Estamos
em plena época da colheita da azeitona, fruto de inverno; muitos olivais este
ano não produziram, nota-se no lagar; a que vingou é de
muito boa qualidade.
Dizem
os entendidos na matéria; devido às altas temperaturas do verão a mosca da
azeitona não a estragou.
Começava
a colher-se a partir dos meados de Dezembro, Janeiro, Fevereiro…
As
mudanças climáticas, “uma realidade nos dias que correm” alteraram
completamente a recolha.
Amadurece
mais cedo. Se não se colhe a tempo, mirra, seca e cai.
Alguém
mais madrugador dirigia-se à praça e tocava uma corneta que anunciava a partida
para os olivais.
Os
campos eram alegres, camaradas de azeitoneiros “armados” com uma escada ripavam
e cantavam.
A azeitona já está preta
Ai solidó, solidó
Já se pode armar aos tordos
Ai; ai,ai, ai, ai
As
mulheres estendiam mantas, apanhavam o fruto que estava por baixo das oliveiras,
rebuscavam e limpavam-na.
De
vez em quando, colhedores entravam em confronto verbal com as camaradas
vizinhas:
Ó Jaquiiim! No sejas lambão
Colhe azeitona, no sejas calão
Por
sua vez, o visado retorquia gritando:
Calão és tu, no podes com a escada
Tens a mania, no vales nada
É verdade, é verdade; respondiam todos, rindo
Passavam
horas chacoteando-se.
As
cachopas regra geral tinham sempre uns raminhos de oliveira enfeitados com
alecrim…
Quando
algum viandante passava no caminho, a rapariga mais atrevidota, ramo na mão,
dizia:
Aceitai este raminho
Senhor António da Tapada
Sei que é pobrezinho
Sempre é melhor que nada
Continuava
dizendo mais um verso ou dois, o contemplado metia a mão na algibeira,
gratificava com algum dinheiro. Conforme a bolsa assim era a quantia dada.
Árvores
milenares, milhares arrancadas para serem substituídas por olivais de regadio.
Carrasquenhas,
cordovis, galegas… foram transportadas para longes lugares onde ornamentam jardins.
Levam
a oliveira centenária, deixam a oliveira com duração limitada.
Mediterrânica,
é um óleo natural muito apreciado e saudável, tem as mais diversas aplicações.
Era
o nosso petróleo. Com a industrialização e a descoberta de jazidas de crude
passou para um plano secundário, já não é utilizado na iluminação, mas continua
a consumir-se na alimentação.
As
tabornas (tibornas); simples, tão boas!
Gostava
de acompanhar o meu avô José ao lagar do Major, quando ia medir o azeite.
Levava uma fatia de pão, torrava-se no brasido da fornalha e o mestre lagareiro
tirava da tarefa um pouco de azeite acabado de fazer, quentinho, temperava-a, era
um petisco de qualidade. Por vezes havia umas postas de bacalhau a assar nas
brasas, um pitéu.
No
lagar existia um local que se chamava inferno! Metia-me cá uma confusão…
Era
o lugar onde iam parar as águas russas misturadas com algum azeite que os
lagareiros aproveitavam.
O
azeite, noite e dia alimentava a lâmpada sagrada do sacrário, ainda é utilizado
nos sacramentos do baptismo e da confirmação.
Oliveira,
árvore milenar, juntamente com a pomba, simboliza a paz e a esperança.
O
primeiro objecto que a pomba levou a Noé foi um raminho de oliveira. Estime-se
e preserve-se
No
dia 26 de Novembro, faleceu o grande compositor senhor Arlindo de Carvalho, que
tão bem cantou a nossa região. Natural da vila da Soalheira, onde ficou
sepultado. Autor e intérprete:- Chapéu Preto, Fadinho Serrano, Castelo Branco...
A azeitona já está preta
Já se pode armar aos tordos
Diz-me lá ó cara linda
Como vamos de amores novos
J.M.S