quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

As Casas da Roda


A importância do papel da criança na família e na sociedade tem variado muito, quer ao longo da história quer de uma cultura para outra. Sendo indiscutível a valorização da paternidade, chegando mesmo, em algumas sociedades, a validar-se socialmente o casamento apenas quando nascia o primeiro filho, não houve, até há relativamente pouco tempo, um grande investimento afetivo, por parte dos pais, relativamente às suas crianças. O mesmo acontecia relativamente ao seu estatuto social.
Justificando este fenómeno estariam razões de origem económica e demográfica, como a pobreza, uma elevada taxa de natalidade, e, por outro lado, um grande índice de mortalidade infantil. Também a crença que vigorou até ao século XIX de que as crianças até aos 7 anos eram criaturas sem mente, mais parecidas com animais do que com seres humanos, contribuiu para justificar o desinvestimento nesta fase da vida, considerando-a apenas uma transição para a idade adulta.  
Não havendo grande ligação afetiva entre os progenitores e os seus filhos, estes afastavam-se muito cedo do meio familiar, sendo a sua educação e socialização feita na comunidade alargada. Sujeitos a todo o tipo de perigos, más condições de nutrição e higiene, e às muitas epidemias que atacavam toda a população, mas principalmente as crianças, muitas acabavam por morrer. As que conseguiam sobreviver, começavam a trabalhar desde muito cedo, quase sempre na agricultura e pecuária, nas pequenas oficinas ou como criadas das famílias mais abastadas. Algumas dedicavam-se à mendicidade ou ao furto para sobreviverem e ajudarem no sustento da família, correndo também os riscos que tais práticas envolviam.
Se esta era a situação de grande parte das crianças que nasciam dentro do casamento, as condições pioravam quando eram fruto de uma relação ilícita ou inconveniente, e, por motivos morais e sociais, tinham que ser escondidas da sociedade. Muitas eram mortas à nascença ou abandonadas em locais onde acabavam por morrer. Outras eram deixadas em lugares públicos ou à porta de igrejas e conventos, onde pudessem ser encontradas por alguém que as recolhesse. A maior parte destas era encontrada num estado de grande debilidade e não resistia por muito tempo.
Este fenómeno, provavelmente por razões humanitárias, mas também demográficas e económicas (o grande índice de mortalidade infantil e juvenil provocava uma carência grande de mão de obra), merecia, desde há muito, alguma preocupação por parte das autoridades civis e religiosas, que começaram a procurar respostas de acolhimento e proteção para as crianças abandonadas ou órfãs. A primeira terá sido criada em Itália, na cidade de Milão, ainda no século VIII.
Em 1188, por determinação do Papa Inocêncio III, foi criada o que pode considerar-se a primeira Roda dos Expostos, em França; e a pouco e pouco, outras foram surgindo por toda a Europa. Situavam-se quase sempre junto de igrejas e conventos, e chamavam-se assim por dispor de uma espécie de cilindro giratório, em madeira, onde a pessoa que levava a criança podia colocá-la de forma anónima, sabendo que alguém ia cuidar dela.   

Parte da fachada de um dos pátios do Convento de Odivelas, com a roda à esquerda da porta.

 
Pormenor da Casa da Roda de Caria. onde se vê o funcionamento da roda: por baixo colocavam a criança e por cima alguns pertences e mantimentos.
Tem a data de 1784.

Em Portugal, a primeira casa destinada a receber crianças abandonadas foi fundada por determinação da rainha D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, na cidade de Lisboa. A pouco e pouco foram surgindo outras em cidades como o Porto e Santarém. Estavam quase sempre ligadas a ordens religiosas ou à nobreza, e mais tarde à Misericórdia.
Apesar da existência destas instituições, o problema das crianças abandonadas ou mortas não terá diminuído significativamente ao longo dos séculos; nalguns casos terá mesmo aumentado. Paralelamente, o número de óbitos em idades muito precoces, devido a epidemias e às más condições em que a maior parte da população vivia, era tão elevado que poucas crianças chegavam à idade adulta. Terá sido por isso, mas também pelas mudanças que, de forma ainda insípida, começaram a verificar-se no entendimento da infância, que, em 1783, Pina Manique decidiu o alargamento da rede de Casas da Roda (ou dos Exposto), ordenando a sua criação em todos os concelhos. Terá sido também por essa altura que foi criada a Casa da Roda de São Vicente da Beira.

M. L. Ferreira

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Obras na Senhora da Orada

Fui ver, como prometera em comentário à notícia anterior, do Zé Manel.

 Aspeto da alameda, desde em entrada no (antigo) terreiro até à ponte.

 Novo arranjo do início do caminho para as Quintas e Vila.

 Paredão da ribeiro e ponte ao fundo.

 Pedras de lagar, no local onde foram expostas.

 Traseiras da capela, com nova pedra de lagar exposta e fonte em construção.

 Nova fonte, ao fundo da escadaria para o ribeiro, nas traseiras da capela.

Passagem no ribeiro, entre a escadaria da frente da capela e a das traseiras.

O espaço das mesas, nas traseiras da capela, também parece vir a ser intervencionado.

Notas em jeito de comentário:
1. O arranjo da ponte e do paredão do ribeiro melhoraram muito a segurança e a beleza do lugar.
2. A nova fonte e a passagem, a nível do ribeiro, entre as duas escadarias ao lado da capela vêm trazer novos recantos e encantos à ermida.
3. O antigo moinho continua a ter sido no local onde há um buraco na parede do ribeiro, para escoar a água. O facto de no lugar da nova fonte haver água não localiza lá o antigo moinho. Também não sabemos como é que aquela água foi captada, se ali, ou se vem canalizada de outro local.
4. O mesmo para as pedras de lagar. Foram trazidas para a ermida e estão expostas apenas para embelezar o lugar ou foram encontradas no buraco aberto para fazer a fonte? Isso faz toda a diferença! Terá de haver uma placa a informar sobre isso.
5. E se foram encontradas no buraco aberto para a nova fonte, fez-se levantamento arqueológico?


Estas flores, não muito vulgares noutros lugares, sempre foram para mim, 
desde pequeno, sinónimo de Senhora da Orada. 
Já floriram, é primavera!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Melhoramentos na Orada


Por motivos de saúde, há três ou quatro domingos que não ia à Senhora da Orada. As obras que se realizam no ribeiro estão quase terminadas, a enxurrada que levou tudo à frente foi a causa destes trabalhos arrojados que em boa hora a autarquia empreendeu.
Calçadas repostas, as paredes que ladeiam o ribeiro reforçadas, uma ponte substitui as manilhas e alameda mais larga.
Gostei do que vi, o santuário está a ficar cada vez mais belo, acolhedor e grandioso.
Quando a minha esposa estacionou o carro junto à fonte, verifiquei que atrás da capela existiam umas fitas que protegiam qualquer coisa.
Aproximei-me, vi um buraco ladeado por grossas pedras de cantaria e ao fundo corria uma bica de água que desagua na ribeira
Um mirone como eu disse: - o engenheiro responsável pela obra ao passar naquele local terá exclamado:- aqui há água; terra húmida…
Uma máquina começou a escavar, tiveram necessidade de esbarrondar uma pequena parte do muro que suporta as terras do terreiro; eis senão quando apareceram duas pesadas pedras redondas que terminam numa bica ” já se encontram expostas”, pelo aspecto terão sido as bases de prensas de um lagar; uma é um pouco maior que a outra.
Bem; voltando ao buraco, já está forrado com pedras de cantaria, a água jorra numa bica, as obras continuam.
Está desvendado o mistério da fonte, os antigos diziam que ficava junto à ribeira, eu sempre me convenci que o buraco que lá existe fosse o local exacto da primitiva fonte.
Afinal estava enganado, a velha fonte santa encontrava-se mais abaixo, lá está ela jorrando o precioso líquido que se mistura com as águas da ribeira à espera que a levemos para as nossas casas.
O santuário, perdeu um naco de terra, mas ganhou mais um fontanário.



Que pena não substituírem as manilhas da ribeira que se encontram junto à casa de apoio, colocando também uma ponte. Já não é a primeira vez que as águas galgam o terreno inundando tudo à volta.
Ao observar as bases, lembrei-me do terceiro conde de Barcelos D. Pedro Afonso, filho bastardo do rei D. Dinis e dona Graça Froes, que vivia em Lalim, junto à cidade de Lamego, e passava grandes temporadas na vila onde possuía muitas terras e tinha um paço. Cada vez que passo em frente à quinta do senhor António Neto lembro-me deste vulto da nossa história; grande escritor.
Quem sabe se não terá escrito algumas das suas crónicas no paço de São Vicente da Beira! Ficaria nestas bandas? A Quinta do Infante terá a ver com a morada do conde! E se as bases pertenceram a algum lagar que terá existido naquele local propriedade do senhor conde?
As Oradas foram criadas pelo Condestável Santo Nuno Alvares Pereira, naquele local existiria com certeza algum culto, os nobres eram padroeiros de muitas capelas…
Por aqui me fico, deixo algumas fotografias
Porque não realizar-se um passeio cultural a Lalim, mais precisamente ao mosteiro de São João de Tarouca, onde se encontra sepultado o “nosso” conde?
Deixo o repto ao amigo José Teodoro.
Passem bem.

J.M.S