sábado, 28 de maio de 2011

O nosso falar: porteiro

Nos séculos passados, a Câmara Municipal de São Vicente da Beira tinha um funcionário designado por porteiro, à semelhança das outras câmaras.
O porteiro anunciava as decisões camarárias, apregoava avisos, licitava, na praça, as arrematações que a Câmara fazia, aceitando o melhor lanço.
Nas suas deslocações pelo concelho, o juiz de fora, mas tarde designado por Presidente da Câmara, era sempre acompanhado pelo porteiro e pelo escrivão. Este registava tudo a escrito e o porteiro fazia os contatos com a população.
Poteiro talvez por apregoar nas entradas (portas) das povoações, nos locais onde melhor se fazia ouvir.

Até há poucos anos, desconhecia a existência deste funcionário camarário, mas sempre soube o que era um/uma porteiro/a: alguém que fala muito alto, desnecessariamente; uma criança ou adolescente com um choro berrado, sem haver justificação para tanta gritaria.
As mães ou os irmãos mais velhos punham água na fervura com a humilhação:
"Cala-te, seu/sua grande porteiro/a!"
"Fala baixo, seu/sua porteiro/a!"
"És um/uma porteirão/porteirona!"

Tudo isto, porque o/a berrão/berrona parecia o porteiro da Câmara, a gritar.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A mina da fonte de 1854

Como vimos na publicação "A fonte de 1854", do passado dia 14 de maio, vários moradores da Vila compareceram na sessão da Câmara de 6 de Agosto de 1854. Queixavam-se da falta de água na fonte. A vereação decidiu então fazer uma fonte nova.
Mas a obra não calou as reclamações dos moradores:

«Que tendo se concluido a obra da Fonte publica desta Villa aqual foi ordenada em Sessão de 6 de Agosto ultimo mas sucedendo ter faltado a agoa na dita Fonte do que se tem seguido aos habitantes desta Villa e que podendo haver algum incendio e não haver meios de o atalhar e tomando a Câmara em concideração as justas reclamações dos habitantes desta mesma Villa deliberou que se fizesse uma mina na rua da Costa ou em outra qualquer parte mais comoda e que seja indicada por pessoas inteligentes para deste modo se evitar as graves vexames que esta Povoação esta soffrendo com a falta d´agoa e que esta obra se puzesse a lanço (...) a sua despeza no orçamento.»
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de São Vicente da Beira, Actas, Sessão de 12 de Novembro de 1954, Livro 1850-1859, Maço 5)

O povo pedira água, deram-lhe uma fonte nova (embora seca), e ainda reclamava!!!

A obra da mina foi finalmente arrematada, no primeiro de Janeiro de 1855.
Ficou com a obra Manoel Francisco Junior, pelo valor de 850 réis ($850), tendo como fiador o porteiro da Câmara Manoel Francisco. Seria o pai do júnior?
Segue-se o auto de arrematação da mina da fonte. Clicar na imagem, para ler.


(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de São Vicente da Beira, Termos de Arrematação, Livro 1848-1855, Maço 10)

Ainda é esta mina que alimenta a Fonte Velha. Começa a meio da rua da Costa e vai até sensivelmente à Corredoura. Tem uma entrada, na vertical, no alto da rua, quase na esquina da última casa, à esquerda de quem sobe.
O valor da arrematação da mina foi muito baixo para uma mina tão comprida. É provável que ela tenha sido prolongada mais tarde.

domingo, 22 de maio de 2011

Na romaria da Orada


A ermida, com a casa do ermitão mais acima.


A Senhora engalanou-se para a sua festa.


Matando a sede, numa pausa da dança.


As cantadeiras do rancho, em plena função.


Ainda há Nossas Senhoras de açúcar!

sábado, 21 de maio de 2011

O nosso falar: emborqueiro

Emborqueiro vem do verbo emborcar: virar de borco, virar do fundo para o ar, de cima para baixo.
Assim, o emborqueiro é aquele que se nega com o que combinou. De certa forma, ele vira a situação: do que está estabelecido para o contrário.
Um emborqueiro ou uma emborqueira não são de fiar, estão sempre a voltar atrás com o que combinaram.
Por exemplo: decidiram ir todos à Senhora da Orada, combinou-se a merenda, iriam a pé, como antigamente, mas à última hora não lhe apetecia e não foi. É um/uma emborqueiro/a.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A lenda da Orada

A lenda da Senhora da Orada foi contada a Frei Agostinho de Santa Maria, pelo ermitão da capela, antes de 1711, data em que a publicou na obra Santuário Mariano. Publiquei-a nos Enxidros, em 2009, nas palavras do Ti Joaquim Teodoro. Ele não leu o Santuário Mariano, nem Portugal Antigo e Moderno, onde Pinho Leal repetiu a versão escrita por Frei Agostinho. O Ti Joaquim Teodoro sabia-a por ouvir contar, chegou-lhe de boca em boca, contada durante centenas de anos.
A lenda que se segue é uma versão semelhante. Foi escrita, certamente, por um membro da família Robles, pois foi esta família que a deu ao GEGA.
Talvez tenha sido José Ribeiro Robles, o avô de Robles Monteiro, um homem de letras que desempenhava o cargo de escrivão da Câmara Municipal de São Vicente da Beira, em 1854.
O texto foi actualizado, na ortografia e na pontuação, para facilitar a leitura.



A Senhora da Orada, na romaria deste ano.
Foto da Sara Varanda.


Aninha-se ainda, nos corações piedosos destes povos, a crença tradicional de um invocado milagre que deu origem à edificação da capela, em que se venera a imagem de Nossa Senhora d´Orada. Remontando ao penúltimo século, o sítio em que se acha a ermida era um deserto. Por vegetação o mato, por habitantes o javali.
A natureza mostrava-se ali em toda a sua fereza.
No recôncavo dos vales mal se descobria a corrente de um regato que, também coberto pela ramagem dos agrestes arbustos, não suavizava a vista, nem amenizava a paisagem.
Por este tempo, um piedoso asceta, querendo empregar todos os seus dias na oração e na penitência, foi escolher para a sua habitação um sítio próximo dali. Edificou uma cabana, sustentando-se dos magros legumes que por suas mãos cultivava. Vivia simplesmente para Deus. Era um justo.
Uma tarde, quando o sol se ia sumindo no curto horizonte e o feliz anacoreta sentado em umas pedras admirava este prodígio da natureza e a Majestade Divina, viu que se lhe aproximava uma mulher, jovem ainda, mas vestida em desalinho, com o rosto turbado de angústia e sofrimento, que manifestava pelas suas lágrimas.
Chegada ao pé do padre, ajoelhou. Contou-lhe quais as suas dores, as tentações e os desesperos a que estava sujeita. Cria-se arguida, caluniada e expulsa da casa paterna por ter uma moléstia que não conhecia, mas de que a sua pureza a não acusava.
O som da sua voz e a expressão da sua pessoa tinham o quer que fosse de superior que, sem dúvida, tocavam a alma do padre.
“Ide minha irmã. Amanhã de manhã hei-de dizer missa e nela pedirei à Virgem a vossa cura. Nessa ocasião dar-vos-ei o pão eucarístico. Orai e tende fé.
Retirou-se a triste e o padre dirigiu os olhos para o céu.
Quando, porém, as brumas da noite vieram despertar o asceta da sua oração e convidá-lo ao repouso, no seu humilde tugúrio, ainda a desventurada vagueava por aquela solidão.
Cheia de fadiga, extenuada, com uma sede abrasadora, tentou dirigir-se a um regato que ouvia correr no vale. Mas, faltando-lhe de todo as forças, encostou-se ao fundo de um rochedo, elevou uma prece ao Altíssimo e adormeceu.
Quando, na manhã seguinte, o cemobito se preparava para ir à povoação cumprir a sua promessa, apareceu-lhe ela, não já como na véspera, lacrimosa e triste, mas radiante de alegria e juventude, como que aureolada de uma inspiração divinal.
O seu corpo já se não descompunha em monstruosas formas. Melgada, aprumada e linda, parecia desafiar, com a sua formosura, todas as belezas do universo.
O padre, estático, ouviu-lhe a seguinte narração:
“Mal pensava eu, quando ainda ontem ouvia as vossas palavras de conforto e de esperança, que tão depressa a Virgem se amenceasse de mim. Sim, meu padre, porque a Virgem salvou-me. Vi-a no meu sonho, além...”
“Além?”
“Sim, ao fundo daquele rochedo aonde caí desfalecida. Depois de ter vagueado pelo mato, sentindo-me opressa por uma dor imensa e com uma sede abrasadora, tentei descer ao ribeiro para refrescar o peito. Mas não pude. A dor e o cansaço prostraram-me ao fundo do rochedo. Julguei-me perdida para sempre. Parecia-me que ia morrer. Pedi então a Deus a sua Misericórdia, entreguei-me nos braços da Virgem, supliquei-lhe perdão para meus pais e adormeci.
No meu letargo, pareceu-me que estava no Céu. Vi a Virgem dourada como tantas vezes a tenho visto no altar, mas tinha vida e movimento. Eu quis beijar-lhe os pés e Ela sorriu-se. Tentei falar-lhe, mas não pude mais do que chorar. Chorei, chorei muito, e só quando aquele astro luminoso já dourava as cumeadas destas montanhas é que eu despertei.
Parecia-me que já não sofria. A meus pés deslizava uma límpida corrente. Sobre o rochedo, nos arbustos e em torno de mim, miríades de passarinhos gorjeavam alegremente. A natureza, ainda ontem tão sombria, aparecia-me hoje risonha e cheia de encantos.
Estou salva. Salva, meu padre, pelas vossas orações.”
“Não, pela vossa fé.”

Foi um dia festivo na povoação.
A nova espalhou-se rapidamente, como que por encanto, e parecia que os montes, as correntes, os arvoredos e as florinhas simples dos campos compartilhavam da alegria de todos os corações.
A expensas da família da venturosa menina, foi edificada uma capela, próximo da fonte até então desconhecida, sob a invocação de Senhora d´Orada, aonde ainda hoje se venera, recebendo uma constante peregrinação de devotos.
O padre que ali vivia, no sítio denominado Casal do Clérigo, tornou-se o verdadeiro eremita, passando para a casa que edificou próximo da capela.

domingo, 15 de maio de 2011

O nosso falar: pencas

Uma ida a São Vicente é um manancial para os Enxidros.
Ainda no domingo de Páscoa, encontrei-me com o Francisco Alves Barroso, pois as festas são momentos especiais pelo reencontro de amigos.
Conversámos sobre as nossas agriculturas, claro está!
"Então as tuas cerejeiras já dão prova este ano?"
"Já. Tinham bastantes cerejas, mas muitas não engrossaram, ficaram pencas, como diz a minha mãe."

Lamentou-se o Chico, desejoso de provar as cerejas da plantação que fez com o cunhado, lá para os Enxidros.
"É do frio. Também já me aconteceu o mesmo: num ano tinha as cerejeiras carregadas e depois deram poucas."
Do frio e da juventude da árvore, amigo Chico.


É curiosa esta palavra pencas, usada pela Ti Maria dos Anjos Alves.
O termo designa uma realidade exatamente oposta à deste caso concreto.
Penca é um nariz grosso, uma couve tronchuda, uma folha grossa e carnuda. Aqui, refere-se a uma cereja que mirrou, pele seca colada ao caroço, numa altura em que se esperava dela que ficasse carnuda e rubra.
Paciência, a natureza lá sabe as linhas com que se cose. «...pró ano já são mai muitas!"

sábado, 14 de maio de 2011

A fonte de 1854

Chamava-se apenas fonte. Só em meados do século XX terá ganho o nome de Fonte Velha, para a distinguir das fontes de Santo António e de São João de Brito, entretanto edificadas na esquina da Rua Velha com a Rua de São Francisco e na Praça, respetivamente.
A Fonte Velha não foi construída no local onde se encontra, mas sim a norte do atual chafariz, imediatamente a seguir à esquina do muro da quinta da Casa Cunha.
Ficou abaixo do nível do chão, pois descia-se para ela, por dois degraus.
Albertino Moreira nasceu em 1920 e ainda se lembra da fonte naquele local. Depois, cerca de 1930, foi trasladada para onde se encontra.
Conta o Sr. Albertino Moreira que, nessa altura, havia uma outra fonte a sul do chafariz, chamada fonte Nossa Senhora de Fátima. Depois foi demolida.


A nossa Fonte Velha foi, pois, construída, no ano de 1854.
À sessão de Câmara de 6 de Agosto, compareceram «...varios moradores desta Villa requerendo a Camara que achando se quasi seca a fonte publica desta Villa requeriaõ a Camara providencias sobre um tao grande mal. A Camara tomando na devida concederaçaõ o exposto deliberou se passassem Editais para a arremataçaõ da dita obra para o dia treze do corrente vista a necessidade que a Povoaçaõ esta sofrendo pela falta de Agoas.»
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de São Vicente da Beira, Actas, Maço 5, Livro 1850-1859)

A obra foi arrematada a Antonio Joze de Báu, por 112$000 réis, sendo seu fiador Antonio Lopes Rondao, ambos de São Vicente da Beira. A fonte devia ter «...seo frontespicio e dois canos e chafaris...»
Segue-se o respetivo Auto de Arrematação. Clicar na imagem, para conseguir ler.
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de São Vicente da Beira, Termos de Arrematação, Maço 10, Livro 1848-1855)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Fonte Velha

É um dos locais mais emblemáticos da nossa terra.
Enfeitada com vasos de flores, via partir e chegar os rapazes das sortes. Ali se começavam namoros e se encontravam amigos. E se a água é fonte de vida, a desta fonte mata-nos a sede há séculos.


A Fonte Velha, no largo Francisco Caldeira


REEDIFICADA
PELO PRESIDENTE DA CA=
MARA JOSE MARIA DE MOURA
BRITO E VEREADORES RO=
BLES GARRIDO MAGALHA=
ES NETO ANNO DE 1854


Juiz Pedro (IVDICES PETRUS)...1578
(A Igreja do Louriçal tem inscrito, na fachada, o mesmo nome Petrus, com a data de 1559. Poderá ter sido a mesma pessoa, com funções de Juiz de Fora, em representação do rei, que mandou edificar a fonte e a igreja.)


Sebastião, rei da Lusitânia
(Tradução demasiado livre, mas que respeita o sentido. Em 4 de Agosto de 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião, morreu em Alcácer Quibir!)

domingo, 8 de maio de 2011

As castanhas da Devesa

A par dos cereais, sobretudo do centeio, a castanha foi, durante séculos, o sustento dos nossos antepassados. A povoação de São Vicente da Beira estava rodeada de soutos de castanheiros.
Na segunda metade do século XVIII, o Conde de São Vicente tinha oito propriedades com castanheiros: Prado, souto ao pé do Pinheiro, Casal do Pisco, souto à Fonte do Infante, Oriana, Ribeiro de Dom Bento, Carvalhal Redondo e souto ao Vale de Pedro Lourenço.
Também o Capitão-Mor Francisco Caldeira era dono de vários soutos: Barroca do Forno, Barroca do Pisão, Vale de Pêro Lourenço, Pinheiro, Aldeões, Vale de Cabra, entre outros.
Manoel Vas Rapozo trazia aforados um casal (Casal do Aires ?) e uma fazenda de Antonio de Azevedo, a quem pagava de foro 18$000 réis e 8 alqueires de castanha pilada, por ano.
Na mesma época (1775), Antonio Fernandes o moço da Partida detinha a Tapada do Souto e pagava de décima, pela produção de castanha, $350 réis.
Entretanto, no mesmo século XVIII, iniciou-se a cultura do milho grosso, que veio disputar aos linhares as terras ribeirinhas. O incremento da cultura da batata foi bastante mais tardio, pois a sua produção só se generalizou na segunda metade do século XX.
Estas duas produções de origem americana foram a salvação das nossas gentes, pois os castanheiros começaram a morrer, a partir de finais do século XIX, atingidos pela doença da tinta.
Mas, em 1854, os castanheiros ainda dominavam a nossa Devesa. O documento que se segue refere-se à venda da castanha, pela Câmara Municipal.


Termo da arrematação da castanha pendente do souto da Devesa, própria deste concelho, que faz João Duarte, pela quantia de mil quatrocentos e cinquenta réis

Aos cinco dias do mês de Novembro de mil oitocentos e cinquenta e quatro, nesta vila de São Vicente da Beira e casas do concelho, aonde se achava o Presidente da Câmara, José Maria de Moura Brito, aí por ele foi ordenado ao oficial de porteiro, Manuel Francisco, lançasse a pregão, na Praça pública, a castanha pendente do souto da Devesa, no valor de dois mil e quatrocentos réis.
O dito porteiro assim apregoou a dita castanha, repetidas vezes, a fim de obter lançador, depois do que deu sua fé que João Duarte desta Vila lhe havia dado o maior lanço de dois mil quatrocentos e cinquenta réis e que não havia quem mais lançasse, à vista do que o dito Presidente lhe mandou entregar o ramo ao dito arrematante, que ele recebeu da mão do porteiro, em sinal da sua arrematação, e se obrigou ao pagamento da dita quantia, em uma só prestação, no dia vinte da Janeiro de mil oitocentos e cinquenta e cinco.
E para de tudo constar, se lavrou este termo que o dito Presidente assinou, com o arrematante e o porteiro. Eu, José Ribeiro Robles, escrivão da Câmara, o escrevi
.

Notas:
Porteiro - Era o funcionário municipal encarregado de publicitar, através de pregão gritado nas ruas, largos e praças, as decisões camarárias ou a arrematação de bens públicos. Também afixava avisos e posturas municipais.
Francisco Caldeira - Natural da Sertã, casou em São Vicente e foi o avô do 1.º Visconde da Borralha.
Manoel Vas Raposo - Antepassado dos Raposo Macedo Doria e de Hipólito Raposo.
José Ribeiro Robles - Trata-se do avô materno de Robles Monteiro, como informa o Comentário de Paulo Nicolau Almeida, à publicação "Robles Monteiro - Raízes", de 25 de Outubro de 2010, nestes Enxidros. José Ribeiro Robles era filho de Bernardo António Robles, natural da Covilhã, e de Antónia Raimunda Ribeiro, de S. Vicente.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mais muros apiários

Já noticiara a publicação on-line do estudo sobre os Muros Apiários, pela AEAT.
A apresentação oficial decorreu, nesta quinta-feira, 5 de Maio, no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
A revista AÇAFA, n.º 3, apresenta agora a versão definitiva. Junto segue a informação, para os interessados.
Colaborei no estudo, que incluiu elementos sobre o antigo concelho de São Vicente da Beira.


A Associação de Estudos do Alto Tejo informa que o nº 3 da revista digital AÇAFA On-line correspondente ao ano de 2010, dedicada ao tema Muros-apiários, um património comum no Sudoeste Europeu já está disponível na página da AEAT em www.altotejo.org.

Para aceder ao website clique aqui.

A presente edição é constituída pelos seguintes doze textos e nove comentários:
LES ENCLOS À ABEILLES (Gaby Roussel)

LES MURS À ABEILLE DANS L’EUROPE OCCIDENTALE (Robert Chevet)

LES APIERS DE LA HAUTE VALLÉE DE LA ROYA (Luigi Nino Masetti)

RUCHERS DANS LA VALLÉE DE L´EBRE (Robert Chevet)

LOS COLMENARES TRADICIONALES DEL NOROESTE DE ESPAÑA (Ernesto Díaz y Otero e Francisco Javier Naves Cienfuegos)

MUROS APIÁRIOS NA GALIZA INTERIOR: OS ALVARES DO CAUREL (Lois Ladra e Xúlia Vidal)

Muros-apiários das serras do Alvão e Marão: contribuição para o seu estudo e preservação (António Pereira Dinis e A. Mário Dinis)
OS MUROS-APIÁRIOS DO PARQUE ARQUEOLÓGICO DO VALE DO CÔA (Dalila Correia)

OS MUROS-APIÁRIOS da Região de Castelo Branco e Zona Envolvente (Francisco Henriques, João Carlos Caninas, Mário Lobato Chambino, José Teodoro Prata e José Joaquim Gardete)
OS MUROS APIÁRIOS DO PARQUE NATURAL DA SERRA DE SÃO MAMEDE E SÍTIO DE SÃO MAMEDE (Joana Salomé Camejo Rodrigues e João Carlos Neves)
PRESENÇA HISTÓRICA DO URSO EM PORTUGAL E TESTEMUNHOS DA SUA RELAÇÃO COM AS COMUNIDADES RURAIS (Francisco Álvares e José Domingues)

ORIGINALIDADES DO COBERTO VEGETAL DO ALTO TEJO (Mafalda Veigas, Carlos Vila-Viçosa, Paula Mendes e Carlos Pinto-Gomes)
MUROS, ENTRE AS ABELHAS E OS URSOS. ALGUNS COMENTÁRIOS, REFLEXÕES E OUTROS CONTRIBUTOS (Alexandra Lima, António Nabais, Helena Paula Vicente, Jorge de Oliveira, Jorge Paiva, Maria Ramalho, Maria de Jesus Sanches, Paulo Ramalho e Teresa Soeiro)

Os muros-apiários são construções em pedra ou taipa que formam cercados destinados a proteger os colmeais contra diversos tipos de agressões, entre as quais os mamíferos, com destaque para os ursos. Estas construções ocorrem em várias regiões da Europa e do Mediterrâneo. Este processo de proteger os apiários, cercando-os com muros, por vezes muito altos, não é único, existindo outros tipos de construções com idêntico propósito, mas será talvez um dos mais representativos à escala europeia, desde a Península Ibérica até às Ilhas Gregas, de tal modo que o seu estudo e divulgação podem constituir novos elos de aproximação entre povos e culturas.

O nosso falar: cheirume

O almoço de Páscoa começou com uma canja. Não é habitual, mas estava magra e saborosa. Coube-me deitar os pratos. Ao vigésimo e último, já só havia um restinho no fundo da panela. Quando a minha mulher fez tenção de levar o prato, eu exclamei: "Espera, estou a ver se ainda apanho mais um cheirume!" Referia-me a umas febritas que dançavam no último caldo.

Vim intrigado com a palavra que usara. Consultei o dicionário cá de casa e nada. Tive de recorrer ao Dicionário de Morais (1789-1949), na Biblioteca Municipal.
Cheirume significa cheiro forte, penetrante.
Não me satisfez. Achei chorume: abundância, opulência; banha, pingo; sugo (líquido que escorre do estrume, do lixo); excesso de gordura do leite ao fabricar-se o queijo; gordura segregada na base dos velos dos ovinos.

A minha mãe, a agricultora lá de casa, costumava dizer de uma terra magra, sem estrume ou adubo com que alimentar as culturas, que não tinha cheirume nenhum. Era isso que eu procurava, ao catar as últimas febras no fundo da panela: alimentar o melhor possível a pessoa a quem coubesse aquele prato.
Penso que o nosso cheirume é uma mistura de cheirume e chorume, mas acho que tem mais de chorume que de cheiro.
Como o povo tem tendência para aldrabar as coisas, os nossos antepassados usaram cheirume, que também cheira, com o sentido de chorume.

domingo, 1 de maio de 2011

Sopas e missas

Já aqui informei sobre o blogue do José Miguel Teodoro. Entretanto, esteve em hibernação, por excesso de trabalho do dono, mas já voltou ao activo.
As publicações de 6 de Março, 3 de Abril e 17 de Abril referem-se a São Vicente da Beira e são daquelas a não perder!
O Convento de Santa Clara, apontado nos textos, é o nosso convento das religiosas. Como nos ensinaram na recente Procissão dos Terceiros, foi Santa Clara que criou a organização feminina da Ordem Franciscana. A Igreja do Convento, dedicada a São Francisco, era maior do que a Igreja da Misericórdia. Situava-se na parte esquerda de quem olha da rua para o antigo convento, no local onde atualmente está um palheiro e foi aberto um portão.
Aqui deixo, de novo, o endereço do blogue do José Miguel: http://sopasemissas.blogspot.com/