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sábado, 25 de novembro de 2023

Campanha da azeitona, 2023

 Quando no ano passado o meu cunhado Quim, que comprara uma máquina de varetas, me disse que se colhia com ela muito mais depressa a azeitona, soube que estava lixado. O meu método era (é) arcaico, e consequentemente demorado, e por isso eu não poderia responder aos níveis de exigência cada vez maiores dos lagares, em termos de qualidade da azeitona ali entregue.

Para equacionar mais facilmente a questão, vou-a explanar em dois tópicos:

- Este ano entreguei azeitona em dois lagares (quantidades ridículas) e em ambos estive cerca de 5 horas, com filas de dezenas de veículos a aguardar a sua vez. Primeira conclusão: os lagares não dão resposta ao ritmo de colha das pessoas.

- No lagar de Vila Velha de Ródão é proibido entregar azeitona em sacas, norma que eu desconhecia por não ir lá há 3 anos. Uma camioneta carregada de sacas foi mandada embora e eu fiquei, porque levava pouca, mas toda a azeitona foi inspecionada e 6 sacas foram recusadas. No Ninho do Açor aceitam azeitona em sacas, mas com críticas a quem as leva, pois, com o calor que esteve, a azeitona degrada-se nas sacas em poucas horas. Uma pessoa que levava azeitona já podre (em sacas) sofreu a pena de a sua produção ser feita à parte (em ambos os lagares, a azeitona vai para um monte comum e a cada produtor é entregue o azeite correspondente ao peso de azeitona e ao nível de gordura revelado na análise realizada no momento da entrega). Segunda conclusão: as sacas de plástico transparente, tão defendidas há alguns anos, são cada vez menos aceites e de facto contribuem para a degradação rápida da azeitona, em tempo quente com o que tivemos este ano, na segunda e terceira semana do mês.

Como perceberam, a falta de resposta dos lagares dificulta a entrega da azeitona com a melhor qualidade possível. Há lagares que a aceitam podre, mas eu no ano passado fiquei com azeite de má qualidade porque, num lagar onde fui, o cliente imediatamente anterior a mim entregou azeitona podre e a dele e a minha foram feitas juntas, pois eram em pequena quantidade.

O aquecimento global (este ano, os meses de outubro e novembro bateram recordes) vem agravar este problema, pois na árvore a azeitona vai sofrer mais com a gafa e, após a colha, a azeitona tenderá a degradar-se depressa.

Para terminar, deixo um apontamento ecológico, sugerindo um contributo de cada um de nós para mitigar o aumento das temperaturas. Tem a ver com o que fazer com as ramagens da colheita ou da poda. Portugal vai estar a arder até lá para março, devido às tradicionais queimas da rama das oliveiras. As ramagens são carbono. Se ficarem no solo, esse carbono transformar-se-á em novas ramagens. Se forem queimadas, sobem para a atmosfera na forma de dióxido de carbono e vão contribuir para o aquecimento global. É verdade que Portugal é campeão no tráfego aéreo de aviões a jato, é campeão no estacionamento de navios-cruzeiro (ambos altamente poluentes e restringidos ou proibidos em alguns países) e está na cauda da Europa em termos de reciclagem (apenas 12% do lixo), mas cada um de nós deve fazer o que está nas suas mãos, para que o planeta continue a ser habitável para os humanos. Sugestão: amontoar as ramagens em local onde não estorvem.

José Teodoro Prata

domingo, 11 de dezembro de 2016

A azeitona já está preta

Estamos em plena época da colheita da azeitona, fruto de inverno; muitos olivais este ano não produziram, nota-se no lagar; a que vingou é de muito boa qualidade.
Dizem os entendidos na matéria; devido às altas temperaturas do verão a mosca da azeitona não a estragou.   
Começava a colher-se a partir dos meados de Dezembro, Janeiro, Fevereiro… 
As mudanças climáticas, “uma realidade nos dias que correm” alteraram completamente a recolha.
Amadurece mais cedo. Se não se colhe a tempo, mirra, seca e cai.
Alguém mais madrugador dirigia-se à praça e tocava uma corneta que anunciava a partida para os olivais.
Os campos eram alegres, camaradas de azeitoneiros “armados” com uma escada ripavam e cantavam.

A azeitona já está preta
Ai solidó, solidó
Já se pode armar aos tordos
Ai; ai,ai, ai, ai

As mulheres estendiam mantas, apanhavam o fruto que estava por baixo das oliveiras, rebuscavam e limpavam-na.
De vez em quando, colhedores entravam em confronto verbal com as camaradas vizinhas:

Ó Jaquiiim! No sejas lambão
Colhe azeitona, no sejas calão

Por sua vez, o visado retorquia gritando:

Calão és tu, no podes com a escada
Tens a mania, no vales nada

É verdade, é verdade; respondiam todos, rindo

Passavam horas chacoteando-se.
As cachopas regra geral tinham sempre uns raminhos de oliveira enfeitados com alecrim…
Quando algum viandante passava no caminho, a rapariga mais atrevidota, ramo na mão, dizia:

Aceitai este raminho
Senhor António da Tapada
Sei que é pobrezinho
Sempre é melhor que nada

Continuava dizendo mais um verso ou dois, o contemplado metia a mão na algibeira, gratificava com algum dinheiro. Conforme a bolsa assim era a quantia dada.
Árvores milenares, milhares arrancadas para serem substituídas por olivais de regadio.
Carrasquenhas, cordovis, galegas… foram transportadas para longes lugares onde ornamentam jardins.
Levam a oliveira centenária, deixam a oliveira com duração limitada.
Mediterrânica, é um óleo natural muito apreciado e saudável, tem as mais diversas aplicações.
Era o nosso petróleo. Com a industrialização e a descoberta de jazidas de crude passou para um plano secundário, já não é utilizado na iluminação, mas continua a consumir-se na alimentação.
As tabornas (tibornas); simples, tão boas!
Gostava de acompanhar o meu avô José ao lagar do Major, quando ia medir o azeite. Levava uma fatia de pão, torrava-se no brasido da fornalha e o mestre lagareiro tirava da tarefa um pouco de azeite acabado de fazer, quentinho, temperava-a, era um petisco de qualidade. Por vezes havia umas postas de bacalhau a assar nas brasas, um pitéu.
No lagar existia um local que se chamava inferno! Metia-me cá uma confusão…
Era o lugar onde iam parar as águas russas misturadas com algum azeite que os lagareiros aproveitavam.
O azeite, noite e dia alimentava a lâmpada sagrada do sacrário, ainda é utilizado nos sacramentos do baptismo e da confirmação.
Oliveira, árvore milenar, juntamente com a pomba, simboliza a paz e a esperança.
O primeiro objecto que a pomba levou a Noé foi um raminho de oliveira. Estime-se e preserve-se
No dia 26 de Novembro, faleceu o grande compositor senhor Arlindo de Carvalho, que tão bem cantou a nossa região. Natural da vila da Soalheira, onde ficou sepultado. Autor e intérprete:- Chapéu Preto, Fadinho Serrano, Castelo Branco...

A azeitona já está preta
Já se pode armar aos tordos
Diz-me lá ó cara linda
Como vamos de amores novos

J.M.S