a abrandar e pode vir a parar, pois a temperatura dos oceanos, nas zonas polares, está a subir muito e a água esta a perder a salinidade, devido ao degelo dos glaciares.

O fenómeno da AMOC é semelhante ao do vento: o ar movimenta-se de zonas quentes para frias e vice-versa (se a temperatura for semelhante em todas as zonas, não há vento) e a água movimenta-se de zonas quentes para frias e vice-versa, devido à temperatura da água e ao seu grau de salinidade.

Consequências? Fim dos invernos amenos nas costas atlânticas da Europa, daqui a umas dezenas de anos. Viram as notícias das recentes tempestades de neve nas costas atlânticas da América do Norte? À mesma latitude, nós temos entre 5 a 10 graus a mais do que eles.

José Teodoro Prata