quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Tradições de Natal

Ontem passou na RTP2 um delicioso programa sobre as tradições de Natal, em Inglaterra, no século XVI.

Deixo-vos com ele (https://www.rtp.pt/play/p9616/e587297/um-feliz-natal-tudor-com-lucy-worsley.) até aos Reis, pois era, e ainda hoje é, quando terminavam as comemorações natalícias. Este programa tem a capacidade de nos conseguir surpreender!

Bom Natal para todos!

José Teodoro Prata

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A Loja do Cidadão que não temos

 

A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública veio há dias inaugurar a Loja do Ciodadão de Vila Velha de Rõdão e na altura afirmou que As lojas do Cidadão são "marca de mordernização".
O concelho de Castelo Branco já tem Lojas do Cidadão em cerca de metade (atrever-me-ia a afirmar que são mais de metade) das freguesias, mas na nossa não há.
Nos últimos meses do mandato da anterior Junta de Freguesia senti que havia uma polémica local em torno da possível transferência dos serviços da autarquia para as instalações onde funcionou a Caixa Geral de Depósitos, na Estrada Nova.  Presumi que o que estava em causa era juntar num mesmo local o serviço do Correios, a admninistração da Junta e a Loja do Cidadão (que finalmentre iria ser criada).
O clamor devia-se à deslocação para a periferia de serviços que dão vida ao centro da Vila. Procupação mais que justificada, não fosse nunca ter ouvido nenhuma proposta alternativa viável (que provavelmente existiram). A Junta ficará com quatro empregados, mas pensar que tem dinheiro para pagar a quem venha fazer as férias dos três administrativos é quase um delírio!
Ocupar o piso superior dos antigos paços do concelho, colocando um elevador para garantir o acesso aos utentes mais idosos? Sei que a Universidade Sénior ficaria desalojada, mas haveria alternativas.
Ocupar todo o piso inferior do edifício, ficando a administração da Junta onde está, passando os Correios para a sala contígua, que é a de trabalho da Junta, indo a Loja do Cidadão para o local onde agora funciona o Museu de Arte Sacra da Misericórdia, mas que vai ser parcialmente desativado com a abertura o Museu de Arte Sacra? (Essas instalações são da Junta e a Misericórdia continuaria com a sala ao lado da Igreja onde está o Senhor dos Passos; a arte sacra que não vai para o futuro museu cabe lá). Neste caso, a sala de reuniões da Junta passaria para uma das salas do piso superior.
Negociar com a Fábrica da Igreja a utilização da Casa Paroquial?

O meu objetivo não é colocar-me em bicos de pés, nem presumo que estou a propor algo de novo. A única coisa que me interessa é que criem a Loja do Cidadão, onde se achar que é melhor.
É caso para escrever como o outro na barragem do Alqueva: Criem-me, porra!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Boletim climatológico de novembro de 2021 (IPMA)

Mais um boletim climatológico, para perceber estas coisas do aquecimento global e do degelo dos glaciares. Reparem que, enquanto nós tivemos um novembro frio, as regiões dos gelos polares, sobretudo o Norte do Canadá, tiverem temperaturas altíssimas para aquelas regiões.

O mês de novembro de 2021 foi o 5º mais quente a nível Global (mais quentes 2020, 2015, 2016 e 2019).

Na Europa o valor médio da temperatura média do ar foi superior 1.1° C ao valor normal (1981-2010), no entanto houve diferenças regionais significativas (Fig. 1). Assim por um lado, o mês foi mais quente do que a média na parte leste e sudeste, e numa zona que se estendia para oeste até a Irlanda. Por outo lado na Península Ibérica, na França e nas partes mais setentrionais do continente o mês foi mais frio do que a média.

Em relação à precipitação na Europa em novembro, verificaram-se condições mais húmidas do que a média em partes do norte e nordeste da Europa, bem como nas regiões do Mediterrâneo, onde ocorreram várias inundações. No restante continente ocorreram condições mais secas do que a média, nomeadamente na parte oeste e sudeste.

Em Portugal continental o mês de novembro de 2021, classificou-se como muito frio e muito seco (Fig. 2).

O valor médio da temperatura média do ar, 11.17 °C, foi o 4º mais baixo desde 2000 com uma anomalia de - 1.20 °C em relação ao valor normal 1971-2000.

O valor médio de temperatura mínima do ar, 5.78 °C, foi muito inferior ao valor normal, - 2.13 °C, sendo o 11º mais baixo desde 1931 e o 4º mais baixo desde 2000. O valor médio de temperatura máxima do ar, 16.56 °C, foi 0.27 °C inferior ao valor normal.

Durante o mês verificou-se alguma variabilidade dos valores de temperatura média do ar. No entanto destacam-se os valores diários de temperatura mínima diária do ar quase sempre inferiores ao valor médio mensal.
Novembro de 2021 foi o 3º mais seco dos últimos 90 anos (mais seco em 1981, 0.9 mm). O valor médio da quantidade de precipitação em novembro, 18.9 mm, foi muito inferior ao valor normal 1971-2000, correspondendo a apenas 17 %.

Durante o mês apenas se verificou precipitação mais significativa nos dias 1 a 3 e 20 a 21. De realçar neste último período a região do Algarve com ocorrência de aguaceiros localmente fortes, acompanhados de trovoada, queda de granizo e o vento forte.

No final do mês de novembro 92 % do território estava em situação de seca meteorológica. Verificou-se um aumento significativo da área em seca meteorológica em todo o território. Destaca-se o aumento da intensidade da seca na região Sul, com alguns locais dos distritos de Setúbal, Beja e Faro na classe de seca severa.


Aqui está uma das consequências deste novembro frio: os meus diospireiros continuam carregados, sem dar mostras de amadurecerem, mesmo levando os frutos para o calor da casa.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Fazer, oferecer e conviver

 Não faltaram voluntárias para ajudar a fazer as filhós.

Umas a amassar,

Outras a estenderem e a fritar.

Ao fim havia filhós com fartura para toda a gente.

 

Durante a tarde deste domingo os moradores da Vila não pararam de entrar e sair do salão da Casa do Povo para receber o seu saquinho, cada um com meia dúzia de filhós. Alguns aproveitavam para conversar…

 
E quem não pôde ir recebê-las, vieram trazer-lhas à porta, numa visita animada ao som dos nossos bombos.

E se estão boas, as filhós! Parabéns às doceiras e à Junta de Freguesia por esta antecipação dos sabores do nosso Natal!

Nota: as filhós distribuídas na Partida e nos Pereiros foram feitas pelas mulheres da Partida que, nestas coisas, estão sempre prontas a colaborar.

M. L. Ferreira

As fotografias são da Ana Jerónimo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 João Diogo

João Diogo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 4 de janeiro de 1895. Era filho de Francisco Diogo, taberneiro, e Maria da Piedade, moradores na rua de São Francisco.

De acordo com a sua Folha de matrícula (não foi localizado o seu boletim individual do CEP), tinha a profissão de jornaleiro e era analfabeto, quando assentou praça no dia 12 de maio de 1916. Foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21 e, pronto da instrução da recruta, em 29 de agosto de 1916, passou ao 1.º Batalhão, em 11 de outubro.

Fazendo parte do CEP, embarcou para França, no dia 20 de janeiro de 1917, com o posto de soldado, com o n.º 502. Embora as datas de embarque não coincidam exatamente, é provável que no mesmo barco tenha seguido também o seu irmão Luís Diogo, 2 anos mais velho que ele.

João Diogo regressou a Portugal, em 17 de junho de 1919, vindo a domiciliar-se em São Vicente da Beira. Por imposição do serviço, passou ao 2.º Batalhão, em 10 de janeiro de 1920, e ao Batalhão n.º 5 da G.N.R., em março do mesmo ano, como soldado de 2.ª classe.

Licenciado em março de 1921, domiciliou-se na freguesia de Santa Isabel, em Lisboa. Passou à reserva territorial em 31 de agosto de 1936.

Da sua folha de matrícula constam várias punições, sendo a mais grave de quinze dias de prisão correcional em dezembro de 1920, já depois de ter regressado de França, porque «…tendo contraído uma dívida de 13$54 a um civil, e tendo dela conhecimento o Sr. Comandante da companhia, este ordenou ao 2º Sargento que pela mesma responde, para que aquela importância lhe fosse descontada no pré, com o que o referido soldado não concordou, tendo-se dirigido com modos não respeitosos, não só ao Sargento como também ao Comandante da companhia…».

Condecorações:

  • Medalha Militar de cobre com a legenda: França 1917-1918;
  • Medalha da Vitória.

Não foram encontrados mais dados quanto à vida de João Diogo após a sua passagem à reserva, mas, de acordo com as informações que constam na sua folha de matrícula, é possível que tenha continuado a vida militar, provavelmente na G.N.R., e lá tenha feito carreira pelo menos durante algum tempo. Foi considerado ausente, sem domicílio conhecido, a partir de junho de 1936.

Não foi possível saber se deixou descendência, nem a data e local da sua morte.

Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Na encruzilhada

Já aqui escrevi que o problema das candidaturas independentes às eleições autárquicas é deixarem órfãos os seus eleitos, caso não vençam. Não sei se isto vai acontecer aos eleitos do Sempre e do MDT (que serviu de barriga de aluguer ao movimento criado pelo Rui Amaro Alves), mas o que me está a preocupar é a oposição obstinada dos líderes do Sempre a tudo o que a maioria socialista faz na Câmara.

E preocupa-me, porque todos sabemos que os melhoramentos mais significativos que se fazem nas freguesias são pagos diretamente pelas câmaras ou indiretamente através de projetos elaborados por elas, em estreita articulação com as juntas de freguesia.

Ora as notícias veiculadas pela comunicação social da última reunião da Câmara de Castelo Branco são para nós vicentinos inquietantes, pois mostram que a postura negativa do Sempre veio para ficar.

O ex-presidente da Câmara, Luís Correia, questionou o atual presidente da Câmara com questões técnicas sobre a possível construção da barragem do Alvito, sabendo que ele não poderia ter respostas às suas perguntas, pelo tempo insuficiente que tem como presidente e sobretudo porque a barragem, a ser construída, será da responsabilidade do poder central. Esta postura é mais uma tentativa saloia de insinuar a incompetência do atual presidente da Câmara, a mesma atitude arrogante que um alto responsável do seu movimento já tivera no período pré-eleitoral.

O problema levantado pelo vereador do Sempre Jorge Pio é para nós muito preocupante e é já consequência da postura do seu líder que atrás revelei. Os agrupamentos de escola têm como órgão máximo o Conselho de Escola, onde têm assento membros da comunidade, alguns deles representantes da autarquia. Sei que o João Benevides Prata foi durante anos um dos representantes da Câmara, pela sua qualidade de presidente da junta de uma das freguesias onde se situa uma das principais escolas do agrupamento. Desconheço se o Vítor Louro desempenhou o mesmo cargo. O Jorge Pio denunciou do facto do nosso presidente da junta, João Filipe Goulão, eleito pelo Sempre, não ter sido aceite pela maioria socialista para membro do Conselho de Escola do Agrupamento de Alcains e São Vicente.

Isto é muito preocupante, pois não teremos quem diretamente defenda os interesses de São Vicente no órgão máximo do agrupamento de escolas e porque teremos pela frente anos de marginalização, se as coisas continuarem como estão agora. Acabo de ler um comunicado do Sempre, publicado do Diário Digital, que usa o nosso caso para acentuar a guerrilha entre o Sempre e o PS.

Optei por me afastar a política partidária, por isso procuro analisar o caso com isenção e a única dor que sinto é a possível menorização da nossa freguesia, nos próximos anos. Para mim, o pecado não está em termos uma junta do Sempre, que tem pessoas dinâmicas que poderão vir a realizar um bom trabalho. O problema será se a atitude do Sempre se mantiver e se os seus eleitos das freguesias, nomeadamente da nossa junta de freguesia, tiverem continuamente uma atitude de oposição sistemática à Câmara. Luís Correia pensa que esta atitude negativa serve os seus interesses futuros de reconquista da Câmara, mas o vereador João Belém, do PSD, tem uma estratégia completamente oposta e também está a defender os seus interesses partidários.

Não queria estar na pele do Filipe Goulão, dividido entre os interesses do líder do Sempre e os interesses da freguesia que representa. A maioria que gere atualmente a nossa freguesia tem pela frente um grande desafio: qual o caminho a escolher nesta encruzilhada? Há quatro caminhos e o futuro nos dirá se escolheu o melhor para a nossa freguesia.

José Teodoro Prata

domingo, 28 de novembro de 2021

Mais sobre os alhos-porros

 


É assim que se aterram os alhos-porros, para obter caules compridos e brancos. Estes foram plantados em fins de setembro e já tinham um talo de mão-travessa, que eu agora tapei. Quando tiverem outro tanto fora da terra, tapo de novo.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Bancos de pedra, poiais e baturéis

Participei há tempos numa atividade organizada pela Alma Azul, em Alcains. Chamava-se “Leituras de batorel em batorel”. Até à última hora não sabia bem ao que ia, nem sequer se ia, mas ainda bem que a curiosidade foi mais forte que os demónios da preguiça e hesitações que costumam tentar-me, e tantas vezes levar a melhor, nos últimos momentos de algumas decisões. Conheci pessoas bastante calorosas e recantos daquela vila que contrastam, em encanto, com a opinião que tinha dela. Pude também conhecer um pouco da sua História, cultura e tradições, que vale a pena espreitar.

 
A placa na parede diz que aquele lugar é uma Evocação das gentes da Unha Negra – as unhas dos canteiros quando falhavam a batida do martelo no ponteiro… 

Mas não é sobre Alcains, esta conversa. Lembrei-me disto a propósito do artigo “Porque razão existem tantas línguas” publicado há dias na primeira página do Sapo, em que o autor, Marco Neves, tenta justificar a impossibilidade de haver uma Língua comum a toda a Humanidade. E fazem sentido, as razões que ele aponta. Pois se até de localidade para localidade, mesmo muito próximas, os nomes que damos às coisas podem ser tão diferentes!

Voltando à dita atividade, fiquei a saber que em Alcains chamam batorel aos bancos de pedra, muitas vezes cortados em cantaria, colocados junto às portas das casas, que serviam para os vizinhos se sentarem à conversa ao fim da tarde ou nas noites quentes de verão. Enquanto fazia sol, ou mesmo à luz da Lua, as mulheres aproveitavam para fazer trabalhos de costura, quase sempre remendar a roupa dos filhos e dos maridos. As raparigas casadoiras esmeravam-se nos bordados e nas rendas do enxoval. As crianças entretinham-se nas brincadeiras da idade.

Nas ruas de São Vicente também ainda encontramos alguns destes bancos, mas muitos devem ter sido removidos quando fizeram as obras de saneamento e calcetaram as ruas. Há quem lhes chame poiais, mas o nome mais comum, dizem, é bancos de pedra, simplesmente.

 

Estes são na Rua de São Sebastião. Há outros na Rua da Igreja e na Rua do Beco.

Poiais, segundo a maior parte das pessoas com quem falei, são as bancadas que ladeiam os fornos ou as fontes e servem (serviam…) para as mulheres pousarem o tabuleiro do pão ou o cântaro da água enquanto esperavam a vez.

 

Poial num forno do Vale de Figueiras, reabilitado há poucos anos.

A Fonte Velha ladeada por dois belos poiais.

Em algumas aldeias ainda existem muitos destes bancos, alguns muito simples outros mais elaborados

Neste, no Vale de Figueiras, sentei-me algumas vezes à conversa com a Ti São Pedro. 

Para além da importância que tiveram na vida social dos habitantes, estes bancos seriam também uma extensão das casas, muito pequenas naqueles tempos. O reconhecimento desta importância tem feito com que, em algumas aldeias históricas, os conservem ou estejam a repô-los junto das casas que vão sendo reabilitadas. Idanha-a-Velha e Penha Garcia, relativamente perto de nós, são bons exemplos. É pena que nos nossos dias já muito raramente lá vejamos alguém sentado. E, quando vemos, é quase sempre algum velho à espera de um raio de sol que o aqueça do frio (e) da solidão. Servem ainda para reavivar memórias mais antigas:

«Dantes não havia televisão e era tudo muito diferente do que é agora! De verão, mal acabávamos de cear, juntava-se a gente às portas umas das outras, e era uma alegria! Na nossa rua éramos nós, as Pigentas, as Barrilas, a Mari’ Zé do Lérias, as Invernas… Umas contavam anedotas, outras contavam contos, outras diziam umas pilhérias e toda a gente se ria. A canalha fazia rodas, jogava à pela e ao botão, ao larenço pica o lenço ou às escondidas. Andávamos cansadas do trabalho nas fazendas desde manhãzinha, mas ninguém tinha pressa de ir dormir. Às vezes a minha mãe vinha à janela a clamar, que fossemos para a cama que ao outro dia tínhamos que nos levantar cedo para despejar as presas ou deitar as cabras, mas ninguém arredava pé. Também, com o calor que fazia, quem é que tinha pressa de ir para casa?

Agora já não se vê quase ninguém naquelas ruas, nem de dia, quanto mais à noite… Até parece que está tudo morto ou anda tudo zangado uns com os outros!».

NOTA: Curiosamente, em “A Casa Grande”, quando fala da caçada de Simão de Meneses pelos altos da Gardunha, o Albano de Matos escreve: «Chegados ao Castelo Velho, sentaram-se num baturel (botaréu) que apoiava uma oliveira, para a última pausa da caçada.» É possível que no Casal da Serra usem esta designação por influência da Soalheira onde também é utilizada para referir os bancos de pedra à porta das casas.

M. L. Ferreira

domingo, 21 de novembro de 2021

Extração da resina

Ainda há resina, mas talvez sem resineiros.

Voltei a passar pela Lameirinha e deparei-me com um pinhal onde ainda se faz a extração da resina. Escrevo voltei, pois penso que há anos fiz uma postagem sobre o mesmo assunto.

O museu do resineiro localiza-se ali ao lado, nas Rochas de Baixo, mas ignoro se ambos fazem parte do mesmo projeto.

Oleiros e Proença tiveram projetos de reintroduzir a exploração da resina, mas penso que pelo menos o de Proença terá ficado pelo caminho, devido à destruição dos incêndios dos últimos anos.

Nota: esta semana surgiu um sinal de esperança para o nosso museu de arte sacra: o ex-vereador Fernando Raposo, pai do projeto do nosso museu, foi esta semana nomeado administrador da Albigec (empresa municipal que gere os espaços culturais e recreativos do concelho) e também assessor do Presidente da Câmara para a áreas da educação e da cultura. Pode ser que seja agora que alguém desate o nó...



José Teodoro Prata

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Magusto, 2021

Tenho notícia da organização do tradicional magusto pela junta de freguesia, mas não tenho imagens, por isso uso duas de anos anteriores. Também parece que houve um passeio fotográfico, em parceria com o Louriçal do Campo. São ótimas notícias, embora a desgraçada da pandemia não nos largue...



José Teodoro Prata

domingo, 14 de novembro de 2021

Alho-porro

 






Há uns tempos referi aqui o método de produzir o alho-porro com um talo longo e esbranquiçado: deve ir-se soterrando a planta, conforme cresce. Para o conseguir, é necessário deixar espaço dos lados, para ir puxando a terra para a planta. No ano passado deixei-os apertados e vi-me aflito para os tapar, este ano já os deixei com espaço suficiente.

José Teodoro Prata

domingo, 7 de novembro de 2021

Viagens de antigamente - vistos e passaportes

 Com as facilidades que o Acordo de Schengen permitiu à circulação de pessoas e bens em quase todo o espaço europeu, muitos já quase não nos lembramos da aventura que era atravessar a fronteira, mesmo que apenas para ir comprar caramelos a Espanha ou visitar a família em França. Se quiséssemos ir um pouco mais longe, as andanças pelo Registo Civil, embaixadas e consulados eram uma canseira, e os controlos nas fronteiras, sempre que caíamos na tentação de exagerar nos “lembranças” para a família e amigos, punham-nos o coração aos saltos. Estas situações tiravam-nos, no momento, parte do prazer da viagem; mas a verdade é que, passado o susto, tornavam-se quase sempre motivo de gargalhada e passavam a fazer parte do livro das nossas melhores memórias de viagem.

Mas, pelos vistos, algumas das dificuldades que muitos ainda tivemos para sair do País, foram quase insignificantes comparadas com os trabalhos por que passavam os nossos conterrâneos (compatriotas) que, até há pouco mais de cem anos, tinham que viajar para além dos limites do concelho.   

A Torre do Tombo disponibilizou há tempos alguns livros de registo dos passaportes e vistos de alguns dos anos dos séculos XVIII e XIX. Mesmo com a dificuldade em decifrar a caligrafia do escrivão que os redigiu, é um desafio empolgante passearmo-nos por lá. Através deles ficamos a conhecer um pouco mais de alguns aspetos da vida do País, principalmente das gentes da nossa terra. Deixo um resumo do que consegui perceber:

1 – Qualquer pessoa que pretendesse viajar para fora da sua comarca tinha que ter um passaporte cujo modelo seria idêntico a este, da comarca de Tavira:

2 - Todos os passaportes ficavam registados em livro próprio. Quem fazia estes registos no ano de 1768 e seguintes era Cláudio António Simões, filho de Manuel Lopes (seria escrivão do Concelho?); os livros destes registos eram rubricados pelo Juiz de Fora, que naquela altura era Francisco de Avis Pereira Rosa de Ferraria(?), substituído, anos mais tarde, pelo administrador do Concelho, Bonifácio José de Brito Coelho de Faria. 

3 - A autoridade responsável por atribuir o documento era o Juiz de Fora;

4 - No documento constava a identificação do requerente, o estado civil, a naturalidade, a idade, a profissão, a residência, e várias características particulares como a altura, a cor dos olhos, do cabelo, nariz, barba, e sinais particulares (muitos destes sinais eram cicatrizes e vestígios de bexigas).

5 - Constar também o lugar de destino da viagem, o itinerário, a duração e referir quem acompanhava a pessoa, se fosse o caso;

6 - Era obrigatório haver alguém que “abonasse” a viagem (uma espécie de fiador);

7 - Por cada localidade onde passasse (parasse, pernoitasse?), a autoridade local tinha que visar o passaporte, confirmando e registando os dados que nele constavam;

8 - Caso o viajante não apresentasse passaporte era-lhe aplicada uma multa que seria elevada, para aquele tempo (cerca de mil e duzentos réis em maio de 1825). O responsável pelo recebimento destas multas era, na altura, o escrivão Bernardo António Robles.

9 - As autoridades civis e militares de cada localidade estavam obrigadas a dar a proteção e auxílio que o viajante necessitasse (serão desse tempo as Casas da Malta?).

 

“Nacionais” de SVB que requereram passaporte

Entre os anos de 1767 e 1800 cerca de 270 pessoas do nosso concelho pediram passaporte para se ausentarem da comarca. Os números não são homogéneos - existem anos em que são relativamente elevados: 1768 – 26, 1769 – 38, 1770 – 34, 1771 – 24, 1779 – 20), e outros em que são bastante baixos (1772 – 7, 1777 – 8, 11778 – 3, 1781 - 7, 1782 – 7, 1783 - 7, 1784 – 5, 1785 – 3, 1786 – 4, 1787 – 4. É possível que existam circunstâncias que expliquem esta discrepância (epidemias, más colheitas, instabilidade social ou política), mas não são claras.

Os motivos e destinos das viagens eram muito variados, mas a maior parte era por razões de trabalho. Fica um resumo que tentei que fosse representativo da informação disponível e fizesse o retrato da vida social e económica de SVB naquele tempo:

             

DATA

 

 

NOME

 

DESTINO

 

MOTIVO

 

DURAÇÃO

 

04/01/1768

 

 

Sebastião Luís

 

Lisboa

 

Fazer negócios

 

1 m

 

20/02/1769

 

José António

 

 

Vários pontos do reino

 

Trabalho de caldeireiro

 

6 m

 

25/02/1669

 

José António Coxo e António Rodrigues

 

Lisboa

 

Vender Castanhas

 

2 m

 

24/03/1769

 

Francisco António Simões

 

Coimbra

 

Matricular-se (na faculdade ?)

 

15 d

 

27/03/1769

 

José Lourenço

 

 

Sertã

 

Trabalho de almocreve

 

1 m

 

21/04/1769

 

João Dom. Araújo

 

 

Castelo de Vide

 

Comprar cal

 

1 m

 

02/06/1769

 

Manuel Mendes e Remualdo de Proença

 

Alentejo

 

Ir às ceifas

 

2 m

 

05/01/1770

 

António José da Costa

 

 

Lisboa

 

Visitar a mãe

 

1 m

 

17/04/1771

 

José Leitão

 

Porto

Tratar de assuntos de seu amo, Francisco Caldeira

 

1 m

 

05/03/1773

 

Domingos Marques (ganhão)

 

Lisboa

 

Fazer negócios à corte

 

2 m

 

24/01/1775

 

José Vaz

Abrantes e Punhete (atual Constância)

Comprar bacalhau para as religiosas do convento

 

25 d

 

24/03/1775

 

Manuel Mendes

 

Marvão

 

Cobrar rendas das religiosas do convento

 

19 d


 

27/01/1779

 

Serafim Esteves

 

(?), bispado de Lamego

Regresso à terra (trabalhara como mestre no lagar do Ramalhoso)

 

 

02/06/1779

 

José Luís de (?)

 

 

Penacova

 

Comprar cera

 

1 m

 

28/07/1780

 

José Cruz

 

 

Comarca da Guarda

 

Pedir esmola

 

6 m

 

06/04/1788

 

Manuel Lourenço (?)

 

Roma

Pedir dispensa papal para casar com uma prima

 

6 m

 

09/07/1790

 

P. José António Fernandes

 

Santiago da Galiza (Compostela)

 

Não consta

 

2 m

 

01/04/1791

 

Manuel Joaquim Ribeiro

 

Brasil

 

Tratar da herança de seu tio

 

1 ano

 

08/06/1792

 

João Patrício Leitão (barbeiro)

 

Lisboa

Praticar (o ofício de sangrador?) no Hospital Real

 

6 m

 

20/07/1798

 

Joaquim Milagre

 

Porto

Levar o cavalo do Juiz de Fora que ficara cativo

 

1 m

 

05/08/1798

 

Luís Machado

 

Almeida

Tratar da licença do filho, soldado no R. Cavalaria de Almeida

 

1m

 

27/08/1798

 

Manuel do Espírito Santo

 

Olivença

 

Visitar seu filho, soldado naquela Praça

 

1 m

 

02/09/1799

 

(?) Fernandes

Castelo Mendo, Guarda, e Santo Estêvão?

 

Cobrar as rendas de D. Benedita, sua ama

 

1 m

 

10/04/1800

 

Paulino Mendes

 

Campo Maior

 

Procurar um irmão que diziam ter morrido

 

1 m

A amostra é pequena e pode não dar uma ideia clara quanto aos objetivos das viagens, mas no documento original percebe-se que a maior parte das pessoas viajavam em negócios, à procura de trabalho (principalmente para o Alentejo no tempo das ceifas), para acompanhar os patrões, ir a feiras comprar matérias primas (solas, panos ou cera) ou animais, por motivos relacionados com o serviço militar, para pedir esmola, visitar familiares ou regressar à terra de origem depois de terem trabalhado em várias atividades em SVB. Uma nota curiosa: as religiosas do convento enviavam, quase mensalmente, um criado a Marvão cobrar as rendas que lhes eram devidas. Há também várias referências a negociantes que iam a Lisboa vender castanha e azeite. Nessa altura a viagem até à capital demorava dois meses (ida e volta).

Quanto aos destinos mais frequentes, nota-se uma procura bastante elevada de várias localidades do Alentejo, mas também de Lisboa, de Coimbra, do Porto e várias outras terras entre o Douro e o Tejo. Interessante a viagem de Manuel Lourenço a Roma a requerer a dispensa papal para casar com uma prima, ou a de Manuel Joaquim Ribeiro, ao Brasil, para tratar da herança de um seu tio, que era padre, autorizadas por seis meses e um ano, respetivamente.

Viajantes “estrangeiros” (de fora do concelho)

Sobre os viajantes de outras partes do Reino que se deslocavam a São Vicente ou por cá passavam com rumo a outras localidades, sabe-se que eram obrigados a apresentar o passaporte emitido pela autoridade da sua comarca, devidamente visado nas localidades por onde já tinham passado. Os dados constantes do passaporte eram anotados em livro rubricado por uma autoridade local, igualmente o Juiz de Fora ou o Administrador do Concelho.


Os registos disponíveis mostram que durante o ano passavam por São Vicente algumas dezenas de pessoas vindas de vários pontos do reino (1825 – 56, 1826 – 66, 1841 – 51, 1842 – 48, 1843 – 54, 1844 – 64, 1845 – 54), embora nem todos tivessem a Vila como destino. Eram sobretudo almocreves, negociantes, feirantes, criados de servir, tendeiros, artesãos (caldeireiros, peneireiros, cereireiros) e mendigos; mas também há referência a ourives, capadores, quinquilheiros e religiosos (um registo de agosto de 1853 diz que o padre José Bernardo Ribeiro, de Almaceda, foi “a banhos da Figueira”).

Um facto relevante nestes registos, é que os viajantes eram todos homens, sendo que as mulheres apareciam apenas como acompanhantes, ou, muito raramente, no caso de serem viúvas, podiam requerer passaporte e viajar acompanhadas por algum familiar mais velho ou pelos filhos. Não admira que fosse assim nesse tempo; o pior foi a situação ter-se prolongado por tantos anos.

Este modo de viajar, que se manteve até há pouco mais de um século, não seria muito diferente do que acontecia na Idade Média ou até antes. Entretanto as mudanças foram enormes. Já quase com os nossos avós, o aparecimento do comboio, seguido do automóvel e do avião, e a abertura de estradas e autoestradas em qualquer bocado de terra tornou o mundo mais pequeno; uma viagem que demorava muitos dias a concluir faz-se agora em poucas horas e a vida das pessoas ficou mais fácil - para o bem e para o mal. Daqui por uns anos se verá em que proporção…

M. L. Ferreira