sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Fontes: Enguernal

Há anos, o José Martins protestou por eu escrever Engarnal (ele queria Ingarnal). 
Mas era como eu encontrava escrito na documentação dos séculos XVIII e XIX.
Agora encontrei Enguernal, num registo de 4 de junho de 1730.
Terá sido erro do Vigário ou era a forma antiga de dizer?
O tempo o dirá.
Segue-se o registo e o pormenor onde se encontra a palavra (à direita, a meio).
O documento também traz a forma antiga do nome Sobral: Soveral



José Teodoro Prata

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reflorestar a Gardunha

No dia 8 de dezembro, na parte da manhã, alguns elementos da EBI de São Vicente da Beira (alunos, professores, encarregados de educação e Diretora do Agrupamento) participaram na plantação de castanheiros e carvalhos, na serra da Gardunha, atividade promovida pela Câmara Municipal de Castelo Branco.




A professora dos 3.º e 4.º anos, turma B​

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

domingo, 11 de dezembro de 2016

A azeitona já está preta

Estamos em plena época da colheita da azeitona, fruto de inverno; muitos olivais este ano não produziram, nota-se no lagar; a que vingou é de muito boa qualidade.
Dizem os entendidos na matéria; devido às altas temperaturas do verão a mosca da azeitona não a estragou.   
Começava a colher-se a partir dos meados de Dezembro, Janeiro, Fevereiro… 
As mudanças climáticas, “uma realidade nos dias que correm” alteraram completamente a recolha.
Amadurece mais cedo. Se não se colhe a tempo, mirra, seca e cai.
Alguém mais madrugador dirigia-se à praça e tocava uma corneta que anunciava a partida para os olivais.
Os campos eram alegres, camaradas de azeitoneiros “armados” com uma escada ripavam e cantavam.

A azeitona já está preta
Ai solidó, solidó
Já se pode armar aos tordos
Ai; ai,ai, ai, ai

As mulheres estendiam mantas, apanhavam o fruto que estava por baixo das oliveiras, rebuscavam e limpavam-na.
De vez em quando, colhedores entravam em confronto verbal com as camaradas vizinhas:

Ó Jaquiiim! No sejas lambão
Colhe azeitona, no sejas calão

Por sua vez, o visado retorquia gritando:

Calão és tu, no podes com a escada
Tens a mania, no vales nada

É verdade, é verdade; respondiam todos, rindo

Passavam horas chacoteando-se.
As cachopas regra geral tinham sempre uns raminhos de oliveira enfeitados com alecrim…
Quando algum viandante passava no caminho, a rapariga mais atrevidota, ramo na mão, dizia:

Aceitai este raminho
Senhor António da Tapada
Sei que é pobrezinho
Sempre é melhor que nada

Continuava dizendo mais um verso ou dois, o contemplado metia a mão na algibeira, gratificava com algum dinheiro. Conforme a bolsa assim era a quantia dada.
Árvores milenares, milhares arrancadas para serem substituídas por olivais de regadio.
Carrasquenhas, cordovis, galegas… foram transportadas para longes lugares onde ornamentam jardins.
Levam a oliveira centenária, deixam a oliveira com duração limitada.
Mediterrânica, é um óleo natural muito apreciado e saudável, tem as mais diversas aplicações.
Era o nosso petróleo. Com a industrialização e a descoberta de jazidas de crude passou para um plano secundário, já não é utilizado na iluminação, mas continua a consumir-se na alimentação.
As tabornas (tibornas); simples, tão boas!
Gostava de acompanhar o meu avô José ao lagar do Major, quando ia medir o azeite. Levava uma fatia de pão, torrava-se no brasido da fornalha e o mestre lagareiro tirava da tarefa um pouco de azeite acabado de fazer, quentinho, temperava-a, era um petisco de qualidade. Por vezes havia umas postas de bacalhau a assar nas brasas, um pitéu.
No lagar existia um local que se chamava inferno! Metia-me cá uma confusão…
Era o lugar onde iam parar as águas russas misturadas com algum azeite que os lagareiros aproveitavam.
O azeite, noite e dia alimentava a lâmpada sagrada do sacrário, ainda é utilizado nos sacramentos do baptismo e da confirmação.
Oliveira, árvore milenar, juntamente com a pomba, simboliza a paz e a esperança.
O primeiro objecto que a pomba levou a Noé foi um raminho de oliveira. Estime-se e preserve-se
No dia 26 de Novembro, faleceu o grande compositor senhor Arlindo de Carvalho, que tão bem cantou a nossa região. Natural da vila da Soalheira, onde ficou sepultado. Autor e intérprete:- Chapéu Preto, Fadinho Serrano, Castelo Branco...

A azeitona já está preta
Já se pode armar aos tordos
Diz-me lá ó cara linda
Como vamos de amores novos

J.M.S

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eleições na Misericórdia

No passado domingo, dia 4 de dezembro, 
realizaram-se as eleições dos órgãos sociais da Santa Cada da Misericórdia de São Vicente da Beira, 
para o quadriénio 2017-2020.
Candidatou-se uma única lista.
Os eleitos são:

Assembleia Geral
Dr. João Guilherme Macedo Dória, Presidente
Anabela da Conceição Pedro Matias, Vice-Presidente
Maria Lucília da Conceição Rodrigues, Secretária


Mesa Administrativa
Efetivos:
João Benevides Prata, Provedor
João Maria dos Santos
Maria Libânia S. M. Ferreira
Maria da Luz Prata Teodoro
Pe. José Manuel Dias Figueiredo

Suplentes:
João Fernandes
Domingos dos Santos O. Goulão
Luís Fernandes Moreira


Conselho Fiscal
Efetivos:
Francisco Eduardo C. Martins, Presidente
Pedro Manuel Vaz Gama, Vice-Presidente
Manuel Bernardino Baptista, Secretário

Suplentes:
Lilia Maria Moreira Mateus
António Rodrigues Inês
Sebastião Barroso Mendes

José Teodoro Prata

domingo, 4 de dezembro de 2016

As profecias do Pescão Seco

Chamava-se António Fernandes e nasceu no lugar de Pescanseco, Pampilhosa. Sabe-se lá porquê, veio ainda novo para São Vicente e por cá se casou com Maria de São João, no ano de 1884. Tinha vinte e oito anos e era soldado na reserva. Por causa da terra onde nasceu, começaram a chamara-lhe Pescão Seco.
Conta o Chico Insa que ouvia dizer ao avô e ao pai que era um homem muito instruído, que sabia ler e escrever muito bem e falava de coisas que davam que pensar. Havia uma que dizia mais ou menos assim: «Hão de vir tempos em que os caminhos estarão pintados de preto e no ar hão de voar coisas que deixam riscos no céu. Quando isso acontecer, virão cataclismos tão grandes que será o fim do mundo».
Naquele tempo, já lá vão cento e muitos anos, mal se imaginavam as voltas que o mundo havia de dar e as transformações no modo de vida das pessoas: carroças e carros de bois substituídos por automóveis e aviões; gente a viver em gaiolas (parece que em muitas cidades do Oriente é quase literal) e a alimentar-se com comida que cresce à custa de fertilizantes, hormonas e pesticidas; mezinhas substituídas por antibióticos que já se deixam enganar pelas bactérias; armas capazes de arrasar cidades inteiras; e tantas outras coisas que, a pouco e pouco, estão a tornar cada vez mais frágil a qualidade de vida das pessoas e do ambiente.
Ainda assim, ainda não há muito tempo, os mais desatentos dizíamos que os avisos sobre as ameaças da vida na Terra tinham origem em teorias alarmistas e pouco fundamentadas e continuávamos a olhar para o lado como se não tivéssemos nada a ver com o assunto e estas questões não tivessem a ver com cada um de nós.
Agora os cientistas já dizem que chegámos a um tempo em que, se não se tomarem medidas extremas dentro de um período muito curto de tempo, chegaremos a uma situação em que não haverá retorno em termos da sustentabilidade do Planeta.
Conscientes desta realidade têm-se conseguido compromissos por parte de um grande número de países, para a implementação de medidas que evitem males maiores, nomeadamente pela redução de gases poluentes. Mas logo agora que se estavam a dar passos importantes nestas questões, os americanos voltam a surpreender-nos com a escolha que fizeram para seu presidente: um homem que tem revelado uma atitude de negação e desprezo por grande parte das conquistas civilizacionais que fomos alcançando, incluindo a consciência ecológica e a preocupação pelas questões ambientais.
Se tivermos em conta a origem das primeiras felicitações que lhe chegaram do estrangeiro (Marine le Pen, Putin, Erdogan…), se calhar temos razões sérias para estarmos apreensivos quanto ao futuro; se não do nosso, pelo menos do dos nossos filhos.
Oxalá não se cumpra cedo demais a profecia do Pescão Seco!

Notas:
António Fernandes e Maria de São João moraram na Vila e aí lhes nasceram os dois primeiros filhos que morreram anjinhos. Viveram depois no Casal da Fraga, numa casa que seria mais ou menos no local onde eu moro agora e onde terão tido uma filha que se chamava Bernardina; mudaram-se a seguir para a Senhora da Orada, mais precisamente para o Vale Caria, onde lhes nasceu pelo menos mais um filho, Anselmo, que andou na Grande Guerra, mas que também deve ter morrido ainda novo.


A casa do Vale Caria, onde viveram, era muito humilde, e dela já só existem vestígios das paredes traseira e laterais e o sítio onde acendiam o lume.
Apesar de ser um homem com uma instrução acima da média para aqueles tempos, António Fernandes terá sido toda a vida jornaleiro. Dos poucos descendentes que teve, ainda vivem alguns no Casal da Serra. Continuam a ser conhecidos pelo nome de Pescão.

M. L. Ferreira