Ao
lado da casa dos meus avós, no Casal, havia duas cerejeiras. Todos os anos
carregavam tanto que às vezes até esnocavam alguns ramos. Eram tão altas que só
os rapazes conseguiam trepar por elas, mas, para nós, o meu avô arrumava-lhes
uma escada, mal as cerejas começavam a ficar encarnadas, e só a tirava muito
tempo e grandes barrigadas depois, quando até as passas já tínhamos comido, a
meias com os pardais.
Era um tempo farto, e em que até as raparigas também ficavam mais bonitas, enfeitadas com os brincos novos todos os dias.
Contam
que a Amália Rodrigues, que terá nascido no Fundão, não foi registada logo à
nascença por falta de meios dos pais. Tempos mais tarde, quando a mãe a quis
registar e lhe perguntaram a data de nascimento da menina, terá respondido:
«Foi no tempo das cerejas». Isto prova que vem de longe a importância da cereja
na economia da região.
ML
Ferreira
Fotografia de Diamantino Gonçalves
2 comentários:
Cerejas, este ano nem vê-las, nem encheram a barriga aos pássaros!
Diamantino Gonçalves, autor da foto, ele que era o fotógrafo da Gardunha, faleceu há poucas semanas.
Quando comecei a ler, pensava que era sobre a cerejeira dos meus avós Francisco Teodoro e Maria do Rosário, altíssima, inacessível, deitando por cima do forno em frente da casa deles, no Casal. É como se fosse, Libânia. Um regalo, quando o avô condescendia em arrumar lá uma escada. Só mais tarde descobri que antes do regalo das cerejas, há um outro, diria do mesmo quilate - as flores que dão as mesmas cerejeiras.
Boa evocação, esta.
J Miguel Teodoro
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