terça-feira, 23 de julho de 2019

As riquezas inauditas do Paulino


 
Exposição nos antigos Paços do Concelho, visitável nas tardes das Festas de Verão ou noutra data a combinar com o João Paulino, pelo telemóvel 969 525 298.

Fotos do João Paulino
José Teodoro Prata

segunda-feira, 22 de julho de 2019

A barragem do Barbaído/Tripeiro

Este era o artigo mais importante do jornal Reconquista de 11 de julho. Alguns terão ficado ofuscados pelo sanvicentismo do artigo da Libânia e não deram por ele, embora estivesse na mesma página.
É um texto todo virado para o futuro, do planeta à nossa freguesia. Mas para captar toda a sua riqueza é preciso ler para lá do que vem explícito!

 

José Teodoro Prata

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vocações


A minha terra é quase só uma rua, enfiada no fundo duma barroca. Hoje em dia já mal se lá vê gente. Não tarda, há de ser só silvas, telhados no chão e cães estendidos ao sol. Mas nem sempre foi assim. Antigamente todas as casas tinham gente; algumas até pareciam cortiços. Com tantas bocas a pedir pão, não ficava uma leira por tratar. Não eram tempos de grandes farturas, mesmo a trabalhar de sol a sol, mas também não se passava fome. E sempre havia alguma coisa para alguém mais necessitado que batesse à porta. Naquele tempo andava por lá muita gente a pedir esmola; chegavam de cesta vazia, que diziam que nos outros lados lhes davam pouco, mas ali, antes de acabarem o Pai Nosso pelas alminhas, já tinham alguma coisa na mão, nem que fosse só uma fatia de broa ou uma malga de azeitonas.
A sala da escola estava sempre à cunha; uma fiada de cachopos e outra de cachopas. No ano em que eu entrei, a professora era uma rapariga de fora. Quando a víamos chegar, nas segundas-feiras de manhã, montada num burro, até parecia a Nossa Senhora; só lhe faltava o Menino ao colo, como naqueles quadros da igreja. E ensinava bem: aluno que levasse a exame não fazia má figura ao pé doutro qualquer. Mas um ano, tinha eu feito a terceira classe, quando chegou o primeiro dia de escola, não apareceu; nem ela nem ninguém para o lugar dela. Mais tarde ouviu-se dizer que tinha havido para lá umas políticas, mas nunca se chegou a saber ao certo o que é que tinha sido.
Pela minha mãe, que não sabia uma letra, ficava-me por ali, mas o meu pai queria que eu fizesse pelo menos o exame da quarta. Sempre era uma enxada mais leve que me deixava, como ele dizia, e não de acomodou. Um dia, já perto do Natal, levantou-se cedo e disse que não contássemos com ele senão para a ceia, que ia tratar dumas vidas. E eu que fosse com as cabras para o mato, se o tempo levantasse. Quando chegou, quase noite, vinha feito num pito, mas até os olhos se lhe riam:
- Para o ano que vem vais para o Casal da Serra. Fui lá a falar com a minha irmã e ela diz não se importa que fiques em casa dela até ao exame.
Quando chegou a altura, lá abalo com a bolsa dos cadernos ao ombro, para casa da minha tia. Naquele ano estava lá um professor muito exigente: aquele que não tivesse a tabuada ou os rios e as serras na ponta da língua, eram logo duas ou três reguadas em cada mão. A mim não me deu muitas, que eu também era esperto e aprendia bem; às vezes até me punha a ensinar as contas aos que iam mais atrasados.
Quando chegou ao fim do ano mandou recado ao meu pai, que fosse lá a falar com ele. Nunca foi homem de grandes falas, o meu pai, mas, depois dessa conversa, mal abria a boca. Até cheguei a ter medo que o professor lhe tivesse feito queixas de mim. Mas um dia à noite ouvi-o a falar baixo com a minha mãe:
- O professor diz que o rapaz é esperto, e é uma pena se não continuar; mas o dinheiro mal dá para as décimas, como é que o mandamos Castelo Branco?  
- Manda-o para o seminário, que é capaz de ser mais em conta.
- Olha que não é mal pensado. Se calhar ao domingo já vou à Vila a ver o que é que se arranja.
Naquela altura nem sabia o que era um seminário e até julguei que fosse algum daqueles ricos que davam trabalho a toda a gente. Fiquei logo a pensar que era bom era que me metesse como pastor, que era o que eu mais gostava de ser. E até já me via, na serra, atrás de um grande rebanho de cabras. A semana passou-se e quando foi ao sábado à noite, depois da ceia, disse-me ele assim:
- Amanhã salta da cama cedo, que tens que ir despejar a presa; vai num pé e vem no outro, que ainda hemos de ir à missa do meio-dia.
À missa? Ele, que era tão mal amigo de lá ir, para arrelia da minha mãe! Algum santo estava para cair do altar…
- Vossemecê nunca vai à missa, o que é que lá vai a fazer amanhã?
- Isso agora não são contas do teu rosário; logo vês.
Quando chegámos à Vila já era quase meio-dia. A igreja estava à cunha, mas vi um sítio com umas grades, que até parecia um bardo, e perguntei ao meu pai se não podíamos ir para lá. Ele disse logo que não, que aqueles lugares eram só para a gente fina. Bem me pareceu, só pelas caras…
No fim da missa entrámos numa taberna já cheia de homens encostados ao balcão. Deviam-se conhecer todos, que quando viram o meu pai ofereceram-lhe logo de beber:
- Bota aqui mais um copo para este homem, que não há olhos que o vejam há que tempos!  
-É assim a vida... O pão não vai a ter sozinho a casa.
Depois de dois ou três copos, saímos da taberna e metemos por uma rua acima. Mais ou menos a meio, o meu pai bateu a uma porta e disse que era para falar com o Senhor Vigário.
- Ah, mas ele ainda está a almoçar. Têm que esperar um pouco.   
Passado um bom bocado mandaram-nos entrar. O meu pai foi à frente e eu fiquei à espera, à entrada. A seguir chamaram-me a mim. Era uma sala grande, com uma mesa no meio. O Senhor Vigário estava sentado à cabeceira, numa cadeira que parecia a dum rei; cheirava tão bem que até fazia crescer água na boca.
- Chega-te aqui para o pé de mim, meu filho.
Aproximei-me e ele deu-me a mão para lha beijar. Depois pôs-me a mão na cabeça:
- Com que então queres ir para o seminário… Muito bem! Muito bem! Do que a Igreja precisa é de muitas vocações como a tua. E vais dar um belo padre! Ai isso é que vais… Mal possa, vou tratar do assunto; fica descansado que hás de entrar já este ano.
Assim que lhe ouvi estas palavras, compreendi logo quais eram as intenções do meu pai, mas não abri a boca. Quando me apanhei na rua, pernas para que vos quero; nem via o caminho. Só parei já para lá do cemitério.
Vocações como a minha? Não queria ele mais nada! Eu, que com os doze acabadinhos de fazer, já me punha a olhar para as cachopas, rua acima, com o cântaro à cabeça… 
Vocações?

Maria Libânia Ferreira

terça-feira, 16 de julho de 2019

Tirar o mel

Já crestei. 
Os dois enxames que comprei nos inícios de março ficaram a reproduzir-se todo o mês e só lá para meados de abril é que começaram a recolher néctar a sério.
Entretanto, o frio e a chuva de abril criaram problemas numa das colónias, que por isso perdeu a época alta da floração.
Resultado: 1 alça (caixa) de mel num dos enxames, incompleta porque dois dos quadros tinham criação e por isso tiveram de ficar na colmeia.
Foi uma festa! No apiário (às 6 horas) foi tudo fácil, apesar das expetativas que me tinham sido dadas. Depois, em casa, foi o maravilhamento face ao produto do trabalho de seres tão pequenos, mas com uma organização exemplar.





Os favos cheios de mel são tão maravilhosos que tinha pena de os esmagar e por isso guardei muitos (além de terem qualidades medicinais superiores ao mel). Depois esmaguei e espremi o resto com as mãos. Ficou tudo a escorrer num coador, para um balde.
Este mel da Gardunha é leve e muito aromático. 

José Teodoro Prata

sábado, 13 de julho de 2019

Foi há 100 anos


Jornal Reconquista, 11.07.2019

José Teodoro Prata

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Enxertias

Há uns tempos, mostrei-vos um pessegueiro nascido do tronco de uma amendoeira que ardeu no fogo. Fora enxertada num pessegueiro.
Hoje trago-vos algo parecido. Há anos reparei que rebentavam marmeleiros da base de uma pereira. Transplantei-os, pois tinham raiz. Este ano enxertei-os de pereira e pegaram.
São de uma variedade que andava a namorar há que tempos, mas não conseguia encontrar. Então fui à Horta de Estêvão da minha irmã Fátima buscar uns garfos de uma pereira que o meu pai ali plantou. É daquelas que dão peras pequeninas, em forma de pera, muito docinhas!


José Teodoro Prata

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Eremita e poeta

A rainha Santa Isabel era seguidora dos franciscanos espirituais (que chegaram a ser proibidos pelo papa) e apoiou a sua vinda para Portugal. Foram eles que fomentaram em Portugal o culto ao Espírito Santo e  a obra assistencial das albergarias do Espírito Santo (existia uma em São Vicente da Beira), que mais tarde foram substituídas pelas Misericórdias.
Ora o convento da Arrábida era dos franciscanos espirituais e penso que foi este Frei Agostinho da Cruz do texto do António Fernandes que disse ter chegado ao paraíso, quando contemplou aquela encosta com o mar lá ao fundo.
Ali próximo, no alto de Setúbal, ficava o convento franciscano de Brancanes, de onde vieram os frades que criaram a Ordem Terceira em São Vicente da Beira.
É a segunda vez que referimos este convento da Arrábida, mas vem a talhe de foice depois do encontro franciscano que tivemos recentemente, em São Vicente da Beira.
Por outro lado, há que distinguir os frades espirituais dos outros "comuns". Estes viviam pobremente na sociedade, pregando e praticando a caridade. Os franciscanos espirituais vivam longe da sociedade, em contemplação, o que não estava previsto no ideal de São Francisco de Assis.


Decorre a efeméride dos quatrocentos anos da morte de Frei Agostinho da Cruz, um poeta clássico e eremita. Este poeta arrábido escreveu elegias, éclogas, endechas e sonetos.
(…)
Vivemos num mundo de manifestações, de migrações em massa, de distúrbios, de corrupções, de desvios, de falsas promessas, de notícias falsas como Judas, e muitas vezes apetece um refúgio, uma ilha isolada, um local onde seja possível uma vida contemplativa com a natureza, afastada desta realidade virtual cheia de ruídos, na procura da paz interior, da solidão perto das nuvens e do céu. Foi assim a vida de Frei Agostinho da Cruz.
Nasceu no Minho, em Ponte da Barca, em 1540, com o nome de Agostinho Pimenta. Ao entrar para o Convento de Santa Cruz da serra de Sintra, onde habitou durante umas dezenas de anos, como noviço, adotou o nome de Frei Agostinho da Cruz, talvez cansado com tantas especiarias, principalmente a pimenta vinda das Índias.
Em 1605, escolheu como habitação uma cela no Convento da Arrábida, na serra com o mesmo nome, fazendo vida de eremita.
Na comemoração de tão importante efeméride, o escritor e investigador Ruy Ventura prepara uma ampla antologia da sua obra poética.
No Convento da Arrábida está previsto um colóquio sobre a vida e obra de Frei Agostinho da Cruz, ação louvável que possibilita a quem não conhece a obra deste homem reviver, no seu ambiente, os seus trabalhos mais emblemáticos.
Em Setúbal, cidade onde faleceu em 1616, irá realizar-se uma conferência proferida por D. José Tolentino Mendonça, figura da nossa literatura, teólogo e poeta, e atualmente ao serviço no Vaticano como responsável do Arquivo Histórico da Santa Sé.
Nos anos sessenta do século passado, passados quase quatrocentos anos, calcorreei alguns dos percursos agostinianos.
Naquelas paragens paisagísticas da serra da Arrábida, das mais belas de Portugal, onde se está perto do mar e das nuvens, além de diversas caminhadas, ocorrem diversos acampamentos de escuteiros da Região de Setúbal.
Neste mesmo Convento muitos caminheiros, e candidatos a dirigentes do CNE (Corpo Nacional de Escutas), realizaram módulos de formação escutista, preparando-se para mais tarde fazerem e assumirem o compromisso nas investiduras (para quem já pertence ao movimento) ou promessas (para quem agora entrou para o movimento).
Foi uma oportunidade única para se fazer uma visita detalhada a este Convento e sabermos como era a vida monástica dos frades arrábidos.
(...)

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Março/2019