terça-feira, 30 de outubro de 2012

Programa das (nossas) Jornadas do Património

Jornadas Europeias do Património 2012
"o futuro da memória, memórias para o futuro"

MEMÓRIAS (DE) VIDAS DE SÃO VICENTE DA BEIRA

Domingo, 11 de Novembro

14H00 – RECEÇÃO AOS PARTICIPANTES
Local: Praça de São Vicente da Beira
Banda Filarmónica Vicentina

14H30 – ABERTURA das JORNADAS EUROPEIAS DO PATRIMÓNIO
Local: Salão Nobre da Junta de Freguesia
Individulidades presentes, comunidade vicentina e visitantes

Sessão Solene de Abertura
Apresentação dos Sócios Patronos da AHP
Apresentação do Programa das Jornadas

15H20 – APRESENTAÇÃO E VISITA À EXPOSIÇÃO

“MEMÓRIAS (DE) VIDAS DE SÃO VICENTE DA BEIRA”
Local: Largo Francisco Caldeira (Fonte Velha) e casa onde viveu Hipólito Raposo (junto à Fonte Velha)

16H30 – HOMENAGEM A MARIA DE LOURDES HORTAS
Passagem pela casa onde viveu e leitura de poemas

17H00 – MAGUSTO-CONVÍVIO DE TODA A COMUNIDADE
Local: Praça
Animação por uma tuna académica e pelo grupo de bombos “Os Vicentinos”

18H00 – MOMENTO MUSICAL
Local: Igreja Matriz

19H00 – ENCERRAMENTO DAS JORNADAS

sábado, 27 de outubro de 2012

A malta da bola



A ribeira no povo que lhe deu o nome: Tripeiro.
Esta imagem já é histórica,
pois neste local foi construída a ponte da estrada que vem do Mourelo.
Foto do Carlos Matos.
(Clicar na imagem para ver melhor)

Foi em 1953 que a malta do Tripeiro se juntou, arranjou um campo para jogar futebol e equipamento apropriado para a função.
O grupo local convidou o Sobral para a estreia e a equipa da casa perdeu por 0 – 1, um resultado honroso para quem começava, ainda por cima porque a 10 minutos do fim chegou um rapaz do Sobral e entrou diretamente em jogo, desfazendo o nulo que então ainda se verificava.
Os tripeiros não concordaram com esta participação de um jogador que não estava presente no início da partida, mas aceitaram, «…porque todos – jogadores e assistência – pretenderam receber bem…». Bonito, isto é que se chama hospitalidade!
A notícia veio publicada no jornal Beira Baixa, de Castelo Branco, no dia 25 de Abril de 1953.

Mais de um ano depois, em 4 de Dezembro de 1954, o mesmo jornal trouxe notícia da malta da Partida, pela mão de Aurélio Bento Martins.
Os rapazes fizeram um peditório pelo povo, compraram 11 camisolas e 1 bola, terraplanaram o campo e convidaram o mesmo Sobral para a estreia. O jogo de apresentação da equipa terminou sem golos.
Duas semanas depois foram ao tira-teimas, no Sobral. Perderam por 4 – 3, mas o jogo foi cheio de peripécias. A anulação de um golo da Partida levou à interrupção do jogo por 20 minutos e à expulsão do árbitro (da casa), pela autoridade policial local, o Regedor. Ele próprio assumiu, generosamente, a orientação do jogo, mas, lamentavelmente, desconhecia as regras do futebol e a equipa do Sobral acabou o jogo com 12 jogadores em campo.
Enfim, tempos de aprender, como são todos, e sobretudo histórias de um mundo pleno de gente jovem.

A Partida vista do monte de São Tiago.
Foto do Carlos Matos.
(Clicar na imagem para ver melhor)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Festa da Rádio

A organização Artur Ribeiro realizou um programa de rádio, ao vivo, diretamente de S. Vicente da Beira, que foi transmitido, para todo o país, pela Emissora Católica de Rádio Renascença.

"Tomaram parte os categorizados artistas: Gina Maria, vedeta da rádio; Mimi Lacerda, atriz declamadora; Lilia Martins, cantadeira; Eduardo Jaime, cantor tirolez; Vianinha, o ás do riso; Cardinali, ilusionista; Antero Guimarães, acordeonista; e Rogério Fontes, locutor."

O espetáculo rendeu bem e 15% da receita foi oferecida ao Hospital da Misericórdia.

A notícia, enviada por C. (Correspondente), veio publicada no jornal Beira Baixa, de Castelo Branco, a 21 de Outubro de 1956.  O título era sugestivo: "Festa da Rádio em S. Vicente da Beira".

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA

Este é o último dos artigos publicados, durante o verão, no jornal Reconquista. Seguir-se-á o texto integral do nosso foral manuelino.

Tempos fecundos
Ao clima frio e chuvoso do séc. XIV e inícios do séc. XV seguiu-se um tempo mais quente e seco, propício à produção de cereais de sequeiro. Esta melhoria coincidiu com um longo período de paz que Portugal viveu após Aljubarrota (1385). Consequentemente, as produções agrícolas aumentaram, o comércio reanimou-se e a população cresceu.

As povoações ganharam nova dinâmica, animadas pela abundância de gentes e de produtos. À semelhança do que terá ocorrido em todo o território nacional, os séculos XV e XVI foram particularmente fecundos no antigo concelho de S. Vicente da Beira.

Além da criação das igrejas paroquiais de Tinalhas e Louriçal do Campo, já referida em artigo anterior, devemos acrescentar outros templos religiosos que apresentam características arquitetónicas deste período. Os alpendres da Senhora da Encarnação (limite da Póvoa com Tinalhas) e da Senhora da Orada (São Vicente) são típicos do século XVI, embora a Orada remonte, possivelmente, a muitos séculos atrás. Nesta ermida, o cruzeiro e a pia de água benta são belas peças do estilo manuelino.

O pórtico manuelino da capela de Santa Bárbara situa-a claramente na primeira metade do século XVI. A sua localização atual no Casal da Fraga não remonta às origens, pois foi para ali trasladada nos anos 30 do século XX, proveniente do Valouro, limite do Sobral com São Vicente.

Também a capela de Santo António, na vila, ostenta entre o corpo da capela e o altar um grande arco de volta perfeita com aresta chanfrada, elementos artísticos típicos do século XVI. Este arco estava pintado de azul e só na segunda metade do século XX a tinta foi removida. E podíamos continuar com as capelas as Espírito Santo e do Senhor do Bonfim de Tinalhas ou de São Sebastião do Freixial. Aliás, cerca de metade das capelas do antigo concelho terão sido construídas nestes dois séculos.

Em São Vicente da Beira, sede do concelho, os séculos XV e XVI foram quase os de uma segunda fundação da vila. Foi neste período que o centro histórico ganhou a configuração que hoje conhecemos.

No centro da praça ergueu-se o pelourinho, possivelmente para assinalar a confirmação do foral medieval pelo príncipe D. João, futuro D. João II. No capitel do alto da coluna octogonal foi esculpido um pelicano com os seus filhos, símbolo deste rei, assim como o brasão da ordem de Avis, mas ainda sem o da ordem de Cristo. Tais elementos permitem-nos situar o pelourinho no final do séc. XV. As restantes faces ostentam o escudo real e a barca de São Vicente.

A praça era já então ladeada a norte pela igreja medieval, possivelmente gótica. Do topo do poente também já existiria uma casa da Câmara que foi substituída pelo atual edifício com brasão manuelino: o escudo real ladeado por duas esferas armilares, símbolo de D. Manuel I.

Em 1762, os castelhanos incendiaram parte da vila, incluindo a casa da Câmara, e o edifício foi reconstruído em 1767, mas ter-se-á mantido a estrutura quinhentista, a julgar pelo pouco tempo e dinheiro gastos: cerca de um ano e 300$000 réis, pagos pelos povos do concelho. Para se ter uma ideia do que representava este valor, informa-se que, nesse mesmo ano, o concelho enviou ao poder central 741$780 réis, só da cobrança do imposto da sisa.

No lado norte da Câmara, entre esta e o adro da Igreja, foi construída a igreja da Misericórdia, fundada no 3.º quartel do séc. XVI. O atual edifício data de 1643, mas no século anterior já ali se realizavam enterramentos. Talvez no sítio da albergaria medieval do Espírito Santo, tornada igreja da Misericórdia. Nesta igreja existe uma pia de água benta tipicamente manuelina.

No lado sul da Câmara, ergueu Jácome de Sousa de Refoios o seu solar, na segunda metade do séc. XV. Viria depois a ser residência dos condes de São Vicente, por via do casamento de sua filha Leonor de Sousa com Nuno da Cunha, os quais foram os bisavós do 1.º conde.

Um pouco afastado deste centro, mas perto, foi construída uma fonte que, além do escudo real, ostenta o nome do rei D. Sebastião (SEBASTIANVS .I. LUSITANIE .R.) e a data de 1578, ano da tragédia de Alcácer Quibir. Hoje chama-se Fonte Velha.

Data ainda deste período a criação do convento das Religiosas Franciscanas. Na menoridade de D. Sebastião, foi sua mãe, D. Catarina, quem autorizou a fundação do convento, doando ainda um sino, um livro de cantochão e 100 cruzados.

E abundam, na malha urbana das principais localidades do antigo concelho, os portados e janelas quinhentistas, de forma retangular e de arestas chanfradas.

Terminamos com uma referência à arte móvel. Um Menino Jesus de Malines, da Flandres (Bélgica) renascentista, é talvez a mais preciosa obra de arte deste período que aqui podemos admirar.

A Praça renascentista de São Vicente.
O pelourinho de finais do século XV, no centro (no início do séc. XX (finais do séc. XIX ?) foi desviado para o lado);
ao fundo, o edífício da Câmara, com o seu brasão manuelino; 
à esquerda, o lugar onde Jácome de Sousa de Refoios ergueu o seu solar, no século XVI, mais tarde dos condes de São Vicente;
 à direita a Igreja da Misericórdia, também fundada no século XVI;
mais à direita ainda, situa-se a Igreja Matriz que data da fundação da vila e por isso está na origem deste centro cívico, político e religioso.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma sede para a Banda


Voltei ao largo da Fonte Velha e fiquei triste, talvez sem razão, espero.
O espaço pronto a receber os alicerces da nova sede para a nossa filarmónica é diminuto, muito menor do que a sala onde atualmente ensaia a banda. É verdade que a sede terá dois pisos, mas não podem ensaiar uns no rés do chão e outros no 1.º andar!
Não foi incluída a casa arruinada das traseiras, que continuará a desfear o sítio. O seu aproveitamento duplicaria a área a construir.
Também não se incluiu o espaço da escadaria exterior da casa que foi de João Coxo. É pouco mais de um metro, mas vale mais pouco que nada! Pode abrir-se uma porta exterior para a Rua das Laranjeiras!
Fica livre um quintal que terá o dobro da área a ocupar com a construção e que poderá ser ajardinado. Enriquece o conjunto, mas que adianta ter um jardim grande se não cabemos em casa?
Desejo sinceramente ter-me enganado e estar a exagerar. Mas toda a vida trabalhei na preparação de espetáculos e sei que são necessários espaços amplos, equivalentes aos espaços das futuras atuações.
Não se pode encostar um pouco mais o edifício à fonte, nem aproveitar parte ou todo o espaço do quintal? Há soluções arquitetónicas que nos permitem dar uma sede digna para a banda sem violar o rico património que é a nossa Fonte Velha!
E é de todo impossível adquirir a casa em ruínas? Esta seria a melhor solução!
Isto não é dizer mal (nunca gostei de treinadores de bancada e neste caso nem há quem criticar), é apenas o meu contributo para um eventual repensar das coisas. Pode fazer-se melhor no mesmo tempo e com pouco mais dinheiro!

domingo, 14 de outubro de 2012

Partilhas

Não resisto a partilhar convosco, neste espaço mais à vista, o comentário que um leitor publicou na notícia anterior:


...traigo
ecos
de
la
tarde
callada
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...

desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ

COMPARTIENDO ILUSION
JOSE TEODORO PRATA

CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...

ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE LEYENDAS DE PASIÓN, BAILANDO CON LOBOS, THE ARTIST, TITANIC SIÉNTEME DE CRIADAS Y SEÑORAS, FLOR DE PASCUA ENEMIGOS PUBLICOS HÁLITO DESAYUNO CON DIAMANTES TIFÓN PULP FICTION, ESTALLIDO MAMMA MIA,JEAN EYRE , TOQUE DE CANELA, STAR WARS,

José
Ramón...



Meu Deus, José Ramón, é uma das mais lindas homenagens que me fizeram!
Como costumo dizer aos meus alunos, já não tenho idade nem saúde para viver momentos tão intensos!
Numa segunda leitura, tentando refazer-me, dei por mim a cantarolar esta canção de Vitorino ("queda do império"):


Perguntei ao vento
Onde foi encontrar
Mago sopro encanto
Nau da vela em cruz
Foi nas ondas do mar
Do mundo inteiro
Terras da perdição
Parco império mil almas
Por pau de canela e mazagão

Pata de negreiro
Tira e foge à morte
Que a sorte é de quem
A terra amou
E no peito guardou
Cheiro da mata eterna
Laranja Luanda
Sempre em flor.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA

Um manual tributário

Os forais manuelinos incidem quase exclusivamente sobre os impostos a pagar pelos munícipes e a receber pelo poder real ou pelas entidades a quem este os doara.

O foral de S. Vicente da Beira (1512) estipulava que «Outrossim se pagará na dita vila um jantar e colheita a que chamam soldo d´água. E por ele pagam em cada um ano mil seiscentos reais repartidos por todos os moradores da dita vila e termo segunda tem a fazenda. Sem nenhuma pessoa ser escuso da dita paga por privilégio nem liberdade que tenha.»

Desde o início da nacionalidade que era obrigatório, por parte das populações, o fornecimento de víveres para a mesa das autoridades visitantes. Fosse o rei, o bispo, o senhor da terra ou os oficiais da comarca e da provedoria, todos tinham direito a ser alimentados pelos povos (além das hospedagem, também obrigatória).

A historiadora Iria Gonçalves estudou as colheitas devidas ao rei D. Afonso III, no século XIII, pelos concelhos de Sarzedas e S. Vicente da Beira. Eis a colheita régia de São Vicente, quase igual à de Sarzedas: carnes (1 vaca, 2 porcos, 5 carneiros e 15 galinhas), temperos para as carnes (1 almude de manteiga, alhos, cebolas e 1 almude de vinagre), ovos (100), mel (1 almude), sal (1 almude), pão (300) e vinho (1 moio e 6 almudes - 480 litros).

Os reis deslocavam-se acompanhados por um grande séquito! Se o rei não vinha ao concelho, mandavam-se os animais para o local onde residisse habitualmente. Mais tarde, a colheita régia em géneros foi convertida em dinheiro, devido anualmente ao rei. É a esse imposto que se refere o foral acima citado, que lhe chama soldo d´água. Em 1512, andava pelos 1600 reais e era devido ao rei. Não sabemos quem o recebia, mas, em 1496, era pago a Vasco Gil de Castelo Branco. Segundo o Engenheiro Manuel Castelo Branco, D. João I fez doação desta colheita régia ao vicentino D. Fernando Rodrigues de Sequeira: «...estando em Santarém, a 13-2-1414, fez-lhe mercê da colheita e jantar, chamado do soldo de água, que a vila de S. Vicente da Beira, desde tempos antigos, costumava oferecer aos reis quando percorriam o reino.» D. Fernando Rodrigues de Sequeira teve vários filhos naturais, entre os quais D. Garcia Rodrigues de Sequeira. Ao filho deste, Rui Fernandes de Sequeira, também natural, confirmou D. Afonso V a doação da colheita régia, por alvará de 13-2-1471. Vasco Gil seria, possivelmente, bisneto de D. Fernando Rodrigues de Sequeira.

O poder real tinha ainda direito a um décimo das multas pagas nos processos judiciais: «A dízima da execução das sentenças se arrecadará na dita vila por direito real.» Mas doara à Ordem de Avis o imposto pago pelos tabeliães: «…paga cada um dos três tabeliães que há na dita vila à dita ordem, cento e oitenta reais de pensão.»

As normas para a cobrança da portagem ocupam grande parte do foral e constituem um bom retrato económico-social do Reino de Portugal, na época dos Descobrimentos.

Quem pagava a portagem eram as pessoas de fora do concelho, pelos produtos que traziam ou levavam, para venda. E especificaram-se os tipos de cargas: «…carga maior se entendam que são de besta muar ou cavalar. E por carga menor se entenda carga de asno. E por costal a metade da dita carga menor que é o quarto da carga de besta maior.» A carga maior correspondia a 10 arrobas, a menor a 5 e o costal a 2,5 arrobas. Por pequenas quantidades, não se pagava nada.

Um exemplo: «De todo o coiro de boi ou vaca ou de cada pele de veado, gamo, corso, bode, cabras, carneiros ou ovelhas curtidas ou por curtir, dois ceitis. E se vierem em bestas pagarão por carga maior nove reais e das outras por este respeito.» A portagem das mós pagava-se por peça. Assim, «E de mós de barbeiro, dois reais. E das de moinho ou atafona, quatro reais. E de casca ou azeite, seis reais. E por mós de mão, para pão ou mostarda, um real.» Igualmente o gado se pagava à cabeça: 1 real por cada boi e dois ceitis por cada ovelha, cabra ou porco.

E que produtos se comercializavam, nestes inícios do século XVI? A lista é extensa e já inclui alguns produtos de além-mar: cerais, vinho, sal e cal; panos de seda, lã, algodão ou linho; «…sapatos burgueses e de toda a calçadura de coiro…»; cera, mel, azeite, manteiga, sabão e alcatrão; grão de anil e brasil para tingir; papel e toucados de seda e algodão; especiarias e açúcar; pescado e marisco; fruta seca ou verde; sumagre e casca para curtir; bestas e escravos; telha, loiça de barro e mós de pedra; tonéis, arcas e tabuado serrado e por serrar…

A portagem era paga do seguinte modo: o vendedor entrava na vila e ia direto à casa do rendeiro ou do oficial da portagem, notificando-o da carga que trazia. Se não o achasse, dava a uma testemunha conhecimento das mercadorias transportadas e do local onde ficaria hospedado.

No antigo concelho de São Vicente da Beira, o produto da portagem era dividido, em partes iguais, pela comenda da Ordem de Avis e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra. Com os rendimentos deste mosteiro, já D. João II fizera, anos antes, nova comenda, dada à Ordem de Cristo. Tal facto é ignorado por este foral de 1512, por razões que desconhecemos.


Janela manuelina no alto da Rua Manuel Lopes.
Esta janela é típica da arte da época dos descobrimentos, sobretudo do reinado de D. Manuel I. Assim, foi esculpida por alturas da publicação do nosso foral manuelino.
Esta terá sido a casa onde morou Manuel Lopes Guerra, o qual deu nome à rua.
Manuel Lopes Guerra estava casado com Marianna Garcia, natural de São Romão, Seia.
Tinha um forno na Rua da Misericórdia e outro nesta rua.
Manuel Lopes Guerra seria irmão do Doutor Manuel Simões, morador na rua Manuel Simões, e avô de Maria Benedita Simões Feio de Carvalho que casou com um Cunha Pignatelli da Guarda, trazendo esta família para S. Vicente da Beira.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sede para a Banda

Começaram as obras para a futura sede da Banda, na Fonte Velha. A imagem é de sexta-feira, no início da tarde. Agora, domingo, o espaço já estará todo limpo, pronto a receber os alicerces do novo edifício.
Na foto, vemos o Comissário Barroso a orientar os trabalhos.
Esta obra será a realização do seu sonho, como presidente da Direção, mas também dos músicos da Filarmónica e de todos os vicentinos. Foram mais de cem anos em sedes provisórias!
Para mim, é a obra mais importante de São Vicente, desde a requalificação da Praça e espaço envolvente (2004).
Além de dar uma sede a quem dedica todo o seu tempo livre à comunidade, significa também o início da requalificação do largo da fonte, o espaço público mais nobre da Vila, logo a seguir à Praça.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O nosso falar: um pisco

O pisco (pisco de peito ruivo) «...é uma pequena ave que se conhece bem pela mancha alaranjada que lhe ornamenta o peito.»
A Wikipédia acrescenta ainda que mede «...cerca de 14 cm. Os adultos apresentam o peito e a testa de cor laranja ferrugínea muito caraterística. Os juvenis são castanhos com pintas abundantes castanho amarelado e mudam para a plumagem de adulto ao fim de um ano.»
Alimenta-se à base de insetos, aranhas, minhocas e no tempo frio come bagas e outros frutos moles.

Não se deixem impressionar com esta peitaça! Ele armou as penas para fazer boa figura.

 
Quando ando no Ribeiro de D. Bento, basta mexer nos matos ou fetos e aparece logo um pisco. Pipiripipi, pipiri, pi, pi, é uma conversa pegada, sempre a saltitar a metro e meio de mim. Eu respondo-lhe e ficamos longos bocados a conversar. O meu amigo pisco é muito sociável e anda por todo o lado.
Foi ele que deu nome ao cabeço ali bem perto, o Cabeço do Pisco, e à fazenda nas margens da ribeira, o Casal do Pisco. Isto há centenas de anos. Mais recentemente, também se serviram dele para dar nome à barragem (Barragem do Pisco), mesmo encostada ao referido casal, e também ao jornal que a nossa rapaziada faz na escola (O Pisco).
Contei-lhe e ficou todo vaidoso!

O que ele não sabe é que nós chamamos pisco a uma criança pequena e magrita, reles para comer. Dizemos que é um pisco ou um piscozito, para ainda a rebaixar mais, na esperança de que ganhe juízo e faça pela vida. "Quem não é para comer, não é para trabalhar!"
Disto não vai gostar o meu amigo pisco, ele que se considera um grande comilão, embora com fracos resultados, pelo que se vê. Mas um pisco, tal como um homem, não se mede aos palmos, no caso dele aos milímetros. Lá estão a penugem, o canto e o gosto pelo convívio, para o demonstrar!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA


As comendas de Avis e de Cristo

O foral manuelino do extinto concelho de S. Vicente da Beira, cujo 5.º centenário estamos a comemorar, informa-nos sobre a Ordem de Avis, neste território.

«Tem a Ordem e Mestrado de Avis na dita vila propriedades de terras e olivais aforadas a pessoas particulares (…).

E tem mais a dita ordem no termo da dita vila um lugar próprio seu e foreiro de que arrecada seus foros antigos sem contradição, como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila. No qual se não pagam outros tributos nem foros senão os que adiante vão declarados. (…) Os quais são repartidos igualmente ao meio pela dita ordem e comenda dela e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra.»

Desde os alvores da nacionalidade que o território entre a Ocreza e o Tejo fora entregue aos monges guerreiros Templários, mais tarde Ordem de Cristo, mas o concelho de São Vicente, antes administrado pela Covilhã, permaneceu livre de senhores.

No entanto, outra organização de monges guerreiros, a Ordem de Calatrava, mais tarde de Avis, foi recebendo propriedades e rendas neste antigo concelho.

As terras concentravam-se sobretudo na zona sul do concelho, na margem direita da ribeira da Ocreza, onde se situavam os povoados da Póvoa e de Ceia (no passado existente na área do paredão da albufeira de Santa Águeda). Segundo o Eng.º Manuel Castelo Branco, parte destas propriedades eram a herança pessoal de D. Fernando Rodrigues de Sequeira, filho de pai vicentino e mãe albicastrense. Este D. Fernando doou estas terras à organização de que foi Mestre, a Ordem de Avis.

Antes desta doação dos inícios do século XV, já as terras do sul do concelho gozavam de relativa autonomia, dada aos moradores pelos mestres da Ordem de Calatrava/Avis. Assim, quer pelo poder autónomo da Ordem de Avis («…como de coisa sua patrimonial que não jaz debaixo do foral da dita vila.»), quer pelos privilégios dados aos habitantes deste senhorio, as povoações da Póvoa e de Ceia já se governavam a si próprias, como concelho à parte, no início do séc. XVI.

Esta pertença da Póvoa à Ordem de Avis está documentada pelo brasão da ordem de Calatrava, existente no edifício que terá sido, durante séculos, a casa da Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos, situado na Praça desta antiga vila.


Símbolo da ordem de Calatrava, na casa onde se situou a Câmara da Póvoa de Rio de Moinhos.

 
Mas o património da Ordem de Avis não se restringia a estas terras da parte sul do concelho de S. Vicente da Beira. O foral de 1195 tem como outorgantes os membros da Casa Real e o mosteiro de São Jorge de Coimbra, mas, no séc. XIV, os rendimentos da Igreja do concelho eram já repartidos pelo mesmo mosteiro e pela Ordem de Avis. Segundo o foral manuelino, tal facto terá ocorrido em 1300 («…era de mil e trezentos, na qual era foi dada a dita vila à ordem de Avis…»). O rei criou uma comenda com parte dos bens/rendimentos que aqui detinha e doou-a à Ordem de Avis, ficando ao longo dos séculos esta comenda de Avis com metade das rendas da Igreja e consequentemente com a obrigação de pagar metade das despesas das igrejas do vigariato. A outra parte cabia ao dito mosteiro de São Jorge de Coimbra.

É esta competência da Ordem de Avis na gestão dos bens religiosos do concelho que explica a existência do brasão da dita ordem na fachada da Igreja do Louriçal, com data de 1559.


Símbolo da ordem de São Bento de Avis, na Igreja do Louriçal do Campo.

 
O mesmo se poderá dizer da presença do símbolo da Ordem de Cristo no cruzeiro e na casa do ermitão da ermida da Senhora da Orada, em São Vicente. É que, nos finais do séc. XV, D. João II criou uma nova comenda com os rendimentos do até então padroado de São Jorge de Coimbra. D. João II doou a nova comenda à Ordem de Cristo, com a obrigação de sustentar o vigário, o chefe do clero do concelho (do vigariato), cuja nomeação continuou prerrogativa do poder real. Embora o foral manuelino ignore a substituição do padroado de São Jorge de Coimbra pela nova comenda dada à Ordem de Cristo, tal facto já ocorrera em 1512.

O vigário nomeava os curas das igrejas criadas após 1539. Nas paróquias fundadas anteriormente, Póvoa e Tinalhas, a nomeação cabia alternadamente à Ordem de Avis e à Ordem de Cristo, o mesmo se passando com a nomeação do tesoureiro da Matriz da Vila. Mas aqui a nomeação de um cura competia exclusivamente à Ordem de Avis. Em termos das despesas, a Ordem de Cristo pagava ao vigário de nomeação real e a Ordem de Avis ao cura da Matriz de São Vicente, que nomeara. As restantes despesas quer as referentes ao sustento dos curas e do dito tesoureiro, quer as despesas correntes das igrejas, eram suportadas em partes iguais pelas duas comendas.

Símbolo da ordem de Cristo, no cruzeiro da ermida da Senhora da Orada.
Na casa do ermitão, existia igualmente a cruz de Cristo.