segunda-feira, 17 de maio de 2021

Os nomes das nossas ruas (continuação)

 Partida

«…a aldeia seria em tempos recuados constituída por duas partes, separadas pela Ribeira do Portabeira. Seria, assim, uma povoação «partida» e daí o nome Partida.» (Luís Leitão em «Partida»). Esta explicação, não estando provada, é bastante plausível. Seria assim no tempo em que, segundo a lenda, o Santiago ainda penava nas Lameiras, antes de lhe terem feito a capela no cimo do Cabeço.

 

Dá-nos também ideia da antiguidade do povoamento daquele lugar.

À medida que foi crescendo a povoação trepou, encosta acima, em ruas íngremes, entrelaçadas umas nas outras, por onde dá vontade de nos perdermos.

A maior parte dos nomes confunde-se com os lugares que lhe são próximos e as culturas mais comuns nos campos à roda: Rua do Esteval, Rua das Hortas, Rua dos Olivais, Travessa da Moreira (Amoreira), Rua da Barroca, Rua do Cabeço…; outras lembram o nome dos santos da devoção das gentes da terra: Rua de Santiago, Largo de São Sebastião,

Rua da Igreja.

A caminho do Vale de Figueiras vai a Rua dos Almos. O nome eleva-nos o pensamento, a sugerir alguma divindade, mas é possível que lhe venha de uma das muitas espécies da vegetação que ladeia a Ribeirnha, a correr-lhe quase paralela.

À Rua do Coredágua, que desce desde quase o cimo do povo, assenta-lhe bem o nome: dizem que em dias de muita chuva é um louva a Deus de água por ela abaixo.     

À semelhança de todas as outras povoações da freguesia, também aqui muitas casas vão ficando vazias e, com o passar dos anos, acabam por cair. Mas, ao contrário do que se passa noutros lugares, há muitas a ser reabilitadas. É o caso destas na Rua do Outeiro. Na da esquerda terá funcionado a primeira Escola da Partida.


E que lindas ficam estas ruas!

 

Mourelo

Terão por lá andado os mouros? É possível… Existem ali à roda lugares, a fonte de mergulho e a Gruta da Moura, que podem prová-lo.

Logo à entrada do povo, no Largo da Portela, o Santiago a abençoar e proteger:

Depois são algumas ruas alinhadas, cortadas por outras que as atravessam e unem. Os nomes lembram-nos a importância da agricultura naquele lugar: Rua do Lameirão, Rua da Vinha Velha, Rua do Vale do Linho (poderia existir também a Rua dos Olivais, porque há oliveiras seculares por todo o lado).

A placa da Rua do Vale do Linho foi mudada para Rua da Escola; resta a memória desse tempo na Travessa do Vale do Linho.

O cultivo e tratamento do linho foi uma das principais atividades das mulheres do Mourelo até meados do século passado. Das poucas que lá vivem, falei com uma que recorda esse tempo e conta como era duro o trabalho: «Olhe aqui como estão os meus dedos, todos tortos. Foi de tanto fiar, desde que era pequena. De inverno, o serão era passado à roda do lume a dar ao dedo. Nem nos dias em que meu homem lá ia a casa a namorar-me tinha descanso. Mal podíamos falar um para o outro.» À beira dos oitenta anos e já viúva, naquele dia ainda andava a semear feijões numa horta que fazia inveja.

 

A Rua do Forno já foi Rua dos Correios. Ainda restam vestígios dos tempos em que as cartas eram levadas por mulheres, a pé, por caminhos de cabras, sujeitas a todos os perigos. Há quem por lá se lembre ainda da Ti Mari’ Correia e da Ti Mari’ Chamiça.

Na Rua da Portela encontramos alguns dos melhores exemplos da arquitetura da época, com casas de um ou dois pisos e paredes levantadas em xisto. Impossível não meter o olho pelo buraco da fechadura…

 

E nesta casa, na Travessa do Fundo da Rua, que pena não haver gente à varanda ou sentada no poial, entre as portas.

Houve tempos em que muitas casas tinham estes bancos de pedra. As mulheres, sentavam neles para descansar do trabalho no campo, que começava ainda antes do nascer do sol. Às vezes aproveitavam para remendar, fiar, ou a catar os filhos quando as pragas de piolhos atacavam. Depois da ceia, vinham só para dar à língua umas com as outras e aproveitar o fresco da noite. As crianças brincavam às escondidas ou sentavam-se ao pé, a ouvir contar histórias.

E ao fundo da Rua da Capela, quase à saída, o Santo António a dar proteção aos moradores e aos que passam a caminho do Tripeiro… 

M. L. Ferreira

(continua…)

terça-feira, 11 de maio de 2021

A casa de granito

 I

Eu e o meu amigo tínhamos acabado de nascer. Ele residia na casa de granito, mesmo em frente da minha. Surgimos no seio das nossas famílias, ali, no Cimo de Vila, como, de forma aleatória, a vida desponta e acontece em qualquer lugar. Ainda usávamos os bibes que as nossas mães nos tinham talhado e cosido à mão. Éramos da mesma idade e isso fazia com que sentíssemos uma afinidade especial que se manifestava nos gostos pelas mesmas brincadeiras: construíamos casinhas com pedras, pedaços de vidro e terra amassada; apanhávamos abelhas, das amarelas, com uma mosca espetada na ponta de uma caruma; guardávamos as vacas (duas pinhas bravas, abertas), atadas nas pontas de um fino cordel de sisal. Por sermos os mais novos da rua, as jovens vizinhas, quase casadoiras, pegavam-nos e passavam-nos de mão em mão esmagando-nos a cara com beijos.

Um dia, os pais do meu amigo foram viver para a cidade. Ele também foi. Regressava de vez em quando para visitar os avós e nós víamo-nos. Um dia morreu! Dizem que foi um sopro no coração. E, assim, perdi, para sempre, o meu primeiro amigo.

A vida continuou porque o sol todos os dias aparecia nas terras de nascente, levantando-se entre os pinheiros bravos, onde o cuco cantava nas manhãs quentes, para os lados do Louriçal. Não sei quantos anos a casa de granito, ainda esteve fechada. Lembro-me apenas de a ver novamente ocupada pelo ti’ Joaquim Ferreiro e pela mulher, a ti’ Maria Adozinda. Nunca soube o apelido de família do ti' Joaquim, mas apenas a alcunha da profissão. Ele não era como o português mediano. Pelo contrário, era alto e espadaúdo. O Elias, que via muitos livros de quadradinhos e já sabia ler bem, dizia que o ti’ Joaquim Ferreiro era "tão grande como os alemães". Os alemães é que eram assim! Apesar disso, o tamanho não lhes valeu de nada, porque "já tinham perdido duas guerras mundiais!", dizia o Elias.

O ti' Joaquim andava sempre com um casaco, mas nunca o vestia. Isso tolhia-lhe os movimentos a trabalhar na sua oficina. Usava-o apenas pelas costas, "por causa das pontas de ar". Mas, na banda filarmónica da Vila, onde tocava caixa, tan-tarran-tan-tan(!), com a farda vestida e boné na cabeça, aprumado, caminhava perfilado e com passo marcial, como na tropa. Um, dois, esquerdo... Parecia outro!

A oficina dele era numa rua para os lados da praça e tinha uma grande porta de entrada. Dividia-se em duas partes. Uma em que trabalhava o ferro, onde havia uma forja, uma bigorna, grandes martelos, tenazes compridas, alicates enormes e montes de pedaços de ferro e aço. Se não havia portões e grades de ferro para fazer, guilhos e picaretas para aguçar ou cavalos, burros e vacas para ferrar, trabalhava na outra parte, onde fazia alguns utensílios, como latoeiro. Para estes trabalhos menores, tinha um pequeno fogão de cozinha, de bomba, a petróleo e as ferramentas eram o martelo de chapa, o alicate, o punção, uma bigorna de reduzidas dimensões e uma máquina de frisar.

Sentava-se no seu banquinho, sempre com o casaco pelas costas, atrás desse fogareiro, que se encontrava no meio do espaço de trabalho, em cima de uma pequena banca de madeira. Era onde aquecia o ferro de soldar. A matéria-prima era a solda de estanho em pequenos pedaços, a folha-de-flandres lisa ou zincada e o rolo de cinta de ferro para cortar à medida, rebitar e soldar à volta do fundo, a robustecer as peças maiores: cântaros, caldeiros, regadores. Já, peças como os copos, latões ou outros utensílios menores, dado o pouco volume de líquido que levavam, não tinham necessidade desse reforço. 

A mulher do ti’ Joaquim, a ti’ Maria Adozinda, era alta e magra. Quando andava boa, tinha genica, mas a maior parte do tempo era frágil e tomava muitos comprimidos, supostamente para as suas doenças da cabeça. Por isso, se o homem tivesse a desfaçatez de lhe dar uma lamparina, dificilmente se aguentaria com ela! Um pequeno encosto de um homem com um corpo daqueles, habituado a malhar ferro, numa mulher como a dele, tão débil, era como um mosquito vergastado pela cauda de um macho.

Quando o ti’ Joaquim Ferreiro e a mulher foram residir para a casa de granito, durante muito tempo não se ouviu uma mosca na vida deles. Ele ia todos os dias de manhã para a oficina e ela fazia o comer e ia à Fonte Velha buscar água. Eles também tratavam uma hortita onde semeavam umas batatas e punham algumas couves de inverno.

O ti’ Joaquim emborcava o seu copito nas tabernas da baixa, com os convivas de domingo à tarde. Pois com certeza! Mas não era conhecido por ser amigo da pinga como o ti' João Valente ou mesmo como o  ti' Chico Cambão. Portanto, em casa do ti’ Joaquim Ferreiro não parecia que alguma vez viesse a haver desavenças por causa do mau vinho.

Por isso não se sabia como é que, de vez em quando, mas, felizmente, muito raramente, se ouvia uma grande algazarra e coisas a cair pelas escadas abaixo com grande estrondo! Pareciam cântaros, panelas ou outros utensílios. Desconhece-se a razão por que eles se zangavam. Talvez fosse por causa da energia da mulher que, quando andava boa, nunca se calava! As pessoas de compleição tísica, dadas a doenças cismáticas, no auge da discussão e, quando cerram os dentes, têm muita força! Não se sabe muito bem se seria isso ou se seria o facto de a vida nada lhes oferecer, senão lugubridade e desesperança.

Do mal, o menos, esperava-se que o homem não atirasse a própria mulher pelas escaleiras, juntamente com os tachos e os cântaros! Não o achávamos capaz disso, que diabo! Mas, no limite, nunca se sabe até onde podia ir o comportamento de um chefe de família, que defendia a "ordem e os costumes". O Estado entrava assim, com o seu agente, em todos os lares, porque queria paz social. Embora, dentro de cada lar, pudesse haver guerra! Era um mal menor. E, como eram apenas homens que frequentavam os corredores do Estado e que mandavam em tudo, eram também eles que decidiam o que era a "ordem e os costumes". Tudo ficava em casa.

Tirando estes alvoroços, o tempo fluía e as coisas aconteciam, mas devagar. Enquanto o mundo girava, pouco mudava. E talvez nem fosse importante. Bastava que a um dia se seguisse outro dia. Como a quietude do correr das horas de uma tarde de verão, com as pessoas na indolência, ao sol, e as moscas a voltejar.

A filha do ti’ Joaquim Ferreiro e da ti’ Maria Adozinda, se ela era uma rapariga graúda! Era sim senhor! Solteira e independente. Estava para Lisboa e só vinha, de vez em quando, visitar os pais. Por isso, eles estavam quase sempre sozinhos. Cada um tem que tratar da vida, pois com certeza! Mas era no que dava ter filhos únicos.

 

No inverno, com os dias escuros e pequenos, a mulher do ti’ Joaquim retirava-se para o quarto do fundo e ia para a cama cedo. Ele não costumava deitar-se com ela. Entretinha-se com alguma coisa ou sentava-se, simplesmente, à lareira, com o casaco pelas costas, "por causa das pontas de ar", pondo um aspeto meditativo. Pudera! Às vezes desesperava porque sabia a vida que tinha, via o tempo a correr e pensava: "para que andei eu a criar uma filha?". E não podia parar o tempo. Uma noite esteve, vai e não vai, para tirar o relógio de corda que tinha na parede, com aquele tic-tac implicativo, e atirá-lo ao chão! Só não o fez porque se lembrou da sua falecida mãe, a quem o relógio pertencera. Quando, já tarde, deixava o calor do lume para se ir deitar, a mulher estava quase sempre a dormir. Era o que faziam zangas antigas e corpos velhos e ressequidos. 

Certo dia, ao escurecer, o ti’ Joaquim Ferreiro acendeu a braseira de zinco, com reforços de ferro, obra da sua arte de trabalhar os metais, aproveitando os carvões vivos da lareira e pô-la no estrado, na pequena sala. Estava frio e a chuva batia ligeiramente na janela. O tempo foi-se escoando com ele a cogitar, recolhido, embalado por aquele tamborilar suave. Sentado na cadeirinha, com o casaco pelas costas, no aconchego das brasas, por longas horas, estava já a cabecear. Não havia meio de se ir deitar e já eram horas! A mulher acordou do primeiro sono a meio da noite, estranhou a demora, saiu do quarto e foi à sala. 

Com o lume alto, na pedra do lar, os gases saíam pela chaminé. Mas a braseira, incandescente, no meio da sala, com uma prata por cima para avivar as brasas, exigia arejamento. Talvez porque não tivesse aberto as janelas e não renovasse convenientemente o ar da exígua divisão, o ti’ Joaquim morreu. A mulher foi dar com ele caído no chão, envenenado com os monóxidos carbónicos da combustão.

"Aqui d’el-rei"!

Veio a vizinhança mais próxima, com os olhos entumescidos do sono, um casaco e uns sapatos enfiados à pressa. Algumas mulheres confortavam a viúva. Entre o sururu do acontecimento, foram-se inteirando do sucedido e comentavam aleatoriamente:

"Estas tragédias estão sempre a acontecer!"

"Não foi o primeiro, nem será o último!", lamentavam alguns que aparentavam as mesmas idades do finado.

Era o que sempre se dizia, quando alguém morria. Os lugares comuns eram sobre a tristeza e a saudade que deixava o defunto:

"Foi uma pena! Tão boa pessoa! E ainda não era velho!"

Ao cabo, pensavam sempre:

"Estou confortável porque desta ainda não fui eu".

A mulher do ti' Joaquim Ferreiro não demorou muito, foi-se-lhe juntar. Pois, diz-se que, para todos, a vida tem um término e que a morte é a coisa mais certa da vida. Mas eu interrogo-me sempre sobre isto. Por que havemos nós de ter a certeza da morte? Na verdade, enquanto vivos, vemos os outros morrer. Quando morremos não temos consciência da morte. Nunca se ouviu alguém dizer:

"Afinal, sempre morri!"

De todo o modo, caso eu morra, a minha sepultura é a número 35 do Cemitério Novo!


II

A casa de granito continuava vaga desde que o ti' Joaquim Ferreiro e a ti' Maria Adozinda tinham falecido. Foram mais tarde trastejá-la e passaram a habitá-la, o ti’ Manuel Pedro, homem alto, olho branco, conhecido por Mané Gato e a mulher, a ti' Ludovina, cujo nome, as gentes da Vila, pelas suas boas artes linguísticas, pronunciavam, "Delevina".

O ti' Mané Gato era um homem muito considerado na Vila, não só pelo seu forte pulso, mas também pela sua honradez. Era muito amigo do ti’ Zé Silvério. Ambos eram resineiros, encarregados de outros resineiros. Eram eles que entabulavam mediações com o empregado engravatado da fábrica da resina, que vinha fazer os pagamentos ao pessoal. Ambos tinham também a sua quota-parte na agricultura para complemento dos rendimentos da resina. Por via das suas funções de tomarem conta do pessoal e da forte impressão, tanto física, como de palavra de honra, que ambos gozavam, havia a impressão que entre eles se disputava o lugar de "número um da terra". A questão esteve sempre em aberto. Mas depois que o ti’ Mané Gato morreu, o ti’ Zé Silvério reivindicou o lugar só para si, não se sabe se com toda a justiça ou não. Com o seu copito no estômago e a alma toda contente, batia com o pé-direito no chão, ao mesmo tempo que proclamava:

"Número um da Vila!" 

O que se sabia, com certeza, era que se o ti’ Mané Gato estivesse presente onde houvesse uma escaramuça, muitas vezes por causa do tinto, era homem para apaziguar os ânimos a contento de todos. Impunha a sua autoridade pela consideração que gozava e pela imponência da estatura. Sobretudo, se via desproporção entre as forças litigantes.

Uma vez, veio a dar-se esse caso, aquando da prisão do Peito de Cavalo, o enorme salteador, que, segundo o ti' Albertino, varreu a serra da Gardunha por uns anos. O homem tinha sido preso, em flagrante, por populares que, talvez já pingados, porque, em qualquer sociedade, não faltava o garrafão, o queriam matar pela inquietação que causava na pacata vida das famílias. Foi o t'i Mané Gato que, impondo a sua conceituada palavra, disse:

"Enquanto eu aqui estiver não se mata ninguém!"

Os circunstantes, e eram muitos, ouviram, mas nenhum levantou um dedo. O homem foi entregue às autoridades concelhias competentes, vindo a ser julgado em tribunal, como era de lei.

De outra vez, houve outra circunstância. Não sei se é verdadeira, nem me lembro quem ma tivesse narrado. Nem isso é decisivo. Pois, como sabemos, qualquer homem de quem se contem façanhas e atos heroicos, a certa altura, passa a fazer parte do mito. Deixamos de saber o que pertence à realidade dos factos e o que é do domínio do imaginário.

A conjuntura foi que, um dia, na taberna da ti' Maria Viúva, com as sociedades regadas pelos copos, viva a nossa que é melhor que a vossa (!), três irmãos graúdos, uns trastes, há anos desavindos com um homem da terra, parecia que se estavam a unir para o sovar. Ainda que ele sorvesse o seu copo ao balcão e se apresentasse calmo. Mas eles procuravam ocasião para levarem por diante a sua maquinação. No meio da malta, fingiam meios tombos, falsamente provocados pela bebida, para dar encostos nuns e estes baterem no outro. O intuito era provocatório. 

Nestes casos, o ti' Mané Gato, não olhava à razão da luta. Dava-lhe volta ao estômago assistir ao massacre de qualquer ser vivo, quanto mais de um homem! Confortado na sua autoridade, ia pedir desforços, pondo-se sempre do lado dos mais fracos. A seu ver, era uma forma de pôr em prática a caridade cristã que lhe tinham ensinado e, por essa forma, tentear o mundo, que tão desequilibrado lhe parecia. Quando se apercebeu que os malandros estavam a chegar a pontos ostensivos, que não deixavam dúvidas quanto às suas intenções, o ti' Mané Gato chegou-se à frente:     

"O que é que se passa? Vocês estão doidos ou quê? Estão aqui umas belas sociedades e não admito que se estrague a boa união com conflitos e zangas antigas. Não tendes vergonha de andardes a tramar coligações contra um homem só?"

Soava que, noutros tempos, tinha havido quezílias de namoro entre o visado e uma irmã dos amotinados, que não deu em casamento. Mas, como era costume, o assunto era lá entre homem e mulher, pois se eles, na época, eram maiores e solteiros, ninguém tinha nada com isso! Porém, se o costume quase sempre prevalecia, o certo é que, muitas vezes, as famílias também se metiam, para defender a honra.   

"Ele chamou curta à nossa irmã!", atiraram os da horda. "Havemos de lhe fazer engolir a má criação!", vociferavam os marmanjos.

Ele, o vinho, fazia coisas!

E o ti' Mané Gato, que conhecia bem a vida da pequena Vila:  

"Isso são coisas antigas. Mas, se querem, vão à cidade e resolvam o assunto de outra maneira, com a justiça. Comigo aqui, não há bulhas! Se querem guerrear, mas de homem para homem, vão lá para os infernos, para a Devesa. Haja respeito pelo Senhor Santo Cristo que está ali ao lado na Igreja da Misericórdia".

E mais assim e mais assado, lá tentou dissuadir a conjura dos manos, para que não levassem por diante os seus intentos de estragar a festa de domingo à tarde. Porém, um dos irmãos, o mais masmarro, não esteve pelos ajustes. Novo e altivo, veio direito ao ti’ Mané Gato:

"Nem você, nem o Regedor. Ainda havemos de lhe fazer amargar a sua petulância e a mania de que manda em tudo nesta terra!"    

Parecia que também falava pelos irmãos, mas nenhum deles se mexeu. Fiado na sua juventude, aventurou-se ao pé do ti' Mané Gato, até à distância de um braço, dando-lhe um pequeno encosto na cara que lhe fez cair o chapéu domingueiro. Fizeram roda! O ti’ Mané Gato, na sua forte compleição da maturidade, cegou! Ah! homem de uma cana! Felino, fazendo jus ao próprio nome, lançou-se aos gorgomilos do revanchista que nem um lince ao cachaço de um coelho. Estava o outro a ofegar, dominado, e o ti' Mané Gato preparava-se para lhe saltar com os pés em cima da arca do peito. Foi quando quatro rapazes da roda dos assistentes decidiram, a custo, tirar-lhe o homem das mãos. 

"Ó ti’ Mané, então, que diabo…!"

O ti' Mané, esbraseado, apartado, moderou a sanha, apanhou o seu chapéu e rematou:

"Só o barbeiro me põe as mãos na cara!"

O machacaz, combalido, dorido, ia-se levantando devagar, encostando-se ao balcão, a recompor-se. Os irmãos quedos e mudos, tinham apostado nele, um digno e forte candidato a desagravar as mágoas familiares, mas perderam. A coisa serenou graças à intervenção do ti' Mané Gato, pondo-se fim à questão, pelo menos daquela vez.

 

O raio do sumo da uva, depois de fermentado, parece ganhar a alma dos anjos e do demónio! E tem, nestas partes, um papel crucial. Tanto espalha as alegrias, como arranja as sarrafuscas. Com a volubilidade que se lhe reconhece, ora porque faz tantos amigos, ora porque entre eles cria desavenças, era natural que as zangas por sua causa também fossem intensas, mas breves. E, daí a bocado, depois da discórdia, foram, todos abraçados, deixando de lado ofensas antigas, contendores, olheiros e papalvos, beber a sossega. A paz, por ora, voltava à taberna, até que surgisse nova oportunidade a juntar outros antagonistas.

Tem-se por verdadeiro que “a ocasião faz o ladrão”. Numa taberna, mais que numa mesquita, era provável que "o cura doenças", nome que Mané Gato dava ao vinho, começasse a subir à cachimónia de alguns. E depois davam-se estes casos. Mas não pagava a pena apeguilhar porque, depois, em chegando a Semana Santa, tinham que ter o trabalho de confessar tudo ao padre Tomás, sem o que não podiam apresentar-se à Sagrada Comunhão. E ninguém queria ficar de fora.      

 

III 

Por aqui já se vê que o ti’ Mané Gato, gostava muito da pinga, ao contrário do ti' Joaquim Ferreiro. À noite, mas, especialmente, aos domingos à tarde, tinha na praça ou nas tabernas da baixa, a sua assembleia de amigos, onde era igual entre iguais porque a todos respeitava. Mas sobre ele pairava uma aura de justiça, fazendo frente aos fortes e acudindo aos fracos, num tempo em que, nem o Regedor, com os seus Cabos de Ordens, tinham mão nos mais fortes. E faltavam os meios de polícia e de justiça que tinham chegado às cidades. Nas tabernas, os homens iam bebendo e conversando sobre a vida, tão catolicamente como no trabalho ou no recato da família, enquanto, sem o saberem, festejavam o pagão Baco. Mas também celebravam o Cristo, em cuja Mesa o Vinho nunca falta.

"É da nossa religião beber vinho. Na taberna, como na missa!", dizia o ti' Mané Gato. Eram esses bons convívios e boas harmonias, que ele defendia a todo o custo.

Assim é que, volta de um lado, volta do outro, conversa daqui, conversa dali, passavam umas valentes horas nas baiucas, muitas vezes, a beber muito e a comer nada. E quanto mais um homem bebe, mais vontade tem de beber. Há uma altura em que não concede ter a garganta seca. Experimentar, repetir, cultivar e abusar causa todos os vícios. O homens é o único animal com estas fraquezas. Já, como se viu, em casa do ti' Joaquim Ferreiro, as desavenças aconteciam porque a ti' Adozinda, a mulher, quando começava a falar, não havia meio de se calar! Era um vício menor mas, também, nada recomendável. E o homem descoroçoava!

Razão tinha o padre Tomás!

Ele que, na sua pureza ortodoxa e não desviante, pugnava por uma comunidade de paroquianos sem mácula, ralhava:

"Velhacos, confessais-vos agora e logo vos afogais outra vez nos vícios. Não tendes temperança. Vinde cá, que eu logo vos coço!"

Dizia isto, mas, da próxima, lá tinha que perdoar novamente! Porque, ainda que de má vontade, estava obrigado a perdoar, pelo menos, "setenta vezes sete".

 

Mas, a vida, na Vila, continuava. E foi assim, que num domingo de verão, como tantos outros, tinha entretanto corrido uma carrada de anos (!), o ti’ Mané Gato, já bem aviado, mesmo ao fim dessa tarde de sol, deixou a taberna da ti' Maria Viúva. Havia mais de 30 anos que a sua idade tinha entrado nos "entas".

Nesse dia, ainda passou pelo ti' João Arrebotes, onde tomou um derradeiro copo. Seria o último que, sem o saber, bebia na vida! Disse "até amanhã" e saiu. Voltou para a rua D. Úrsula, dobrou a esquina para a rua Manuel Lopes e começou a subir. Tentava não dar parte de fraco, como todos os que se tocavam da pinga, aqui ladeando a rua, ali tateando a parede para retomar o equilíbrio. E embicou, como pôde, direito à casa de granito, ao topo da rua, no Cimo de Vila.   

Quando chegou à porta de casa não encontrou a chave. A mulher não estava. Como habitualmente, devia ter ido à horta acomodar os borregos. Ao fundo da porta havia um buraco para deixar entrar o gato e as galinhas para a loja. Ao sol posto, com os animais recolhidos, cerrava-se com uma pedra amovível. Quando os donos saíam, fechavam a porta, metiam o braço pela abertura e penduravam a chave na parte de trás, onde se encontrava um prego espetado, saliente, para esse efeito.     

Ti' Mané Gato procurou-a, a custo, no lugar habitual, tirou-a, rodou a fechadura, abriu e subiu, com dificuldade, as escadas de madeira inclinadas. Acabou de subir e pôs-se de pé no alto da escadaria, procurando agarrar-se à ombreira da porta que dava para a sala. Nessa altura, não se soube bem o que aconteceu. Com o espirito do vinho a puxar para um lado e o ti' Mané a puxar para o outro, talvez o primeiro tenha sido mais forte! Tudo aponta para que se tenha desequilibrado e caído para trás, desamparado, pelas escadas, indo embater, ao fundo, no granito do limiar e ferindo-se com gravidade na cabeça, no prego saliente atrás da porta, onde se costumava pendurar a chave.  

Ao regressar, a mulher, não conseguiu abrir a porta porque, como veio a verificar, atrás dela se encontrava o corpo do homem, se não mais, pelo menos, profundamente inanimado, pelas consequências da queda. Por uma fresta, era visível na pedra clara do limiar uma mancha vermelha. Era sangue! Assim que a ti' Ludovina, entreabrindo mais a porta, se apercebeu do lagoeiro, e percebeu a verdadeira gravidade da situação, desatou aos gritos:  

"Ai Jesus! Ai o meu homem que está morto! Ai, meu rico homem! Acudam...! Acudam...!", gritava a mulher, surpreendida e consumida pelo desespero.

A caramunha e a gritaria, ao cair da tarde calma daquele domingo de verão, foi ouvida por todo o Cimo de Vila. E, de tal modo desassossegou os moradores, que acudiu ali um tropel de pessoas, afigurando-se que se tinham esvaziado, num rompante, todas as casas da vizinhança. Parecendo, como se dizia dos ajuntamentos, que "tinha parido ali a galega"!

Com a chegada das gentes, alguns homens mais destemidos procuraram remover o obstáculo, acabando por forçar a entrada, passando apertadamente entre a porta semiaberta e o corpo inanimado do ti' Mané Gato. Pegaram nele, ergueram-no, abanaram-no, tentando reanimá-lo e falavam com ele, julgando que estava apenas sob o efeito do álcool e atordoado pela queda. Não articulou palavra, não emitiu som, nem deu acordo de si. Puderam ver os ferimentos, especialmente, o da cabeça, que fora provocado pelo prego atrás da porta. Perceberam então que estava morto!

 

Depois que passaram muitos anos que a viúva do ti' Mané Gato morreu, a casa de granito foi vendida. A pedra das paredes, parecia tornar-se eterna, como eterno era o maciço da serra da Gardunha onde foi cortada por mãos calosas, talvez, houvesse quase dois séculos. Testemunhando um passado de gente pobre de bens, mas rica de alma, lá continuava de pé, enegrecida pelo rigor dos invernos e chacinada ao calor dos estios. Nunca mais foi habitada. 

JOSÉ BARROSO  

domingo, 9 de maio de 2021

Boletim agrícola

 Pequenos nadas

Há anos escrevi aqui sobre o facto de o sr. Francisco Ventura produzir produtos hortícolas ao longo de todo o ano. Tal deve-se à sua experiência angolana, onde viveu. Também alguns dos meus vizinhos, todos oriundos do campo, conseguiam produções fora de época.

Depois de várias tentativas, julgo ter encontrado a fórmula: as cebolas plantam-se no outono (já vi molhos de cebolo à venda no Natal), mas só entram em pleno desenvolvimento com os primeiros calores de março. Agora, fins de abril e maio, estão prontas a comer, dispensando-nos de comprar aquelas cebolas meio ressequidas por tantos meses em câmaras frigoríficas. Mas atenção: o sítio da plantação tem de ser soalheiro e sem sombras!

O mesmo se passa com as beterrabas e os alhos-porros. Aquelas semeei-as em canteiro no outono e transplantei-as no início de março. Para completar o lanço, comprei outras tantas, ainda pequeninas: umas e outras já têm a cabeça grossa! Os alhos-porros plantei-os também no outono e já ando a comer deles, aliás, em vários já brotaram as flores. Quanto a estes, um segredo que aprendi numa visita de estudo às hortas urbanas da Câmara de C. Branco: conforme vão crescendo, vai-se aterrando sempre o caule, mas deixando o olho de fora; resultado: a parte branca do caule fica tanto mais longa quanto mais taparmos o caule; mas a distância entre cada fila de alhos tem de ser bem maior do que com as cebolas, para termos espaço e terra para ir aterrando os caules (este ano tenho-me visto aflito para realizar este trabalho, pois deixei-os muito juntos).

Também para alhos e beterrabas, a mesma regra de ouro: plantar em sítio soalheiro e sem sombras. Ter boas produções em junho/julho, é relativamente fácil; tê-las em abril/maio, exige certos cuidados!

Boas produções!

José Teodoro Prata

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Os nomes das nossas ruas

Terras de heróis anónimos. Quase sempre homens e mulheres de unhas encardidas e mãos calejadas assim que começavam a ser gente. Uma vida a trabalhar de sol a sol para tirar da terra o sustento dos muitos filhos que Deus lhes dava e tantas vezes lhes levava, mal eram postos no mundo ou no correr da infância, mortos de fome. A melhor fatia do que produziam mal dava para pagarem as rendas àqueles que, por uma ordem social e moral velha, que ninguém contestava, se diziam donos delas. Não ficaram para a História imortalizados no nome de uma rua ou de uma praça. É natural, não haveria ruas nem praças que chegassem para escrever os nomes de tanta gente.

Mas deixaram pegadas por todo o lado que são testemunhos da sua passagem por estas terras. Não precisamos de estender muito o olhar para descobrirmos a herança generosa que nos legaram. É por isso que, com frequência, sinto que os nomes das ruas e lugares das várias povoações da nossa freguesia, não sendo de gente ilustre, são memoriais ao trabalho heroico dos nossos antepassados, incluindo os nossos pais e avós, os que nos estão mais próximos.

Certamente porque a História e a Geografia, mas sobretudo o modo de vida, as necessidades, as ambições e as crenças são comuns, os nomes das ruas, repetem-se ou assemelham-se muitas vezes nas várias aldeias da Freguesia: Rua da Eira, Rua da Fonte, Rua do Forno, Rua do Lagar, Rua da Barroca, Ruas dos Olivais, Rua da Igreja… Constatei isso ao percorrê-las:

 

Casal da Serra

«A aldeia era uma rua inclinada de poente para nascente. Semelhava uma cobra rabiscada por mão de criança. Dela se separam algumas ruelas. Em maior número para norte. Para Sul apenas duas, porque o declive era abismal…» (Albano de Matos, em “A casa Grande”).

Esta rua chama-se agora Rua da Fonte. Registos antigos dizem que já se chamou Rua do Forno, por referência a um forno, propriedade da Casa Grande, gente rica, dona de quase todas as terras ali à roda. O forno era particular, mas, em alguns dias, estava ao serviço da população.

Dela, sobem agora a Rua do Forno, a Rua da Capela, a Rua da Barreira, a Rua da Barragem e a Rua do Lagar.

De todas, a Rua da Lagariça, também para norte, é a que melhor testemunha a presença humana, desde há muito tempo, naquele lugar. As lagariças eram pequenos lagares escavados na rocha, onde se espremiam as uvas e fazia o vinho de forma bastante simples. Terão existido muitas na região da Beira Baixa. Algumas desapareceram, mas as que restam são consideradas pontos de interesse para os locais onde se situam. A do Casal da Serra foi coberta por uma camada de cimento…

Para Sul, correm a Rua da Ribeira, a Rua da Graça e a Rua Da Eira.

Neste conjunto de casas, a construção mais pequena, ao centro, terá sido a primeira habitação da família Simão Candeias. Foi ali que, mais tarde, funcionou também a primeira escola do Casal da Serra.

 

A eira que dá nome à rua ainda existe, à direita das casas, e está capaz de receber uma malha. Assim haja trigo, centeio e cevada, e braços fortes para levantar o mangual.  

 

Paradanta


A origem do nome da povoação - pedra de anta, de acordo com informação do José Teodoro - sugere que o lugar será habitado desde há muito. Pouco mais que a Rua Principal, empoleirada na crista de uma elevação que corre no vale, de norte para sul. Meio escondida, surpreende quem por lá passa.

Nasceram-lhe outras duas, pequeninas, quase ao fundo: a Rua da Tapada, para oeste, e a Rua da Fonte, para leste. 

Até há relativamente poucos anos era esta fonte que abastecia a povoação. A água é tão boa, que mesmo quem já não mora na terra ainda lá vai bebê-la e levá-la para casa. O local, junto duma cascata na ribeira, vale uma visita, pela frescura da água e pela beleza e tranquilidade do lugar.

 

Vale de Figueiras

 

Conta-se que o primeiro habitante do Vale de Figueiras veio desterrado de longe por ter matado um pinto de uma mulher rica e avarenta. Já lá irão muitos anos, mas há quem afirme que ainda existem vestígios da casa onde viveu, perto da ribeira. Verdade ou não, as ruínas de algumas habitações e a arquitetura de outras que ainda se aguentam de pé, falam bem da antiguidade do Lugar. Infelizmente falam também do despovoamento.

 

  A justificar o nome da povoação estará o facto de ter nascido no vale da ribeira, num local onde cresceriam algumas figueiras. Trepou depois, encosta acima, como um presépio nos postais de natal; primeiro numa das margens, depois ao longo da outra (talvez nas duas ao mesmo tempo…).

Para além da Rua da Escola, a Rua da Capela, a Rua do Terreiro e a Rua da Ponte, passamos também pela Rua da Várzea, a Rua da Barroca e a Rua do Forno. Esta, que sobe a pique desde a ribeira até ao cimo do povo, já se chamou Rua da Eira, por, quase lá no topo, ter existido uma eira comunitária. O local está agora calcetado.

 

Pereiros

 

É também uma Rua Central, a mais antiga, por onde passavam os moradores do Mourelo ou do Violeiro quando vinham tratar das vidas a São Vicente. Corre o povo quase de Norte para Sul e nela nascem outras mais pequenas para ambos os lados: a Rua da Ribeira, a Rua do Forno, a Rua das Lameiras, a Rua do Barro, a Rua da Laje… todas a provocar a imaginação e a pedir que se contem as histórias de quem por lá andou.

De todas as ruas e recantos dos Pereiros o que mais me encantou foi o Pátio das Cancelas. Não encontrei quem me desse a razão deste nome, mas não custa imaginar que, em tempos passados, fechariam as entradas da povoação com cancelas para protegerem o gado que dormia nas lojas e currais, junto das casas, dos ataques dos lobos esfomeados. Era assim em muitas aldeias isoladas.

 

Foi numa destas casas, agora só paredes que mal se aguentam de pé, que funcionou a escola até aos anos 60 do século passado. Dizem que era uma sala acanhada, cheia de crianças sempre ansiosas pelo toque da campainha. Que animação a daquele Pátio na hora do recreio!

Esta casa, quase de brinquedo, é um exemplo de como se podem aproveitar estas construções antigas para passar uns dias a descansar. Evita-se a derrocada e as terras ficam mais lindas.

(Continua)

M. L. Ferreira