Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sábado, 7 de novembro de 2009
Passeio na Gardunha
No próximo dia 15 de Novembro, domingo, temos passeio pedestre, pela Gardunha.
A organização é dos Bombeiros Voluntários de Castelo Branco, Grupo de São Vicente da Beira. O GEGA e a Junta de Freguesia apoiam.
O percurso está traçado, na imagem apresentada (clicar em cima, para ver melhor).
Não o conheço em toda a sua extensão, mas parece-me um percurso equilibrado:
- Não é excessivamente longo e só há uma subida acentuada (da Senhora da Orada ao Alto da Portela).
- Tem alguns pontos fortes: zona onde vai ser criada uma área de lazer, com lagar e moinhos antigos; vale agrícola da ribeira; ermida da Senhora da Orada; antiga estrada real, ainda com troços de calçada medieval; paisagens do Alto da Portela e doutros cumes; barragem do Casal da Serra...
Programa:
8.00 Concentração no quartel dos Bombeiros
8.30 Pequeno almoço
9.00 Início do passeio
13.00 Chegada
13.30 Almoço, convívio e visita ao museu (do GEGA ?).
Preço: 10 vicentinos (para pagar despesas)
Inscrições: 963269688 922022670 937901113 926438561
Lá estarei!
Aos que não forem, darei notícias.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Cumprir a Tradição
O Padre José Pegado de Sequeira, vigário de S. Vicente da Beira, em 1758, informou, nestes termos, sobre o Castelo Velho, situado na serra da Gardunha, nas respostas aos inquéritos pombalinos, conhecidas por Memórias Paroquiais:
A tradição que há deste castelo é que, no tempo em que este reino era povoado de mouros, se conservava no dito castelo alguns cristãos e aí viviam.
E vindo o Senhor Rei Dom Afonso Henriques conquistando estas terras, todas povoadas de mouros, no sítio da Oles, limite da mesma vila, no fundo da serra e referido sítio, por ser campina dilatada, se deu uma batalha contra os mouros, que eram já copiosos (numerosos), o que observavam os cristãos que estavam no dito castelo.
E conhecendo que o dito Rei com seu exército enfraquecia, lhe saíram em socorro do castelo os cristãos e pondo-se da parte do dito Senhor Rei, em breve tempo venceram e desbarataram o inimigo.
Informado de quem eram e de sua assistência, entre muitos e amplos privilégios lhes assignou (assinalou) o sítio aonde está edificada a vila, para no mesmo a fundarem, o que fizeram.
E depois de edificada e já povoada a foram oferecer ao mesmo Senhor, no dia em que se trasladava o corpo do Mártir São Vicente da Igreja de Santa Justa para a Sé de Lisboa, por motivo do qual o dito Senhor Rei, aceitando a vila, lhe deu por nome São Vicente, querendo que o Santo Mártir fosse da mesma vila padroeiro, dando aos mesmos moradores dela parte do seu queixo, que hoje se venera na dita vila.
E lhe confirmou na mesma ocasião grandes privilégios e isenções, com a condição de que todos os anos irem ao dito Castelo Velho, câmara e povo, a fim de se conservar sempre em ser para memória do sucedido, o qual se observou por muitos anos. E o descuido dos moradores foi causa para se perderem os ditos privilégios, deixando de satisfazer a condição com que foram dados.
Vamos recomeçar a cumprir a obrigação que os nossos antepassados negligenciaram?
É um excelente cartaz turístico!
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Pedir o santoro
Era segunda-feira, hora de entrar para a escola. As crianças, na praça, aguardavam as professoras. Mas passaram as 9 horas e nada. Nem apareciam do lado da Igreja, vindas de casa, na Rua de São Francisco, nem chegava o táxi que as trazia de Castelo Branco.
Fomos esperando, ansiosos por passar um dia sem escola e logo um como aquele, o de pedir o santoro!
O dia dos santorinhos era um dos raros, senão o único, em que tínhamos liberdade de andar horas fora do controle das nossas mães e chegar até ao Casal (da Fraga), ao Caldeira ou às Quintas.
O relógio da torre continuou a sua marcha, sempre a descer, até à meia hora. As professoras não vinham mesmo! Mas ninguém ousava arredar pé.
O ponteiro dos minutos parecia andar agora mais devagar, na subida até ao 12. Já rondávamos as tabernas do Noco e da Viúva e o café da Tia Eulália. Mas nenhum arriscava começar a pedir o santoro à hora da escola.
Bateram as 10 badaladas no sino da torre. Era o nosso limite. Entrei quase a correr na taberna da Viúva e fui direito ao balcão: “Dê-me um santorinho!”
A senhora de preto perguntou pela escola, a mim e aos outros. Estava-se a decidir, quando ouvimos um carro a curvar a esquina. Chamamentos dos que estavam fora, correrias na rua. Azar, mesmo quando tínhamos começado! Saímos também a correr, todos em direcção ao balcão. Paciência, ficava para depois da escola.
As professoras tinham ido buscar os nossos livros à papelaria, que só abria às 9 horas. Levámos recados para as mães, a dizer quanto era. Íamos ter livros novos.
À saída, fomos pedindo o santorinho, rua acima, mas davam pouco. O que nos valia, aos da Tapada (eu, as minhas irmãs e os meus primos), era que conhecíamos bem as Quintas, onde poucos da Vila se arriscavam. Lá é que era bom.
Havia a Senhora Luz Romualdo, o Senhor Augusto, o Miguel e o Ti João da Cruz. Podia falhar um, mas davam os outros. Uma romã numa casa, três passas na outra, duas maçãs de bravo mofo no Senhor Augusto e uma mão cheia de castanhas do rabusco nos castanheiros do Carvalhal Redondo e do alto dos Carqueijais. Delícias.
Voltávamos a casa, ao anoitecer, quase sem nada, na bolsa, para partilhar com as nossas mães e irmãs mais novas, mas felizes com a aventura e o consolo dos santorinhos.
Notas
1. Bravo mofo é o nome que damos à maçã bravo esmolfe. O povo não gosta de coisas complicadas e simplifica. Esmolfe é o nome de uma povoação do concelho de Penalva do Castelo, Beira Alta, onde esta variedade de maçã era e é muito abundante.
2. Não me lembro que dia foi esta segunda-feira. Talvez fosse, como neste 2009, o dia seguinte ao de Todos os Santos, 2 de Novembro. É o Dia de Finados, mas não é feriado. Era nesse dia que se pedia o santoro, nos anos 60. Agora pede-se dois dias antes, na véspera do Dia de Todos os Santos, em resultado da aculturação que temos sofrido por parte da cultura norte-americana. E ameaça-se o dono da casa com travessuras, se não der doces. Nisto, a nossa tradição é melhor, menos agressiva.
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domingo, 1 de novembro de 2009
Padre Lúcio Brandão
Foto roubada ao blogue saboresdabeira, que é o ponto de contacto dos ex-alunos do Verbo Divino, a viver na região de Lisboa. O nosso Chico Barroso é um dos dinamizadores. Na fotografia, o P.e Lúcio é 1.º à direita da fila de cima. Na fila de baixo, está o P.e Jerónimo.
Tem sentido usar este espaço para enviar um abraço do Padre Lúcio a todos os ex-alunos do Seminário do Tortosendo. A relação da Sociedade do Verbo Divino com a comunidade de S. Vicente da Beira é tão estreita que quase formam uma só.
Ontem, realizou-se mais um encontro dos ex-alunos do Seminário do Tortosendo. É todos os anos, sempre no último sábado de Outubro.
Da freguesia de S. Vicente da Beira, estávamos cinco: o reitor, Padre Jerónimo; o Irmão José Amaro, do Violeiro; um Magueijo do Mourelo, juiz desembargador jubilado, a viver em Lisboa; o José Jerónimo, reformado das Finanças e filho do (tio do meu pai) Miguel Jerónimo do Cimo de Vila, também a residir em Lisboa; e eu.
Tínhamos a receber-nos uma surpresa vinda do Brasil, o P.e Lúcio Brandão. Pediu-me, repetidamente, que desse um abraço, por ele, a todos os ex-alunos da SVD, naturais de S. Vicente da Beira. Aqui fica.
Quase todos os miúdos da escola o conheceram, mesmo sem terem frequentado o Seminário: ele era o missionário muito alto, com fala meio a cantar, que vinha todos os anos às turmas dos rapazes da Escola Primária, a maravilhar-nos com histórias das Missões e a perguntar quem queria seguir esse caminho.
O Padre Lúcio regressará brevemente ao Brasil, onde vive desde 2002.
Veio agora expressamente para participar nos 60 anos da Fundação da SVD em Portugal, precisamente no Seminário do Tortosendo.
Logotipo das Comemorações dos 60 Anos dos Missionários do Verbo Divino em Portugal.
Entre outros eventos, fez-se uma exposição, de que deixo uma imagem. Ao lado, está o caderninho do Maestro, com as notas dos alunos, no desempenho dos vários instrumentos!
Esta foto foi tirado do blogue http://svd-tortosendo.blogspot.com/. Podem lá encontrar outras, mas o melhor é visitar a exposição.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Os Museus de Luci Bento
As bonecas de Luci Bento
Toda a vida de Luci Bento é norteada pela concretização de um objectivo: a realização pessoal, o fazer aquilo de que gosta, que lhe dá prazer. Afinal, que melhor definição para uma artista?
Divide-se entre a Suiça e Portugal, as raízes e o país que lhe deu a oportunidade de descobrir a artista que vivia dentro de si.
Passa agora mais tempo entre nós e já se vêem os frutos dos seus projectos. As casas reconstruídas na Partida e no Vale de Figueiras destinam-se a expôr o produto do seu trabalho: as pinturas, as bonecas e as antiguidades.
Quer deixar aos netos as coisas que os avós usavam, para que eles percebam como foram esses tempos passados. Por isso, defende que nada se deite fora.
Uma mulher com três projectos: um Museu das Antiguidades, um Museu de Bonecas (tem cerca de 3 mil, muitas feitas por si) e um Museu da Pintura (a sua).
O seus quadros e as suas bonecas são os frutos do seu trabalho, já reconhecido internacionalmente. As antiguidades são as suas raízes.
Temos pedalada para esta mulher? Vão as associações, os poderes e a sociedade saber aproveitar aquilo que tão generosamente nos oferece? Oxalá!
Luci Bento e as suas velharias
Notas:
1. Fonte: Jornal Povo da Beira
2. Escrevo Vale de Figueiras, pois era esse o nome da povoação. Só recentemente, por erro de alguém, é que a passaram a denominar Vale de Figueira.
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sábado, 24 de outubro de 2009
Cabeço do Padre Teodoro
Foto do Cabeço do Padre Teodoro, na actualidade, visto do lado do poente.
No relato da minha experiência autárquica, no iníco dos anos 80 ("Experiência Autárquica" de 16 de Outubro), fiz referência ao Cabeço do Padre Teodoro.
Este sítio, junto ao Marzelo, local onde se cruzavam as estradas norte-sul (C. Branco-Fundão/Covilhã), pelas Vinhas e Poldras, seguindo pela Corredoura, em direcção à Senhora da Orada, e este-oeste (Alpedrinha-Almaceda), por dentro da Vila e saindo pela ponte, junto a Santo André, era, em 1975, propriedade dos herdeiros do visconde de Tinalhas.
Porquê este topónimo (Padre Teodoro) e estes donos?
Eis a explicação:
O Padre Theodoro Faustino Dias viveu, no século XVIII, em Tinalhas. Foi cura (pároco) do Freixial do Campo, no 3.º quartel desse século.
Era um grande agricultor, tendo herdado propriedades de vários familiares, um dos quais lhe deixou um morgado (conjunto de propriedades indivisível) que veio a ser a base do património dos seus descendentes, os viscondes de Tinalhas.
O Padre Teodoro era, por exemplo, o maior criador de gado bovino do concelho (cerca de 30 cabeças).
Mas nem sempre foi padre. Só seguiu o sacerdócio após enviuvar, pouco antes de 1750.
Casara com Maria Cabral de Pina, do monte do Violeiro, filha do Sargento-Mor Domingos Nunes Pouzam e de Brittis Maria Cabral de Pinna, ele do Violeiro e ela da Quinta da Canharda, freguesia de S. Miguel de Fornos, junto a Algodres.
Este casal teve vários filhos: a Maria, já referida, um Joam Cabral de Pinna, que viveu em S. Vicente e depois no Fundão, e outros quatro filhos que se fixaram em S. Vicente da Beira. Foram eles o Padre Manoel Cabral de Pinna, o Padre Estevam Alvares de Pinna, Brites Cabral e Joanna Cabral. Os dois irmãos padres e as duas irmãs solteiras viviam numa casa situada na rua que vai da praça para a ponte, como então se designava a actual Rua Nicolau Veloso.
Por morte dos pais, foram herdeiros de muitas propriedades, na Vila e no Violeiro. Por exemplo, pertenciam-lhes a Azenha Nova e o lagar junto à capela do Apóstolo Santo André, ao fundo da Devesa.
É natural que estas propriedades dos irmãos Cabral de Pina tenham sido herdadas pela sobrinha que tinham em Tinalhas, a filha de Theodoro Faustino Dias e de Maria Cabral de Pinna. Não era filha única. Tinha um irmão, Estevão Dias Cabral, que era padre jesuíta e faleceu, na Vila, em 1811. Também a herança deste terá passado, mais tarde, para a herdeira do já então Padre Theodoro Faustino Dias.
Chamava-se Euzebia Dias Cabral e casou com Antonio Jozé Ferreira Meyreles Ferreira Gramaxo, natural do Fundão, mas a viver na Soalheira.
Cerca de 1800, surge frequentemente na documentação o nome deste Antonio Meyreles, com muitas propriedades, incluindo residência, em S. Vicente da Beira, que eram as que a esposa herdada do ramo materno da família.
Foi o neto de Antonio Meyreles e de Euzebia Dias Cabral, chamado José Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, que recebeu o título de visconde de Tinalhas.
O seu filho e 2.º visconde, Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, foi presidente da Câmara de S. Vicente da Beira, em finais do século XIX.
A sua residência era na casa onde viveu o tio Albano Jerónimo, situada na rua que vai da praça para a ponte, e que é agora de Luís Barroso. A casa anexa a esta, na Rua Velha, para o lado nascente, servia de cozinha à residência do visconde e foi dela que veio o lintel manuelino que está actualmente nas traseiras da Igreja Matriz, numa janela aberta aquando das últimas obras, nos anos 80.
O cabeço junto ao Marzelo seria, então, uma das propriedades da família Cabral de Pina, também antepassados dos viscondes de Tinalhas.
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Invasões Francesas 8
Gravura da época das Invasões Francesas, representando um soldado francês a carregar com tudo o que pode levar, roubado aos portugueses.
No mês de Outubro de 1811, vários carreiros da freguesia de S. Vicente da Beira foram requisitados para prestar serviços aos exércitos português e inglês, em lutam contra os franceses.
Quatro carros de bois foram a Abrantes buscar mantimentos para Castelo Branco, conduzidos por:
Pedro,ganhão de Berardo Joze Leal, o feitor de Gonçallo Caldeira, o pai do futuro 1.º visconde da Borralha (trouxe uma pipa de vinho). Regressado a S. Vicente, foi mandado levar uma carga de pão cosido ao Fundão.
Manoel de Oliveira e Francisco Ferreira, de S. Vicente da Beira (transportaram farinha). Francisco Ferreira era uma pessoa importante na Vila, pelo que não teria a junta a meias com Manoel de Oliveira. Terá ido uma vaca de cada um.
Joam Antunes Piqueno e Joze Alves do Mourelo. Neste caso, é provável que tivessem a junta a meias. Aliás, pelo grande número de ganhões deste monte que faziam os transportes aos pares, é provável que essa fosse uma prática muito comum no Mourelo.
Joaõ Figueira dos Pereiros. Este carro e o anterior foram mandados de volta a Abrantes, para trazerem mais uma carga de mantimentos para Castelo Branco.
Cinco carros de bois partiram de S. Vicente, em comboio (todos juntos, uns a seguir aos outros) e chegaram ao Fundão. Aí não tinham nada para transportar e mandaram-nos à Covilhã, onde também não havia nada para levarem. Foram então enviados a buscar farinha a Vila Velha (aqui chegada via fluvial), para o Fundão. Andaram nesse serviço os seguintes ganhões:
Joze Mateos do Mourelo
Manoel Alves do Mourelo
Manoel Mateus da Partida
Joaõ Antunes dos Pereiros
Victorino, filho de Joanna Gonsalves, do Tripeiro
Domingos Silva de S. Vicente da Beira foi levar uma carga de centeio ao Sobral de Casegas, para as guerrilhas (grupos de populares armados, em luta contra os invasores franceses).
Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.
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