quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Melhoramentos na Orada


Por motivos de saúde, há três ou quatro domingos que não ia à Senhora da Orada. As obras que se realizam no ribeiro estão quase terminadas, a enxurrada que levou tudo à frente foi a causa destes trabalhos arrojados que em boa hora a autarquia empreendeu.
Calçadas repostas, as paredes que ladeiam o ribeiro reforçadas, uma ponte substitui as manilhas e alameda mais larga.
Gostei do que vi, o santuário está a ficar cada vez mais belo, acolhedor e grandioso.
Quando a minha esposa estacionou o carro junto à fonte, verifiquei que atrás da capela existiam umas fitas que protegiam qualquer coisa.
Aproximei-me, vi um buraco ladeado por grossas pedras de cantaria e ao fundo corria uma bica de água que desagua na ribeira
Um mirone como eu disse: - o engenheiro responsável pela obra ao passar naquele local terá exclamado:- aqui há água; terra húmida…
Uma máquina começou a escavar, tiveram necessidade de esbarrondar uma pequena parte do muro que suporta as terras do terreiro; eis senão quando apareceram duas pesadas pedras redondas que terminam numa bica ” já se encontram expostas”, pelo aspecto terão sido as bases de prensas de um lagar; uma é um pouco maior que a outra.
Bem; voltando ao buraco, já está forrado com pedras de cantaria, a água jorra numa bica, as obras continuam.
Está desvendado o mistério da fonte, os antigos diziam que ficava junto à ribeira, eu sempre me convenci que o buraco que lá existe fosse o local exacto da primitiva fonte.
Afinal estava enganado, a velha fonte santa encontrava-se mais abaixo, lá está ela jorrando o precioso líquido que se mistura com as águas da ribeira à espera que a levemos para as nossas casas.
O santuário, perdeu um naco de terra, mas ganhou mais um fontanário.



Que pena não substituírem as manilhas da ribeira que se encontram junto à casa de apoio, colocando também uma ponte. Já não é a primeira vez que as águas galgam o terreno inundando tudo à volta.
Ao observar as bases, lembrei-me do terceiro conde de Barcelos D. Pedro Afonso, filho bastardo do rei D. Dinis e dona Graça Froes, que vivia em Lalim, junto à cidade de Lamego, e passava grandes temporadas na vila onde possuía muitas terras e tinha um paço. Cada vez que passo em frente à quinta do senhor António Neto lembro-me deste vulto da nossa história; grande escritor.
Quem sabe se não terá escrito algumas das suas crónicas no paço de São Vicente da Beira! Ficaria nestas bandas? A Quinta do Infante terá a ver com a morada do conde! E se as bases pertenceram a algum lagar que terá existido naquele local propriedade do senhor conde?
As Oradas foram criadas pelo Condestável Santo Nuno Alvares Pereira, naquele local existiria com certeza algum culto, os nobres eram padroeiros de muitas capelas…
Por aqui me fico, deixo algumas fotografias
Porque não realizar-se um passeio cultural a Lalim, mais precisamente ao mosteiro de São João de Tarouca, onde se encontra sepultado o “nosso” conde?
Deixo o repto ao amigo José Teodoro.
Passem bem.

J.M.S

6 comentários:

José Teodoro Prata disse...

As pessoas mais velhas dizem que o moinho estava acima do tal buraco na parede. Mas de facto estas mós parecem de lagar de azeite. Da documentação histórica que consultei ao longo destes anos não tenho notícia de ter havido um junto à capela, mas isso não significa que não tenha existido.
Por outro lado, a fonte situava-se atrás da capela, com inscrições latinas(?), que foi soterrada no tempo do Pe. Tomás, segundo o meu pai. Mas parece que já se procurou e não se encontrou. Talvez tenha sido mesmo demolida e este ser o nascente.
Mas só indo ao local se percebe tudo isto.Lá irei.

M. L. Ferreira disse...

Estes achados, assim um pouco inesperados, ajudam-nos a compreender a vida de outros tempos. Se calhar, antes de uma visita à terra do tal conde, podíamos ir todos visitar a Senhora da Orada e entender aquele espaço para além da vertente religiosa ou bucólica com que muitas vezes lá vamos.
Quando olhei para aquelas mós pensei que eram de cereais, mas afinal não. Logo no início da ribeira,muito perto duma cruz no caminho de baixo, estão as ruínas duma azenha.Terá sido a primeira da ribeira da Orada?

José Barroso disse...

Estudem isso bem! Também tenho um grande gosto pela Arqueologia. Mas o tempo não dá para tudo! Depois, há a questão financeira que também não podemos descurar. Um Arqueólogo se não estiver no ensino, não sobrevive. O mais famoso arqueólogo é o "Doctor Jones" (Indiana Jones).
Desde o início do GEGA em 1981 que se pensou numa intervenção nas Vinhas, onde deve ter existido uma Villa Romana. É o que provam os artefatos lá encontrados (vg, telhas e tijolos de colunas, como se vê em Conímbriga). Isso implicava o pagamento a um técnico coordenador (Arqueólogo) e várias outras pessoas. E, portanto, era, como é sempre, necessário, dinheiro. E depois havia sempre a hipótese de não se rentabilizar o investimento. O que significa que muitas possíveis estações arqueológicas nunca verão a luz d dia. É uma pena que na Vila não possamos apresentar qualquer coisa de interessante sobre esta matéria.
As duas pedras de lagar por onde escorria o azeite parecem-me pequenas. Mas pode ser impressão minha. E o paço de que fala o JMS, onde o Conde Barcelos vinha passar temporadas? O que será feito dele?

Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

O paço do Conde de Barcelos era no Azinhal, nos arredores do Sobral do Campo. Até ainda existe uma casa que, pelo que já ouvi, pode ter ainda vestígios medievais. Mas já houve situações em que o proprietário não deixou entrar lá pessoas a verem.
Mas isto não exclui a Quinta do Infante, que pode ter sido deste ou de outro.
A questão das mós também não é simples.

Unknown disse...

O conde de Barcelos era um nobre de consensos; na batalha de Alvalade entre D. Diniz e o seu filho Afonso futuro rei de Portugal, a certa altura surge a rainha santa Isabel montada num jumento, atravessou os dois exércitos, todos a respeitaram, ao seu lado ia D. Pedro Afonso
O rei dizia que ele era partidário do filho; o príncipe herdeiro por sua vez afirmava que estava ao lado do pai, por causa disso; entre 1320 e 1324 teve que ir para Castela
O rei era seu sobrinho, a sua irmã Dª Constança era a mãe do rei. Enquanto lá esteve foi sempre muito bem tratado, quando regressou instalou-se no seu paço de Lalim onde viveu com a sua concubina Dª Teresa Anes de Toledo
De vez em quando deslocava-se a São Vicente onde possuía também um paço e muitas terras.
Era um nobre muito poderoso e muito rico.
Segundo o historiador professor José Hermano Saraiva, o conde D. Pedro foi o fundador da história de Portugal; escreveu A Crónica Geral de Espanha; Nobiliário do Conde D. Pedro; coleccionou as poesias dos trovadores que conheceu.
Era muito culto e acima de tudo foi um conciliador.
D. Diniz gostava muito deste seu filho; nomeou.o alferes-mor do reino.
Faleceu em 1354.
Quanto às bases das prensas não são nada pequenas, embora uma seja um pouco mais pequena que a outra.
Concordo com o que diz o Zé Barroso, a exploração do lugar das Vinhas ou outro, torna-se muito dispendiosa, pelos achados encontrados tudo leva a crer que nas Vinhas terá existido uma villa ou quem sabe um povoado romano "Trans Serre!" pode ser que um dia...
Passem bem
J.M.S

José Teodoro Prata disse...

Comecei agora uma tutoria com alunos de um ano diferente do que leciono e, a propósito do estudo deles d´Os Lusíadas, aprendi que este Conde de Barcelos, filho ilegítimo de D. Dinis (teve 31!) foi um dos causadores da morte de Inês de Castro (sem ter feito nada).
D. Afonso IV, vendo o seu filho D. Pedro tão apaixonado pela Inês de Castro, teve receio que ele deixasse o trono ao filho mais velho de Pedro e Inês, em vez de o passar ao seu filho primogénito D. Fernando.
É que D. Dinis tivera essa pretensão, pois quis deixar o trono ao Conde de Barcelos em vez de o deixar a D. Afonso, futuro D. Afonso IV.
Por isso decidiu cortar o mal pela raiz e mando matar a amada do filho.