segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O testamento de uma tecedeira, 1781

Luiza de Mena era solteira, vivia na Vila e sempre trabalhou como tecedeira. Faleceu no dia 15 de Abril de 1781 e deixou testamento, copiado para o livro de registo dos óbitos, pelo Cura Domingos Gaspar. Foi sepultada em cova da Fábrica da Igreja Matriz.

«Primeiramente disse que queria que o seu corpo fosse amortalhado em um hábito feito da sua saia preta e que seu corpo fosse sepultado na Igreja Matriz desta vila donde era freguesa e que por sua alma se lhe dissessem quarenta missas de esmola de cem réis cada uma, que pela sua mãe se dissessem dez missas, pela de sua avó Maria Nunes uma missa, pela de seu tio Antonio da Costa uma missa, pela de seus avós uma missa, a Santa Francisca uma missa, a Santa Gertrudes uma missa, ao Senhor Santo Cristo do Calvário uma missa, a São José uma missa, a Nossa Senhora do Rosário uma missa, ao anjo da Guarda uma missa, pelos irmãos da Misericórdia outra missa, pelas penitências mal cumpridas outra missa, pelos irmãos que faltasse com as rezas outra missa, a Santo António outra missa, todas de esmola de cem réis.
A Luiza, filha de Manoel Jorge desta vila, deixa uma camisa de linho nova; a quem lhe assistiu na doença da morte outra camisa de linho nova de linho, uma enxerga e dois lençóis grosseiros, um travesseiro de estopinha com sua fronha e um cobertor de pano amarelo; a seu primo Joaõ Correa, mil e duzentos réis; a Anna, filha de Manoel Leitaõ barbeiro, o seu capote de dorguete, à mulher de Joze Rodrigues Marques o moço, uma saca de camelão para que o dito Joze Roiz seja seu testamenteiro.
Declarou que as casas em que assistia eram suas e que do produto delas se lhe fizesse meio ofício e satisfizessem bem as esmolas das missas que ficam declaradas.
A Vitoria Maria, mulher de Antonio Caetano da Costa, lhe deixa o seu tear e dois pentes, um de vinte e cinco, outro de quarenta e dois, pagando a metade do tear, para o que será avaliado; ao Reverendo Padre Francisco Duarte lhe deixa uma colcha de linha branca, com obrigação de lhe dizer vinte e duas missas por sua alma, além das deitadas em seu testamento; a sua madrinha Maria de Carvalho lhe deixa o seu tacho e caldeira, com obrigação de lhe mandar dizer quatro missas; a Joana Jozefa, criada do Capitão-Mor Francisco Caldeira, deixa uma arca com sua fechadura; a sua afilhada Luiza, filha de Manoel Jorge, o seu tabuleiro e masseira. E na aprovação deste seu testamento disse lhe dissessem as três missas do Natal em louvor do Menino de Deus; e ao Doutor António Mesquita de Carvalho, o seu leito, pelo trabalho de lhe fazer o seu testamento; e de tudo quanto tem, disse, depois de seu bem de alma e missas satisfeitas, o deixava a seu primo Joam Correa, a quem instituiu por seu universal herdeiro.»
(S. Vicente da Beira, Registos Paroquiais - Óbitos, microfilme 145)

Pessoas referidas:
Luiza de Mena, solteira e tecedeira
Maria Nunes, avó de Luiza de Mena e já falecida
Antonio da Costa, tio de Luiza de Mena e já falecido
Joaõ Correa, primo de Luiza de Mena e porteiro da Câmara (fazia os anúncios)
Luiza, afilhada de Luiza de Mena e filha de Manoel Jorge
Anna, filha de Manoel Leitaõ, barbeiro
Joze Rodrigues Marques o moço, o testamenteiro
Vitoria Maria, mulher de Antonio Nunes da Costa
Padre Francisco Duarte
Maria de Carvalho, madrinha de Luiza de Mena
Joana Jozefa, criada do Capitão-Mor Francisco Caldeira
Doutor Antonio Mesquita de Carvalho, tabelião
O Cura Domingos Gaspar, natural do Louriçal do Campo e cura na Igreja Matriz

Bens que possuía:
1 casa
1 tabuleiro e 1 masseira
1 tacho e 1 caldeira
1 arca com fechadura
1 tear com 2 pentes, um de vinte e cinco e outro de quarenta e dois
1 saca de camelão
1 colcha de linha branca, 
2 camisas de linho novas
1 capote de dorguete
1 leito, 1 enxerga, 2 lençóis grosseiros
1 travesseiro de estopinha com fronha 
1 cobertor de pano amarelo
dinheiro: 9$300 réis = 6$100 réis para missas + 1$200 réis para o primo João Correia


José Teodoro Prata

domingo, 29 de dezembro de 2013

Fogueira de Natal

A meteorologia ameaçara temporal, mas a chuva não foi suficiente para ensopar os madeiros ressequidos pelo Estio.
Depois, pouco antes da Missa do Galo, o São Pedro até deu uma aberta para desassustar as pessoas e acender a fogueira.
Em volta dela, a magia do costume. 






Fotos do José Barroso e da Sara Varanda

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

ReNASCER


VERBO


Natal, é nascer, é ressurgir de novo,

Como um dia que amanhece,

É irromper da essência,

Assim como o Deus Menino.

 

Tal como num ovo,

Acontecimento grandioso!

A vida avança e cresce,

Mistério para a ciência!

E tudo o que é pequenino,

Como num ato miraculoso,

Se faz robusto, engrandece.

 

Mas, não, não vou falar do Natal,

Tão bonito!

Da tua e da minha aldeia,

Nem da fogueira,

Onde o madeiro arde em noite gelada

E nua.

 

Nem do aconchego da lareira,

E da ceia em família, na consoada,

Em que se visitam os pais e os avós,

Enquanto o ar frio da rua,

Condensa a água nos vidros da janela,

E se fazem as filhós,

Polvilhando-se com açúcar e canela.

 

Porque, sobre o Natal,

Já todos escrevemos redações,

E fizemos desenhos e poemas singelos,

Nas folhas dos cadernos,

Que trazíamos na sacola,

Quando meninos, puros corações,

E colámos nas paredes da nossa escola.

 

Tampem-me a boca e os olhos!

Não quero falar do pai natal,

Nem ver a imensa claridade,

Das luzes que, aos milhares, como folhos,

Rendilham, à noite, as ruas da cidade.

 

Não quero escrever nada sobre o Natal,

Nem sobre as prendas,

Os segredos e as intenções,

Nem sobre a simplicidade e a fantasia,

Nem acerca das emoções,

Da nossa infância.

 

Não vou falar dos pastores,

Dormindo, à noite, à geada,

Nem da maresia,

Nem do céu, nem das estrelas,

Nem da fragrância,

Das plantas nessa madrugada.

 

E as ovelhinhas também não vou vê-las,

No presépio,

Porque este é, afinal, muitos Natais!

Sempre com as suas figuras, 

Secundárias e principais,

E com os reis magos,

Vindos das lonjuras,

Dos caminhos do oriente.

 

Embora, como essas figurinhas nos tocam,

Como a gente sente!

 

Mas desta vez, não!

Não vou ver,

Não vou falar, nem vou escrever,

Quero apenas ouvir.

 

Ouvir, em silêncio, perscrutar, a voz,

Do VERBO,

Porque ELE encarnou,

E está, agora, entre nós.


João Gabriel Saraiva

sábado, 21 de dezembro de 2013

NATAL

Quando sobre nós pesa
um dia a dia negro de cuidados,
é difícil, Senhor, acreditarmos
em confianças, esperanças e promessas.

Mais saudável será cantarmos hinos
ao Teu regresso após ano de ausência
e sorver-te o sorriso de menino
tão cálido a fremir ingenuamente.

Porém, perdoarás: em tempo escuro,
o nosso coração treme gelado
e o que vê é o Teu corpo em cruz
a uma cruz (feita por nós) pregado.

António Salvado
(poeta albicastrense)

sábado, 14 de dezembro de 2013

A rapariga da bicicleta

Chegara o outono, o tempo estava a mudar. O nosso encarregado repetia constantemente: “Está fresque!” Era de Alcains.
Não sei que acasos da vida juntaram, na mesma brigada da JAE, o Zé Barroso, o João Maria e eu próprio, três jovens à volta dos 20 anos. Terminara a temporada de verão, que eu passara a remendar estradas e a limpar valetas, e depois mandaram-nos, aos três, vindos de grupos de trabalho diferentes, para Alcains. Isto em 1976.
A missão era trabalhosa. No centro de Alcains, mesmo em frente ao posto da GNR, metade da rua estava alcatroada, mas a faixa encostada ao posto era de terra batida. Enfiaram-nos uma picareta nas unhas e mandaram-nos abrir uma caixa com cerca de um palmo de fundura. Trabalho duro, só aliviado quando carregávamos o Dumper com a terra arrancada a golpes de picareta.
As pessoas passavam indiferentes. Nem as miúdas mais giras, à entrada e saída das fábricas Lusitânia e Dielmar, se deixavam impressionar connosco, em pose de estátua, à sua passagem, de picaretas no ar. Eram uns corações empedernidos!
Depois da caixa aberta, o trabalho aliviou. Íamos a carregar o Dumper com brita que um canteiro partia, sozinho, no meio do campo. O corpo aliviava nas viagens para lá e para cá, pois o carregar da brita também era complicado. Imaginem espetar uma forquilha num monte de pedras pequenas! Aquilo faz-se, mas com o jeito que se vai ganhando.
Numa semana, o homem da brita não partira o suficiente e por isso fomos limpar as valetas na estrada para os lados do caminho de ferro. A monotonia do costume, o aliviar das costas quando passava um carro que valesse a pena ser visto.
Mas bom mesmo era uma rapariga que passava de bicicleta, todos os dias, a meio da tarde, numa pedalada vagarosa de passeio. Ia e depois voltava e nós a sonhar, não tanto com ela, mas com os mundos que ela nos abria: o esvoaçar despreocupado, sem obrigações, nem limites.

José Teodoro Prata

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

De bicicleta II

A história “De bicicleta” publicada em Agosto, pelo José Teodoro, emocionou-me tanto que, na altura, fiquei sem palavras. Recordou-me um intervalo entre duas aulas (andávamos na telescola) em que a Santita, triste e em jeito de confidência, me chamou para um canto do balcão da escola. Abriu a mala (as malas da Santita, vindas de Lisboa, causavam inveja a todas as raparigas da terra!) e tirou lá de dentro um lenço e, de dentro do lenço, desembrulhou uma pedrinha com manchas de sangue. Disse-me que a tinha apanhado no sítio onde o pai caíra, quando regressava do trabalho para passar o domingo. Olhei para aquela pedrinha como se fosse a relíquia de um mártir. Para a Santita era muito mais do que isso, certamente.
Mas lembrei-me também das histórias que o meu pai contava do tempo em que andava nas minas da Panasqueira e fazia as viagens de bicicleta. Uma vez quase que morreu também, duma queda. Outra vez foi um colega de trabalho que, numa curva mal feita, caiu e partiu várias costelas. Ficou alguns meses sem poder trabalhar.
E isto era para os que tinham bicicleta… Os que não tinham, vinham de camioneta até ao Castelejo e depois, Gardunha acima, pela Portela, a pé até casa. Isto, depois de um dia de trabalho no interior da mina, a maior parte das vezes durante a noite, com frio e ensopados até aos ossos por causa da chuva. A viagem de regresso era outra odisseia… Se tinham medo? Ai não que não tinham! Principalmente se, por causa dos turnos, tinham que fazer a viagem sozinhos. Até as castanhas a cair dos ouriços os assustavam, mas de que lhes valia? Não tinham alternativas…
Todas estas recordações deram-me vontade de voltar às Minas da Panasqueira. Tinha por lá passado há alguns anos e guardava uma imagem muito desoladora daquele local. Também tinha ouvido falar no Museu do Mineiro, aberto há pouco tempo; um pretexto acrescido para uma visita.
Fui lá há umas semanas. Em Silvares segui em frente e almocei na Barroca: chanfana com ervas; tigelada à sobremesa. Do melhor! Segui depois por Dornelas, subi a serra (uma vista de morrer!) e, já na descida, a visão surpreendente da Aldeia de S. Francisco de Assis. Senti um baque no coração!
Já na Barroca Grande, aos pés daquela montanha enorme feita do interior da montanha, revi a vida dura do meu pai e a de tantos outros homens da nossa terra. O que eles passaram para poderem dar de comer aos filhos!
Senti que naquela montanha está um bocadinho de cada um desses homens.
Lembrei-me também daqueles que lá ficaram dentro ou morreram lentamente com o mal da mina, como ouvia chamar-lhe. 
 E a emoção e comoção foram tão grandes que não consegui conter as lágrimas.
O Museu estava fechado (acho que é mais um sinal da desertificação do interior de Portugal, de que tanto se tem falado ultimamente). Ao princípio fiquei um pouco desiludida, mas depois pensei que foi Deus a escrever direito por linhas tortas. É um bom pretexto para lá voltar um dia destes…

M. L. Ferreira

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A menina vendedora de leite

(Continuação de “A menina e o poeta”, publicada a 28 de fevereiro de 2013) 

Na quinta grande do senhor José Lourenço, havia muitos animais, entre eles havia vacas leiteiras que eram ordenhadas todos os dias e o leite era vendido a quem precisasse.
Havia dias em que a Menina ia vender o leite de porta-a-porta.
A bilha grande cheia de leite numa mão e na outra as medidas, o litro, o meio litro e o meio quartilho.
Dizia o senhor José Lourenço:
- Ó Eulália, tu vais pela rua a vender o leite e cantas:

Venha à janela
Tia Maria José,
E compre do meu leite,
Que é bom pró café.

Mas a Menina envergonhava-se de cantar na rua e batia porta-a-porta.
Assim que vendia todo o leite, regressava rapidamente a casa, de bilha vazia e o dinheiro da venda no bolso do avental.
Na casa grande da quinta muitas outras tarefas a aguardavam e não podia perder tempo.

Luzita Candeias

2013/09/14



Muro exterior do cabanão da quinta da Casa Conde
José Teodoro Prata

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PELA’S RUA’S

PELA’S RUA’S

Sigo pelas ruas calcetadas da Vila e passo por ti linda Praça Vicentina.
Estás vestida de Outono e despida de gente sem tempo para estar em ti.
Esperam os teus bancos por um afago quentinho e meia de conversa neste fim de tarde.
Mas, impera um ar frio da serra e um silêncio gélido do granito que há em ti.
Guardas recordações de vidas da história que por ti passou.
Memórias e saudades de outros tempos que não voltam atrás.
Sinto frio.
Registo-te do outro lado do cais e sigo a rua.
Imponentes casas degradadas pelo tempo.
Quantas “rugas” em suas paredes?
Quantos sonhos ocultos em suas janelas?
Quantas vidas por aqui passaram?
Quantas almas aqui rezaram?
Faça-se luz no seu candeeiro quando a noite cai junto à torre da igreja.
Toca o sino a cada hora, as Avé-Marias pela manhã e ao entardecer de cada dia.
Marca o relógio as horas, cinco já quase são.
Já se vai o sol no horizonte e leva a minha sombra.
Sigo a rua e regresso a casa.
Voltarei outro dia para caminhar por vós, para vos ver, sentir, ouvir,…
A Ti…, a Ti…, a Ti…,
Praça, Rua, Torre da Igreja Matriz.


Luzita Candeias
14-21/11/2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

Óbitos, 1802

ÓBITOS
Registos Paroquiais de São Vicente da Beira
1802


- Nascimentos, em 1802: 44; óbitos, em 1802: 37; saldo fisiológico: +7. Finalmente!

- Mais um casal a quem morreram dois filhos menores, em poucos dias: o João e a Antónia (números 25 e 28)

- Faleceu Joana Cabral (n.º 8). Era idosa, solteira e natural do Violeiro. Mudou-se com a mãe (Brittis Maria Cabral de Pinna) e a irmã (Brites Cabral) para a Vila, após o falecimento do pai, o Sargento-Mor Domingos Nunes Pouzaõ, do Violeiro. Viviam numa casa da Rua Nicolau Veloso, com os irmãos padres Manoel Cabral de Pina e Estevam Cabral de Pina. Estes 4 irmãos solteiros deixaram todos os seus bens à sobrinha Euzébia Dias Cabral, filha única de sua irmã Maria Cabral de Pina, casada, em Tinalhas, com Teodoro Faustino Dias. Estes deram origem à linhagem dos Viscondes de Tinalhas e foi devido aos familiares solteiros de São Vicente que a Casa Visconde de Tinalhas tinha tantas propriedades na nossa freguesia.

- Mais um pobre a ser sepultado na Misericórdia (n.º 9). Confirma-se que a obra assistencial desta instituição incluía oferecer sepultura a quem nada tivera em vida e não era da freguesia.

- Faleceu Eleuterio da Costa Marques (n.º 7). Era tabelião e tinha fazendas. Em 1779, tinha 5 filhos.

- Há anos, publiquei a opinião de uma pessoa de Bogas de Baixo que afirmava descenderem de um Gama seu antepassado, envolvido na emboscada as Franceses (1811), na Enxabarda, todos os Gamas da região. Afinal, em 1802, já cá havia Gamas (n.º 18).

- Os adultos faleceram sobretudo no inverno. Dos 13 óbitos, em janeiro, fevereiro e março, 10 foram de maiores de idade (77%). Certamente sofreram infeções pulmonares, devido ao frio e à humidade. As crianças morreram mais na primavera (7 de um total de 11 – 64%). Entre outras razões, devido à debilidade física das mães, pelas longas fomes de inverno, quando as ceifas ainda tardavam. É impressionante o número de bebés falecidos à nascença, ao longo de todo este ano.

1
Faustina (menor)
Naturalidade: Partida
Família: Manoel Joze e Antonia Maria
Data: 03/01/1802
Nota: Foi batizada particularmente, por estar em perigo de vida, por Manoel Alexandre, também da Partida.

2
Francisco Rodrigues Rofino
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúvo de Francisca de Andrade
Data: 06/01/1802
Nota: Foi achado morto em casa

3
Barbara Gomes
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúva de Joaõ Francisco
Data: 07/01/1802

4
Ignes Leitoa
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúva de Julio Mendes
Data: 08/01/1802

5
Manoel Roiz Diabinho
Naturalidade: Mourelo
Família: Viúvo de … (não indicado)
Data: 14/01/1802
Nota: Fez testamento

6
Paula de Saõ Pedro
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúva de … (não indicado)
Data: 26/01/1802

7
Eleutério da Costa Marques
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúvo de Maria Joaquina de Azevedo
Data: 30/01/1802
Nota: Fez testamento

8
Joana Cabral
Naturalidade: Residente em São Vicente, mas natural do Violeiro
Família: Solteira (Filha do Sargento-Mor Domingos Nunes Pouzaõ, do Violeiro, e irmã dos padres Cabral de Pina)
Data: 14/01/1802
Nota: Fez testamento e codicilo

9
Escolastica Nunes
Naturalidade: Sobral do Campo
Família: Solteira
Data: 10/03/1802
Nota: Pobre, foi sepultada na Misericórdia “…por amor de Deos…”.

10
Anna (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Joze Leitaõ e Maria Roza
Data: 16/03/1802

11
Manoel Gonçalves
Naturalidade: Paradanta
Família: (Solteiro)
Data: 26/03/1802

12
Jozefa (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha Manoel Lourenço e Escolastica Maria
Data: 30/03/1802

13
Manoel Vas
Naturalidade: São Vicente
Família: Casado com Maria de Jesus
Data: 31/03/1802

14
Ignes Roloa
Naturalidade: São Vicente
Família: Casada com Joze Gabriel
Data: 07/04/1802
Nota: Pobre

15
Maria Mendes
Naturalidade: Mourelo
Família: Viúva de João Antunes
Data: 10/05/1802

16
Joaquim (menor)
Naturalidade: Pereiros
Família: Filho de João Roiz(Rodrigues) Frances e Izabel Rodrigues
Data: 10/05/1802

17
Manoel Martins
Naturalidade: Palhais, concelho da Certã
Família: Solteiro, filho de Joze Lopes e Maria Luiza
Data: 31/05/1802
Nota: Pobre

18
Joze (menor)
Naturalidade: Mourelo
Família: filho de Joze Luis e Maria Gama
Data: 05/06/1802

19
Um menino
Naturalidade: Paradanta
Família: Filho de Bernardo Joze e Joana Leitoa
Data: 05/06/1802
Nota: Foi batizado, mas morreu logo

20
Um menino
Naturalidade: São Vicente
Família: Filho de Joze Bernardo e de Anna Joaquina
Data: 07/06/1802
Nota: Nascido no mesmo dia e batizado pela parteira.

21
Maria (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Filha de Manoel Tavares e de Maria Leitoa
Data: 15/06/1802

22
Domingos (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Filho de Joze Mendes e Maria da Costa
Data: 15/06/1802
Nota: Foi batizado pelo cura, mas morreu pouco tempo depois.

23
Domingos (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Filho de Domingos Thome e Inocencia Maria
Data: 18/06/1802
Nota: Foi batizado pelo cura, em perigo, mas pouco depois morreu.

24
Maria Tereza
Naturalidade: Brejo de Cima, concelho do Fundão
Família: Casada com Joaõ Martins
Data: 22/07/1802
Nota: Pobre

25
Joaõ (menor)
Naturalidade: Mourelo
Família: Filho de Manoel Mendes Brigido e Joaquina Antonia
Data: 05/08/1802

26
Joze (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Filho de Manoel Lobato e Luiza Maria
Data: 06/08/1802

27
Anna
Naturalidade: Partida
Família: Solteira, filha de Rita Maria
Data: 06/08/1802

28
Antonia (menor)
Naturalidade: Mourelo
Família: Filha de Manoel Mendes Brigido e Joaquina Antonia
Data: 07/08/1802

29
Joana Maria
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúva de Joze Candeias
Data: 18/08/1802

30
Maria Marques
Naturalidade: São Vicente
Família: Viúva de Felipe Martins
Data: 01/09/1802

31
Brizida Maria
Naturalidade: Alcains
Família: Solteira, filha de João Ribeiro e Maria … (não indicado)
Data: 11/09/1802
Nota: Pobre

32
Joze (menor)
Naturalidade: Violeiro
Família: Filho de Pedro Pires e Tereza Gonçalves
Data: 20/09/1802

33
Francisco (menor)
Naturalidade:
Família:
Data: 20/09/1802
Nota: Exposto, dado a criar para o Vale de Figueiras

34
Bartolomeu Rodrigues
Naturalidade: Mourelo
Família: Não indicada
Data: 24/09/1802

35
Tereza Leitoa
Naturalidade: Pereiros
Família: Mulher de Manoel das Neves
Data: 25/10/1802

36
Joana
Naturalidade: São Vicente
Família: Solteira, filha de Joaõ Franco e Genevefa Maria (seria Geneveva [Genoveva], mas é o que está no registo).
Data: 22/11/1802

37
Maria (menor)
Naturalidade: São Vicente
Família: Filha de Bartolomeu Gonçalves e Joana Maria
Data: 26/11/1802

José Teodoro Prata

sábado, 30 de novembro de 2013

Oliveiras milenares


As maiores oliveiras que conheço situam-se no Casal da Fraga. Esta está rente à estrada, em frente à casa que foi do ti Miguel Leitão e da ti Lurdes, pais do Pe. José Augusto. Por detrás da casa, no quintal, há uma ainda maior. O genro, o Hermínio, diz que tem na Partida "...umas oliveiras que são umas toras. Cada uma dá 4 ou 5 sacas de azeitona. Sozinhas vão ao lagar."


Esta oliveira é da propriedade do Casal do Monte do Surdo, abaixo do cruzamento para os Pereiros e Partida, atualmente do José Serra.
M. L. Ferreira

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ribeira de São Vicente

RIBEIRA
Murmúrio da água que vi e ouvi na corrente da Ribeira. 
Traz ela, a frescura da Gardunha até S. Vicente da Beira.


Luzita Candeias
05/11/2013

domingo, 24 de novembro de 2013

O nosso magusto

Houve magusto, na praça. Nem o vento, nem o frio intenso fizeram desanimar quem se juntou hoje no magusto organizado pela Junta de Freguesia, com a colaboração do Rancho Folclórico Vicentino.



Ana Jerónimo Patrício

sábado, 23 de novembro de 2013

Pôr do Sol na Praça Vicentina

O frio de Outono chegou à Vila e não deixa que os Vicentinos se sentem nos bancos da Praça em convívio e à conversa entre brincadeiras de crianças.
Só gente apressada regressa a casa, depois das compras ou da apanha da azeitona.
Vêm de faces rosadas e esfregando as frias, reclamam:
- Ai este frio da Gardunha até repassa os ossos!
Vamos já para casa acender a lareira e fazer o jantar.
Sigo a rua de paralelos calcetada.
Gostei de te ver linda Praça Vicentina!


Luzita Candeias
14/11/2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Novos investidores na Beiravicente



A água Fonte da Fraga foi notícia este fim de semana, na nossa imprensa regional. Aqui deixo um trecho da notícia no jornal Reconquista.

A empresa Beiravicente, proprietária das águas Fonte da Fraga, passou a sociedade anónima, fruto da entrada de um novo investidor no seu capital social. A empresa Thrintop SA detém agora 74% da Beiravicente SA, ficando a família Matias e as pessoas ligadas a ela, com 15%.
A laborar há cerca de 12 anos, a fabrica das águas Fonte da Fraga chegou a faturar, em 2009, cerca de 11 milhões de euros, empregando na altura 70 pessoas. Hoje a faturação é de seis milhões de euros e a Beiravicente emprega 43 funcionários diretos, já que a distribuição e o transporte são feitos por outras empresas.
Luís Matias continua a ser um dos rostos da Beiravicente, agora como membro de um Conselho de Administração presidido pelo novo investidor, Fernando Rodrigues (um empresário de Vale de Cambra) e que integra ainda o filho deste, Fernando Júlio.
A aposta passa agora por procurar novos mercados, como a China (para onde esta semana já segue um carregamento), já que a Fonte da Fraga marca presença em Macau e em Cabo Verde, para além de Portugal.

Parabéns à família Matias pelo êxito na restruturação da Beiravicente, garantindo assim numerosos postos de trabalho.
Uma referência especial ao Luís Matias, em grande forma na entrevista que deu ao jornalista.

José Teodoro Prata

domingo, 17 de novembro de 2013

A azeitona galeguinha...

 

Andava desesperado, quase há duas semanas que não ia a São Vicente! Ainda não eram oito horas quando abri a porta da rua, a caminho da azeitona. Dei um passo e parei, chocado: estava a chover. Não era muita e a previsão dava apenas chuva fraca para o Centro. Olhei os horizontes: todos abertos, só sobre Alcains é que estava o céu carregado. Pensei em desistir, mas resolvi arriscar, afinal podia não ter outra oportunidade de colher a azeitona.
À saída da cidade já se via a Gardunha: chuva só no lado este, de Alpedrinha ao cume, mas a parte oeste prometia bom tempo. Estranho, a chuva costuma vir do lado do mar e era ao contrário! Sobre São Vicente, o nevoeiro dos restos da chuva que caía sobre o cume da serra. Se estivesse a chover, era pouca.
Chão molhado só até à Póvoa, mais para diante ainda não chovera. Na zona da barragem começou a carujar. Mau, tenho o dia estragado. E a carujar continuou até chegar. Esperei no carro. Nem chovia em condições, nem parava de cair. Fui inspecionar e a rama das oliveiras ainda estava pouco molhada. Esperei mais um pouco e avancei. Uns minutos depois deixou de cair. Continuei, sempre à espera de ter de deixar o trabalho a qualquer momento. As nuvens mudaram as ameaças do Casal da Serra para o Casal da Fraga.
Depois abriu e veio o sol. A seguir limpou e a meio da manhã foi primavera durante meia hora. O vento voltou, mas fraco e aquecido pelo sol. O almoço comi-o na companhia de um pisco, sempre a piar baixinho (não tem corpo para mais) e a saltitar pelos matos.
Escurece cedo no Ribeiro de Dom Bento, sobretudo no buraco onde tenho a horta, ainda por cima tapado pelo pinhal do senhor Gomes. A partir das três horas da tarde, deixou de se ver o sol e fui colher a oliveira galega rente ao ribeiro. Azar: azeitona miudinha, engelada e agarrada! Só de lá saí perto das cinco, já quase noite. Ficou por colher a oliveira carrascanha e a cordovil. Esta fica a corar mais um pouco, para a talha, e a carrascanha talvez a deixe para os pássaros.
Quando cheguei a São Vicente, já a noite fechara o mundo na sua escuridão. Soube pela minha irmã Eulália que no Casal da Fraga esteve um barbeiro dos diabos, mas eu tive um belo dia de azeitona!
José Teodoro Prata

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Recordações

Que bom seria se todos os meninos tivessem um amigo e um brinquedo no Natal! E tantas outras coisas que nos fartamos de apregoar e, se calhar, praticamos pouco…
Mas este conto da Sophia de Mello Breyner, adaptado pelo José Teodoro, fez-me lembrar uma casinha que eu também tive em criança. Na altura os meus avós traziam à renda o Casal que agora é da família Matias. Logo à entrada, quase por detrás da capela da Santa Bárbara, havia uma cova escavada na rocha onde eu e as minhas primas montávamos a nossa casa durante as férias de verão. Tinha tudo: cozinha, sala e quarto. A mobília, eram bocados de tábuas e paus; a louça, cacos que encontrávamos, latas de sardinha, etc; a roupa, farrapos que nos davam ou roubávamos à avó ou às mães. A comida, toda a espécie de coisas que apanhávamos na horta ou os restos da cozinha. Se não houvesse nada, também serviam umas ervas apanhadas logo ali. Eram férias bem passadas! O pior era quando acabavam e ficava a tristeza da separação e um longo ano pela frente, até ao próximo verão…
Depois compraram o casal e tivemos que sair de lá. Ainda hoje, quando por ali passo, dou comigo muitas vezes a espreitar o sítio onde era a nossa casinha. A cova já lá não está há muito tempo, mas as memórias, ninguém mas tira …
A propósito de memórias e de Natal (Natal também é memórias), não resisto a partilhar um poema do José Luis Peixoto que ouvi há dias e achei muito bonito:

Na hora de pôr a mesa

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais 
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde 
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


M. L. Ferreira

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

É quase Natal

A NOITE DE NATAL
(Adaptação da obra “A Noite de Natal” de Sophia de Mello Breyner Andresen, a texto dramático, por José Teodoro Prata)

Personagens:
Joana
Manuel
Criada Maria
Criada Gertrudes
Mãe da Joana
Pai da Joana
Tio da Joana
Tia da Joana
Primo da Joana
Prima da Joana
Rei Baltasar
Rei Gaspar
Rei Melchior
Sombras (4 ou 6)
Anjos (2 a 4)

I
Um amigo
Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta, onde a Joana brincava. Fazia casas pequeninas, com musgo, ervas e paus.
Joana: Que pena não viver ninguém nestas casinhas!
E continuou a brincar.
Joana: Era um sítio tão bom para morarem anões!
Um dia vieram os primos brincar com ela. Mas só queriam jogar à bola e jogos de computador e faziam troça das casas de musgo.
Primo: Para que servem estas casinhas? Não sei como tens paciência para ficar aí de joelhos, tanto tempo, a fazer coisas tão pequenas e inúteis.
Prima: Que seca!
Quando os primos abalavam, Joana tinha pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.
Joana: Não entendo os meus primos, não sei brincar como eles!
Mas um dia encontrou um amigo. Estava encarrapitada no muro do jardim e passou um miúdo pela rua. Vinha todo vestido de remendos e caminhava devagar, sorrindo às folhas de Outono. Joana sobressaltou-se.
Joana: Ah! Parece mesmo um amigo! É exatamente igual a um amigo.
E do alto do muro chamou-o:
Joana: Bom dia!
O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:
Manuel: Bom dia!
Ficaram um momento calados.
Joana: Como é que te chamas?
Manuel: Manuel.
Joana: Eu chamo-me Joana.
De novo ficaram um momento calados.
Manuel: O teu jardim é muito bonito.
Joana: É, vem ver.
Joana mostrou ao garoto tudo o que havia no jardim e ele observava cada coisa com muito interesse.
Manuel: É lindo, é lindo.
Chegaram às casinhas pequeninas.
Joana: É aqui que eu brinco.
Manuel: Para quem são estas casinhas?
Joana: São para os meus amigos anões.
Manuel: Vamos fazer uma casinha para o rei dos anões.
Apanharam paus, pedras e musgo e começaram a construir uma casinha. Brincaram assim durante muito tempo até que se ouviu o apito de uma fábrica.
Manuel: Meio-dia, tenho de me ir embora.
Joana: Onde é que tu moras?
Manuel: Além nos pinhais.
Joana: É lá a tua casa?
Manuel: É, mas não é bem uma casa.
Joana: Então?
Manuel: O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia, mas não temos dinheiro para ter uma casa.
Joana: Mas à noite onde é que dormes?
Manuel: O dono dos pinhais tem uma cabana onde dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir lá também.
Joana: E onde é que brincas?
Manuel: Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte.
Joana: Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo.
O Manuel voltou todos os dias e juntos ficavam a brincar, esquecidos das horas. Às vezes uma criada vinha trazer-lhes um lanche.
Criada Maria: Menina, trago aqui um lanche para si e para o seu amigo. Larguem a brincadeira por um instante e venham comer.
Joana: Obrigado Maria. Manuel, vem lanchar comigo.
A Joana e o Manuel sentaram-se e saborearam a fatia de bolo e o sumo que a Maria lhes trouxera. Depois voltaram às suas brincadeiras. E foi assim que Joana encontrou um amigo.

II
A festa
Até que chegou o Natal. Na véspera, a Joana vestiu um vestido muito bonito e na casa havia riqueza e alegria. Joana andava maravilhada. Veio ao jardim e olhou o céu cheio de estrelas.
Joana: A minha casa está linda, mas no céu ainda há uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas!
Joana voltou a entrar em casa e perguntou à criada Gertrudes:
Joana: Ainda falta muito para o jantar?
Criada Gertrudes: Ainda falta um bocadinho, menina.
A criada ia a afastar-se, mas ela chamou-a de novo:
Joana: Gertrudes, ouve uma coisa.
Criada Gertrudes: O que é?
Joana: Que presentes é que achas que eu vou ter?
Criada Gertrudes: Não sei, não posso adivinhar.
Joana: E achas que o meu amigo vai ter muitos presentes?
Criada Gertrudes: Qual amigo?
Joana: O Manuel.
Criada Gertrudes: O Manuel não. Não vai ter presentes nenhuns.
Joana: Não vai ter presentes nenhuns!?
Criada Gertrudes: Não.
Joana: Mas porquê Gertrudes?
Criada Gertrudes: Porque é pobre. Os pobres não têm presentes.
Joana: Isso não pode ser, Gertrudes.
Criada Gertrudes: Mas é assim mesmo.
A Gertrudes saiu e deixou a Joana intrigada, a cismar.
Joana: É tão esquisito o que a Gertrudes me contou. É como uma mentira. Mas ela sabe tudo!
Entretanto, a criada Maria veio avisar:
Criada Maria: Menina, chegaram os primos.
Entraram os primos e a Joana alegrou-se. Depois vieram os pais e os tios. Vivia-se um ambiente de festa e alegria. De repente a Joana voltou a lembrar-se do Manuel e isolou-se do grupo, pensativa.
Joana: Com certeza que a Gertrudes se enganou. O Natal é uma festa para toda a gente. Amanhã o Manuel vai-me contar tudo. Com certeza que ele também tem presentes.
E consolada com esta esperança a Joana voltou a ficar alegre e juntou-se à festa. Estava encantada com as luzes, as comidas… O primo puxou-a pelo braço:
Primo: Joana, estão ali os teus presentes.
A Joana abriu os seus presentes e ria-se e batia palmas de contente. De repente lembrou-se do Manuel.
Joana: Talvez o Manuel tenha tido um automóvel.
A festa continuou, até que o pai disse:
Pai: São onze e meia. São quase horas da Missa do Galo. E são horas de as crianças se irem deitar.
E foram saindo todos:
Pai e mãe: Boa noite, minha querida. Bom Natal.
O pai e a mãe despediram-se da Joana com um beijo e saíram. Depois vieram as criadas a arrumar tudo.
Criada Gertrudes: Bom Natal, menina. Então, teve os presentes que queria?
Joana: Sim, todos. Estou muito contente! Bom Natal, Gertrudes.
Mas também elas começaram a sair. Então a Joana chamou a Gertrudes.
Joana: Gertrudes, aquilo que disseste antes do jantar é verdade?
Criada Gertrudes: O que é que eu disse?
Joana: Disseste que o Manuel não ia ter presentes porque os pobres não têm presentes.
Criada Gertrudes: Está claro que é verdade. Eu não digo fantasias: não teve presentes, nem árvore, nem peru recheado, nem filhoses.
Joana: Mas então o Natal dele como foi?
Criada Gertrudes: Foi como nos outros dias.
Joana: E como é nos outros dias?
Criada Gertrudes: Uma sopa e um bocado de pão.
Joana: Gertrudes, isso é verdade?
Criada Gertrudes: Está claro que é verdade. Mas agora era melhor que a menina se fosse deitar, porque estamos quase na meia-noite.
Joana: Boa noite, Gertrudes.
A criada Gertrudes saiu e a Joana ficou sozinha. Volta a olhar para os presentes.
Joana: Uma boneca, uma bola, uma caixa de tintas e livros. Deram-me tudo o que eu queria. Mas ao Manuel ninguém deu nada.
Depois, ficou pensativa e falar consigo própria, a imaginar o Manuel na cabana.
Joana: Que frio deve estar na cabana onde o Manuel dorme! Que escuro lá deve estar! Que triste lá deve estar.
E depois, decidida:
Joana: Amanhã vou-lhe dar os meus presentes.
Mas suspirou:
Joana: Amanhã não é a mesma coisa. Hoje é que é Noite de Natal.
Vestiu um casaco e pegou nos presentes, só deixou a boneca, pois o Manuel era um rapaz. Abriu a porta devagarinho e saiu para o escuro da noite.

III
A estrela
Quando a Joana se viu sozinha no meio da rua teve vontade de voltar para trás. Estava tudo deserto, não se viam pessoas, só se viam coisas. Tinha a impressão de que as coisas a olhavam e se mexiam como pessoas. (Partes desta caminhada podem decorrer nos espaços do público).
Joana: Tenho medo.
Mas continuou. Caminhava sempre, mas começava a duvidar.
Joana: Será possível que eu chegue lá?
As ervas estavam geladas e o vento cortava a sua cara como uma faca.
Joana: Tenho frio.
Sentiu-se perdida, sem saber por onde seguir.
Joana: Para que lado ficará a cabana?
Olhava para um lado e para o outro, sem saber que direção seguir.
Joana: Como é que hei-de encontrar o caminho?
E levantou a cabeça. Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava.
Joana: Esta estrela parece um amigo.
E começou a seguir a estrela. As sombras enormes fizeram uma roda à sua volta. Um pouco depois ouviu passos.
Joana: Será um lobo?
Depois surgiu um vulto.
Joana: Será um ladrão?
O vulto parou na sua frente e ela viu que era um rei.
Joana: Boa Noite
Rei (Melchior): Boa noite. Como te chamas?
Joana: Eu, Joana.
Rei (Melchior): Eu chamo-me Melchior. Onde vais sozinha a esta hora da noite?
Joana: Vou com a estrela.
Rei Melchior: Eu também, também vou com a estrela.
E juntos seguiram pelo pinhal. De novo ouviram passos e um vulto surgiu entre as sombras da noite.
Joana: Boa noite. Chamo-me Joana e vou com a estrela.
Rei (Gaspar): Também eu, também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.
E seguiram juntos até que voltaram a ouvir passos e um novo vulto surgiu do escuro.
Joana: Boa noite. O meu nome é Joana e vamos com a estrela.
Rei (Baltasar): Também eu caminho com a estrela e o meu nome é Baltasar.
E juntos seguiram os quatro através da noite. Até que chegaram a um lugar onde a estrela parou. Era um casebre sem porta, mas Joana não viu escuridão, nem tristeza, só um casebre que irradiava luz. E Joana viu o seu amigo Manuel deitado nas palhas, entre a vaca e o burro, rodeados de anjos.
Joana: Ah, aqui é como no presépio!
Rei Baltazar: Sim, aqui é como no presépio.
Então a Joana ajoelhou-se e poisou no chão os seus presentes. Os Reis Magos fizeram o mesmo. Depois, a Joana virou-se para o público.
Joana: Vamos festejar o Natal do meu amigo Manuel. Cantem todos comigo.

Refrão
Alegrem-se os céus e a terra
Cantemos com alegria
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria

Entrai pastorinhos, entrai 
Por este portal sagrado 
Vinde adorar o menino 
Numas palhinhas deitado

Alegrem-se os céus e a terra
Cantemos com alegria
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria

Ó meu Menino Jesus
Ó meu menino tão belo
Logo viste nascer
Na noite do caramelo

Alegrem-se os céus e a terra
Cantemos com alegria
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria

(Nota: a canção deve adaptar-se ao público presente, pois é importante que a saiba cantar.)

FIM