sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Os Símbolos Heráldicos





PROPOSTA: Junta de Freguesia de S. Vicente da Beira
CONCEPÇÃ0: Diácria Editora
ACEITAÇÃO: Junta de Freguesia (21/02/2002)
LEGALIZAÇÃO: Comissão de Heráldica da Associação dos Arquitectos Portugueses
APROVAÇÃO: Assembleia de Freguesia (24/04/2004)
PUBLICAÇÃO: Diário da República de 28 de Maio de 2004
REGISTO: Direcção-Geral das Autarquias Locais (22/06/2004)
SIMBOLOGIA:
Os símbolos heráldicos de S. Vicente da Beira têm por base o selo da Câmara Municipal de S. Vicente da Beira (1195-1895), reproduzido no monumento comemorativo dos 800 anos de S. Vicente da Beira, erigido em 1973, no Largo Francisco Caldeira.
- O castelo representa a ligação umbilical de S. Vicente da Beira ao Castelo Velho, situado próximo do cume da Gardunha.
- A estrela e o crescente recordam a lendária batalha da Oles, em que os cristãos (estrela) desta região ajudaram D. Afonso Henriques a vencer os muçulmanos (crescente).
- O cavalo e cavaleiro simbolizam a cavalaria-vilã medieval formada pela elite social deste concelho e também o primeiro conde de S. Vicente (1666), D. João Nunes da Cunha, vice-rei da Índia.
- A barca com corvos liga-se ao nome desta terra atribuído por D. Afonso Henriques, na altura da trasladação, por mar, dos restos mortais do Mártir São Vicente, sempre acompanhados por corvos marinhos, de Sagres para Lisboa.
NOTA: Aquando da sua apresentação pública, em Outubro de 2004, a Junta de Freguesia publicou o livro «Os Símbolos Heráldicos de São Vicente da Beira», da autoria de José Teodoro Prata.





sábado, 24 de janeiro de 2009

Esquilos na Gardunha

Hoje, à chegada a S. Vicente da Beira, no alto da barragem do Pisco, um esquilo atravessou a estrada e correu para o pinhal, sem me dar tempo de o meter na máquina fotográfica. Por isso, o que aqui vos mostro roubei deste sítio.



Já em Outubro, num pinhal jovem do Carvalhal Redondo, avistara um esquilo a saltar de ramo em ramo. Semanas depois, num castanheiro, vi ouriços abertos com castanhas mordidas por pequenos dentes, numa tentativa de as extrair.
Ali perto, no Ribeiro de Dom Bento, abundam resíduos de pinhas no chão, junto a vários troncos de pinheiros, como mostra a fotografia abaixo apresentada. Há mais de 10 anos que os meus pais ali costumavam encontrar destes vestígios, mas não sabiam quem os produzia.
Felizmente, estas zonas de S. Vicente escaparam aos dois grandes incêndios que destruíram quase por completo a fauna e a flora da Gardunha, nas últimas décadas.
Os esquilos avistados pertencerão à espécie do esquilo europeu, mas a cor é mais escura do que a do exemplar acima apresentado.
Para conhecer melhor esta espécie, clique aqui.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fungo da Gardunha

Fungo em arranjo floral, num toco de mimoseira, no Ribeiro de Dom Bento.
É bem verdade que, na natureza, nada se perde, tudo se transforma.


Foto de Filipa Rodrigues Teodoro

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Luci Bento




Luci Bento (Lucília Maria Bento) é natural do Vale de Figueiras, mas reside na Suíça.
No seu ateliê, em Lausanne, crianças de várias nacionalidades descobrem o artista que há dentro de si. Luci Bento não lhes ensina pintura, ensina-os a pintar: «...mergulha imediatamente os pequenos no banho da pintura, fornecendo-lhes todo o material de que necessitam.»
São os trabalhos dos seus pequenos pintores que podemos admirar, em Castelo Branco, na Sala da Nora, até ao fim de Janeiro.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Natal

Já passou mais um Natal, a melhor festa do ano. O que o torna tão especial é a amizade, no reencontro dos amigos, no abraço aos familiares, no lembrar dos outros. E bom, bom de verdade, é voltar ao local onde fomos natal.
Em 2007, num trabalho intitulado Instantes Saborosos, recordei um dos natais da minha infância, em S. Vicente da Beira. Aqui vos deixo um pedacinho:

«A masseira à esquerda do lume, a seguir a minha mãe, com um pano no joelho, para tender as filhoses, no meio um cesto da azeitona, forrado com papéis, depois o meu pai, ao lado do monte de lenha, com os ferros de virar as filhoses. Atrás, os filhos e as sombras enormes a encherem as paredes da cozinha. No centro do lume, a caldeira do azeite, pendurada nas cadeias que desciam da chaminé. Primeiro era preciso o lume forte, para aquecer o azeite, mandava a minha mãe. Quando estivesse quente, tinham de se tirar para o lado alguns paus, para não queimar as filhoses.
Eram horas de calor e os cestos e as bacias a transbordar iam-se arrumando ao pé da arca. Comíamos as filhoses mesmo quentes e estavam boas!»


















A minha mãe e a minha irmã a fazerem as filhoses.

No mesmo estudo, apresentei algumas das nossas receitas tradicionais, para que não as esqueçamos e sobretudo as continuemos a saborear.

Receita das filhoses, como a minha mãe (Maria da Luz Prata) as fazia e me explicou:
«Ingredientes: 5 kg de farinha de trigo, 2 dúzias de ovos, 1 copo de aguardente, 0,5 l de azeite, puré de um mogango, 1 pão em massa, água e sal.
Misturam-se os ovos, o azeite, o sal e o mogango, desfeito no passe-vite depois de cozido. Em seguida, adiciona-se pouco a pouco a farinha e o fermento, que é um pão em massa, e água morna, amassando sempre, até a massa estar boa. Então junta-se um copo de aguardente, amassa-se bem e deixa-se a fintar. Quando a massa estiver finta, tendem-se as filhoses no joelho, bem finas, e fritam-se na caldeira do azeite, ao lume.»
(Publicado em: Estudos de Castelo Branco, Julho de 2007, Nova Série, N.º 6, Direcção de António Salvado)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Os Enxidros

Em 1778, no âmbito do inventário dos bens concelhios, ordenado pelo poder central, foi feita a demarcação e confrontação dos Enxidros:

«Aos três dias do mês de Dezembro de mil setecentos e sessenta e oito, em esta vila de São Vicente da Beira, no sítio dos Enxidros, extramuros* da mesma, aonde eu vim e bem assim o Doutor Casimiro Barreto Ferrás de Vasconcellos, juiz de fora* da dita vila e deste tombo*, e bem assim o Licenciado Claudio Antonio Simoins, procurador* do mesmo tombo, e os louvados*, pelo dito ministro foi mandado aos mesmos que, debaixo do juramento que recebido tinham, sem ódio nem afeição de parte a parte, demarcassem e confrontassem esta ervagem* dos Enxidros, o que sendo por eles observado, acharam que principia a demarcação dos mesmos Enxidros no cimo dos Aldeões, partindo com o Vale de Cabra, em um canchal, partindo com Aldeões do Capitão-Mor* desta dita vila, Manoel Caetano de Morais Sarmento, e daí vem direito à estrada, que vem do lugar do Louriçal para esta dita vila, aonde se fez uma cruz em um penedo que se acha junto à estrada, da parte de baixo, entre o souto do dito Capitão-Mor Manoel Caetano de Morais Sarmentoe do Doutor Claudio Antonio Simois, procurador deste tombo, e daí vem toda a dita estrada de carro adiante até chegar aonde chamam o Chafariz de El-Rei e daí parte todo o cabeço acima, direito aonde chamam a Laje do Paço, e daí vai pelo Cabeço do Martinho, aonde se fez uma cruz em uns penedos redondos, que estão no souto* de Martinho da Costa, e daí vai direito ao cimo da barroca* do Reverendo Antonio Theodozio da vila de Alpedrinha, até chegar à terra do Capitão-Mor, donde se fez uma cruz em um canchal*, e do dito canchal vem pela barroca do Carvalhal Redondo direito à estrada que vem para o Vale de Pêro Lourenço até chegar ao Ribeiro de Dom Bento e daí vai o ribeiro abaixo até chegar à ribeira desta vila e daí para a ribeira da banda de além, pela barroca da capela que administra o Reverendo Padre Estevam e daí vai a mesma ladeira aonde vai uma parede entre o casal do Sargento-Mor* e de Vallentim Peres e daí vão correndo a mesma meia ladeira por cima do muro de Joam Antunes, direito à Barroca do Mau e da dita barroca vai a meia ladeira pela barroca adiante direito à barroca de Manoel Caetano, ao cimo dos castanheiros aonde chamam o Areal, e daí vai na mesma direitura a subir a barroca de Rita Caetana, aonde está uma barroca com uma fonte, e daí vai na mesma direitura a lomba adiante e finda ao chão* da capela que administra o Reverendo Padre Antonio Lopes de Carvalho.
E por esta maneira houve ele dito ministro esta medição por finda e acabada e de tudo mandou ele, dito ministro, fazer este termo, que assinou e louvados Costa Feyo e Manoel Leitam da Costa e procurador do concelho* Manoel Vas Rapozo e testemunha que presente estava, Francisco Duarte o mosso, e o procurador deste tombo e eu Joam Barata de Gouvea, escrivão que o escrevi. Ferrás de Vasconcellos. Claudio Antonio Simoins. Joam da Costa Feyo. Manoel Leitam da Costa. Francisco Duarte
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de S. Vicente da Beira, Tombo dos Bens do Concelho, Livro 1767-1785, Maço 11)



Glossário:
Barroca - Pequena depressão; sulco no terreno, feito pelas enxurradas.
Canchal - Rocha, pedregulho.
Capitão-Mor - Autoridade militar que chefiava as capitanias de ordenanças do concelho. As capitanias eram as circunscrições militares locais, encarregadas do treino militar de todos os homens dos 18 aos 60 anos, os ordenanças, e do recrutamento dos soldados para o exército do Reino. Em 1778, Manoel Caetano de Morais Sarmento já deixara o cargo, apesar de continuar a ser chamado por este titulo. O novo capitão-mor era então Francisco Caldeira Leitaõ de Britto Monis, avô do 1.º visconde da Borralha.
Chão - Propriedade agrícola de policultura intensiva, sobretudo para hortaliças e leguminosas. Normalmente, era terra de regadia.
Ervagem - Pastagem. Espaço baldio, onde crescem ervas espontâneas.
Extramuros - A vila de S. Vicente da Beira não tinha muralhas. Neste caso, a expressão designa um local fora da malha urbana.
Juiz de fora - Autoridade máxima do concelho, em representação do rei. Presidia à Câmara Municipal.
Louvados - Testemunhas
Procurador - É o representante de uma das partes. Neste caso, Claudio Antonio Simois representava os interesses do rei de Portugal.
Procurador do concelho - Manoel Vas Rapozo representava os interesses da população do concelho.
Sargento-Mor – Autoridade militar abaixo do capitão-mor que chefiava as capitanias de ordenanças do concelho. Em 1778, o sargento-mor era Joze Duarte Ribeiro do Casal da Serra, mas com propriedades na Vila, assim como em Tinalhas e no Freixial do Campo, de onde seria natural.
Souto - Mata de castanheiros.
Tombo - Inventário dos bens.