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domingo, 12 de maio de 2024

Cultivos de outono, 2

 
Já vos mostrei os meus alhos porros deste ano, plantados em outubro.

Prometi então mostrar-vos as minhas cebolas, também cultivadas no outono, e elas aqui estão. Cada vez valorizo mais as sementeiras e plantações de verão e outono, destinadas a produzir no inverno e primavera. O exemplo das couves, que nos deixaram os nossos antepassados, é a prova disso. Mas, tal como as couves, que devem ser plantadas nos finais de agosto, também os cultivos de outono precisam de apanhar sol e calor, para vingar. Por isso têm de ser plantados antes de novembro e dezembro, pois, sem o calor anterior, apodrecem ou não se desenvolvem. Por outro lado, pela minha experiência, aprendi que estes cultivos devem ser plantados em alto, no cômoro, caso os terrenos não sejam arenosos, devido à possibilidade de períodos longos de chuva, antes do calor de março. Já faço isso com os alhos, há anos, com excelentes resultados! Em outubro, vou fazer com as cebolas.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Conta-me histórias, 1

Esta história, da primeira tertúlia, na Casa do Povo, não chegou a ser contada, por falta de tempo. Como estava feita, aqui a deixo para que a conheçam.

A dobadoira

Esta dobadoira era da minha mãe e terá sido feita pelo irmão José ou pelo pai João Prata. Ambos eram carpinteiros, tal como o irmão António, que, por ser mais velho, já não vivia em casa dos pais quando a minha mãe Maria da Luz preparou o enxoval para se casar, em 1950. Dobadoira e tear, um deles foi de certeza feito pelo irmão José Prata, já não me recordo qual, talvez até os dois.

A casa dos meus avós maternos, João Prata e Doroteia dos Santos, era quase autossuficiente. Produzia todos os produtos agrícolas necessários à alimentação da família e ainda o linho para tecer, no tear da loja, o enxoval das seis filhas. Com três carpinteiros em casa, eram eles que fabricavam todos os móveis e utensílios de madeira necessários à vida doméstica. Pouca coisa tinha de ser adquirira fora, como o calçado que era feito por um grupo de sapateiros que uma vez por ano passava lá por casa, onde comiam e dormiam, até fazer calçado para toda a família. O dinheiro para lhes pagar e para outras despesas vinha da venda de azeite, sobretudo das oliveiras dos Canavéis, cujas oliveiras bicais davam um azeite especialmente fino e por isso bem pago.

Mas voltemos à dobadoira. Tinha-a em minha casa há demasiado tempo, pois levei-a para mandar restaurar a parte inferior, mas fui adiando e só neste inverno fiz o que combinara com a minha mãe. Agora volta à casa da família.

A dobadoira serve para transformar as meadas de lã em novelos. Às vezes a nossa mãe metia a meada nos braços de um dos filhos mais crescido, mas a certa altura os braços doíam e tinha de nos aturar as queixas. Por isso usava sobretudo a dobadoira, procurando a ponta do fio de lã e começando a enrolar em novelo, com a dobadoira a girar. Na parte inferior há quatro divisões, onde se colocavam os novelos já feitos ou a meio, se a dobagem tivesse de ser interrompida.

E ela ensinava a lengalenga aos filhos: Doba, doba, dobadoira, / não me enleies a meada. / O novelo é pequeno, / já tenho a mão cansada. / Doba, doba, dobadoira, / não me enleies o novelo. / Doba, doba, dobadoira, / as tranças do meu cabelo. Nós bebíamos-lhe estas palavras que agora recordamos.

A nossa mãe fazia todas as camisolas de lã para a sua casa de muita gente. Algumas eram verdadeiras obras de arte. Fez isso ainda durante toda a década de 70, quando as minhas irmãs mais velhas começaram a comprar camisolas de lã industriais, para elas e para os irmãos mais novos. Nos anos 80, fazia tapetes também tricotados a lã, ainda tenho um em minha casa.

O trabalho em linho e lã tinha grande tradição em São Vicente da Beira. Durante o século XVIII, sobretudo na segunda metade, a Vila foi um dos maiores centros industriais de lanifícios da Beira, a sul da Gardunha. Nos inquéritos industriais pombalinos, de 1758, são referidos como grandes centros industriais Alcains, Castelo Branco, os Montes(?) e São Vicente da Beira. Em 1779, a Real Fábrica dos Lanifícios da Covilhã colocara aqui, para ensinar os trabalhadores, um espanhol mestre da roda de fiar e dois portugueses mestres dos teares. Na fábrica-mãe trabalhava o espanhol João António Robles, de Béjar, Espanha, cujo filho veio casar a São Vicente, com uma Ribeiro, dando origem à família Ribeiro Robles. Em 1790, havia 177 cardadores e fiadeiras (estes totais seriam de todo o concelho). Um relatório militar de 1804, elaborado por August du Fay, coronel do Estado Maior do Exército Português, refere as localidades onde seria conveniente criar armazéns se abastecimento das tropas, em caso de invasão estrangeira. Aponta V. V. de Ródão, C. Branco, S. Vicente da Beira e Fundão. Aqui havia casas, capelas, um convento e uma fábrica onde se podiam fazer armazéns. Neste mesmo ano, trabalhavam 2349 pessoas para a manufatura da Covilhã, sendo 1930 destes trabalhadores das 8 escolas de fiação a ela associadas: Alpedrinha, Casteleiro, Castelejo, Penalva, Penamacor, São Gião, S. Miguel d´Acha e S. Vicente da Beira.

José Teodoro Prata

domingo, 5 de maio de 2024

Conta-me histórias, 3

 

Participação livre de todos os intervenientes na visita.
Penso que não há condições para organizar um almoço-convívio: pilates de manhã, missa às 12.30-13:30h e merendas no domingo seguinte, o da romaria.
Agradeço divulgação nas redes sociais frequentadas por cada um.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Abril em São Vicente da Beira

 No domingo, dia 28, os vicentinos juntaram-se e partilharam as suas memórias do 25 de Abril, na Biblioteca, em mais uma tertúlia do projeto Conta-me histórias, que visa animar esta comunidade.

Recordaram-se os tempos em que a Pide vinha inquirir junto do pároco sobre as três pessoas que habitualmente não iam à missa e contou-se o caso do rapaz que aos domingos ia namorar a terra alheia, faltando à missa, e concorreu à Polícia, à GNR e à Guarda Fiscal, mas só foi chamado depois de levar um cabrito ao senhor vigário. E a história daquela menina de Aldeia de Joanes, que lia semanalmente o Jornal do Fundão ao pai e que um dia foi abordada pela Pide que lhe perguntou o que mais gostava de ler no jornal, mas ela respondeu que só lia o anúncio que o pai mandava publicar no jornal.

Lembrámos o nosso militar de Abril, o nosso padre democrata e o nosso empresário que numa noite mudou o nome da nossa Praça, de Salazar para 25 de Abril. E as primeiras férias pagas e a ameaça de incendiar a casa a quem as pagava e fazia descontos para a Segurança Social.

Mais a criação dos autocarros para estudantes e as colónias de férias em que as crianças apreendiam um mundo novo. E as greves por melhores salários, o fim da guerra, a alegria de sermos livres, o recenseamento eleitoral com pausa para a Gabriela, as primeiras eleições e a vizinha que demorou muito a votar, porque havia muitos partidos com quadradinho onde traçar a cruz.

No dia 19 de maio voltamos a encontrar-nos em nova tertúlia, pelas 15 horas, com a Senhora da Orada como tema e local.

Esta segunda tertúlia foi quase totalmente organizada pelas responsáveis da Biblioteca (Celeste, Libânia e Conceição) e pela Maria da Luz. O nosso obrigado e as minhas desculpas, pois na sessão esqueci-me de lhes agradecer, assim como ao presidente da Junta.

José Teodoro Prata

Seguem-se as fotos da Rita Amaro:









segunda-feira, 25 de março de 2024

Palestra do Santo Cristo

 

Ainda é cedo para eu, o palestrante, fazer o balanço.
Acho que fomos infelizes na marcação da hora (16h), pois às 17h começava a via-sacra na Igreja e houve pessoas que não foram à palestra para irem à via-sacra.
Estiveram presentes cerca de 30 pessoas e acasos fortuitos impediram que fossem perto de 40. É a assistência normal, nestes eventos (entre 20 e 40 participantes). Embora este fosse um tema especial para nós. Mas a que distância já está o mito da realidade!
Tenho de passar a intervenção a escrito, pois o tema merece uma pequena brochura acessível a vicentinos e visitantes. Assim a Misericórdia tenha apoios para a fazer!

José Teodoro Prata
Foto da São Luzio

sexta-feira, 15 de março de 2024

Andam corças...


Na passada segunda-feira, cerca das 8:30h, uma corça atravessou a estrada, um pouco antes de se chegar ao cruzamento para a barragem do Pisco, vindo de C. Branco.

Eu vinha de carro a sair da lomba e ela teve de apressar a corrida, mas veio logo outro veículo em sentido contrário e a corça teve de se esticar toda para conseguir escapar. Seguiu depois pelo caminho que dá entrada no pinhal do sr. Francisco Ventura.

As corças devem ter aí um corredor de passagem, pois há uns tempos uma corça chocou com um carro que ia a passar, sensivelmente naquele local.

Andam corças pelos bosques e pelas estradas!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 13 de março de 2024

sexta-feira, 1 de março de 2024

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Luís da Costa

Luís da Costa nasceu em São Vicente da Beira no dia dois de maio de 1895. Era filho de Maria do Rosário Costa.

Tinha a profissão de jornaleiro quando assentou praça no dia 14 de Fevereiro de 1916. Foi incorporado no 2º Batalhão do R. de Infantaria 21 de Castelo Branco nesse mesmo dia. Licenciado ainda em 14 de Fevereiro, foi domiciliar-se na freguesia de Santa Maria Maior, na Covilhã.

Apresentou-se novamente em 3 de maio para fazer a recruta que concluiu no dia 29 de agosto de 1916. Foi mobilizado para a Guerra e, fazendo parte do CEP, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917 integrando a 4ª Companhia do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 522.

Do seu boletim individual de militar do C.E.P. e folha de matrícula constam as seguintes ocorrências:

a)   Ferido em combate por gases, e baixa ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 24 de agosto de 1917; alta em 26 com 6 dias para convalescença;

b)   Baixa ao Hospital de Sangue nº 1 no dia 21 de dezembro de 1917; evacuado para um H. Base em 29; alta em 2 de janeiro;

c)    Baixa ao hospital no dia 30 de janeiro de 1918, alta em 15 de fevereiro;

d)   Punido algumas vezes com vários dias de detenção por ter faltado ao trabalho sem motivo justificado;

e)   Punido com 15 dias de prisão correcional por ter estado em ausência ilegítima durante 38 horas (ordem de serviço de 23/12/1918);

f)     Punido com 15 dias de prisão correcional por se ter ausentado, sem autorização, desde as 10 h do dia 28 de fevereiro de 1919 e considerado desertor desde 2 de março, período a partir do qual a ausência foi considerada deserção.

g)   Regressou a Portugal no dia 4 de abril de 1919.


Passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1936.

Não foram encontrados registos nem testemunhos que possam dar alguma informação sobre a vida de Luís da Costa após o seu regresso a Portugal, nomeadamente o local ou a data do seu falecimento.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O nosso falar: abelhudo e desabelhar

 Andámos a fazer o desdobramento de uma colmeia e no final uma abelha não nos largava, por mais fumo que lhe lançássemos em cima.  

- Desabelha daqui! – disse-lhe o Chico. E rimo-nos, porque a expressão vinha mesmo a calhar.

A abelha anda sempre de um lado para o outro, numa constante azáfama, por isso chamamos abelhudo a alguém com a mesma caraterística, sobretudo se aparece de forma constante e inoportuna. E desabelhar é mandar o abelhudo dar uma volta, desaparecer. Neste caso era mesmo uma abelha!

José Teodoro Prata

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Conta-me histórias: sessão inaugural

 


Juntámo-nos à Comissão das Festas de Verão, para dar também o nosso contributo. O primeiro cartaz é o do projeto Conta-me Histórias, que será usasdo para publicitar todas(?) estas tertúlias.

A organização é d´Os Amigos dos Enxidros. Dos Amigos, porque a realização das tertúlias e o êxito que tiverem será sempre mérito de quem as anime e de quem vá assistir. Dos Enxidros, porque lancei o projeto através do blogue Dos Enxidros e porque os enxidros eram, no passado, os baldios da encosta da serra, entre a vila e os altos, da Oles à Senhora da Orada. Tal como os enxidros, este projeto também se quer de todos. A foto que serve de base ao cartaz é da Rua da Misericórdia, antes da demolição da casa do coronel (ela simboliza aqui um pouco do passado que estará presente em cada história que for contada).

Agradeço que divulguem o cartaz nas redes sociais que frequentam.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Homenagem ao ZÉ TALETA

 


Parabéns ao Zé, porque é um bom homem e um corajoso lutador.

Uma homenagem mais que merecida, que também honra quem com ela sabe ser agradecido pelo muito que o Zé nos deu a nós, com o seu exemplo, e à nossa terra, elevando o seu nome tantas vezes ao pódio.

Um dia, o José Mário Branco, 
preocupado com a pobreza da música portuguesa, lançou o repto: 
Que floreçam 100 Marcos Paulos!
Também entre nós todas as iniciativas devem ser acarinhadas, 
para darmos mais vida à nossa comunidade.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O nosso falar: espigos

 Levei grelos de couve-naba a uma amiga do Norte e ela gabou-me a excelência do arroz de espigos, em especial de couve galega. Cada vez que eu falava de grelos, ela respondia-me com espigos e a certa altura disparou:

- Porque é que não dizes espigos?

- Na minha terra também se diz espigos, mas aqui só se fala em grelos… - justifiquei-me.

Quis ser simpático e coloquei-me ao nível dos albicastrenses, mas lixei-me, pois a minha amiga não transige com as suas raízes.

No resto da conversa já só se falou de espigos.

José Teodoro Prata

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Hipólito Raposo e os Candeias

 Acabo de chegar de São Vicente, onde participei na palestra do José Miguel Teodoro sobre o patrono da nossa biblioteca, o Hipólito Raposo.

No final, desejando ligar esta personalidade histórica com a atualidade vicentina, afirmei estar ele ligado aos Candeias, com destaque para o João Prata Candeias, que estava presente.

A verdade é que a sua ligação é direta não com este, mas com os primos dele, filhos de João Candeias e Maria de Jesus, pois esta descende dos mesmos antepassados do Hipólito Raposo (na próxima terça-feira completam-se 139 anos que nasceu Hipólito Raposo, na casa onde vive atualmente a sua familiar Amélia Candeias com o marido Carlos Cruz).

De facto, existe uma outra ligação ainda mais antiga aos Candeias e foi essa que me levou ao equívoco:

Em 1840, casaram José Hipólito de Jesus e Ana Raposa, esta filha de Maria Candeias e neta de Ana dos Santos Candeias. Desse casamento nasceu, entre outros, João Hipólito Vaz Raposo, que casou com Maria Adelaide Gama, em 1872. Tiveram, entre outros, José Hipólito Vaz Raposo, o conhecido patrono da biblioteca, que nasceu em 1885. Afinal, era a avó paterna do Hipólito Raposo que era dos Candeias.

Obrigado ao José Miguel Teodoro que veio de Lisboa de propósito para partilhar uns momentos connosco. E às dinamizadoras da biblioteca (Celeste, Libânia e Conceição), que organizaram o evento e nos ofereceram o lanche que permitiu prolongar o nosso convívio.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Festa de São Vicente e São Sebastião

É um santo bem esquecido dentro da Igreja Católica, o nosso São Vicente (há muitos santos Vicente, o nosso é o de Saragoça). Nas Jornadas Mundiais da Juventude falou-se nele, pois é o padroeiro de Lisboa, a sede do patriarcado em que se realizaram as jornadas. Mas a net (não estive cá na altura) dá-me informações pouco substanciais do que foi dito.

Nós próprios o largámos de mão, logo no século XVII, quando o trocámos por Nossa Senhora como padroeira da nossa igreja. Ele nem padre era, apenas um diácono (grau anterior à ordenação sacerdotal), quando foi preso, torturado e morto pelos romanos, por teimar entusiasticamente em proclamar a sua fé em Cristo (o bispo da sua diocese foi apenas exilado).

Vicente, tal como muitos outros mártires cristãos da Hispânia, tornou-se logo um símbolo da resistência dos cristãos às perseguições e um exemplo de fé para os não cristãos (a maioria da população; na região onde vivemos ainda quase nem chegara o Cristianismo).

O seu culto foi crescendo, tornando-se um dos santos mais adorados pelos romanos, depois pelos visigodos e, a partir dos inícios do século VIII, pelos cristãos que persistiram em manter a sua fé cristã, sob domínio muçulmano (a maioria converteu-se ao Islamismo), os moçárabes. A zona da nossa freguesia seria um dos locais onde o seu culto era bem forte no período da Reconquista, sendo por isso que logo se restaurou a povoação ali existente e lhe foi dado o nome do santo, São Vicente. E durante a Idade Média havia feira franca em São Vicente da Beira, no dia 22 de janeiro, o dia da sua festa.

Como acima escrevi, trocámo-lo por Nossa Senhora como divindade protetora e a sua festa realiza-se agora em conjunto com a de São Sebastião, que tem poderes de proteger contra as pestes (ontem, à porta da capela, alguém enrolava uma fita vermelha ao pescoço e dizia que o santo o protegia das bichas) e promove a partilha cristã, pela realização de bodos para os pobres, ainda ontem simbolizado pela distribuição de papos-secos, tremoços e filhós (estavam boas).

Terminada a cerimónia religiosa, o simbolismo do bodo de São Sebastião prolongou-se por um almoço-convívio na Casa do Povo, que encheu o salão e se prolongou pela tarde. Obrigado ao Hélder Agostinho que penso ser o mordomo de São Sebastião e coordenou toda a festa religiosa e profana, obrigado extensivo à sua família e a todos, muitos, que se fartaram de trabalhar para proporcionar à nossa comunidade este momento de convívio e partilha.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O nosso falar: lambeteirice

 Estava num hipermercado com a minha mulher e, esgotada a lista de compras, perguntei-lhe:

- Não compramos nenhuma lambeteirice?

Que palavra! Na casa dos meus pais usavamo-la como sinónimo de guloseima, no sentido pecaminoso do termo (pretendia-se repreender a ato já praticado ou apenas desejado de gulodice).

Neste palavra, a net fica quase muda quando lhe pergunto. Só me mostra o lambeteiro, o mesmo que lambeta: mexeriqueiro e delator (Brasil), bajulador e adulador.

A lambeteirice lambe-se, se o guloso se controlar, claro. Em sentido figurado, o mesmo faz o bajulador e o adulador.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Luís Batista

 

Luís Batista nasceu em São Vicente da Beira, no dia 26 de julho de 1893. Era filho de João Batista, ganhão, e de Maria de São João, moradores na rua da Cruz.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em 13 de janeiro de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Após ter concluído a instrução recruta, foi licenciado e regressou a São Vicente.

Voltou a ser mobilizado em 1916, para fazer parte do CEP, e embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1817, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 21 e a placa de identidade n.º 9123. No mesmo barco terá seguido também o seu irmão António Batista.

Sobre o tempo em que permaneceu em França, o seu boletim individual de militar do CEP refere o seguinte:

a)   Punido em 11 de outubro de 1917, com dois dias de detenção, por ter             comparecido na formatura com a barba por fazer, apesar das recomendações que lhe tinham sido feitas;

b)   Punido em 14 de outubro, com 10 dias de detenção, porque, fazendo parte da guarda ao Chateau de St. André, manifestou indícios de embriaguez, pelo que foi mandado recolher ao acantonamento;

c)    Punido no dia 6 de dezembro de 1918, com 5 dias de detenção, por ter saído do distrito da guarda ao acantonamento sem autorização;

d)   Recolheu ao Depósito Disciplinar 1, em 23 de janeiro de 1919;

e)   Embarcou para Portugal, no dia 25 de fevereiro de 1919, chegando a Lisboa no dia 28 do mesmo mês.




Família:

Antes de partir para França, Luís Batista já se tinha casado com Joana Ambrósia, na Conservatória do Registo Civil de São Vicente da Beira, a 25 de setembro de 1916. Tiveram 3 filhas, uma das quais faleceu com 4 anos de idade. Criaram:

1.    Maria da Conceição, que casou com João Maria Madeira e tiveram 9 filhos;

2.    Maria Zara, que morreu solteira e sem descendência.


Quando regressou a Portugal, como grande número dos militares que estiveram em França, Luis Batista apresentava algumas sequelas do stress e do efeito dos gases a que esteve sujeito durante a guerra. Não falava muito desses tempos; apenas, de vez em quando, dos amores que lá teve…

Um dos companheiros de guerra contava que uma vez, perto do Natal, saiu do acantonamento e andou por lá algum tempo. Quando regressou trazia alguns ovos e um pouco de farinha. Ficaram todos contentes porque, assim, puderam fazer uma espécie de filhós para lembrar o Natal da terra e matar algumas saudades.

Apesar das dificuldades, teve sempre um trabalho regular que lhe garantiu o sustento da família. Foi ganhão, como o pai, e fez todo o tipo de trabalhos agrícolas, como jornaleiro, durante muito tempo ao serviço da família Remualdo, nas Quintas.

Na terra, todos lhe chamavam Luís Gonzaga e ainda hoje é lembrado por esse nome. Nem a família mais próxima sabe porquê, mas é provável que fosse porque era esse o nome do padrinho de batismo (Luís Gonzaga de Jesus Pereira, que na altura era solteiro e estudante). Pode ser também porque era assim que se chamava o capitão da sua Companhia (Luís de Sousa Gonzaga).

Luís Batista faleceu no dia 20 de Março de 1979; tinha 85 anos.



(Pesquisa feita com a colaboração dos netos António Madeira e Isilda Madeira)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra