sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ilda Jerónimo


No Mar da Galileia, durante uma visita paroquial à Terra Santa: as irmãs terceiras Maria Manuela Silva, Isaura Maria, Ludovina Roque Santos e Ilda da Silva Jerónimo.

Ilda Jerónimo é filha de José Jerónimo e de Maria da Luz da Silva. Nasceu na residência da família, defronte da porta principal da Igreja Matriz.
Escrever sobre o empenho de Ilda da Silva Jerónimo, na Ordem Terceira de São Francisco, é referir um coletivo, a equipa a que preside, como Ministra do Conselho da Ordem Terceira. Os outros membros são Maria Dulce Santos Moreira (Vice-Ministra), Maria da Conceição Fernandes Pedro (Secretária), Francisco Ventura Agostinho (Tesoureiro), Maria José Barroso Craveiro (Mestra de Formação), Laurentina Dias Gama (Vogal) e Maria de Jesus dos Santos (Vogal).
Este Conselho local está ligado ao Conselho Regional, em Coimbra, e ao Conselho Nacional, de Lisboa. Reúne todos os terceiros domingos de cada mês, para formação e resolução de assuntos desta fraternidade.
A Ordem Terceira de São Francisco tem como objetivo primeiro a formação religiosa dos seus irmãos. Diz-se terceira ordem, pois a primeira organização criada por S. Francisco de Assis foi a dos frades, seus seguidores, a segunda foi a das freiras, com Santa Clara, e, por último, deu-se também corpo organizativo aos irmãos leigos.
A nossa Ordem Terceira de São Francisco é proprietária da capela de Santo António e S. Francisco, do seu adro, do quintal ao lado e da casa de arrumações, encostada ao cemitério. É a zeladora de todo o rico património artístico e religioso da Ordem Terceira, bem visível na Procissão dos Terceiros. São eles que tratam da nossa galinha dos ovos de ouro.
E cuidam muito bem, como constatámos na procissão deste ano: sete andores renovados, o primor das vestes, os arranjos florais… Horas incontáveis de labor carinhoso e desinteressado. O dar-se totalmente, apenas pelo gosto de fazer bem e do dever cumprido.
Outro momento visível da sua atividade é a festa de Santo António, todos os quartos domingos de Agosto, este fim de semana.
Atualmente, as receitas vêm-lhe de donativos pecuniários, mas no passado faziam-se os peditórios de azeite, milho e carne. Quem não se lembra do ti João Calmão a apregoar, na Praça, em tardes de domingo, os produtos do ramo?


A sede da Ordem Terceira (a capela de Santo António e S. Francisco), na saída noroeste da Vila, junto ao Calvário.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Usurpação 2

A ervagem da fonte


Em publicações anteriores, informei do local da fonte antiga e da sua deslocação para junto do caminho de São Sebastião, em 1854.O local era público e público continua a ser considerado, apesar do sinal de trânsito ali colocado.
Na altura, estive para abordar esta questão, mas decidi deixá-la apenas implícita. Até que, na procissão do Santo Cristo, um amigo me chamou a atenção para toda aquela ervagem seca, a manchar a Vila engalanada para as Festas.
Como, infelizmente, é mesmo imperioso abordar a questão diretamente, aqui vai:

Após 1854, com a fonte mudada para a berma da rua/caminho, o espaço ficou livre e sem uso. Por coincidência, ficava mesmo em frente à porta da residência da família Cunha. Na acta da sessão ordinária de 6 de Novembro de 1910, a Junta da Paróquia fez o inventário de todos os bens públicos da freguesia. O ponto 7 refere que a Fonte Grande era contígua «…a um terraço d´onde procede a água, terraço que também pertence á parochia, embora há pouco haja sido aproveitado por José da Cunha Pignatelli para ser ajardinado, de certo com auctorização da Junta da Parochia anterior dissolvida, não cedendo os seus direitos de proprietária, visto que da escrituração respectiva nada consta sobre o assupto.»
Os vicentinos habituaram-se a ver o espaço usado como particular, mas nunca se perdeu a memória da sua pertença pública. Em 1980/90, quando o Pe. António Branco se mudou para a casa paroquial, o edifício ficou definitivamente vazio e acentuou-se a sua ruína. Com o terreiro já sem utilizador, as pessoas começaram a estacionar lá os carros, mas foi colocado o sinal de trânsito e o espaço voltou a ficar vazio e sem uso. Até hoje, sem dono que olhe por aquilo, com lixo e erva secas, num dos espaços mais nobres da nossa terra.
Desconheço a situação legal daquele terreno que nunca foi privado, mas que o poder local há um século que não assume como seu. Pessoalmente, não me repugna a ideia de, eventualmente, se ter tornado particular, mas sim o estado de abandono e desleixo em que se encontra, a desfear a nossa terra.


O sinal tem escrito: PRIVADO

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A batalha da Oles

O cavaleiro vem pela estrada que da portela da serra desce para o território muçulmano. O cavalo marcha às cautelas, no piso íngreme e pedregoso. Ao longe, deles sobressai nos matos uma mancha branca com o risco vermelho das cruzes templárias.
O ribeirito que segue junta-se a outro e é ali a capela da Orada, à esquerda. Prende o cavalo num amieiro e dirige-se para a capela, misturando-se com os camponeses que vêm à missa do domingo. O edifício de pedra enegrecida sobressai no manto verde do adro, com grandes amieiros encostados, do lado do ribeiro. É um templo baixo e de aspeto rústico, quase tosco.
O cavaleiro transpõe a porta e ajoelha em frente ao altar. Depois ladeia-o, à procura da sacristia. Era atrás do altar e o ermitão já vinha a sair quando o cavaleiro enche a porta com a sua figura. Saúdam-se com reverência e conversam por alguns minutos. Depois, o presbítero dirige-se ao altar e o cavaleiro junta-se ao povo cristão.
Homens e mulheres lançam-lhe olhares curiosos e, no regresso da comunhão, encaram-no de frente: é encorpado, rosto escondido nas barbas arruivadas e os cabelos curtos e claros, à mostra pelo capacete que o cavaleiro segura na mão.
No final da missa, frei Gonçalo diz ao que vem o cavaleiro da cruz. É companheiro de Dom Afonso Henriques, o rei cristão que desde Coimbra vem empurrando os governantes do Islão para sul, dilatando a Cristandade e libertando os fiéis do único Deus verdadeiro.
O cavaleiro avança para o altar, flete o joelho e faz o sinal da cruz. Depois coloca-se ao lado do presbítero e fala. Chegara a hora de libertar as gentes da diocese egitaniense do longo cativeiro muçulmano. Os cavaleiros cristãos já aguardavam na encosta norte da Ocaia, mas chegavam notícias de reforços para o exército muçulmano, com cavaleiros vindos de além Tejo.
Estas palavras trazem inquietação aos camponeses. Vasco Anes tinha uma filha casada com um mouro cultivador dumas terras no monte do Mourelo e Rodrigo Peres era amigo do comerciante mouro que lhe trazia as ferramentas para a lavoura e ainda no ano passado lhe vendera um belo garrano. O cavaleiro termina agora. Pede-lhes segredo e vigia aos movimentos do exército inimigo. E ajuda em homens de armas, quando chegasse a hora do confronto militar.
Frei Gonçalo faz sinal a dois homens. Depois desenha no ar o sinal da cruz e despede-se do seu rebanho. “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!” Homens e mulheres saem para o adro de rostos fechados. Contornam a capela e nas traseiras aguardam a sua vez, junto à fonte. Bebem o suficiente para a caminhada e purificam os rostos. Depois, cada um toma a direção do seu casal, de coração apertado, sem o que dizer uns aos outros.
Na sacristia, o presbítero apresenta ao templário os dois camponeses, Fernão Mendo e Antão Fernandes, pai e filho, dos mais tementes a Deus e que odeiam os infiéis, com quem não tinham relações de sangue ou especiais amizades. Os quatro fazem as combinações que ali os retinham e depois cada um vai à sua vida.
A semana foi de grandes canseiras para Antão, Fernão e companheiros que foram juntando à causa dos conquistadores cristãos. Atalaias pelos altos, subidas e descidas ao castelo, no alto do penhasco, correrias pela noite dentro, a recrutar homens de armas, pelos casais espalhados pela serra, nos montes da charneca e pelo campo. No fim da semana, encontram-se com o cavaleiro templário, para lhe contar dos movimentos dos guerreiros muçulmanos, em deambulações pelo extenso campo que se estende aos pés da serra. E fazem os acertos para o embate com os infiéis.
No dia seguinte, o exército cristão cruza a serra e pernoita no vale da ribeira, fora das vistas largas do campo. Aos primeiros sinais do alvorecer, marcha para sul, seguindo o curso de água. Depois, os cavaleiros e peões encaram os primeiros raios de sol e continuam a marcha, sempre para nascente.
Já avançam em campo aberto, seguindo caminhos ondulados por entre matos e vinhedos. Soa um longo toque de chifre de boi, vindo do castelo, sinal combinado de avistamento do inimigo. Os olhos perscrutam o campo sul e em breve se vislumbra uma mancha cintilante em movimento.
O exército cristão chega bem à vista do castelo da serra e pára. É primavera e as águas do ribeiro dos enxidros saltitam nos últimos declives da encosta. Os guerreiros ajoelham nas suas margens e bebem de borco, com o rosto mergulhado na água cristalina. Depois as montadas. Camponeses saem do meio da mata de carvalhos, com cestos de pão para os guerreiros. As bestas pastam nas ervas verdes. Aguarda-se.
Dois toques ecoam pela serra. Os infiéis aproximam-se. Os cristãos aprontam-se. Uma espera silenciosa, longa, enervante. “Estes moçárabes são de confiança?” O templário garante que sim. Finalmente soa o terceiro e último aviso, três longos toques. O comandante levanta o braço e todos se aquietam, mãos crispadas nos cabos das lanças e nos punhos das espadas. Distingue-se já nitidamente o tropel dos cavaleiros que se aproximam. São muitos, mais do que os desejados.
Os dois corpos penetram-se, gritos de raiva e dor. Os cavaleiros cristãos são empurrados, encosta acima, já se luta na orla da mata. O templário procura com o olhar os reforços moçárabes. Soaram os quatro toques curtos a eles destinados, mas ninguém sai da mata. Do castelo, Antão segue com desespero o desenrolar da contenda. Tardam os homens que o pai devia comandar. Grita aos dois companheiros de vigia, montam os jumentos e atiram-se serra abaixo. Dentro da mata, Fernão tenta convencer os companheiros do valor da luta, mas eles olham o formigueiro de muçulmanos e consideram que esta luta desigual não é a que lhes fora prometida. E pensam no sossego dos seus casais, nos familiares e amigos que têm no outro lado.
Frei Gonçalo aparece do nada e fala-lhes da paixão de Cristo, do prémio do céu e do castigo dos infernos, razões mais fortes do que os efémeros prazeres da curta vida terrena. Todos empunham as lanças e correm, atrás de Fernão Mendo, encosta abaixo. Há muçulmanos para todos, por todos os lados. Agora, é matar ou morrer. Também combatem pela vida dos que deixaram em casa. A luta alonga-se, no tempo e no campo da Oles. Já no pino do sol, os infiéis começam a recuar frente aos cristãos. Depois gritam-se ordens de retirada e os guerreiros de Alá fogem do campo de batalha, perseguidos por quem ainda tem forças.
Os homens deixam-se cair exaustos. Procuram-se amigos e conhecidos, choram-se os mortos, com os rostos fechados. Juntam-se os guerreiros e aclamam o seu rei. Os moçárabes, com Antão à frente, chegam-se aos vivas. O templário apresenta ao rei os camponeses destemidos que tanto ajudaram na vitória.
“O que mais desejais que o vosso rei vos dê, em sinal de agradecimento pela vossa valorosa ajuda?”
Antão Mendo olha os companheiros e adianta-se. Ajoelha em terra e pede:
“Saiba Sua Majestade que precisamos de uma igreja paroquial, pois a nossa Orada é diminuta e muito dentro da serra, longe dos casais onde moramos.”
“Que seja como pedis. Mando que se erga uma igreja no local onde pernoitámos esta noite. Dou-vos esta bolsa de moedas para ajudar a erguer o templo. Quando estiver construído, ide à minha corte e dar-vos-ei um orago, juntamente com privilégios e isenções.”
“Que Deus abençoe Vossa Majestade!” Agradece um religioso, aproximando-se.
“É frei Gonçalo, o presbítero da Orada que me ajudou a organizar o apoio destes moçárabes.” Informa o templário.
“Louvo o vosso contributo para esta obra de Deus que é a expansão do reino de Portugal. Sereis o cura da nova igreja.”
E acrescenta, para todos:
“Dou-vos uma igreja, com a condição de irdes todos os anos em romagem ao castelo da serra, para que não se perca da memória dos homens a vitória que hoje aqui alcançámos, orientada do alto daquele penhasco por um punhado de homens valentes.”
Os camponeses carregam os corpos dos que tombaram e regressam aos seus lares, satisfeitos da vitória, mas temerosos que a contenda alastre para as suas famílias de sangues tão misturados.


Fundamentos:
Afonso Henriques – A tradição diz que ele esteve na batalha, mas esta poderá ter sido travada apenas pelos Templários. Cerca de 1160, o rei doa aos Templários as terras entre o Zêzere e o Tejo (a Covilhã era do rei), muitas ainda muçulmanas. São eles que conquistam, depois, Idanha-a-Velha e Monsanto. Será desses anos a Batalha da Oles. Mas, por outro lado, S. Vicente nunca pertenceu aos Templários, mas sim ao território real da Covilhã, pelo que o recontro da Oles pode ser anterior. Em 1169, dá-se o desastre de Badajoz e o rei fica inválido para a luta, encarregando dessa tarefa os filhos Fernando Afonso e D. Sancho (I).

Batalha da Oles – Esta batalha está descrita nas Memórias Paroquiais de S. Vicente da Beira. O vigário da época escreveu que os naturais observavam a batalha do alto do castelo e que os cristãos estavam a perder, porque os muçulmanos eram copiosos (muitos). Então desceram do castelo e ajudaram o exército de D. Afonso Henriques, saindo vitoriosos. Por isso, D. Afonso Henriques mandou fazer a romagem anual ao Castelo Velho.

Castelo Velho – Embora pouco estudada, esta fortificação da Idade do Bronze (de há cerca de 3 000 anos) tem sinais de reutilização na época da Reconquista.

Diocese egitaniense (de Egitânia, Idanha-a-Velha) – Os muçulmanos eram tolerantes em matéria religiosa, pelo que os cristãos tinham liberdade de culto, mediante o pagamento de um imposto. Aquando da Reconquista, a Egitânia ainda tinha bispo, logo transferido para a Guarda. Ainda hoje a diocese da Guarda se designa por diocese egitaniense. A paróquia da Orada pertenceria à diocese da Egitânia.

Estrada – Tem origem romana a estrada que atravessa a Gardunha, de S. Vicente para o Fundão. Na Fonte da Portela e Vinhas, o piso é romano, mas acima da Orada é já medieval, do tempo dos mouros, como diz a tradição.

Fonte da Orada – A antiga fonte situava-se nas traseiras da capela. Só em meados do século XX, nas obras realizadas pelo Pe. Tomás, essa fonte foi substituída pela bica na outra margem do ribeiro. É costume as pessoas molharem a cara na água da fonte, por a considerarem santa. Na realidade, a água terá algumas qualidades medicinais, nomeadamente para as infeções dos olhos.

Mata (das Vinhas) – A toponímia medieval e a documentação do século XVIII referem a Mata das Vinhas. Existiria uma mata, certamente de carvalhos, junto à Oles, pois a ser de sobreiros ou castanheiros chamar-se-ia sobreiral (Sobreiral/Sobral) ou souto. No século XVIII (e ainda hoje), existiam muitos carvalhos acima de Alpedrinha. Os pinheiros só se impuseram na paisagem nos finais do século XIX e inícios do séxulo XX.

Moçárabes – Era o nome dado aos cristãos que residiam no sul muçulmano, o Al-Andalus. Foram eles que conservaram o culto a São Vicente e por isso se pensa que todas as povoações com topónimos de S. Vicente são antigas comunidades moçárabes.

Mourelo – É possível que o termo venha de mouros.

Ocaia – É outra denominação da nossa serra, anterior a Gardunha, esta da época muçulmana. O primeiro foral de S. Vicente da Beira (1195) designa a serra por Ocaia.

Oles – Zona no sopé sul da Gardunha, junto ao Louriçal do Campo, no caminho para S. Vicente da Beira.

Orada – Frei Agostinho de Santa Maria visitou a ermida e escreveu, no Santuário Mariano, em 1711, que se pensava ter sido esta capela a igreja paroquial dos cristãos da zona, no tempo dos godos. Se o foi no tempo dos godos, continuou a sê-lo, depois com os muçulmanos, que se seguiram aos visigodos.

Ribeiro do Enxidro - Existe, mas proximidades da Oles, um ribeiro com este nome.

domingo, 14 de agosto de 2011

Estudantes em Salamanca

Encontrei uma informação relativa à presença de um estudante universitário de S. Vicente da Beira, em Salamanca, no ano de 1588. Chamava-se Francisco Henriques e morava na Calle Empedrada, com seus companheiros de estudo: Francisco Antunes Morão do Fundão, mas a morar em Castelo Branco, onde o pai era médico; os irmãos Manuel Lopes e Fernando Manuel do Fundão; Gabriel Franco da Guarda. Francisco Morão estudava Medicina e é provável que os restantes frequentassem o mesmo curso. Certamente eram todos cristãos-novos, pois era-o Francisco Antunes Morão e o estudo da Medicina era uma tradição judaica.
A fonte de informação é um estudo de Manuel da Silva Castelo Branco: “Assistência aos doentes na vila de Castelo Branco e seu termo, entre finais do séc. XV e começos do séc. XVII”, publicado em Medicina da Beira Interior da Pré-História ao século XIX, Cadernos de Cultura, n.º 2 – Junho de 1990, Castelo Branco.
Num outro artigo da mesma revista, mas do n.º 11, de Novembro de 1997, o investigador Joaquim Candeias da Silva apresenta os nomes dos estudantes de S. Vicnete da Beira, em Salamanca, durante a União Ibérica (1580-1640):

António de Avelar Leitão, Cânones, 1623 a 1629
Domingos Rodrigues, Gramática
Francisco Henriques, cristão novo, Medicina, 1587-1590
Francisco Henriques, Artes, 1613 a 1615
Francisco Rodrigues, presbítero, Artes, 1581
Francisco Rodrigues, Artes, 1593
João Rodrigues Borges, Gramática, 1585 a 1588
Jorge Lopes (menor de 14 anos), Gramática, 1588
Pedro Rodrigues, presbítero, Cânones, 1604 a 1605
Pedro Rodrigues, Artes e Leis, 1620 a 1625
Simão Rodrigues Vicente, Cânones, 1585 a 1588
Vicente de Andrade, Artes, 1612
(Neste período, frequentaram a univrersidade de salamanca um total de 617 estudantes do atual distrito de Castelo Branco, sendo 12 de S. Vicente da Beira)

Nota: este texto foi reformulado em 24 de Agosto, após a recepção do comentário do Adelino Costa.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Tarte de amoras silvestres

Há dias, cheguei a casa de meus pais, em S. Vicente, e o meu sobrinho António trouxe-me uma enorme talhada de tarte de amoras, feita pela minha irmã Celeste. Estava divinal, uma delícia!
A receita foi tirada da internet, mas os ovos eram das galinhas da Tapada e as amoras silvestres do Ribeiro de Dom Bento, colhidas pela minha irmã Isabel.
Já aqui referi a excelência do doce de amoras silvestres e agora deixo-vos a receita desta tarte, de comer e chorar por mais!

Para a massa:
2 chávenas de farinha
1 ovo
Meia chávena de açúcar
50 gramas de margarina

Para o recheio:
1 gema de ovo
2 chávenas de leite
50 gramas de açúcar
1 colher de sopa de margarina
2 colheres de sopa bem cheias de farinha de trigo
500 gramas de amoras silvestres

Modo de preparação:
Amassam-se todos os ingredientes da massa, grosseiramente, e faz-se uma bola que se deixa a descansar alguns minutos. Com o rolo da massa estende-se e forra-se uma forma de tarte. Leva-se ao forno a 200 graus, durante 2 ou 3 minutos, para iniciar a cozedura.
Relativamente ao recheio, leva-se ao lume, num tachinho, a farinha bem dissolvida no leite com a gema, o açúcar e a margarina, mexendo sempre até engrossar.
Enche-se a massa que entretanto se tirou do forno, com as amoras, e cobre-se com este creme. Leva-se novamente ao forno, durante cerca de 20 minutos, a 220 graus.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O nosso falar: pechorro

São ainda onze horas, mas dificilmente teremos um dia bem quente, característico dos nossos verões, neste interior beirão.
O tempo anda primaveril e os 38 graus previstos, para hoje, juntamente com um vento que insiste na sua dança entre montes e vales, não permitirão à minha mãe exclamar, desanimada:
Hoje está um pechorro!”
Já sem esperança de dias melhores, aqui fica a crónica do pechorro.
Para um dia merecer que alguém o qualifique “Está p´chorro!”, é preciso uma temperatura acima dos 40 graus. Falo daquele calor que faz tremer o ar, às 3 da tarde. E sem vento, nem uma brisazinha a bulir com as folhas ressequidas do estio. Um ar abafado e quente.
Não encontrei a palavra nos dicionários, mas ela não surgiu do nada. Teve, certamente, a sua origem e um povo que a recriou, como todas as outras.
Por isso desconheço a sua escrita correcta. Pode ser pexorro ou pichorro/pixorro. Mais do que pechorro, o nosso povo diz p´chorro.
Esperemos que ainda venham dias quentes como pertence, para podermos protestar, exasperados:
Está um p´chorro!”
E assim preservar a nossa cultura.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Memória paroquial

Os registos paroquiais, de batismos, casamentos e óbitos, são indispensáveis para reconstituirmos a memória do nosso passado, sobretudo em termos demográficos.
O documento abaixo apresentado, relativo ao batismo de uma criança que não vingou, dá-nos imensas informações sobre S. Vicente da Beira, em 1905.

1. Nesse ano, não havia (ou não estava presente, no dia 16 de Julho) Vigário e quem o substituía era o Pe. José Antunes David dos Reis, natural do Sobral do Campo. Este padre foi testamenteiro, em 1893, do benemérito fundador do Hospital, o Pe. Simão Duarte do Rosário, também do Sobral. Era professor do ensino oficial, cargo que lhe grangeou grande prestígio local e regional, tendo sido um dos mestres de Hipólito Raposo. Liderou ainda a irmandade da Ordem Terceira de S. Francisco. Em 1905, susbtituía o Vigário, mas não era o responsável pelo serviço religioso, pois esta tarefa estava a cargo do Pe. Joaquim Alves Brás.

2. À criança batizada foi dado o nome do padrinho, João. Os padrinhos foram os irmãos João Prata, carpinteiro, e Ana Prata, ambos solteiros.
Eram eles filhos de António Prata e Maria Castanheira, moradores na casa da roda, a última casa, à esquerda, no alto da Rua da Cruz.
O bebé batizado era neto de Maria Castanheira, não deste terceiro casamento, mas do segundo, com José Carvalho. Os pais do Joãozinho eram José Fernandes, cultivador, e Maria Carvalha, doméstica, filha de José Carvalho e Maria Castanheira. Os outros avós, os paternos, eram Bernardo Fernandes e Maria Emília. Todos naturais de S. Vicente da Beira, excepto Maria Castanheira, que era do Souto da Casa.

3. Os pais do João viviam na Rua Velha e eram pobres, pelo que não foi colado selo neste registo de batismo. Os padrinhos não sabiam escrever. Esta informação é-me completamente nova, pois João Prata, o meu avô materno, escrevia muito bem e por isso foi membro da Mesa da Misericórdia e secretário da Junta de Freguesia, neste cargo durante mais de 20 anos! Em 1920, era ele que fazia o serviço do registo civil, em S. Vicente da Beira, pois foi ele que fez o registo de casamento dos meus avós paternos, Francisco Teodoro e Maria do Rosário Jerónimo. Conclusão: aprendeu a ler e a escrever após os vinte anos (a sua idade, em 1905)!


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O nosso falar: deslambida

Existe no masculino, mas sempre ouvi este termo ser aplicado apenas às mulheres.
O dicionário informa-me que também pode dizer-se delambido e ambos significam presunçoso, afectado, tolo.
Conheço a palavra apenas com o sentido de presunçoso.
Uma mulher, para ser considerada deslambida, tem de mostrar-se presunçosa, manienta, vaidosa… sem que os outros lhe reconheçam motivos válidos para isso.
Em simultâneo, tem de ser atrevida e linguaruda, provocando os outros com as suas impertinências.
E, não sei porquê, é sempre uma mulher bastante magra. Talvez porque as outras tenham pelo menos o corpo para provarem alguma coisa e a deslambida nem isso!
Em resumo, chamamos deslambida a uma mulher atrevida, manienta e magricela, sem nada para provar tanta presunção que apregoa.


Nota:

Esta palavra é do tempo da maria castanha, épocas em que ser magro era sinónimo de pobreza e de baixa condição social (sem direito a respeito e consideração).