segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Legislativas 2022


Mais uma vez, os resultados da nossa freguesia coincidiram com os resultados nacionais.

Aqui os deixo, sendo o primeiro valor o nacional, o segundo o concelhio (C. Branco) e o terceiro o local (SVB)

PS - 41,68%; 44,64%; 46,75%

PSD - 27,80%; 27,78%; 33,39%

CH - 7,15%; 10,93%; 5,23%%

IL - 4,98%; 2,97%; 0,54%

BE - 4,46%; 4,48%; 5,42%

CDU - 4,39%; 2,51%; 1,26%

CDS - 1,61%; 1,24%; 1,62%

PAN - 1,53%; 1,15%; 0,54%

L - 1,28%; 1.03%;0.54%

De notar que a nossa freguesia foi aquela em que o Chega obteve a mais baixa percentagem no concelho de Castelo Branco. Algo de que nos devemos orgulhar, pois significa um sinal de maturidade das nossas gentes, que não se deixam levar por campanhas baseadas na ignorância e na intolerância..

José Teodoro Prata

domingo, 30 de janeiro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 João Nunes 

João Nunes nasceu em São Vicente da Beira, no dia 25 de junho de 1894. Era filho de José Nunes e Maria Augusta, jornaleiros.

Partiu para França, no dia 21 de Agosto de 1917, integrando o Corpo de Artilharia Pesada (CAP). Pertencia ao 2.º Grupo, 4.ª Bateria, e tinha o posto de soldado com o n.º 68 e a placa de identidade n.º 38516. Desembarcou em Brest, a 25 de agosto.

No seu boletim individual do CEP consta ainda o seguinte:

a)    Em 11 de setembro de 1917 seguiu para Inglaterra, onde desembarcou no dia 12;

b)    Punido com 4 guardas em 13 de outubro (não é referido o motivo desta punição);

c)    Regressou a França em 2 de março de 2018;

d)    Em 15 de Outubro de 1918 passou a integrar a 9.ª Bateria do Batalhão de Artilharia a Pé, por ter sido extinto o Corpo de Artilharia Pesada;

e)    Regressou a Portugal no dia 15 de abril de 1919, a bordo do navio Miller.


Condecorações:

Medalha comemorativa de expedição a França, pela Ordem de Serviço n.º 58, de 26/2/1919.

Família:

João Nunes casou com Rosalina Moreira, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, em 5 de Maio de 1925 e tiveram dois filhos: Carlos e Isabel. O casal residiu sempre em Lisboa, onde João Nunes esteve colocado como militar na G.N.R. Durante alguns anos ainda mantiveram um contacto regular com a terra, mas, à medida que os familiares mais próximos foram morrendo, as visitas tornaram-se mais raras, pelo que já não há muitas memórias deles em São Vicente.

João Nunes faleceu na freguesia de Alcântara no dia 18 de Dezembro de 1975. Tinha 81 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sábado, 22 de janeiro de 2022

O Adro da Igreja

 

Fechou-se o ciclo do reordenamento do adro da nossa Igreja Matriz. e penso que de uma forma muito digna.

Após o arranjo do espaço que ficou vazio com a demolição da casa do Coronel e dos herdeiros do Canhoto, junto ao adro da Igreja, escreveu-se aqui, pela pena do José Barroso, que era o momento de homenagear o nosso fundador, o rei D. Sancho I. Avançou-se a ideia  de uma estátua de D. Sancho e/ou da atribuição do seu nome ao novo espaço.

Havia o problema da dificuldade financeira em pagar uma estátua que dignificasse o espaço e ainda o problema de dar nome a um espaço que já o tinha: Adro da Igreja.

A pintura mural, no recanto em frente ao Zé Pasteleiro, veio resolver, e bem, estes dois problemas: homenageámos o rei que concedeu o primeiro foral a São Vicente sem grandes despesas e sem mudar o nome de um dos espaços mais nobres da nossa Vila.

Parabéns aos membros da Junta de Freguesia que recentemente cessou funções.


José Teodoro Prata

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A criação do mercado mensal

A Torre do Tombo disponibilizou recentemente uma série de documentação onde se escreve grande parte da história de Portugal das primeiras duas décadas do século XIX. Há também muitos documentos relativos a São Vicente da Beira. Achei este, que autoriza a criação de um mercado franco no terceiro domingo de cada mês, muito importante para a economia da nossa terra.


Apresentação, em português atual, de parte do texto do documento acima apresentado.

Copia de uma provisão do Supremo Tribunal do Desembargo do Paço, por que Sua Alteza Real fez mercê a esta vila de São Vicente da Beira de poder fazer um mercado franco nos terceiros domingos de cada mês.

Dom João, por graça de Deus Príncipe Regente de Portugal e dos Algarves d´Aquém e d´Além Mar em África da Guiné, faço saber que o Procuradores do Povo da vila de São Vicente da Beira me representaram em sua petição que não havendo naquela vila e ainda mesmo nas vizinhas em distância de muitas léguas um mercado franco para sortimento dos habitantes da mesma vila, pretendiam os suplicantes que eu lhes concedesse um mercado franco no terceiro domingo de cada mês e que para esse efeito lhe mandasse passar provisão. Visto seu requerimento, a informação que se houve pelo Provedor da Comarca de Castelo Branco, ouvidos os oficiais da Câmara, nobreza e povo respetivo, que não impugnaram pela utilidade que resultava ao povo daquela vila o estabelecimento da feira pela escassez de mantimentos e a falta de meios da maior parte dos moradores daquela devastada província, que não deixam fazer-lhes provimentos, sendo que a situação da dita vila ficava remota e longe das mais que têm mercados, recebendo com a concessão da graça recebida grande proveito aqueles povos.

(…)

Cumpra-se e registe-se nos livros da Câmara desta vila. São Vicente da Beira, o primeiro de junho de mil oitocentos e treze. Carvalho

(…)

Bernardo António Robles


Pensei introduzir o documento com algumas memórias do tempo em que a nossa Praça ou o largo da Fonte Velha eram um mundo maravilhoso de animação em dias de feira ou mercado, mas lembrei-me dum texto aqui publicado há alguns anos e achei que não conseguia fazer melhor que o nosso amigo Ernesto. Vale a pena voltar a ele.



Nos anos cinquenta, além dos mercados mensais que ainda hoje se fazem, havia também duas grandes feiras em S. Vicente da Beira. Eram a feira de Janeiro como era conhecida, pendente da Festa de São Vicente (22 de Janeiro), e a feira de Setembro que coincidia com as Festas de Verão no terceiro Domingo desse mês.
Eram feiras de grande nomeada que atraíam muita gente das redondezas e em  que além dos tendeiros normais  também havia gente do povo a vender. Eram os agricultores que vinham vender ou comprar gado; esses agricultores vendiam também os produtos das suas colheitas tais com o feijão pequeno, o feijão grande, o grão, os alhos, as cebolas etc.
Vinha o cesteiro que enquanto vendia uns cestos ia fazendo outros. Os oleiros vinham com as suas carroças carregadas de talhas, alguidares, cântaros e cântaras, caçarolas, tachos etc.
Havia também os quinteiros que vinham vender os leitões galinhas e pitos que lhe sobravam e que muitas vezes trocavam por produtos que faziam falta.
Para a cachopada era dia de festa. Lembro-me que numa feira de Setembro o meu pai me comprou uns sapatos muito bonitos que iriam servir para aquelas festas e por aí adiante. Com o entusiasmo do dia achei que devia estrear logo os sapatos e fui jogar à bola. À noite o meu pai deu-me um jeito na roupa. Bem o merecia. Hoje seria violência doméstica!
Noutra vez, deu-me vinte e cinco tostões (uma fortuna), para gastar na feira e nas festas. Com a moeda na mão, fui direitinho  à taberna da Viúva e gastei tudo em amendoins. Fiz a festa toda logo nesse sábado.
Numa dessas feiras, uma velhota foi vender um leitãozito muito enfezadito  que andava a criar.
Sentou-se na primeira escada do balcão da cadeia com o animal ao lado, na esperança de o conseguir impingir. Era no tempo da miséria e muita gente não tinha dinheiro para comprar ou mandar fazer roupa interior e por isso simplesmente não usava.
A  velhinha era pobre e, ao sentar-se, ficou descomposta. Passaram então dois rapazes já espigadotes e um deles, vendo a velha naquele preparo, vira-se para ela e pergunta:
- Oh Tiazinha, quanto é que vale o seu arrepiado?
A velha,  muito desempenada, olha para o rapaz com  má cara e responde-lhe:
- Arrepiédo não,  que já hoje mamou duas caldeiradas!

E.H.

Maria Libânia Ferreira 
e José Teodoro Prata

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 João Fernandes

João Fernandes nasceu em São Vicente da Beira, no dia 3 de dezembro de 1894. Era filho de José Fernandes, jornaleiro, e de Maria do Patrocínio, moradores na rua da Igreja.

Alistou-se em Castelo Branco, no dia 9 de julho de 1914, como recrutado, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em 12 de janeiro de 1915. De acordo com a sua Folha de Matrícula, era analfabeto e jornaleiro (esta informação poderá não ser exato, uma vez que foi promovido a Cabo, o que normalmente só acontecia quando os militares sabiam ler e escrever). Foi vacinado.

Fazendo parte do CEP, embarcou para França no dia 18 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia, 2º Batalhão, do 2.º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado, com o n.º 331 e a placa de identidade n.º 9903.

 

Do seu boletim individual e folha de matrícula militar constam as seguintes ocorrências:

a)    Baixa ao hospital em 16 de março de 1917; alta a 19 do mesmo mês;

b)    Promovido a 2.º Cabo, em agosto de 1917, e a 1.º Cabo, a novembro do mesmo ano;

c)    Punido com seis dias de detenção, em outubro de 1917, por ter faltado à instrução, no dia 28 do mês anterior;

d)    Colocado no 6.º Grupo de Metralhadoras, em janeiro de 1918, onde ficou com o n.º 76;

e)    Punido com cinco dias de detenção, em 18 de maio de 1918, por se ter afastado do local de trabalhos sem autorização;

f)     Licença de campanha por 53 dias, desde 15 de julho de 1918.

g)    Regressou a Portugal em Outubro de 1918, tendo desembarcado em Lisboa no dia 4 desse mês.

Condecorações:

  • Medalha Militar comemorativa com a legenda: França 1917-1918


Após o regresso a Portugal, João Fernandes veio residir para São Vicente da Beira, onde morou até 1926, altura em que transferiu a residência para a rua Vieira da Silva, nº 32, na freguesia de Alcântara, em Lisboa. A partir desse ano, não foi possível obter qualquer informação sobre João Fernandes, nomeadamente um possível casamento e descendência, ou a data e local da sua morte.


Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

domingo, 9 de janeiro de 2022

Sanvicentinos na Índia Portuguesa

 


Estes versos foram publicados no jornal “Pelourinho” de maio de 1961. Passados poucos meses, no dia 19 de dezembro, pela recusa teimosa de Portugal em negociar as condições de transição pacífica propostas por Nehru, a União Indiana invadia o território português na Índia.

Mesmo sendo evidente a desproporção de meios, em homens e armamento, Salazar, na desumanidade própria dos ditadores que lhe era tão comum em muitas decisões, deu ordens para que as nossas tropas resistissem até à morte do último soldado. Mas o general Vassalo e Silva, governador do território na altura, teve a coragem de desobedecer, e rendeu-se ao fim de algumas horas de combate, já com várias dezenas de militares caídos de ambos os lados.

Dos portugueses que escaparam à morte, algumas centenas foram feitos prisioneiros e sujeitos a trabalhos forçados durante meses. Entre eles estava o António Duarte Pedro que, sobre esse tempo, pouco consegue dizer; mas a pergunta «Viste A Ponte do Rio Kwai? Então podes avaliar o que nós lá passámos. Dizem que foi tal e qual.» é bem clara sobre os tormentos por que passou.

Para além de muitas memórias sombrias, talvez lhe venha também desse tempo de guerra aquele assobio melodioso que nos abranda o passo quando lhe passamos à porta. Quem sabe se é o seu jeito de espantar os fantasmas quando teimam em assombrar-lhe a alma…

M. L. Ferreira

Nota: O Albertino (Albertino Justino) referido nos versos do António Pedro já faleceu. O Alfredo (Alfredo da Silva Lobo) vive em Lisboa, mas ainda volta ao Casal da Fraga de vez em quando.

Não consegui confirmar se também foram feitos prisioneiros, mas penso que sim.