sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Prata 2

Os avós mais novos



Ana Prata (1887-1963) era filha de António Prata e Maria Castanheira. Casou com Miguel Rodrigues, em 1908, filho de João Rodrigues e Maria Rosário dos Santos.



João Prata (1885-1977) era filho de António Prata e Maria Castanheira.



João Prata casou com Doroteia de Jesus dos Santos, em São Vicente da Beira, no ano de 1911. Doroteia era filha de Guilherme dos Santos e Antónia dos Santos.


António Prata casou com Maria Castanheira, a 19 de Novembro de 1884, em São Vicente da Beira.
António Prata tinha 45 anos e estava ainda solteiro. Era ferreiro de profissão e natural e morador na Póvoa de Rio de Moinhos, filho de João Prata e de Joaquina da Cruz, ambos naturais também da Póvoa.
Maria Castanheira tinha 40 anos e ficara viúva de José de Carvalho (S. Vicente da Beira), falecido em Abril desse ano de 1884. Já enviuvara de anterior casamento, no Souto da Casa, sua terra natal. Era filha de António Castanheira e de Rosária Maria.

Nota: clicar nas imagens, para ler os documentos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gripe A, outra vez

A vírus H1N1, o culpado da Gripe A e da Penumónica de 1918, está de volta. Deixo-vos com a notícia do jornal Diário de Notícias de hoje, versão on-line.

Mortes no Reino Unido deixam Portugal em alerta
Por ANA MAIA

H1N1 matou dez pessoas em seis semanas e deixou várias internadas nos cuidados intensivos. Gripe no nosso país está a aumentar.

O Reino Unido registou dez mortes, em seis semanas, associadas à gripe A. Em Portugal, a actividade gripal ainda é reduzida, mas está a crescer com as temperaturas mais baixas. A Direcção-Geral da Saúde vai emitir uma nota entre hoje e amanhã, apelando à vacinação.
Apesar da baixa incidência da gripe, o Reino Unido já registou dez mortes provocadas pelo H1N1 e as unidades de cuidados intensivos têm um elevado número de doentes internados com problemas respiratórios. Situação que surpreendeu as autoridades de saúde daquele país. A Agência de Protecção da Saúde do Reino Unido revelou que metade dos mortos não tinha tomado a vacina.
O que se está a passar no Reino Unido está a deixar os restantes países da Europa em alerta. Incluindo Portugal, que começa a registar um aumento de casos de gripe. Ainda assim, de acordo com os dados do Instituto Ricardo Jorge, apenas um caso de gripe pandémica foi detectado no nosso País. Um cenário que pode mudar nas próximas semanas.
"O que está a acontecer no Reino Unido pode acontecer em Portugal. Temos a vantagem de estarmos separados temporalmente deste tipo de acontecimentos duas a três semanas. Isto significa que temos de reforçar a nossa taxa de vacinação e que os profissionais têm de manter um nível elevado de suspeita perante casos de infecção respiratória grave e pedir a confirmação laboratorial da presença do H1N1. Em caso de dúvida deve avançar-se com a terapêutica", disse ao DN Filipe Froes, médico pneumologista.
Para o médico, o que está a acontecer no Reino Unido "mostra que ainda há muitas pessoas em risco de contrair a doença e algumas delas na sua vertente mais grave".
Razão pela qual no início desta semana a Direcção-Geral da Saúde emitirá uma nota sobre a gripe. "Iremos fazer amanhã [hoje] ou depois um alerta aos serviços para recordar que as pessoas devem vacinar-se e os cuidados de higiene que devem ter. O vírus permanece semelhante ao ano passado e é previsível que mantenha o mesmo comportamento", disse ao DN Graça Freitas, subdirectora-geral de Saúde, admitindo que possam acontecer algumas mortes provocadas pelo H1N1.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Hopital da Misericórdia

Sessão ordinária em 8 de Dezembro de 1918

Aos oito dias do mês de Dezembro do ano de mil novecentos e dezoito, n´esta vila de S. Vicente da Beira e sala destinada ás sessões da Gerencia da irmandade da Misericórdia d´esta mesma vila,pelas treze horas, estando presentes os cidadãos Eusebio Gomes Barroso, Provedor, João Mesquita, tesoureiro, João da Silva, secretario e os mesarios Manuel Roque e Francisco Duarte, aberta a sessão, foi lida e aprovada a acta da sessão anterior. O Provedor e vogais da mesa deliberaram que, antes de tudo fosse exarado n´esta acta o seguinte:
Não sendo de prever que as povoações d´esta freguesia fossem atacádas pela epidemia reinante tão rapidamente como foram, nem podendo resolver-se cousa alguma na sessão de dez de Novembro, que não se realizou por grassar já, com toda a intensidade, a epidemia e caírem com ela quase todos os membros da mesa e, em razão das circunstancias anormáes e angustiosas com que luctava a pobreza, tornando-se de urgente e absoluta necessidade, durante o período da doença internar no hospital um numero superior de doentes ao que em sessões anteriores se havia determinado, como então, por força dessas circunstancias extraordinarias e admitissem dez ou mais, a gerencia administrativa aprovada hoje por unanimidade o que se fez.
E bem assim aprova o augmento do preço da carne que em Outubro ultimo preterito foi de mais cinco centavos o kilo e passou depois em Novembro e nos demais a ser de dez centavos, por terem declarado os indivíduos do talho que não podiam continuar a fornecer a casa por menos.
Aprovaram ainda os pagamentos seguintes
(alterou-se o aspecto gráfico deste parágrafo):
• Ao Reverendo João Fernandes Santiago do oficio funebre pelos irmãos defuntos, doze escudos;
• a Manuel Simão de um dia de trabalho a traçar lenha, oitenta centavos;
• a Francisca Faustina de quinze quilos de batata, um escudo e cincoenta centavos;
• a diversos pobres de esmolas com que foram subsidiados, nove escudos e cincoenta e tres centavos;
• a Manuel Diogo de três kilos duzentas e cincoenta gramas de banha de porco, quatro escudos e noventa e cinco centavos;
• a Crestina da Conceição de dois dias de lavagem de roupa, sessenta e oito centavos;
• a Ambrosio Diogo de quatro kilos de toucinho, seis escudos e quarenta centavos;
• aos empregados do hospital de ordenados do mes de Novembro, trinta e dois escudos;
• a Viriato Lopes Russo de medicamentos fornecidos no dito mes, sessenta e dois escudos e setenta e tres centavos;
• aos fornecedores de pão, carne e leite, idem, cincoenta e sete escudos e sessenta e nove centavos;
• a Francisco Lourenço de mais dezasseis litros de leite, um escudo e sessenta centavos
• e de Maria Celeste Silva de mercearias e outros artigos quinze escudos e trinta e oito centavos.
Apresentou-se o balancete do referido mês de Novembro, verificando-se que a receita foi de setecentos setenta e seis escudos e dez centavos e a despesa de duzentos e cinco escudos e vinte seis centavos, resultando um saldo que transita para o mês seguinte de quinhentos setenta escudos e oitenta centavos. E não havendo mais nada a tratar se encerrou a sessão pelas quinze horas.

(Seguem-se as assinaturas dos participantes)


Algumas notas:
1. A esta sessão, faltaram os mesários Antonio da Silva Lobo e Joaquim dos Santos.
2. Na época, o farmacêutico da vila era Viriato Lopes Russo. A sua filha Maria Isabel (Belinha) casou com António Lourenço de Azevedo (Toninho Lourenço) e viveram no solar construído no local do antigo convento franciscano.
3. Maria Celeste Silva era a esposa de Manuel da Silva, que então se encontrava, com outros vicentinos, a participar na Primeira Guerra Mundial.
4. Esta guerra provocou uma grave crise económica, a qual acabaria por ser a principal causa do derrube da Primeira República. A acta informa sobre o aumento do preço da carne, em cinco centavos, em Outubro, e dez centavos, em Novembro.
5. Em 1918, 1 litro de leite custava 10 centavos, no produtor; 1 quilo de batatas também 10 centavos; 1 quilo de toucinho custava 1 escudo e 60 centavos. Em Junho, o preço do toucinho ainda era de 1 escudo e 20 centavos, mais uma prova da carestia de vida.
6. Nesse ano, um trabalhador braçal ganhava 80 centavos/dia e uma mulher a lavar roupa 34 centavos /dia.
7. De facto, a sessão de dez de Novembro não se realizou, por estarem doentes quase todos os membros da Gerência, assim como muitos funcionários do hospital.
8. A Misericórdia subsidiava os pobres e também pagava ao coveiro, pelas covagens (abertura da sepultura) feitas aos pobres falecidos. Por exemplo, na sessão de 30 de Junho deu-se ordem de pagamento de vinte centavos, ao coveiro Manuel Rodrigues, «...pela covagem feita a um pobre....».
9. Embora o segundo parágrafo não seja bem perceptível, entende-se que, durante a Pneumónica, o número de internados no hospital subiu para 10, número superior ao que dantes estava estabelecido pela Gerência.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pneumónica 4

Conclusões
Apresentam-se algumas conclusões sobre a incidência da Gripe Pneumónica de 1918, na freguesia de São Vicente da Beira. Conclusões forçosamente parciais, pois o estudo ainda não está terminado.

1. A Gripe Pneumónica é a mesma que agora denominamos por Gripe A.

2. A Gripe Pneumónica atacou Portugal por três vagas: final da Primavera e início do Verão de 1918, Outono de 1918 e Inverno/Primavera de 1919, mas apenas a segunda provocou grande mortalidade.

3. A nível nacional, foi no mês de Outubro que se registou a maior mortalidade. Mas, na freguesia de S. Vicente da Beira, o mês de Novembro foi o mais mortífero.

4. A média dos óbitos de 1917-1919 foi de 4,8 mortes por mês, exceptuando os meses da Pneumónica, em que os óbitos subiram para 20, em Outubro, e 66, em Novembro.

5. Portugal Continental teve uma taxa de mortalidade de 1,08%, com um máximo de 7% em Benavente, Ribatejo. A freguesia de S. Vicente da Beira registou uma taxa de mortalidade de cerca de 2,40%, uma percentagem superior à média nacional.

6. A Gripe Pneumónica entrou na freguesia pelo Tripeiro, S. Vicente e Casal da Serra, povos onde se registaram mais óbitos, em Outubro. No mês seguinte, continuou a fustigar o Casal da Serra e S. Vicente, mas provocou enorme mortandade também na Partida. As restantes povoações, excepto o Tripeiro, a Paradanta e Pereiros, registaram poucas mortes.

7. Na época, S. Vicente, Partida e Casal da Serra eram as povoações maiores da freguesia (ver publicação “Curiosidade Demográfica”, do passado 31 de Outubro). Tal facto não justifica, só por si, uma maior mortalidade. Esta ter-se-á devido, também, ao facto de as pessoas estarem mais juntas e por isso transmitirem a gripe umas às outras, mais facilmente.

8. A Paradanta é a excepção que nos impede de concluir que a Gripe atacou as povoações maiores e localizadas em corredores viários. No entanto, este povo situa-se num corredor formado pelos vales de dois ribeiros, que eram locais de passagem. Um corre para oeste, para a Partida, onde, com outros, forma a Ribeira do Tripeiro, e o outro corre para nordeste, pelo Vale D´Urso e Castelejo.

9. O Vale de Figueiras não teve óbitos nestes meses, e o Violeiro e o Mourelo sofreram mortalidades muito aquém do que seria normal, em povos com da sua dimensão.

10. Durante a Gripe Pneumónica, as 10 camas do Hospital da Misericórdia só receberam doentes da Vila e a elite local não foi ali internada (terá pago consultas a domicílio). Desconhecemos se o internamento unicamente de pessoas de São Vicente se terá devido a uma proibição de deslocação de doentes ou se, simplesmente, os familiares optaram por não sujeitar os doentes a grandes deslocações, por falta de esperança na cura ou para não agravar o seu estado de saúde. A documentação do Hospital nada refere sobre uma proibição, interna ou externa, de internamento de doentes de fora da Vila.

11. Na povoação de São Vicente, o internamento no Hospital terá atenuado a mortalidade, pois dos 29 doentes ali internados com Gripe Pneumónica, apenas 4 faleceram. A excepção terá sido Maria de Jesus Hipólito, esposa do enfermeiro do Hospital, que possivelmente contraiu o vírus através do seu marido.

12. Em 1918, o único cemitério da freguesia era o de São Vicente, certamente sem capacidade para receber tantos mortos. Sabemos que, no Casal da Serra, foram sepultados num terreno à esquerda da antiga capela, localizada no início da Rua da Lagariça. Situações semelhantes terão ocorrido noutros povos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

1.ª Conferência do Agro-Alimentar

Nem a propósito (publicação "Terra do Futuro" do passado dia 26 de Novembro), o Jornal do Fundão organizou, no dia 3 de Dezembro, a 1.ª Conferência do Agro-Alimentar, com a colaboração do Citeve Alimentar e da Câmara Municipal do Fundão.
Neste fim de semana, o Jornal do Fundão publicou um suplemento sobre o tema, de onde transcrevo dois trechos da entrevista ao director-geral do Citeve:

«...temos a convicção que o potencial da região da Beira Interior, dentro do sector agro-alimentar, é muito grande.»

«Sobretudo é (o agro-alimentar) um motor de desenvolvimento local. Sabemos que este sector é caracterizado por uma enorme quantidade de empresas de pequena dimensão, que têm uma importância muito grande ao nível do emprego e das economias locais.»

sábado, 4 de dezembro de 2010

Gardunha de Branco

Há uma semana que não pára de nevar a norte da Gardunha, mas a sul, nada.
Têm razão os que dizem ser a serra da Gardunha a divisão natural entre o norte montanhoso e frio e o sul plano e quente.
O Dário Inês foi aos altos da nossa serra e mandou-me fotos. Aqui deixo algumas.













sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Menino ou Menina?

No início de cada ano letivo, sempre que me calham turmas novas, tenho alguma dificuldade, na primeira aula, em saber se determinados alunos são meninos ou meninas.
Quase todos têm carinhas bem nutridas, cabelos sedosos e compridos, com franjinhas à maneira, calças de ganga e brincos/piercings. Só depois de alguns dias e muitos protestos é que consigo fazer totalmente a distinção dos sexos.
Mas esta história passou-se há muitos anos, no tempo em que apresentar-se como rapaz ou rapariga era uma questão muito séria!
Não sei o que levou a minha mãe à Covilhã, no tempo frio, mas voltou da sua visita à minha tia Santa com duas canadianas lindíssimas. Uma era para mim, cor de mel, nunca tinha visto coisa mais bonita.
Mas a minha irmã Eulália recebeu uma igualzinha! Fiquei chocado. Como iria eu apresentar-me na Escola, com roupa igual à de uma menina? Seria motivo de gozo para toda a rapaziada.
Disse à minha mãe que não a queria e porquê. Ela repetiu-me o que a tia Santa lhe explicara: roupa unissexo. Achei aquilo uma esquisitice da Covilhã e mantive-me na minha.
Deixei a minha mãe ralada para o resto do dia, pois o dinheiro era tão pouco e a jaja tão linda! Eu acabaria por habituar-me!
No dia seguinte, à partida para a Escola, lá estava a canadiana para eu vestir, já com a Eulália vestida de igual. Que não e não. Todos iam rir-se de mim e chamar-me menina!
Depois de tentar vestir-me, com palavras ralhadas, a minha mãe chamou o meu pai e entregou-lhe o caso. Desabituado de resolver questões daquelas, terá ficado à rasca. Teimou com palavras e depois passou à ação: dei voltas pela sala, no ar e pelo chão, sentia-me tonto, aflito, chorava, gritava. As minhas irmãs à porta do balcão, à minha espera, atónitas com o que viam. Acabei prostrado no chão e muito choroso.
As minhas irmãs foram mandadas para a Escola e eu para a cama, onde fiquei toda a manhã, a curar o nervosismo e as dores de alma, pois no corpo não tinha nenhuma. Ainda hoje não percebi como é que o meu pai fez para me meter tamanho cagaço sem me magoar.
No dia seguinte, lá vesti a maldita canadiana, cheio de vergonha. Cheguei à Escola muito afastado da Eulália, com medo que os rapazes vissem a minha irmã vestida de igual. Sempre que a vestia, nunca íamos juntos.
A canadiana era bonita, mas nunca gostei de a vestir e felizmente tinha muitas irmãs que a acabaram de romper.