sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

O nosso falar: Resto de Boas Festas

Uma das minhas vizinhas desejou-me, a meio desta semana, entre Natal e Ano Novo, Um resto de Boas Festas. Há que tempos não ouvi nem usava esta expressão, tão nossa (desconheço se de outras regiões).

Ela é do Ingarnal, que fica na nossa zona geográfica e cultural.

Lembro-me bem de usar e ouvir: Resto de um bom dia; Resto de bom domingo; Resto de boas férias; Resto de bom aniversário; Resto de Bom Natal....

Atualmente já se usa pouco, em parte porque a urbanização levou ao abandono de muitas expressões antigas, o que, consequentemente, provocou um empobrecimento vocabular. Por outro lado, há muitos preconceitos sobre certas palavras/expressões. Hoje não fica bem falar em resto, parece que o que falta é a parte má do todo.

José Teodoro Prata

sábado, 23 de dezembro de 2023

Boas Festas

 

Feliz Natal para todos!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Concerto de Natal

 

Maria Libânia Ferreira

O nosso falar: desassemelhado

Travei-me de razões com um galho de laranjeira e saí com um ligeiro raspão na testa. Agora secou e fez crosta, parecendo uma grande coisa. Hoje vi-me ao espelho e achei-me um pouco desassemelhado para a festa.

Desassemelhado é um adjetivo e o particípio passado do verbo desassemelhar. De certa forma, desassemelhado é sinónimo de desfigurado, adjetivo mais usado que este, que caiu em desuso.

Desassemelhado significa não estar semelhante ao que é habitual. No uso do nosso povo, penso que é mais suave que desfigurado.

José Teodoro Prata


Nota: há novo comentário (com informações importantes), na publicação Pe. Domingos Martinho Raposo (para voltar lá, escrever este nome da publicação na caixa da esquerda, ao alto)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O Pelourinho

 Há dias, a propósito do artigo sobre a digitalização dos jornais pela Biblioteca de Castelo Branco, não respondemos à dúvida sobre se existiria o Pelourinho na Biblioteca Hipólito Raposo. De facto não existe. Há apenas um exemplar que foi doado, há tempos, pela Maria José (Alfaiate). É o número 2, publicado em 15 de setembro de 1960, era diretor o padre Sílvio.

Era bom que fosse possível reunir todos os números publicados (também de O Vicentino) e torná-los acessíveis através da digitalização. É que, dando-nos conta, mensalmente, dos acontecimentos mais importantes em cada uma das povoações da freguesia, foi um documento fundamental para ficarmos a saber quase tudo sobre a vida de São Vicente durante várias décadas: dados económicos, sociais, demográficos, culturais, costumes, valores, etc. que muitos vivemos e ainda recordamos, mas a maior parte da população mais jovem nem imagina.

Deixo algumas das notícias deste Nº2; acho-as significativas porque testemunham bem como estávamos todos irmanados nas alegrias, nas tristezas e nas necessidades mais básicas:

 - No Mourelo pedia-se às “Exmas. Autoridades” que fosse feito um chafariz para abastecimento de água à população, porque a única fonte disponível era ainda a Fonte de Mergulho, “pouco higiénica e muito distante”; realizara-se a festa de Santo António, “glorioso protector”, com missa e sermão feito pelo Padre Sílvio e cânticos dirigidos por um seminarista da Guarda; deu-se ainda conta da visita de várias pessoas aos seus familiares.

- Na Partida ansiava-se ainda pela chegada da estrada e pedia-se ajuda para o arranjo de alguns caminhos; a população viveu em festa, entre os dias 26 de agosto e 5 de setembro, pela presença de um grupo de seminaristas da Guarda que “… proporcionaram a todos momentos de inesquecível prazer espiritual”; também houve grande satisfação pela chegada de alguns conterrâneos vindos de França ou de Lisboa para passarem férias com a família; no dia 3 de setembro faleceu a senhora Amélia Bonifácio de Carvalho.

-Nos Pereiros festejava-se já a chegada da nova estrada que tanto iria beneficiar a população; mas chorava-se a morte de uma criança de 2 anos, num incêndio num palheiro, e queimaduras graves na mãe ao tentar salvar o filho; esteve de visita à família o senhor João António Varandas, sócio gerente da Fogás Lda.

 - Na Paradanta esperava-se com impaciência a construção da escola, tanto mais que a população estava disposta a ceder o terreno no local que as “Exmas. Autoridades” julgassem mais adequado; estavam ainda de férias alguns estudantes da terra (6, no total!), e também o “menino” Norberto Gomes Filipe tinha ficado bem no exame de admissão ao Liceu; o senhor António Gomes Filipe e esposa pediram, para seu filho, a mão de D. Maria Emília Ventura Russo “Professora Oficial”, filha do senhor Alfredo Ventura Russo e da senhora D. Trindade Diogo Ventura Russo; faleceu inesperadamente a esposa do senhor Álvaro Martins Faustino.

 - No Vale de Figueiras festejava-se o início das obras de alargamento do caminho de acesso à povoação; pedia-se a construção de uma fonte com “água pura”, em alternativa à dos poços e presas; deu-se também conta da participação de muita gente em algumas atividades e cerimónias religiosas realizadas pelos seminaristas da Guarda (na Partida) onde viveram uma “alegria sã e vida piedosa”.

- No Casal da Serra fora caiada a igreja e dourado o altar, que “ficou muito bonito”; continuava também em construção a estrada até ao Louriçal, que vinha encurtar o caminho de acesso à Estação e pediam-se também melhoramentos no caminho para a sede da freguesia; dava-se notícia da visita de várias pessoas, residentes fora, às suas famílias.

- No Violeiro pediam-se melhoramentos nos caminhos, autênticos lodaçais no inverno; festejava-se ainda os bons resultados nos exames dos estudantes José António Rato e Conceição de Jesus Rato e a partida de Francisco Magueijo para o seminário de Fátima; desejava-se boa viagem ao senhor José Roque, esposa e filhos, que regressavam a França onde residiam há sete anos.

 - No Tripeiro festejava-se a chegada do telefone com muita alegria porque “já podiam fazer-se ouvir ao longe sem a triste necessidade de percorrer longos caminhos lamacentos”; dava-se a notícia de que a escola estava quase pronta, pelo que se agradecia muito ao “Estado”; iam também ter água canalizada em breve, coisa para admirar porque outras terras maiores ainda não a tinham; dava-se também conta da vitória, num jogo amigável, entre a equipa da terra e a do Mourelo.

 - Em São Vicente iam realizar-se, nos dias 18, 19 e 20 as festas em honra do Santíssimo Sacramento, do Senhor Santo Cristo e de Nossa Senhora do Carmo; No dia 15 de Agosto tinha-se realizado “com grande fervor”, a festa em honra da nossa Padroeira: “… a imagem da «Senhora da Ordem» foi conduzida processionalmente até à Sua Capela. Subiu ao púlpito o Rev. Frei Crespo…”; estiveram em São Vicente, entre muitas outras pessoas, Amélia Rey Colaço Robles Monteiro e Mariana Rey Monteiro e filhos; esteve também a D. Aldina Caldeira com o marido e uma excursão, vinda de Lisboa, organizada pelo senhor Elias; estiveram na Vila os “montadores” do relógio novo para darem algumas instruções sobre o seu funcionamento e já havia quem tivesse contribuído para o seu “badalar”; no dia 21 de agosto a equipa de futebol “os Novatos de São Vicente da Beira” tinha ganhado à equipa da Partida (parece que pela primeira vez…); pelos “ Novatos” alinharam Chico, Martins (1 golo), Dias e Jaime, Nicolau e Ribeiro, L. Bruno, Quica (3 golos), Barroso, Inverno e Luís.

M.L. Ferreira


Nota: Há comentários novos na postagem anterior.

José Teodoro Prata

domingo, 10 de dezembro de 2023

Conta-me histórias

 Nome do projeto: CONTA-ME HISTÓRIAS

Prazo de concretização: 2024 e 2025

Objetivo: animar culturalmente as comunidades da freguesia de SVB

Âmbito geográfico: freguesia de SVB, com maior incidência na sede, mas alargada também às anexas onde houver participantes/interessados

Locais: Biblioteca de SVB, Igreja da Misericórdia, sedes de coletividades, cafés…

Periocidade: de dois em dois meses, sempre que possível

Animadores: quem quiser participar

Atividade: a partir de um objeto (instrumento, foto, documento em papel…) o animador conta uma história: sua utilidade, de que/como é feito, histórias, pessoas, épocas, lugares… com ele relacionados

Suporte: o animador conta a sua história, apoiado no objeto e em simples notas, num PowerPoint, texto…

Memória futura (facultativo): após a apresentação, o animador passa tudo à escrita, para memória futura, em livro e/ou suporte online. Este texto deve ter o tamanho de perto de 2 páginas Word. Além do texto, o animador deve ter uma boa foto do objeto. Texto e foto devem ser entregues à organização.

Organização: blogue Dos Enxidros

Nota: esta iniciatiova inspira-se no livro Uma História do Mundo em 100 Objetos, de Neil MacGregor


José Teodoro Prata

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Venâncio


José Venâncio nasceu na Partida, a 5 de fevereiro de 1893. Era filho de António Venâncio e Maria do Rosário.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, no dia 13 de janeiro de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.

Fazendo parte do CEP, embarcou para França em 21 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 202 e placa de identidade n.º 9171.

Do seu boletim individual constam as seguintes ocorrências sobre o tempo em que permaneceu em França:

a)   Baixa ao hospital em 14 de agosto de 1917, por ter sido ferido em combate; teve alta em 15 de outubro (segundo contava, esteve mais de um mês em coma);

b)   Várias punições e detenções por faltas ao trabalho;

c)    Em Junho de 1918, foi-lhe confirmado pelo Tribunal de Guerra a sentença de seis meses de presídio militar ou, em alternativa, a pena de oito meses de incorporação em Detenção Disciplinar (de acordo com a folha de matrícula, este castigo foi aplicado, no dia 22 de Outubro de 1918, a José Venâncio e mais outros seis militares da sua Companhia, por serem acusados de se terem coligados entre si com o intuito de tirar da casa, que servia de prisão, um soldado que ali se encontrava recluso, por ordem do Comandante do Batalhão);

d)   Foi repatriado em agosto de 1918 e desembarcou em Lisboa, no dia 25.

Por decisão de 28 de Maio de 1921 o crime de que era acusado foi amnistiado nos termos do Art.º 1 da Lei n.º 1146, de 9 de Abril de 1921. Na sentença referida na sua folha de matrícula pode ler-se o seguinte: «O crime por que os réus foram condenados se acha amnistiado, assim o julgo e mando que sobre tal crime se faça perpétuo silêncio.»


Condecorações:

Medalha de Cobre comemorativa da expedição a França com a legenda: França 1917-1918.



Família:

José Venâncio casou com Maria dos Santos, no dia 18 de janeiro de 192,0 e tiveram 6 filhos:

1. Maria Lucinda, que casou com José Pedro e tiveram 3 filhos;

2.    Manuel Venâncio, que casou com Margarida de Jesus Costa e tiveram 9 filhos;

3.    João José Venâncio, que casou com Deolinda Marques e tiveram 5 filhos;

4.    António Venâncio, que casou com Cândida Alves e tiveram 2 filhos;

5.    José Venâncio, que casou com Maria Lucinda Pinto e tiveram 2 filhos;

6.    Fernando Venâncio, que faleceu ainda jovem.

«Do que o meu pai mais falava sobre o tempo em que esteve na guerra era do frio e da fome que por lá passou. Diz que às vezes o frio era tanto que até parecia que as pernas não eram dele. E para matar a fome tinham que ir pedir comida por aquelas quintas, mas os camponeses também não tinham quase nada que lhes dar, porque a miséria era por todo o lado. Por causa de fugir à procura de comida e faltar aos trabalhos, foi muitas vezes castigado, ele e os outros companheiros. Também falava dos gases que os alemães lá deitavam e matavam muita gente, porque alguns nem máscaras tinham. Ele tinha uma e quando veio ainda a trouxe. Lembro-me de a ver durante muito tempo lá em casa, mas depois desapareceu.» (testemunho do filho José Venâncio).

José Venâncio toda a vida foi moleiro. Tinha um burro e andava de terra em terra a transportar o grão para moer na azenha; teve uma vida de muito trabalho e poucos ganhos, para sustentar os filhos ainda pequenos. Viveu sempre com muitas dificuldades, porque a vida de moleiro não lhe trazia grandes proventos e também não tinha terras para cultivar.

Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo e ferimentos que sofreu na guerra; foram os filhos que lhe valeram na velhice, ajudando-o no seu sustento.

Faleceu em Outubro de 1968. Tinha 75 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do filho José Venâncio)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 2 de dezembro de 2023

Projeto: digitalização dos nossos jornais

A Biblioteca Municipal de Castelo Branco não possui nenhum exemplar dos nossos Pelourinho e Vicentino. Recentemente digitalizou todos os jornais que possui, os quais podem já ser consultados no site da biblioteca.

Tenciono em breve desafiar a Biblioteca Municipal a disponibilizar também os jornais de São Vicente da Beira, pelo que terei de pedir, emprestados para a bilioteca digitalizar, exemplares a quem os tem (penso que tenho todos os números do Vicentino).

Por outro lado, como articular esta iniciativa com a nossa freguesia (para além de, automaticamente, ambos os jornais ficarem à disposição de todos em qualquer parte do Mundo)? A Biblioteca Hipólito Raposo tem os jornais em papel? Alguma instituição em SVB tem possibilidade de oferecer os jornais digitalizados aos leitores, gratuitamente? Mandem sugestões!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A primavera enganou-se

 


José Teodoro Prata

Fotos do Francisco Barroso

sábado, 25 de novembro de 2023

Campanha da azeitona, 2023

 Quando no ano passado o meu cunhado Quim, que comprara uma máquina de varetas, me disse que se colhia com ela muito mais depressa a azeitona, soube que estava lixado. O meu método era (é) arcaico, e consequentemente demorado, e por isso eu não poderia responder aos níveis de exigência cada vez maiores dos lagares, em termos de qualidade da azeitona ali entregue.

Para equacionar mais facilmente a questão, vou-a explanar em dois tópicos:

- Este ano entreguei azeitona em dois lagares (quantidades ridículas) e em ambos estive cerca de 5 horas, com filas de dezenas de veículos a aguardar a sua vez. Primeira conclusão: os lagares não dão resposta ao ritmo de colha das pessoas.

- No lagar de Vila Velha de Ródão é proibido entregar azeitona em sacas, norma que eu desconhecia por não ir lá há 3 anos. Uma camioneta carregada de sacas foi mandada embora e eu fiquei, porque levava pouca, mas toda a azeitona foi inspecionada e 6 sacas foram recusadas. No Ninho do Açor aceitam azeitona em sacas, mas com críticas a quem as leva, pois, com o calor que esteve, a azeitona degrada-se nas sacas em poucas horas. Uma pessoa que levava azeitona já podre (em sacas) sofreu a pena de a sua produção ser feita à parte (em ambos os lagares, a azeitona vai para um monte comum e a cada produtor é entregue o azeite correspondente ao peso de azeitona e ao nível de gordura revelado na análise realizada no momento da entrega). Segunda conclusão: as sacas de plástico transparente, tão defendidas há alguns anos, são cada vez menos aceites e de facto contribuem para a degradação rápida da azeitona, em tempo quente com o que tivemos este ano, na segunda e terceira semana do mês.

Como perceberam, a falta de resposta dos lagares dificulta a entrega da azeitona com a melhor qualidade possível. Há lagares que a aceitam podre, mas eu no ano passado fiquei com azeite de má qualidade porque, num lagar onde fui, o cliente imediatamente anterior a mim entregou azeitona podre e a dele e a minha foram feitas juntas, pois eram em pequena quantidade.

O aquecimento global (este ano, os meses de outubro e novembro bateram recordes) vem agravar este problema, pois na árvore a azeitona vai sofrer mais com a gafa e, após a colha, a azeitona tenderá a degradar-se depressa.

Para terminar, deixo um apontamento ecológico, sugerindo um contributo de cada um de nós para mitigar o aumento das temperaturas. Tem a ver com o que fazer com as ramagens da colheita ou da poda. Portugal vai estar a arder até lá para março, devido às tradicionais queimas da rama das oliveiras. As ramagens são carbono. Se ficarem no solo, esse carbono transformar-se-á em novas ramagens. Se forem queimadas, sobem para a atmosfera na forma de dióxido de carbono e vão contribuir para o aquecimento global. É verdade que Portugal é campeão no tráfego aéreo de aviões a jato, é campeão no estacionamento de navios-cruzeiro (ambos altamente poluentes e restringidos ou proibidos em alguns países) e está na cauda da Europa em termos de reciclagem (apenas 12% do lixo), mas cada um de nós deve fazer o que está nas suas mãos, para que o planeta continue a ser habitável para os humanos. Sugestão: amontoar as ramagens em local onde não estorvem.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Para cada criança, todos os direitos*

 Na segunda-feira, 20 de novembro, comemorou-se a adoção da Declaração dos Direitos da Criança (1959) pela Assembleia das Nações Unidas, e a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). Que me tivesse apercebido, não houve nas notícias grande desenvolvimento sobre o tema, mas ficámos a saber que Portugal perdeu cerca de um milhão de crianças nos últimos cinquenta anos.

Este número já não nos surpreende, mas preocupa-nos, principalmente porque a queda dos números da população mais jovem acontece sobretudo nas zonas rurais, onde os velhos são cada vez a fatia maior.

Segundo a Wikipédia, de acordo com o censos de 2021, a evolução dos números na nossa freguesia, nos últimos vinte anos, foi esta:

 DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR GRUPOS ETÁRIOS 

 ANO

 0-14 Anos

 15-24 Anos

 25- 64 Anos

 > 65 Anos

 2001

 174

 175

 716

 532

 2011

 110

 101

 561

 487

 2021

 67

 77

 417

 400

Os números totais têm vindo a diminuir muito de década para década, mas é na população infantil e jovem que a queda é pior.  

Curiosamente, parece que em São Vicente e nas freguesias cujas crianças frequentam a nossa escola, a situação melhorou um pouco: este ano o Jardim de Infância tem duas salas.

M. L. Ferreira

*O título do texto é o tema proposto para as comemorações deste ano de 2023 da adoção dos Direitos da Criança.

sábado, 18 de novembro de 2023

A corça da Orada

Visitei, no passado sábado, a capela de São Pedro de Vir-a-Corça, no Carroqueiro, Monsanto. Contaram-me a lenda da capela, referida no texto abaixo, e surpreendi-me de ali ser uma corça a amamentar um bebé, tal como a donzela da nossa Orada foi amamentada por uma corça.

Contou-me o ti´ Joaquim Teodoro, em 1990: «Um pai encontrou a filha grávida e, para não a matar, levou-a para o sítio onde está a cruz. Havia lá uma cova e o pai deixou-a lá. Por Deus apareceu uma corça e ela mamava a corça, mas vinha beber água à fonte, atrás da capela

A corça era venerada pelos lusitanos, como a seguir se refere, o que localiza a Senhora da Orada numa época remota, anterior ao Cristianismo e mesmo à conquista romana da Hispânia.

Encontrei o texto que se segue na net, cuja riqueza torna desnecessário alongar mais.

«Simbologia da Corça

A corça está intimamente ligada à feminilidade. Por alguma razão, conhece-se melhor a espécie pelo seu nome feminino – a corça, em detrimento do corço. Com efeito, são várias as lendas europeias onde ela chega como salvadora pelo leite que dá como alimento, até a humanos. Assim é com Genoveva de Bravante, uma lenda de fundo germânico ou nórdico que discorre acerca de uma foragida, falsamente acusada de infidelidade, que se exila num ermo nas Ardenas com o seu filho, alimentado este pelo leite de uma corça que lá apareceu. Em Portugal, é também o leite de uma corça que salva um bebé adotado por um homem em Vir-a-Corça, junto a Monsanto. Ambas as lendas aludem ao papel materno do mamífero, a fêmea que amamenta, a fonte da vida. Há teorias que defendem a divinização da corça pelos lusitanos, assumindo até que Sertório, para cair nas boas graças lusas, inventou que estes animais falavam com ele. Seria o eremitismo tão conhecido nos corços que provocava um fascínio tal na mente humana ao ponto de os ter como um reflexo divino? Não devemos esquecer, da mesma forma, a corça na mitologia grega, com os seus chifres de ouro e pés de bronze – é consagrada a Artémis (mais uma vez, uma mulher) e, segundo um episódio mítico, foi nela que Taigete se transformou para escapar a Zeus, sendo procurada depois por Héracles (ou Hércules, na versão romana) num dos seus doze trabalhos de penitência. Houve igualmente, como com a maior parte dos animais antes venerados por cá, uma tentativa de diabolização, sobretudo com a chegada da mensagem cristã que pretendeu redirecionar os atos celestes para as Senhoras e os Santos. A lenda da Nossa Senhora da Nazaré, por exemplo, põe D. Fuas Roupinho atrás de uma corça (ou de um veado, depende da versão) com o seu cavalo, para mais tarde se aperceber que esta era afinal uma reencarnação do demónio.»

RICARDO BRAZ FRADE

https://www.portugalnummapa.com/corca/

José Teodoro Prata

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Afinal, os Gravatinhas são outros!

Foi um equívoco de séculos. Bem, quer dizer, de anos, muitos anos, eu convencido que por aí se dizia que, aos de São Vicente, os povos das redondezas chamavam Gravatinhas.

Na semana passada, na Biblioteca Nacional, estive com Jaime Lopes Dias, que deixou escrito que essa era alcunha dos de Alpedrinha, a que também chamavam Manilhas; idem Gravatinhas, os de Penamacor. Um homem pode andar anos enganado, afinal!

Achei que poderia interessar a Vossas Excelências o escrito integral em que o estudioso trata do assunto; mas, como é longo, 5 páginas impressas, deixo somente o registo do que a São Vicente e algumas terras mais próximas diz respeito. Aqui vai, e que lhes faça bom proveito.

Com amizade,

Sebastião Baldaque

ALCUNHAS

por Jaime Lopes Dias

(extracto)

Sardanascas, os das aldeias dos arredores de Castelo Branco.

Cucos, os de Aldeia de João Pires e do Louriçal do Campo.

Unhas Negras, os de Alcains. Diz-se também: Alcains, terra de cães. Ao que os naturais respondem "Terra por onde eles passim" (passam).

Manilhas e Gravatinhas, os de Alpedrinha.

Alfacinhas, os de Castelo Novo.

Mafras, os da Soalheira.

Batatas, os do Casal.

Chamiceiros, os de São Vicente.

Mata-Lobos, os do Sobral.

Gatunos, os do Ninho.

Semagreiros, os de Tinalhas.

Carreiros, os da Póvoa.

Fura-Balsas, os de Escalos.

Pelados, os da Lousa.

Bogalhões, os da Lardosa.

Cabreiros, os de Souto da Casa.

Cravinas, os de Aldeia Nova do Cabo.

Borrados, os de Aldeia de Joanes.

Cabeças de Burro, os do Fundão.


P. S. Quem tiver interesse, poderá ler o escrito integral na Etnografia da Beira, vol. III, edição, creio, de 1926, na rubrica "Alcunhas". Mais à mão, tenho imagens dessas páginas, que coloquei no seguinte endereço:

 https://youtu.be/OFO5-44QWb4

domingo, 12 de novembro de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Simão

José Simão nasceu no Casal da Fraga, a 17 de maio de 1893. Era filho de Joaquim Simão, jornaleiro, natural da freguesia de S. Vicente da Beira, e de Felícia Maria, doméstica, natural de Rochas de Cima.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913, como recrutado, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21 em 13 de janeiro de 1914, como atirador de 1.ª classe.

Pronto da instrução da recruta em 30 de abril, foi licenciado em 1 de maio, regressando a São Vicente da Beira.

Apresentou-se novamente em 5 de maio de 1916 e, fazendo parte do CEP, embarcou para França em 21 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, no posto de soldado com o n.º 92 e a chapa de identidade n.º 44924.

Da sua folha de matrícula e boletim individual do CEP consta o seguinte:

a)   Punido em maio de 1916, pelo Comandante da Companhia, com 2 faxinas, por estar sentado na cama durante o dia e não se ter levantado prontamente à voz de sentido dada quando o comandante entrou na caserna;

b)   Punido em 20/08/1917, pelo Comandante da Companhia, porque, quando se fez a distribuição do vinho à Companhia, disse para alguns dos seus camaradas que os rancheiros não lhes davam a ração que era dado e eram todos uns ladrões;

c)    Punido em 16/03/1918, pelo Comandante da Companhia, com 10 dias de detenção, por faltar aos trabalhos de S. Naast, no dia 13;

d)   Punido em 02/05/1918, pelo Comandante da Companhia, com 4 dias de detenção, por ter faltado aos trabalhos, em 28 de abril;

e)   Punido em 17 /9/1918, com 12 dias de detençã,o por ter feito uso dum passe regulamentar fora da data, que lhe tinha sido concedido em vez de o ter entregado, saindo da sua área de estacionamento sem autorização;

f)     Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de1918, onde ficou com o n.º 718, porque, de acordo com a folha de matrícula "encontrando-se com prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente do inimigo, insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores";

g)   Marchou em diligência do Depósito Disciplinar 1 para o Tribunal de Guerra, a fim de ali ficar à disposição daquele tribunal, em 22/02/1919;

h)   Em 16 de março de 1919, foi condenado pelo Supremo Tribunal de Guerra, na pena de 7 anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de deportação militar;

i)     Repatriado para Portugal, no dia 05/06/1919, com o Serviço de Adidos, na condição de condenado;

j)     Passou ao presídio militar de Santarém, em 28 de junho, a fim de cumprir a pena a que tinha sido condenado;

k)    Amnistiado pela Lei n.º 1198 de 2 de setembro de 1921, foi solto por ordem da Secretaria da Guerra e passou ao Regimento de Infantaria 21, em 26 de Setembro de 1921. Foi licenciado em janeiro de 1922 e domiciliou-se em São Vicente da Beira.

Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de dezembro de 1923, e ao Regimento de Infantaria 11, em 17 de julho de 1931, por ter transferido a residência para a freguesia de Bocage, em Setúbal.

Passou à reserva ativa em abril de 1928 e à reserva territorial em Dezembro de1934. Em 31 de dezembro de 1934, foi-lhe dada baixa por ter cumprido toda a obrigação de serviço militar.    

Família:

José Simão casou com Gertrudes Rosa, na Conservatória do Registo Civil de Setúbal, no dia 21de outubro de 1925. Sabe-se que tiveram filhos e netos, mas não mantiveram um relacionamento de grande proximidade com os familiares em São Vicente da Beira. Não existem, por isso, muitas memórias deste ramo da família.

O casal terá vivido sempre na cidade de Setúbal e foi ali que José Simão faleceu, na freguesia de Nossa Senhora da Anunciada, no dia 19 de Fevereiro de 1975. Tinha 81 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra