terça-feira, 30 de março de 2021

Castelo Branco, Cidade: 250 Anos

 

Os 250 anos de elevação de Castelo Branco a cidade (em 1771) foram assinalados com várias iniciativas, entre as quais a publicação deste livro de muitos autores: vários da cidade, dois de Alcains e um de cada freguesia do concelho. 

Fui convidado pela nossa Junta de Freguesia para escrever sobre nós. Tentei retribuir esta honra com um texto que nos dignificasse e penso que o consegui: na apresentação fui um dos autores destacados pelo apresentador (Dr.º João Ruivo) e a Paula Reis, do Louriçal, antiga presidente da Junta e cronista do Reconquista, escreveu no último número do jornal uma crónica a partir de ideias lançadas no meu texto, reforçando-as (a crónica intitula-se Gardunha 2021).

Só muito recentemente me apercebi da responsabilidade que carreguei aos ombros e por isso o que atrás deixei foram meros rebuçados que me deram alguma tranquilidade. Escrevi primeiro um texto histórico, mas após um dia de trabalho concluí que não era isso que nos interessava. O passado tinha de constar  para explicar o presente e projetar o futuro. O espaço era limitado e houve aspetos que ficaram necessariamente de fora. Mas penso que ficámos bem representados e que o texto reflete o que somos e mostra as nossas potencialidades.

O livro é uma coletânea de textos, a maioria muito bons. Estará certamente à venda na Biblioteca Municipal de Castelo Branco. Aqui vos deixo o texto que nos representa:


Viver com qualidade em São Vicente da Beira

A freguesia de São Vicente da Beira é terra de transição entre a Gardunha, o campo albicastrense e a charneca encravada no arco que a serra faz para sudoeste. Abundam os vestígios arqueológicos que comprovam a presença humana nos últimos três milénios antes de Cristo e nos séculos seguintes, até à fundação da nacionalidade. De realçar, o topónimo Paradanta (Pedra de anta), uma aldeia de montanha; o Castelo Velho, num penhasco alcantilado por cima do Louriçal, com quem o partilhamos; inúmeros vestígios arqueológicos romanos no sopé da serra, entre a Ocreza e a Ribeirinha, sobretudo na zona das Vinhas.

Conta a lenda que, em meados do século XII, os moçárabes desta zona ajudaram D. Afonso Henriques contra os muçulmanos, na batalha da Oles, limite entre São Vicente e o Louriçal. Em agradecimento, o rei autorizou-os a fundar uma povoação, a que deu o nome de São Vicente, ofertando-lhes algumas relíquias do santo, cujos restos mortais acabavam de chegar a Lisboa, resgatados do Promontório Sacro, ainda sob domínio dos infiéis.

Este território vicentino foi depois delimitado pelo foral concedido por D. Sancho I, em 1195. Na doação que seu pai fizera da Herdade da Cardosa à Ordem do Templo ficara de fora o território da margem direita da Ocreza e nele o rei traçou os limites do novo concelho: os cumes da Gardunha, a norte, a ribeira de Almaceda, a oeste, e a ribeira da Ocreza, a sul e a este.

Destes anos primordiais serão as ermidas de Santiago, junto à Partida, e da Senhora da Orada, já dentro da serra, junto à via romana.

Os anos finais da Idade Média e o alvorecer da Modernidade foram fecundos por aqui. Datam deste período a maioria dos templos da freguesia e um rico património artístico, quase na totalidade de caráter religioso.

Outro período marcante foi o século XVIII, que constituiu o culminar deste mundo antigo a que se convencionou chamar Antigo Regime. São Vicente da Beira tinha juiz de fora licenciado; era terra de chegada de um importante fluxo migratório com origem na zona interior do reino entre o Zêzere e o Douro; as filhas da elite local de médios lavradores e rendeiros casavam com os filhos de elites de outras zonas; a Vila tornou-se um dos principais polos industriais do atual concelho de Castelo Branco, beneficiando da ligação com a Real Fábrica de Panos da Covilhã.

Neste século XVIII, que também foi marcante para a vila de Castelo Branco, cuja elevação a cidade, em 1771, evocamos na passagem dos 250 anos, assistiu-se a um reforço da ação governativa. São Vicente da Beira tinha Castelo Branco como centro regional. A supervisão do concelho vicentino era feita pelo corregedor da Comarca, pelo provedor da Provedoria e pelo bispo da nova diocese, sediados em Castelo Branco. Pela nova cidade passava tudo o que ultrapassasse a esfera concelhia.

Em 1807-12, as Invasões Francesas foram o princípio do fim deste Antigo Regime, pela desorganização política, económica e social que trouxeram ao reino de Portugal. Em 1820, chegou o liberalismo, a que se opôs quase toda a elite política, económica e religiosa da região e consequentemente também a de São Vicente da Beira. No nosso caso de forma mais gravosa, pois a família dos Condes de São Vicente, grandes proprietários absentistas, integraram o exército miguelista, na guerra civil

Uma vez consolidado o liberalismo, os médios proprietários e rendeiros apossaram-se das terras comunais e compraram as da Igreja e dos proprietários absentistas, fortalecendo as emergentes casas agrícolas (visconde de Tinalhas, da Casa Cunha e da Casa Conde).

Mas o antigo mundo da autossuficiência agrícola e artesanal estava a mudar: a indústria recentrou-se na Covilhã e as grandes rotas comerciais passavam no campo, tal como mais tarde a linha do caminho de ferro. Por isso o concelho de São Vicente da Beira foi extinto em 1895, no contexto de uma reforma administrativa do reino.

Hipólito Raposo escreveu que a extinção foi a contento dos comerciantes de Castelo Branco e de facto parece que ficámos zangados por umas boas décadas, embora a cidade tivesse continuado a ser o nosso centro administrativo.

O dinamismo industrial dos anos 70 do século passado, no eixo Alcains-Castelo Branco, recentrou-nos a sul, num tempo de desaparecimento do mundo rural, que na Vila significou o fim das grandes casas agrícolas e o reencontro com nós próprios.

Estas últimas décadas têm sido de afirmação de uma nova identidade vicentina que ainda não sabemos muito bem como é (porque em constante construção). Deixo algumas ideias-força que nos definiram no passado e podem ajudar-nos a contruir o futuro.

A serra da Gardunha como unidade orgânica de plantas, bichos e homens, o habitat a que pertencemos, desde sempre, inscrito já no nosso código genético. Falta-nos um projeto integrador para as três freguesias serranas (Louriçal, São Vicente e Almaceda), em articulação com o que se faz na vertente norte, concelho do Fundão.

As albufeiras do Penedo Redondo, Pisco, Santa Águeda e no futuro talvez Barbaído, todas alimentadas na totalidade ou em parte pelas águas que escorrem da Gardunha, na nossa freguesia. Enriquecem-nos a fauna e a flora e constituirão um entrave à desertificação futura.

O Castelo Velho, a escassos metros da rota da Gardunha do Geoparque NaturTejo, é um património histórico e natural incontornável. Nunca estudado, continua a esconder os segredos da civilização castreja que ali floresceu e o papel que desempenhou durante a Reconquista, juntamente com os seus filhos, o Castelo Novo e a Torre do Louriçal.

O caminho de Santiago, percurso de ares e águas frescas e saudáveis. Seguia de Castelo Branco, por Cafede (ponte e ermida de Santiago), Freixial, em linha reta para o Mourelo, Partida (capela de Santiago), subindo para a Paradanta até à portela que corta a serra ao meio e é a sua travessia mais baixa, continuando depois pelo vale da ribeira das Ximassas até ao Castelejo, rumo a Compostela.

A ermida da Senhora da Orada, num recanto acolhedor da Gardunha, junto à estrada romano-medieval que seguia do campo para a Beira, local ideal para o viajante descansar e se refrescar, antes de subir para a Portela de São Vicente, hoje Alto da Portela. No século XVI, ainda o povo se juntava e ali vinha fazer novenas, proibidas pela Igreja. Alberga hoje o retábulo policromado da igreja do extinto convento das religiosas franciscanas, em adiantado estado de degradação. Nas imediações, são exploradas as águas Fonte da Fraga.

O património artístico gótico-manuelino e renascentista é outra das nossas potencialidades. Pinturas e esculturas integrarão o futuro museu de arte sacra, sendo algumas obras de proveniência estrangeira. A família Costa, daqui originária, que desempenhou o cargo de Armeiro-Mor do reino, nos séculos XVI a XVIII, detinha a comenda de S. Vicente da Beira da Ordem de Avis, cabendo-lhe administrar a Igreja. Foi a esse título que terá adquirido algumas destas obras de arte, assim como outras incrustadas nas paredes das capelas e de casas particulares.

A religiosidade popular, que tem como momentos altos as romarias de Santiago e da Senhora da Orada, a Semana Santa, a Procissão dos Terceiros e a festa do Santo Cristo.

A singularidade das nossas terras. Nas aldeias, habitações, templos, fontanários, fornos, e moinhos de um tempo que persiste na memória. As nossas aldeias de montanha, Vale de Figueira, Paradanta e Casal da Serra, tão em harmonia com a paisagem como as da Charneca (Tripeiro, Mourelo, Violeiro, Pereiros e Casal da Fraga). A seguinte frase do ti Meguel Jerolme diz tudo sobre as suas gentes: «Nunca te preocupes, filho. Aqui, na Charneca, há sempre uma mesa com qualquer coisa para comer e uma cama, se for preciso, nem que seja uma faixa de palha». E a Vila, a lembrar o urbanismo romano: a grande praça com o seu pelourinho manuelino, ladeada pela Igreja, Misericórdia e Casa da Câmara, e depois as ruas em quadrícula.

E a terminar, as nossas gentes, desde os mais ilustres, que se foram da lei da morte libertando, aos mais humildes, todos nos deixaram por herança este chão onde só queremos ser felizes.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de março de 2021

Os Médicos do Partido e outras medicinas

Viajar pelos registos paroquiais da freguesia tornou-se um hábito/prazer quase diário, principalmente pela quantidade de informação que nos dão sobre as gentes que fizeram estas terras que nós pisamos agora como se sempre tivessem sido assim.

Por estes dias tenho andado nos anos 20 do século XVII e uma das coisas que me despertou alguma curiosidade nos registos de batismo, foi a referência a Manuel António Falcão, referido como médico do partido, padrinho da criança batizada. No Google, num fórum de genealogia encontrei o seguinte:

«Caros,
Meu heptavô Manuel Antonio Falcão (nascido na Guarda) foi médico do partido de São Vicente da Beira. Seu filho, meu hexavô José de Mena Falcão, conforme indicado no "Inventário dos Documentos Relativos ao Brasil Existentes no Arquivo da Marinha de Ultramar", desistiu da sua pretensão ao partido da Praça da Colónia do Sacramento em carta datada de 21 de setembro de 1734.
Cordiais saudações
Marcello Borges»

Encontrei depois registos de batismo de vários filhos deste médico e de Joana Barata, natural de São Vicente, com quem se tinha casado em 1721. Na altura Manuel António Falcão já era viúvo de Brites Gonçalves, natural de Tinalhas, de quem tivera outros filhos, entre os quais o referido José de Mena Falcão.

Este registo do filho António, nascido em 20 de fevereiro de 1722, dá-nos informação importante sobre este médico. A mais interessante será talvez a de que era filho de Manuel Falcão, Prior duma igreja do Fundão, e mais tarde Deão da Sé da Guarda. A mãe era Maria Francisca, solteira, também natural do lugar do Fundão. E é interessante esta informação porque vem confirmar que a paternidade dos padres, na altura, era frequente e encarada e assumida com alguma naturalidade. Confirma também a ideia que temos de que os filhos dos padres eram pessoas que adquiriam um grau de instrução e estatuto social mais elevado do que o resto da população.

Sobre o papel destes médicos, um outro participante no referido fórum diz o seguinte:

«…antigamente, os cuidados de saúde eram assegurados pelos médicos municipais, também denominados facultativos do partido.
Constituíam competências dos facultativos, nos termos do disposto no artigo 125º do Código Administrativo, entre outras as seguintes:
- tratar gratuitamente os pobres, expostos, crianças desvalidas e abandonadas, presos;
- proceder à vacinação e revacinação sem distinção de classes;
- inspeccionar as meretrizes nos dispensários.
Os médicos municipais (facultativos do partido, ou simplesmente médicos do partido) eram providos em concurso público e estavam dependentes, em termos administrativos, do Administrador do Concelho.
Esta designação dos médicos municipais perdurou até à revisão do Código Administrativo (1936-1940).
O termo Partido, neste caso, assume um significado muito próximo de público. Isto porque também existia medicina privada e, tais médicos, eram designados por facultativos particulares.
Cumprimentos.
Júlio Sousa»

Pela descrição do trabalho realizado por estes médicos, parece que, de certa forma, foram os antecessores do atual SNS, pelo menos para os pobres. Os mais ricos recorriam aos médicos privados, que recebiam os clientes nos seus próprios consultórios.

Para além destes médicos, havia ainda os sangradores, que eram uma espécie de cirurgiões que não tinham qualquer tipo de formação, mas acreditavam que tinham um dom que podiam passar de pais para filhos. Em meados do século XIX, um dos sangradores identificados em São Vicente chamava-se José Patrício Leitão. Era de Alijó mas casou por cá em 1862. Mais tarde, o filho Luís Maria do Patrocínio herdou-lhe a profissão.

E quantos de nós não tivemos por primeiro dentista o barbeiro da terra? Lembro-me bem do Senhor Zé Fiambre … E os endireitas da Paradanta e do Casal da Serra que, como a água da Senhora da Orada, faziam autênticos milagres nos corpos de quem os procurava?

M.L. Ferreira

domingo, 21 de março de 2021

Travassos e o caso da gabardine

1. Sociedade curiosa, aquela em que nos criámos: as mulheres arrumadas em dois grupos, para simplificar, senhoras e plebeias – as primeiras (lembram-se?) D. Maria,  D. Zara,  D. Aldina, e as outras, a Lurdes, a Rosa, a Laura, a Etelvina, etc.; nas mais novas (é uma maneira de dizer) havia as meninas e as raparigas – Menina Maria de Jesus, Menina Nelita, Menina Isaura, Menina Belinha, e as outras, Celestes, Amálias, Joaquinas e um rosário de Marias.

Ainda em modo sociológico, mudando de género, uma amostra equivalente: o Menino Antoninho, o Menino Joãozinho, e os outros, digamos, a malta – o Baião, o Sanotes, algumas dinastias, como os Machanas e os Balaias, o Serralheiro, o Quina, o Coluna, o Aranha, o Estrelado, o Travassos, uma extensa coluna alcunhástica, que reivindicamos na lista do nosso melhor património.

2. Disciplina recente, todos sabemos, o marketing ensina-se nas universidades e anda por aí na nossa vida. Um manual da especialidade, que leva o título de Mercator, coleciona em Portugal 30 anos de sucesso em vendas.

Produtos, mercados, consumidores, comunicação são algumas coisas de que trata; diferenciação é um dos mandamentos do marketing. Do que se trata? Em termos muito simples: se pensarmos num produto, serviço ou empresa, diferenciação é a capacidade de ser percebido, pelos consumidores, como diferente dos concorrentes. Objectivamente, quem se diferencia é mais forte no mercado, tem maior probabilidade de sucesso.

3. Contemporâneos de Travassos, com ele aprendemos o poder do marketing.

Adolescente, para o baixo (estatura média-baixa, no padrão local), cabelo liso, para o magro, mas composto, fato completo com a qualidade possível, calça cingida às pernas ligeiramente arqueadas, Travassos usava por cima uma gabardine três-quartos branca.

Em S. Vicente não falhava um baile; num domingo, se não o vissem por ali, estava de certeza na localidade vizinha onde tivessem deitado foguetes de madrugada. De todo o rapazio, era um dos de maior sucesso em bailes e bailaricos fora da terra, noites inteiras de dança, sem notícia de uma “tampa”. Porquê esse registo invejável?

A memória, que tantas vezes nos engana, regista que foi o próprio a explicar; se não foi, dá no mesmo, o que conta é a lição: “Estão a ver isto?”, disse, apontando a gabardine. “Em qualquer lado, sou o único com uma peça assim, desta cor.”

Registámos, mestre, um caso prático de diferenciação!

Sebastião Baldaque, Março 2021

quarta-feira, 17 de março de 2021

Santa Casa da Misericórdia

N O T Í C I A S

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA

DE

SÃO VICENTE DA BEIRA

Ensaios para criação do Boletim Mensal da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira,

para serem publicados no facebook e no blog “Dos Enxidros”.

Redação: Edifício do Lar – Largo de S Sebastião

6005 – 270 S. Vicente da Beira

Editorial

Tomaram posse no dia 9 de janeiro de 2021, os novos Corpos Sociais da Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente da Beira, com efeitos retrotraídos a 01 do mesmo mês e ano.

Fazem parte desses Órgãos as seguintes pessoas:

Mesa da Assembleia Geral: José Manuel dos Santos, Anabela Matias e Cassiano Luzio.

Mesa Administrativa: João Maria dos Santos (Provedor), Adelino Costa, António Ribeiro, João Candeias, Pe. José Manuel Figueiredo e Pedro Duarte.

Conselho Fiscal: Francisco Gramunha Marques, José Barroso, Chantal Martins, António Rodrigues Inês e João Maria Craveiro.

É sabido, desde os bancos de escola, que a Misericórdia de Lisboa foi fundada pela rainha D. Leonor, mulher de D. João II, o Príncipe Perfeito, no ano de 1498. A partir dessa fundação, as Misericórdias espalharam-se pelo País, entre elas a nossa! Os Hospitais das Misericórdias foram, pode dizer-se, o melhor e mais próximo serviço de cuidados de saúde em Portugal, antes do atual Serviço Nacional de Saúde do Estado.        

A Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente da Beira (SCMSVB), nos termos do art.º 1º. do seu “COMPROMISSO” — designação que, ao abrigo do art.º 68, nº. 2, do Dec. Lei 172-A/2014 de 14 de novembro, se dá aos seus estatutos — veio a ser fundada em 1577.

Nesse “COMPROMISSO” se estabelecem, nomeadamente, os princípios pelos quais se rege e os objetivos e fins a alcançar. 

A SCMSVB, é uma Associação (Irmandade de Fiéis), reconhecida pelo Direito Canónico, vai para 5 séculos, tem por fim a prática das Catorze Obras de Misericórdia, tanto Corporais como Espirituais.

Tem também reconhecida a sua personalidade jurídica pelo Direito Civil, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), nos termos das leis aplicáveis.

Acaba de ser realizada a Assembleia Geral (AG) Ordinária da Irmandade (dia 14 de março último), onde foi apresentada a situação geral da Instituição, mormente a financeira, onde, naturalmente, avulta o Lar de Idosos, com o enorme volume de despesas que implica e a que vem sendo cada vez mais difícil fazer frente, mesmo com receitas próprias, subsídios do Estado e donativos particulares!

Para não alongar demasiado o presente texto, apresentaremos, em breve, alguns dados mais concretos sobre esta matéria.

Não só a Mesa Administrativa que dirige os negócios gerais da Irmandade, mas também os outros Órgãos, apresentaram-se nesta AG com muita disponibilidade e grande disposição para enfrentar os problemas, tendo-se auto proposto o lema: “Estamos todos empenhados e assumimos este nosso compromisso com trabalho, dedicação e profissionalismo”. 

Vamos, pois, deixá-los trabalhar!

No entanto, cremos que na Vila de S. Vicente da Beira e, podemos dizê-lo, no Povo Português ou, indo até mais longe, no Género Humano, existe a vontade intrínseca da solidariedade para com o próximo. Manifestações dessa solidariedade não faltam por todo o lado.

A este respeito, e no que concerne à nossa Santa Casa, os novos Corpos Sociais, pese embora estejam ainda no início do seu mandato, tiveram já oportunidade de comprovar a grande generosidade das Pessoas e das Empresas. Porém, ainda restam muitos que dizem que, nas democracias modernas, não é necessário ser-se solidário para com o outro, porque o Estado já tem preocupações com os mais desfavorecidos.

Nada mais errado! Todos sabemos que nunca será possível satisfazer as necessidades de todas as pessoas, desde logo, as que sofrem, as que estão na fase final das suas vidas e, entre elas, as que não dispõe de meios financeiros suficientes para proverem ao mínimo das suas necessidades e bem-estar pessoal.

Bem sabemos das baixas reformas que se praticam em Portugal. Dos milhares de cidadãos e cidadãs portuguesas que recebem pensões na casa dos 200 ou 300 euros, alguns dos quais no nosso próprio Lar de Idosos, que não são comparticipados pela Segurança Social e em que a ajuda das famílias é também precária e insuficiente.

Dramas de sempre e de todos os dias!

Está a aproximar-se a entrega das declarações de IRS junto da Autoridade Tributária (AT). Queremos, pois, apelar à boa vontade das pessoas em geral e dos Vicentinos e Familiares dos Idosos do nosso Lar em particular, para que não deixem passar esta oportunidade de ajuda.

Publicamos em anexo o modo de “Consignação de IRS” para quem queira ajudar-nos

O nosso obrigado e até breve.

Nota: Este texto pode ser partilhado noutras páginas do facebook ou noutros blogs.

JOSÉ BARROSO 

………

CONSIGNAÇÃO DO IRS

Na declaração do IRS, existe a possibilidade, sem aumento de encargos para o contribuinte, autorizar que 0,5% do valor liquidado do seu IRS possa reverter a favor de uma Instituição de Solidariedade Social (IPSS).

Assim, vimos apelar para que não deixe passar esta oportunidade de ajuda à Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente da Beira.

A adesão à campanha de consignação de IRS é um meio de garantir um contributo e apoio a esta obra tão meritória e nobre e a obtenção de meios para alcançar os seus objetivos.

Para o efeito, deverá no Modelo 3, assinalar no Quadro 11, com uma cruz no Campo 1101 (Instituição de Solidariedade Social e Utilidade Pública) e indicar o NIPC  501 135 618  correspondente a esta Santa Casa de Misericórdia.

Esta Instituição agradece a solidariedade e apela a todos que divulguem esta iniciativa junto dos familiares e amigos.

A todos os que contribuíram no passado renovamos os nossos agradecimentos.

AM/JB.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Francisco Marques Candeias

Não foram encontrados quaisquer documentos, nomeadamente o registo de batismo, que pudessem acrescentar alguma informação sobre Francisco Marques Candeias. Sabe-se apenas o que consta do seu boletim individual do CEP:

a)   Nasceu em São Vicente da Beira e era filho de António Marques Candeias e Manuela da Circuncisão;

b)   Já era órfão de pai, quando embarcou para França, e a mãe residia em Castelo Branco;

c)    Embarcou em Lisboa, no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 1ª Brigada de Infantaria, 2.º Batalhão, do Regimento de Infantaria 21. Tinha o posto de soldado corneteiro, com o nº 499 e a chapa de identidade nº 8751;

d)   Baixou à Ambulância n.º 3, em 19 de abril de 1917;

a)   Julgado incapaz para qualquer serviço e de angariar os meios de sobrevivência, em sessão de 28 de abril de 1917, foi evacuado para Portugal.



Não há registo da data de chegada de Francisco Marques Candeias a Lisboa, nem foi encontrada a sua folha de matrícula, pelo que é possível que tenha falecido ainda antes ou logo após o seu regresso a Portugal, e nem tenha regressado à terra.


Maria Libânia Ferreira

Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sexta-feira, 12 de março de 2021

Bota-de-elástico

 Passou esta semana, no RACAB, o meu Podcast sobre esta expressão. Aqui vo-la deixo, juntamente com esta imagem das botas-de-elástico (este é um modelo atual, mas seriam parecidas).

Bota-de-elástico

Esta é uma expressão com História.

As botas-de-elástico eram curtas e tinham elásticos dos lados dos canos, para melhor se adaptarem aos pés. Foram usadas até meados do século XX, especialmente pelos mais idosos. Por serem associadas às pessoas de mais idade e por terem passado de moda, passaram a simbolizar o que estivesse desatualizado e ultrapassado.

Por isso, a expressão bota-de-elástico significa alguém conservador, resistente a mudanças.

António de Oliveira Salazar, que liderou Portugal entre 1932 e 1968, como Presidente do Conselho de Ministros e chefe do partido único, a União Nacional, usava com frequência este tipo de calçado e por isso ganhou a alcunha de O Botas.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 8 de março de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

Francisco Maria Tavares


Francisco Maria Tavares nasceu na cidade da Covilhã, a 5 de janeiro de 1892. Era filho de José Tavares, natural de Lisboa, e de Jacinta Barata, de Alcains. Terá vivido naquela cidade até à idade adulta.

Foi mobilizado para a Grande Guerra em 1917 e embarcou no dia 21 de janeiro, integrando a 1.ª Bateria de Infantaria, 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21.

O seu boletim individual do CEP refere o seguinte:

a)   Colocado na 1.ª Brigada de Infantaria, em 13 de setembro de 1917;

b)   Baixa ao hospital, em 31 de outubro; alta a 6 de novembro;

c)    Baixa ao Hospital n.º 35, em 30 de janeiro de 1918, e evacuado para o Hospital n.º 32, a 10 de fevereiro;

d)   Julgado incapaz para todo o serviço, em sessão de 4 de março; foi repatriado a bordo do navio inglês Glingom Castle;

e)   Desembarcou em Lisboa, no dia 10 de março de 1918.

Os ferimentos que incapacitaram Francisco Tavares terão resultado da queda de um comboio em andamento. Nunca recuperou totalmente e ficou a coxear para o resto da vida.

Família:

Antes de partir para França, Francisco Maria Tavares já tinha casado, em 1912, com Maria dos Santos dos Reis. Era uns anos mais velha que ele e dizem que muito bonita e bondosa; sempre pronta a ajudar quem precisasse. Era também uma cozinheira de mão cheia. Contam que uma vez em que o rei D. Carlos veio à Covilhã, foi ela uma das mulheres que prepararam o banquete que lhe foi servido.

Estas duas qualidades trouxeram-lhe fama e terá sido a razão principal para o Padre José Antunes dos Reis, natural do Sobral do Campo e possivelmente seu parente, apoiar a vinda do casal para São Vicente da Beira, tendo-os feito herdeiros de uma casa que possuía junto à capela de São Sebastião. Foi aí que viveram grande parte das suas vidas. Acabaram por vendê-la ao senhor Eduardo Cardoso, no final da década de cinquenta do século passado, e mudaram-se para uma casa na rua Dona Úrsula.

Francisco Tavares foi um dos grandes comerciantes de São Vicente, com uma das melhores mercearias daqueles tempos, o que, juntamente com a pensão vitalícia que lhe foi atribuída por ferimentos de guerra, lhe permitiu ter uma vida desafogada e gozar de algum prestígio social.

Foi secretário da Junta de Freguesia e exerceu também os cargos de mesário e secretário da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira.

Maria dos Santos faleceu em 1966 e, passados uns anos, já bastante debilitado, Francisco Tavares foi viver para casa de uma das sobrinhas, em Castelo Branco. Faleceu no dia 23 de Setembro de 1973 e foi enterrado no cemitério daquela cidade. Tinha 81 anos de idade. Não deixou descendência.

Maria Libânia Ferreira

Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

segunda-feira, 1 de março de 2021

Os borborinhos

Requisitei este livrinho na biblioteca da minha escola, a fim de fazer um podcast para a Rádio Castelo Branco, rubrica "História num Minuto", sem saber que ia encontrar algo sobre a nossa terra.

Aqui vos deixo as duas partes do livro onde estão as recolhas realizadas em São Vicente da Beira, pela minha sobrinha Adélia dos Santos, e texto do podcast (não consigo publicar um ficheiro áudio), que foi transmitido pelo RACAB na semana passada.


A investigadora Adelaide Salvado publicou, no ano 2000, um livro intitulado Remoinhos, Ventos e Tempos da Beira, a partir de recolhas realizadas pelos alunos da Escola Superior de Educação.

Nele escreveu sobre o clima das regiões do interior da Beira: «...impedida a entrada das brisas marítimas pelas cadeias montanhosas a ação moderadora das águas do Mar não exerce o seu papel de fator equilibrador das temperaturas do ar. Deste modo, a temperatura atmosférica atinge, no verão, elevados valores ocasionando uma descida acentuada da pressão. O ar quente e leve sobe, então, em rápidos turbilhões para as altas camadas da atmosfera.

A rápida subida o ar levanta folhas e ramos e arrasta a poeira dos campos e dos caminhos.

Nesta atmosfera de elementos em fúria, de céu subitamente toldado e enegrecido e envolto numa temperatura escaldante, temores ancestrais brotam do coração dos homens.»

Os antigos chamavam-lhes remoinhos, esponjinhos, borborinhos, vulvurinhos ou borborinheira. Acreditavam que eram manifestações do diabo e contra ele apelavam ao Senhor e à Senhora do Carmo, a São Bento, ao Menino Jesus, a Deus Pai, ao Senhor da Cruz, à Virgem Maria, a São Jerónimo e à Santa Bárbara.

No Vale da Sertã, os antigos diziam: Vai t´imbora porco sujo, vai à missa.

E em Castelo Branco: Foge, diabo da cruz, que lá vem o Menino Jesus, com uma faquinha amarela, para te cortar a goela.

No Ferro eram mais moderados e mandavam o borborinho para o mar largo, a medir areia com alqueires sem fundo.

José Teodoro Prata