sábado, 30 de abril de 2016

Dia da Mãe

A Mãe, por Miguel Torga
Introdução
Para celebrar todas as Mães, lembrei-me deste poema do Miguel Torga, um dos grandes poetas deste país. Foi também contista, romancista, dramaturgo e ensaísta. É outro daqueles escritores com quem mais me identifico, já que era um homem ligado à terra, o que diz (ou devia dizer) muito a quantos nascem no interior de Portugal, mais perto da montanha, das plantas e dos ribeiros! O escritor era médico em Coimbra, onde estudou e onde ainda tive o privilégio de o conhecer em vida.
Sempre fez questão de celebrar a sua origem rústica de transmontano. Prova disso é que tendo, pelo batismo, o nome de Adolfo Rocha, veio a adotar, enquanto homem de letras, o nome de Miguel Torga. E, como se sabe, torga, é a raiz da urze com que se fazia o carvão. O que diz bem da intenção de não ser apenas português por ter nascido em Portugal, como ter no solo pátrio mergulhadas as suas raízes. E fê-lo, de maneira emblemática, através de uma planta (dita) pouco nobre. O que também revela a sua humildade e vontade de continuar, simbolicamente, unido às montanhas da sua aldeia, onde ia de tempos a tempos, matar saudades e até caçar.     
Homem, portanto, de grande apego à ruralidade que se deixava entrever, diz quem com ele privou, nos seus modos e até – Oh! Natureza! – na sua figura telúrica de camponês, somos depois confrontados por uma alma, uma sensibilidade e uma inteligência que surpreende, atestadas pela sua poesia e escritos em geral.
Fiquem, então, com este extraordinário poema à Mãe, no momento em que ela lhe faltou para sempre.
José Barroso
Mãe
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu, 
Que ficaste insensível e gelada? 
Que todo o teu perfil se endureceu 
Numa linha severa e desenhada? 


Como as estátuas, que são gente nossa 
Cansada de palavras e ternura, 
Assim tu me pareces no teu leito. 
Presença cinzelada em pedra dura, 
Que não tem coração dentro do peito.



Chamo aos gritos por ti — não me respondes. 
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. 
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes 
Por detrás do terror deste vazio. 



Mãe: 
Abre os olhos ao menos, diz que sim! 
Diz que me vês ainda, que me queres. 
Que és a eterna mulher entre as mulheres. 
Que nem a morte te afastou de mim! 

Miguel Torga, in 'Diário IV'

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Demografia (e não só)

Queixava-se há tempos o Zé Barroso de, no blogue, não haver ninguém a dar notícias cá da terra. Referia-se nomeadamente à morte de conterrâneos, da qual tem muitas vezes conhecimento apenas através da Reconquista. Tem ele toda a razão; mas quem é que se acha com coragem de falar da morte de alguém e, por consequência, da morte anunciada da nossa terra?
            Pelo censo de 2011 havia na Freguesia 1259 habitantes. De lá para cá os nascimentos são cada vez menos: um ou dois por ano. Os óbitos até cortam o coração: no ano passado foram trinta e oito e este ano também já foram bastantes (só na semana passada foram três no mesmo dia). As contas não são assim tão simples, mas é bom de ver que, se a situação não se inverter, dentro de pouco mais de três década, pouco restará da freguesia. 
            Hoje estamos todos tristes, porque os sinos dobraram pelo senhor José Matias. Teria muitos defeitos como todos nós, mas em criança ouvia-lhe chamar pai, e à mulher, Maria do Céu, mãe dos pobres. Acho que na altura não percebia muito bem a razão de ser desta qualificação, mas na última conversa que tive com ele, há cerca de um mês, compreendi finalmente.
            Entre várias coisas que contou do seu percurso de vida, nem sempre fácil, falou-me duma promessa que tinha feito caso conseguisse vencer as dificuldades em que se encontrava em determinado momento, e que passava por dar aos pobres um determinado montante em sacas de farinha. Passados anos, quando sentiu que estava em condições de cumprir a promessa, aconselhou-se com o confessor que o terá convencido a mudar o alvo da sua generosidade. Um pouco contrafeito aceitou a proposta, mas quando chegou a casa desabafou com a mulher que também não gostou nada do novo acordo. Para tentar remediar a situação, a Senhora Maria do Céu prometeu que dali para a frente havia de confortar a família de todas as pessoas que morressem com uma panela de canja quentinha na noite do velório. Cumpriu enquanto pôde, e quando adoeceu foi o marido e os filhos que continuaram a cumprir a promessa até ao fim da vida dela.
            Há casais assim, que foram feitos mesmo um para o outro, e, se o Céu existe, já estão de novo juntos. Nós é que hoje nos sentimos todos um pouco mais pobres…


M. L. Ferreira 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Os Gama

Recebi duas mensagens, via e-mail, de Leonor Gama, uma estudiosa da família Gama nesta nossa região. A sua mensagem veio na sequência da minha publicação, neste blogue, sobre a guerrilha da Enxabarda (Invasões Francesas 7).
Porque sei que há pessoas interessadas no assunto, nomeadamente na Partida (sem falar no nosso Pedro Inácio Gama), pedi autorização e aqui deixo as informações que trocámos. A minha parte está em itálico.
Relembro que a mãe de Hipólito Raposo, Maria Adelaide Gama, era natural de Janeiro de Cima.

Sou descendente dos Gama de Maxial da Ladeira e tenho estado a pesquisar sobre a família, tendo-me deparado com a história das invasões francesas. Depois de pesquisar, cheguei à conclusão que existem contradições na tradição oral que gostaria de lhe expor e confrontar com os dados que tem.

Refere que a tradição oral indica Manuel Joaquim Gama como o estratega do ataque aos franceses. Manuel Joaquim Gama nasceu em 1801 teria 10 anos em 1811, não podendo ser o estratega que a tradição oral refere. E, de facto, ele viveu em Bogas de Baixo, ao contrário dos restantes Gama, mas a sua mulher, Rosália dos Santos, era de Bogas de Baixo e a sua casa seria, provavelmente, de seus pais, a qual herdou, beneficiando Manuel Joaquim Gama, enquanto seu marido. Manuel Joaquim Gama foi o primeiro da família com esse nome, tendo havido outro, seu filho, nascido em 1835.

Mas a tradição oral refere sempre, segundo tenho lido, o nome Manuel e o apelido Gama. Essa é a única constante em todos os relatos.

Todos os Gama do Maxial descendem de Maria Martins da Gama, natural de Rochas de Cima, dos "da Gama" de Almaceda, que casou com Manoel Gonçalves Branco que adotou o apelido Gama, de sua mulher. O casal teve cinco filhos, Maria Teresa, Domingos, Ana, João e Manuel, todos nascidos entre 1752 e 1773 (aproximadamente).

Assim sendo, a tradição confrontada com os factos parece remeter-nos para Manuel Martins Gama, nascido cerca de 1773 e que teria sensivelmente 38 anos de idade na altura da batalha.  

Por alguma razão, a informação vai sendo deturpada e um Manuel Joaquim Gama, excessivamente jovem na época, passa a ser apontado no séc. XX como o "estratega".

Dizem na tradição oral que esse Manuel Gama teria tido um filho que casou em Janeiro de Cima, o que nunca aconteceu, pois todos os Gama com o nome João se casaram em Bogas de Baixo, embora um deles se tenha casado com uma mulher natural de Janeiro de Cima, precisamente o irmão de Manuel Gama. O pai de ambos, Manuel Martins Branco, nascido em 1732, seria demasiado velho para ser o "estratega", para além de que o apelido Gama que usava não era seu, como já referi, era de sua mulher.

Tenho andado a fazer o levantamento dos registos paroquiais da freguesia de São Vicente da Beira, cerca de 1800, e têm-me aparecido muitos Gamas da freguesia de Almaceda a casar na freguesia de São Vicente. Por eles já concluíra que a informação do professor Carlos Gama e que publiquei neste blogue de que todos os Gamas da região descendiam do Gama que comandara a guerrilha, casado após as Invasões, estava errada, pois encontrei Gamas de Almaceda anteriores à invasão.

Ainda estou em fase de pesquisa e à medida que for obtendo informações posso enviar-lhe, se desejar. De facto, os Gama do Maxial parecem descender todos de Maria Martins da Gama, nascida em Rochas de cima em 1733 e casada com Manoel Gonçalves Branco, natural do Maxial, nascido em 1732; este último acabaria por ser conhecido por Manoel Gama. Seriam eles os pais do Manoel Gama, que penso ter sido o estratega do Maxial.

Há uma tradição que fala em dois irmãos e de que um teria roubado as moedas de ouro ao outro. Não encontrei nenhuma evidência, tão pouco, de terem existido moedas de ouro, nem de diferenças económicas entre os Gama do Maxial. Creio que a estória foi crescendo com o tempo. Eram todos proprietários, lavradores, o que indica que seriam donos das casas onde viviam e dos campos que exploravam, sem grandes riquezas.

Para completar o quadro, há também os Gama de Janeiro de Cima, que descendem de um sobrinho de Maria, Domingos Martins Gama, que casou em Janeiro de Cima.

Todos os Gama da zona têm o mesmo tronco, que começa em Almaceda.

A ascendência de Almaceda também me intriga, porque creio ser resultante do mesmo tipo de situação da do Maxial, ou seja, um natural de Almaceda casou com uma Gama que veio de fora e criam geração. Há uma Catherina da Gama, nascida cerca de 1623, que penso estar na origem de toda a descendência Gama daquela zona. Casou com António Freire. Penso que os Gama virão ainda de outro local. Se souber da existência de "Gamas"  em regiões próximas, agradeço a sua ajuda. Parece que na zona de Amieira do Tejo, Gavião e Vale da Gama (este nome também me intriga...) há alguns. Será que existem outros mais próximo?

José Teodoro Prata

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Manifesto político

Dizer Não
Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'.

Nota: Este texto do Vergílio Ferreira é todo um manifesto político de uma revolução que deve começar dentro de cada um de nós, que é onde todas as revoluções têm de se fazer, mais tarde ou mais cedo. Vem na linha do existencialismo dos anos 50-70 do século passado,uma filosofia centrada no homem, em todos e cada um.
E para ouvir hoje, 25 de ABRIL, duas canções do Zeca.




José Teodoro Prata

domingo, 24 de abril de 2016

Abril

Abril de Abril

Era um Abril de amigo   Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos

Era um Abril comigo   Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril

Era um Abril na praça   Abril de massas
era um Abril na rua   Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos

Abril de vinho e sonho em nossas taças
Era um Abril de clava  Abril em acto
Em mil novecentos e setenta e quatro

Era um Abril viril   Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se  Abril palavra
Esse Abril em que   Abril se libertava.

Era um Abril de clava   Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
Esse Abril em que Abril floriu nas armas

Manuel Alegre


J.M.S



Outro poema de Manuel Alegre,
cantado por Adriano Correia de Oliveira

José Teodoro Prata

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Lugares com histórias

Torta com chouriça

Quando a minha irmã que no céu esteja morreu, a dona Delevina foi logo a ter com a minha mãe para me deixar ir para o lugar dela.
- Eh minha senhora, não me leve a mal, mas a cachopinha é tão relezita! Deixe-a lá medrar mais alguma coisa, que Deus ainda agora me levou uma; não quero que esta me abale também.
- Não te preocupes que o trabalho não a há de matar! É só para ir à fonte e fazer os recados, que a Antónia já está velha. E sempre ficas com menos uma boca lá em casa.
Ao princípio não tive razões de queixa, mas passado pouco tempo, em vez de acartar água e fazer recados, tinha que esfregar o chão, lavar a roupa, passar a ferro; era o dia todo numa fona. E, quando me mandavam à loja a comprar alguma coisa, encomendavam-me logo o sermão:
- Olha que tu vai num pé e vem no outro; não fiques por lá na calhandrice com as outras!
A inveja que eu tinha quando passava na Praça e via as cachopitas da minha idade a jogar ao paspelho ou à pela!
Depois a dona Delevina adoeceu e ficou de cama, e fui também eu que tive que tratar dela. Quando a estava a lavar, não se calava:
- Ó rapariga, olha que tu fecha-me bem esses os olhos, que vais para o inferno se me vês o corpo!
Mas, não sei se era o diabo a atentar-me, quanto mais ela clamava, mais eu olhava, curiosa, porque nunca tinha visto um corpo de mulher feita todo encarapato. Um dia, na minha inocência, perguntei à minha mãe se a doença da senhora era terem-lhe nascido pêlos no corpo, e se aquilo se pegava.
- As coisas que esta mulher diz! Tu vê mas é se tens tino e nem abras a boca para ninguém, que até é pecado falar nessas coisas.
A partir daí achei que, se queria ir para o Céu, o remédio que tinha era andar de olhos fechados e boca calada, por isso nunca mais falei no assunto e só abria uma fisga dos olhos quando estava a tratar da senhora. Mas durante muito tempo não me saía da cabeça se aquela doença seria pegadiça, que tinha medo de ficar assim como ela, cheia de pêlos.
O pior daquela casa nem era o trabalho, era a miséria que se lá passava. De manhã só me davam uma malga de café negro com um bocado de pão com azeitonas; ao jantar era umas batatas estremes, só com um fio de azeite por cima; à ceia uma malga de caldo de feijão pequeno com couves. E era todos os dias a mesma coisa. Sem ser aos domingos ou dias de festa, raramente havia um bocadinho de conduto, numa casa tão farta de tudo: bons queijos de ovelha metidos naqueles grandes potes; boas chouriças e presuntos; ovos; azeite; vinho… Tudo quanto era bom, mas só para as visitas, que não saíam lá de casa… Tudo gente rica.
Quando a patroa, morreu quem ficou a tomar conta da casa foi a governanta. Já era velha, sempre a mancar duma perna e mouca que nem uma porta. Uma mãos de fome que ninguém calcula. Até parece que estou a vê-la, de saias rabudas, sempre com um molho de chaves preso à cintura, por cima do avental. À noite, quando ia para a cama, punha-as dentro dum açafate, em cima da banca de cabeceira, não fosse alguém pegar nelas.
Às vezes iam lá os pobres a bater à porta, a pedir esmola. Assim que os sentia, berrava-me lá para a cozinha:
- Ó Maria, olha que tu dá só azeite do velho ou do frito!
Mas eu, sempre que podia, pegava na amotolia às escondidas e dava era do bom, que tinham lá muito, e os pobres também são filhos de Deus; são ou não são?
Uma vez, só porque me viu a riscar dois fósforos para acender o lume, fartou-se de me chamar desgovernada, e que se fosse assim quando me casasse, havia de ser uma miserável. Eu só lhe respondi:
- Como é que quer que ateie o lume se a carqueja está toda verde? Amanhã acenda-o vossemecê, a ver se é capaz!
Ela ficou tão danada comigo que se me agarrou ao pescoço com tanta força que me ia atafegando. Estive mesmo para sair porta fora, mas tive medo que quando chegasse a casa a minha mãe me desse uma sova, e deixei-me ficar.
Às vezes ia lá a dormir comigo uma irmã minha. Um dia, chega lá ela e diz-me assim:
- Ai, irmã, venho cá mais desconsolada…
- Olha, dá cá a mão…
- Atão o que é que foi hoje a ceia?
- O que é que havia de ser? O mesmo de sempre.
- Com tanta coisa boa que há nesta casa e esta unhas de fome só te dá caldo?! Deixa-a estar que a gente já a coça!
Ficámos à espera que fosse para a cama e, assim que a ouvimos a ressonar, entrei no quarto, devagarinho, e fui direita ao açafate das chaves. Ela, mouca como era, nem se mexeu. Depois fomos à loja, pegámos nuns poucos de ovos, numa chouriça e numa medida de vinho, e voltámos para a cozinha. Batemos os ovos bem batidinhos, migámos a chouriça e fizemos uma torta. Ficou cá uma tora, mas demos cabo dela toda! No fim, até nos lambemos! Ainda por cima com um copinho de vinho para cada uma, foi como se estivéssemos a comer a melhor coisa do mundo!
E a ti Tonha, na cama, a ressonar; nem o cheiro a acordou. E nós, essa noite, também dormimos mais regaladinhas…   


M. L. Ferreira

terça-feira, 19 de abril de 2016

A verdade

A verdade para mim
Pode ser para ti ou não
Depende da ocasião
Pode ser; assim, assim

A minha verdade pode ser
A verdade verdadeira
Ou uma verdade trapaceira
Depende de quem nela crer

Afinal quem terá razão?
A minha verdade é real
A tua também tem moral
Aceitemos as duas, irmão

A minha religião
Não é melhor, nem pior
Nem a tua é a maior
Aceitemo-las como são

A amizade e a fraternidade
Só se conseguem com amor,
É ele o grande motor
Da nossa sociedade

Onde está a verdade afinal?
Ninguém sabe certamente
Porque a minha é diferente.
Mas é ela a mola real

Seja em Portugal
Ou noutro local
A verdade total
Não existe, ponto final


Zé da Villa

domingo, 17 de abril de 2016

Arco-íris


A primavera vai boa para eles.
Este é de ontem e estava a beber na barragem de Santa Águeda.
Hoje certamente a Santa Bárbara já ajudou a fazer outros.
Deve ter caído uma pancada de água à hora do almoço/missa, mas de resto a santa está a ajudar à festa (Talvez exceto à festa religiosa, pois se a missa foi ao meio dia/uma hora não houve procissão; 
mas isso a Libânia contará.)

José Teodoro Prata

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Rivalidades antigas

 Já houve um tempo em que os do Sobral não podiam ver os de S. Vicente, e os de S. Vicente, a mesma coisa quanto aos do Sobral. Ai daqueles que se aventurassem nas festas uns dos outros, e nos bailes nem os mais valentes se atreviam a tirar uma rapariga para dançar. Eram logo encorridos à pedrada ou à paulada. E tudo por causa da Santa Bárbara que antigamente tinha a capela na estrema entre os dois povos e os de lá achavam que era deles; os de cá, diziam que era nossa.
Um dia os nossos puseram-se a caminho e roubaram a Santa. Depois pegaram num carro de bois e foram buscar as pedras para a capela. Pediram um bocado de terra à Dona Celestina e fizeram-na aqui, no Casal da Fraga.


Enquanto duraram as obras, a Santa andou fugida de casa em casa, escondida no forro ou na loja para não ser achada, que os do Sobral não se conformavam com a perda da Santa.
É pequenina, a capela, mas motivo de grande orgulho e devoção. Tem a data de 23 – 03 - 23 e a partir daí todos os anos lhe fazem cá a festa, na terceira semana a seguir à Páscoa. É este fim de semana.


O programa promete, assim a Santa ajude com a melhoria do tempo. Diz que para contentar os dois povos, no ano em que chove na festa da Senhora da Saúde faz sol na de Santa Bárbara. Este ano choveu no Sobral, oxalá se cumpra a tradição e faça sol por cá…
Mas não é só entre o Sobral e S. Vicente que aconteceram estas rivalidades na disputa de santos e santas. Diz que entre a Póvoa e Tinalhas houve guerras ainda piores por causa da Senhora da Encarnação cuja capela também foi construída nos limites entre as duas localidades. Todos os anos, por alturas da romaria, tinham que pedir o reforço da guarda, e mesmo assim havia sempre muitas cabeças partidas. Só quando os de Tinalhas resolveram fazer uma capela à Rainha Santa Isabel, no outro extremo da terra, os ânimos acalmaram. Mesmo assim, na veneração à Santa ainda lembram rivalidades antigas:

Rainha Santa Isabel,
Tendes uma capela nova,
Foi o povo de Tinalhas
P’ra fazer ver aos da Póva.


M. L. Ferreira

terça-feira, 12 de abril de 2016

Obras em São Vicente

Como membro da Assembleia de Freguesia de São Vicente da Beira, sinto o dever cívico (embora não sei se devesse) de informar e esclarecer alguns pontos sobre as obras em São Vicente, que têm causado tanta polémica, principalmente para quem está longe, pois os que estão perto continuam a não comparecer nas reuniões de Assembleia, para assim ficarem mais esclarecidos, preferindo comentar na rua, cafés ou redes sociais.
Ontem, dia 8 de abril, teve lugar uma Assembleia de Freguesia, na qual foi explicado o projeto da demolição da casa do Coronel, que também está afixado na vitrine da Junta. Além dos elementos da Assembleia, estavam presentes 5 pessoas no público, uma das quais da Partida.
No lugar das casas a demolir, vai ser construída uma praça, onde a Misericórdia vai ter bastante visibilidade, de um lado, dois bancos, do outro, um banco comprido, duas árvores e um arco formado com as pedras das portadas da casa. A varanda também vai ser aproveitada.
Ora, acontece que têm chegado à Câmara Municipal várias cartas de vicentinos a manifestarem-se contra a demolição das casas, muitas das quais sem conhecimento da Junta, que já foi questionada pela Câmara se as obras são mesmo para avançar, por haver tanta gente contra, apesar da Assembleia ser toda a favor.
A Junta não tem verbas nem funcionários para fazer obras, (neste momento tem apenas um, que acumula as funções de motorista, coveiro, limpeza, entre outras), não se pode contratar mais ninguém e quem está no desemprego não quer arrancar ervas ou varrer ruas. As obras têm de ser feitas pela Câmara, mediante projetos da mesma ou apresentados por associações, que é o que tem acontecido nalgumas anexas.
Com este movimento de contestação, corre-se o risco de não se fazer obra e qualquer dia a casa começar a cair (está abaulada, com fendas e telhas a cair), pondo em risco a vida das pessoas que por ali passam. Também está prevista a demolição do barracão do Quintalinho e o reboco e pintura da casa paroquial. Já temos muitas casas a cair em São Vicente e é preciso evoluir!
Quanto ao abate de árvores na estrada, também tive muita pena e fiquei chocada quando vi cortarem-nas. Acontece que a maioria estava deteriorada por dentro, uma já tinha caído em cima de um carro, noutra cabia lá uma pessoa dentro. Em dias de tempestade, eram assustadoras e só por acaso não se magoou ninguém. A Câmara contactou uma empresa para cortá-las, o que ficou bastante dispendioso, e optaram por cortar as que estavam em risco agora e nos próximos anos, pois não voltariam cá tão depressa. As árvores foram substituídas por outras iguais e daqui a alguns anos já estarão grandes outra vez.
Há muita falta de união e de diálogo em São Vicente e, falo por mim, antes de falarmos, devemos tentar saber o porquê, falando com o Presidente da Junta ou indo às reuniões da Assembleia e não ganhamos nada em estarmos de costas voltadas uns para os outros.

Maria da Luz Teodoro

domingo, 10 de abril de 2016

Lugares aonde se torna - 8

Santo Ofício – os avós denunciantes

Em São Vicente, quem primeiro compareceu a denunciar foi Silvestre Rodrigues, de 23 anos, tratante; no mesmo dia, 7 de Junho de 1579, vieram também Sebastião Fernandes, lavrador, de 38 anos, e Pedro Fernandes, proprietário, de 34. Os três, aqui moradores, e cristãos-velhos.
A receber as denúncias, o inquisidor Marcos Teixeira, acompanhado no acto por «notário apostólico e do Santo Ofício».
Esta sua «visitação» em terras do Continente começara no princípio do ano, em Portalegre, seguindo depois para outras terras de além-Tejo – Arronches, Marvão, Montalvão, e Nisa – passando depois à Beira; antes de chegar a São Vicente, a missão de que estava incumbido levara o senhor inquisidor a Abrantes, Sarzedas, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Monsanto e Penamacor. A derradeira etapa, depois de São Vicente, começou em Alpedrinha, seguindo-se Fundão e a vila da Covilhã e seu termo, onde concluiu, em 11 de Julho de 1579.
Seis dias durou a função em São Vicente. Invariavelmente, os denunciantes apresentavam-se no local onde pousavam o inquisidor e o notário, muito possivelmente a igreja, declarando pretender denunciar alguém. Ordenava-lhes, então, o inquisidor que jurassem dizer a verdade, com a mão sobre os Evangelhos. Do que diziam, era elaborado um registo, que devia ser assinado pelo inquisidor e pelo declarante; não sabendo este escrever, o notário assinava por ele.
Do que ali tinham ido dizer, eram mandados guardar segredo. Era prática da Inquisição que as denúncias se mantivessem anónimas, que as vítimas não soubessem quem as denunciara.
Oitenta pessoas em São Vicente apresentaram-se para denunciar – mais exactamente, 76, homens (31) e mulheres (45), de idades e condição social diversas; 23 têm menos de 25 anos de idade, sendo de 17 anos as duas denunciantes mais novas: Catarina, criada de Manuel Francisco, cristão-novo, e Maria Vaz, já casada. Da relação dos denunciantes, somente 5 têm 50 anos ou mais, identificando-se com 70 anos os dois mais velhos no exercício da delação: a sogra de Sebastião Fernandes, Ana, viúva, e Jorge Gonçalves, lavrador, ambos da vila.
Dos 76, são 28 os que sabem assinar e o fazem; todos homens, muitos deles exercendo profissão manual, aqueles que as Ordenações referiam como trabalhando «per afã de seu corpo».
Na sua grande maioria, são pessoas casadas; todavia, referenciam-se 13 mulheres viúvas, mas não há viúvos. São pessoas morando na vila, quase todas, ou terras do “termo” (Sobral, Freixial, Ninho do Açor); de fora, denunciantes em São Vicente, só o alfaiate Pedro Gonçalves, residente em Alcaide, e um Sebastião «preto, de Manicongo», que veio de Alcains denunciar aquela de quem era escravo («cativo»), Ana Lopes, cristã-nova e mais uns tantos membros da família desta, de Alcains, Castelo Branco e São Vicente.
Os registos das declarações incluem também a condição religiosa de cada um – cristão-velho/cristã velha, é a regra; significa isso, pessoas nascidas em famílias cristãs, sem ascendentes de outra fé e observantes da mesma religião; o acto de denúncia constituía, aliás, uma obrigação do “bom crente”. Nos registos que servem de base à presente notícia identificam-se excepções: o cinquentenário ferreiro, Gil Antunes, e o já referenciado alfaiate do Alcaide, Pedro Gonçalves, ambos «com raça de cristão-novo» – foi assim que se apresentaram ao inquisidor –, e Sebastião «preto», também já referido, sem nenhuma menção de estado em matéria de religião – a condição de escravo, equiparado a besta, retirava-lhe capacidade para tais atributos, mas não a de denunciante, estabelecido que foi, reza a o registo, ter ele «juízo e entendimento», jurando por isso, como os outros, «os santos evangelhos».
As vítimas das denúncias são, quase sempre, cristãos-novos. Os denunciantes referem práticas judaizantes, alguns com soma de detalhes – a isso eram incentivados por quem os ouvia –, com identificação clara de quem e quando os actos haviam sido praticados e se outras pessoas os tinham presenciado. Esses factos haviam de servir, a posteriori, para acusar os seus autores. Em geral, a mesma pessoa denunciava várias pessoas; com frequência, os denunciantes haviam tido convivência, em alguns casos, de portas adentro (criados e serviçais…) com aqueles que vêm acusar.
A denúncia ao Santo Ofício é referenciada pelas autoridades eclesiásticas como uma obrigação do bom cristão, como se de um acto piedoso, uma boa acção que acarretaria benefícios a quem delatasse. Isso mesmo era transmitido aos fiéis, antes da inquisição: na missa de domingo, acompanhada pelo inquisidor itinerante, anunciava-se aos paroquianos o início dos actos, invocando-se o Édito da Fé, em conformidade com o qual o cristão tinha o dever de denunciar actos de que tivesse conhecimento, directa ou indirectamente, contra a sua religião, os seus dogmas e rituais, a prática do judaísmo ou da feitiçaria, mas também certas condutas em matéria de casamento e sexualidade, como a bigamia ou a homossexualidade. O denunciante, além dos actos, deveria identificar o seu ou seus autores.
A legislação canónica, as bulas papais, o Santo Ofício e seus agentes, “garantiam”, a quem denunciasse, graças várias, mas principalmente o perdão dos pecados e por essa via o acesso mais fácil à salvação eterna. Apesar do peso da Igreja, do poder da Inquisição e da discricionariedade da sua acção, com o apoio da máquina do Estado, também existe em São Vicente (noutros sítios seria o mesmo) quem discorde do que vê: no Livro 1º das Denúncias da Visitação do Santo Ofício nas Ilhas dos Açores, Alentejo e Beira encontramos António Vaz, por alcunha Cabeças, dirigindo-se, da porta de sua casa, atrás da igreja, a duas mulheres que vão denunciar, dizendo-lhes: «Vão muito depressa, pensando que ganham perdões, mas vão é ganhar o Inferno». Por isso, o Cabeças é também denunciado.
Não são apenas gente comum, os denunciantes. Fazem-no também pessoas que exercem localmente cargos políticos e administrativos, como o procurador do número, Manuel Carrilho, o escrivão da Câmara, Manuel de Brito, e Sebastião Nunes, juiz ordinário na vila, o último declarante nesta “visitação”, em 13 de Junho; curiosamente, apresenta-se em nome de sua mulher que, por estar doente, não pôde vir depor. Finalmente os “padres-denunciantes”: três, “deveriam” ser, pelo menos, três – Jorge Machado, «clérigo de missa», o «cura» Fernão Valente e o «cura» Sebastião Carvalho; mas são somente dois, Jorge Machado e Fernão Valente, que coincidem nas denúncias – as práticas diferentes dos cristãos-novos da terra no enterro dos seus mortos, e o padre Sebastião Carvalho, por comportamento herético, ao recusar uma segunda extrema-unção a uma moribunda, a quem ministrara, pouco tempo antes, o mesmo sacramento.
No dia 14 Junho de 1579, o inquisidor Marcos Teixeira iniciava a recepção de denúncias em Alpedrinha.
José Miguel Teodoro

sábado, 9 de abril de 2016

Mais Natureza


Para além dos azuis, roxos e violetas dos chupa-meis e viuvinhas (é assim que aqui chamamos às flores das fotografias que o José Teodoro publicou há dias), a Serra está já toda pintada do branco das estevas, do cor de rosa das urzes e do amarelo da carqueja. São uma bênção para a alma e algumas delas, também para o corpo.


O chá da flor de carqueja faz bem às digestões, à dor de barriga, à diabetes e à circulação. E para as constipações, tosse e dor de garganta? Diz a Ti Zefa que é tão bom como a graça de Deus!

M. L. Ferreira

terça-feira, 5 de abril de 2016

Lugares aonde se torna - 7

Papéis do Convento de São Francisco e Santa Clara à vista
Na última arrumação lá em casa, apareceram uns papéis do Convento de São Francisco de São Vicente da Beira, anteriores à implantação do Liberalismo. Para quem possam interessar, aqui se dá o seu registo (ANTT-Devassas Gerais de Freiráticos, 1810-1824 – São Vicente da Beira, 1816-1818, maço 1629).
No fim do século XVIII, o Convento (fundado para nele viverem 33 freiras) dava sinais de alguma decadência: o efectivo estava reduzido a 15 religiosas professas, «todas velhas e decrépitas» (de que se dava como razão a persistência da proibição de novas admissões nos conventos); por carta régia, é autorizada a entrada de 15 noviças (Licença do Príncipe Nosso Senhor…, 27-01-1793, op. cit., ms. 1).
Por esta documentação sabe-se que, em 1813, a situação do Convento é bem pior, com apenas 7 religiosas (Mapa geral do estado actual do Mosteiro…, 19-08-1813, id., ms. 9), apesar do ingresso de duas mulheres no noviciado: D. Ana Mariana, do Casal da Serra, e Maria Rosa Arminda Machado, natural de Peroviseu, dando elas ao Convento, em vida, respectivamente, 30 e 60 mil réis por ano (Cartas do Ministro Provincial dos Menores Observantes da Província de Portugal, 26-01-1807 e 06-04-1807, id., mss. 6 e 7; idem, 13-09-1807, id., ms. 8).
Além das freiras professas, o Convento acolhia outras mulheres, sem votos, como se indica: em 1794, ali se recolhe, «para escapar ao mundo», D. Joana Inês de Brito Mouzinho Homem, de São Vicente, «órfã de pais e sem parente algum próximo», onde se sustentará, mais a criada, com «a pequena produção da sua sorte» (Licença do Príncipe Nosso Senhor…, 17-01-1794, id., ms. 2); em 1796, Brites Catarina Machado, viúva, irmã da madre prioresa do Convento, com sua criada, aí se juntando a (sua filha?) Maria Rosa Pires Machado, órfã, que aí se criou, «para que, assim recolhidas, se livrassem dos riscos e contingências do mundo» (Licença do Príncipe Nosso Senhor…, 25-08-1796, id., ms. 3). Em 1800, é admitida, também com criada, Maria Cândida, referindo a documentação que com o consentimento de toda a comunidade conventual (Carta…, 06-06-1800, id., ms. 5), sendo por isso de presumir que era o procedimento usual nas admissões de seculares. Em 1815, referencia-se o recolhimento, como secular, de D. Mariana Xavier Taborda Pinhately (sic) de Sá Souto Maior Soares de Albergaria, também acompanhada de uma criada, com meios com que se sustente e expressa obrigação de «usar da modéstia e moderação nos vestidos [como praticam] as educandas nos claustros religiosos» (Licença do Ministro Providencial…, 13-03-1815, id., mss.10 e 11).
Uma referência às finanças da instituição: em 1799, tem de receita 592,5 mil réis (de pensões, foros e rendas, e de padrões, estando já deduzida a dízima, destes últimos, para o erário real, pagando ainda 8,2 mil réis de dízima eclesiástica (Receitas do Convento de S. Francisco de S. Vicente da Beira, 25-04-1799, id., ms. 4); em 1813, as receitas ascendem a 593,613 mil réis, pagando 28,78 mil réis (Mapa geral…, cit., ms. 9), registando o mesmo documento que o edifício em que está o Convento é muito antigo, a precisar de obras, para as quais são necessários, para trabalhos de carpintaria e de pedreiro, respectivamente, 2.400 mil réis e 341,6 mil réis.
Na janela temporal aberta por estes documentos, identificam-se duas prioresas do Convento de São Francisco: Soror Maria Marcelina Josefa de Santa Ana (1796 e 1800) e Soror Maria Joaquina da Encarnação (1813), havendo ainda registo dos nomes de outras freiras professas: as Irmãs Maria Inácia Agostinha de Santa Ana, Clara Teresa de São Jerónimo (em 1799), Joana Batista Xavier da Visitação e Luísa Ana de S. Diogo (em 1799 e 1813).
Do lado de cá, continua em aberto a curiosidade sobre esta instituição, a par de outra, também em São Vicente, o convento de Santa Clara, que acolheu, pelos anos 80 do séc. XVII, as “boas irmãs” Polónia da Conceição e Juliana do Nascimento. A ver vamos.

José Miguel Teodoro

domingo, 3 de abril de 2016

Ribeira de São Vicente

Na serra Guardiã tem a nascente
A Orada por companhia
Rio beira da nossa alegria
Banhas a vila de São Vicente

São fecundos teus nateiros
Terras ricas, criadoras
Onde se fazem as lavouras
Boa erva nos lameiros

És o nosso rio amado
Rio beira maravilhosa
De inverno, vais caudalosa
No verão, sequiosa
Teu leito é apertado

Eram tantos os lagares
Que tinhas nas tuas margens
Hoje não passam de miragens
Restam apenas os lugares

Moinhos, açudes, onde nadavam
Os jovens de São Vicente
As mulheres a roupa lavavam
Saudades! Certamente

Tuas águas saltitando
De pedrinha em pedrinha
Outro rio vão encontrar
Nele vais desaguar
Maior caudal, outra vidinha
O Tejo já se avizinha

Sempre, sempre a caminhar
Chegas à grande cidade
Mas continuas a ter saudade
Da vila que deixaste ficar

Eis que chegaste finalmente
Ao grande oceano, ao mar
Grandes paquetes a navegar
Carregadinhos de gente

Navegam para longes terras
Mar salgado, mar português…
Tenho saudades de vocês
Saudades das nossas serras


Zé da Villa

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Natureza

Os madeireiros que cortaram o pinhal do senhor Gomes montaram acampamento na extrema comigo e deixaram-me este lixo todo.
Como andaram vários meses pelo Cabeço de Pisco e outras zonas de São Vicente, dá para imaginar o lixo que abandonaram em cada poiso!

É um crime sujar a Natureza, tão bonita!


José Teodoro Prata