Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Poesia Simples: Apresentação
Texto da apresentação do livro Poesia Simples, da autoria de
José Augusto Alves, por José Miguel Teodoro; dia 3 de agosto, na Igreja da
Misericórdia
Chega hoje ao fim a segunda de três vidas desta Poesia Simples, de José Augusto Alves, o
Zé da tia Rita.
Teve uma primeira vida - que foi o tempo em que foram
compostos estes versos.
Estimamos, um período de quase 20 anos, começado em 1969 ou
1970. Não sei se, antes disso, o José Augusto Alves já fazia poemas; sabemos,
porque ele o escreveu, que foi a partir do diagnóstico de uma doença grave que
encheu de poemas os 4 ou 5 cadernos que nos chegaram.
José Augusto Alves nasceu em S. Vicente, em 1918, e aqui
viveu até aos 70 anos. Filho da tia Rita e do tio Augusto Manha.
Falemos agora da segunda vida desta Poesia Simples.
Para contar rapidamente como é que aqui chegámos, neste
projecto realizado a três, que três são os responsáveis editoriais do livro - o
José Teodoro Prata, a Maria Libânia Ferreira e eu próprio.
Talvez, no ano passado, falou-se de autores de S. Vicente,
que pudessem dar um livro.
Inevitavelmente, falou-se de José Pires Lourenço.
E aí se falou de outros nomes, falou o ZTP, além do José
Lourenço, a Ana Vitorino Silva e o José Augusto Manha.
Fez-se depois à localização e recolha dos materiais:
- no jornal Pelourinho,
que se publicou em São Vicente, a partir de 1960, onde encontrámos o José
Lourenço, a Ana Vitorino Silva, também o José Bernardino, e outros
- contactos com particulares, e com o GEGA.
Lemos tudo isso.
O que publicar, então, que fosse mais interessante para as
pessoas de São Vicente?
Até podia ser um livro que incluísse poemas de vários
autores.
Acabámos por nos decidir pelo José Augusto Alves.
Mais de 200 poemas, de temas muito diversos, tudo em verso:
uma História de Portugal; uma reportagem, digamos, da visita do Papa a
Portugal; uma biografia de São Francisco; creio que outra de Santo António;
acontecimentos nacionais (a seca, os fogos, eleições, etc.); família; a doença,
consultas, etc.; São Vicente, locais e pessoas.
Decidimo-nos por estes.
Depois, foi passar o manuscrito em processador de texto, e
tratar de toda a parte editorial, cujo resultado aqui trazemos, na forma deste
livro.
Mantivemos o título, Poesia
Simples, atribuído pelo poeta a todo o conjunto do que escreveu.
É nosso o subtítulo, Versos
sobre a minha terra, São Vicente da Beira, que resume o conteúdo, em
concreto.
O que nos parece mais assinalável nestes versos e no livro:
- as nossas coisas - a igreja, as capelas, festas,
eventos sociais, ruas, a praça, o pelourinho, a fonte velha, a banda, o clube
de futebol, a casa do povo, o hospital, etc.
- as pessoas - pessoas que conhecemos e que ele nomeia, pelos
nomes próprios, muitas vezes pelas alcunhas: Zé Té-Té, o Pinura, o Arrebotes, o
Tó Relojoeiro, o Zé Ar, a Filha do Talanga, o João Cagarola, ele próprio, José
da Tia Rita e a mulher, Palmira Sardinheira.
- a visualidade - ele dá a ver, quando descreve uma rua, uma
capela, é quase um repórter, ou um pintor, ou desenhador (tem uma porta, 15
janelas, pilares, o telhado é assim...), e nós é como se estivéssemos a ver, a
conferir...
- a relação, o compromisso com o leitor, parece estar sempre
a dialogar connosco, ao ponto de escrever - traduzo - agora tenho de voltar
atrás, porque me esqueci de...
- o volume enorme da sua produção.
Foi assim, a segunda de três vidas desta Poesia Simples.
Neste ponto, devo registar e agradecer a colaboração e disponibilidade dos descendentes de José Augusto Alves; o apoio do GEGA no acesso aos materiais para este livro; o acolhimento pela Santa Casa, que aceitou fazer a edição; os apoios financeiros, sem os quais não seria possível vender o livro por este preço - a Câmara de Castelo Branco, a Fonte da Fraga, e a Junta de Freguesia de São Vicente; o apoio da Comissão das Festas do Verão e do José Candeias, da Antena 1, na divulgação.
Pessoalmente, agradeço aos meus companheiros desta jornada -
José Teodoro Prata e Maria Libânia Ferreira - ao Ricardo Santos e ao Artur
Santos, que produziram o livro.
Inicia-se, agora a terceira vida da Poesia Simples.
O livro passa a ser dos leitores.
Adquiram um exemplar e deliciem-se com a oportunidade de
viajarem no tempo, em locais conhecidos e com pessoas que conhecemos
pessoalmente ou de quem ouvimos falar.
Bom proveito.
Muito obrigado.
(Publicado por José Teodoro Prata)
quarta-feira, 16 de julho de 2025
Poesia Simples
Domingo de Festas, dia 3 de agosto, a nossa comunidade
vicentina vai homenagear um dos nossos poetas populares, José Augusto Alves. Ou
melhor, vamos conhecer as homenagens que ele nos deixou, narrando
acontecimentos e falando de nós em versos rimados.
A sua poesia é um retrato de São Vicente da Beira, nas
décadas de 1970 e 80. Um retrato cheio de autenticidade e despojado de
paternalismos.
Encontramo-nos na Igreja da Misericórdia, às
15:30h. A edição é da Santa Casa da Misericórdia. Não deixem acabar as Festas
de Verão sem terem a Poesia Simples deste filho da ti Rita e do ti Augusto. O
preço é acessível, só para os custos da impressão.
José Teodoro Prata
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Ó meu São João Batista
Acordei com um forte batuque e vozes de mulheres a cantar. Cheguei-me à janela e uma pequena multidão descia a rua, atrás de adufeiras, que cantavam e bailavam ao ritmo dos seus adufes.
São
João subiu ao céu
A
regar o seu jardim.
Trouxe
um cravo p´ra Sant´Ana
Outro
p´ra São Joaquim.
Vesti-me
à pressa, saí para a rua e misturei-me com as pessoas. O que é isto?,
perguntei. São as adufeiras de Penha Garcia, é uma homenagem à Ti Rita!, alguém
me informou.
São
João não tem capela
Venha
cá que la darei.
Tenho
cá cravos e rosas
E
outras flores buscarei.
Descemos
a rua e o cheiro a rosmano e marcela a arder sentia-se cada vez mais forte. Na
praça ardia uma grande fogueira e em volta um grupo fazia coro com o Manel
Ceguinho que tocava na concertina uma modinha do São João. As adufeiras e
acompanhantes juntaram-se a eles e depois todos se dirigiram para o pelourinho,
onde lançaram ginjas à rebatinha.
Esta
noite hei de ir às ginjas
Esta
noite hei de ir a elas – ai lindó.
Quem
as tiver que as guarde – ai lindó
Se
não ficará sem elas – ai lindó.
Fui beber
água à fonte de São João. Como estava linda, enfeitada com vasos de cabeleiras
brancas amareladas! Quem fez isto tudo? Como apareceram aqui? As crianças da
escola!, disseram-me. E os papelinhos com as quadras ao São João? Também foram
elas.
São
João lá vai lá vai
Ai se
lá vai, deixai-o ir.
Ai
qu´ele é menino mimoso
Ai
vai ao céu e torna a vir.
Desci a
Rua do Beco e, em frente à padaria, as filhas da Sr.ª Céu tinham trazido um cântaro para a rua, que rapazes e raparigas, em fila e de costas, lançavam à pessoa que
estava atrás de si. Além falhou e o cântaro caiu no chão e ficou em cacos. Risada
geral.
São
João era bom homem
Se
não fosse tão velhaco.
Ia à
fonte com três moças
E
vinha de lá com quatro.
Mais
animação no largo da Fonte Velha, também ela enfeitada com cabeleiras. Outra
fogueira ardia, enchendo o largo de fumo acre do rosmaninho e adocicado da
marcela. Rapazes saltavam as chamas, constantemente avivadas pelo guardião da
reserva de rosmano ali ao lado. Um tocador desceu a Rua da Costa, vindo lá do
alto de onde se avistava fumarada. Era o Zé Té-Té, com a concertina, que deu
voltas à fogueira com os rapazes e as raparigas a cantar e a bater palmas.
Para
o São João que vem
Já
não moro nesta rua.
Inda
não tenho casa
Menina
arrende-me a sua!
Depois
seguiu pela Rua Velha e eu segui os foliões. Ao fundo da Rua Nicolau
Veloso, mais animação, e na Fonte de São António juntámo-nos às adufeiras
acabadas de chegar. Os adufes e a concertina animaram um bailarico em frente à
casa do sr.º Manel da Silva.
Donde
vens tu São João
Donde
vens tão molhadinho?
Venho
do rio Jordão
De
regar o cebolinho.
O cortejo
voltou à Praça e, surpresa, já não era um tocador, eram muitos, cada um vindo
de um cruzamento de ruas, todos convergindo para o centro. Quem são? Porquê
tantos?, perguntei. São os da Carapalha e vieram recordar todos os nossos tocadores de
concertina.
No
altar de São João
Nasceu
uma cerejeira.
Qual será
a mais ditosa
Que lhe
colherá a primeira?
O arraial
de São João estava animado, mas eu regressei à minha rua, atraído pelo
cheirinho a sardinha assada do tradicional arraial organizado pelo Zé
Cavalheiro. Estavam os vizinhos todos, às voltas com sardinhas, pão e vinho, em
alegre cavaqueira. Na fonte havia vasos de manjericos. Passei-lhes a mão,
cheirei e fui ficando, sem pressas de voltar aos lençóis.
Do
São João ao São Pedro
Quatro
a cinco dias são.
Moças
que andais à soledade
Alegrai
o coração.
Notas:
1.
Não há
sincronia neste texto, pois cruzo nele pessoas e tradições de épocas
diferentes.
2.
Um dia,
poucas semanas antes do início da pandemia, reuni-me com o Carlos Semedo,
sugerindo-lhe a realização de algumas das nossas tradições do São João, no
Festival Água Mole em Pedra Dura, que se realizava no fim de semana próximo da
festa deste santo. Este texto é um pouco do que combinámos, mas ficou por
concretizar.
3.
As quadras
foram retiradas do livro Etnografia de S. Vicente da Beira, de Isabel Teodoro
José Teodoro Prata
segunda-feira, 2 de junho de 2025
Restauro dos retábulos da Orada
Ia escrever no título "retábulos franciscanos", mas
o que se fez na nossa ermida da Senhora da Orada foi mais que isso. Aos
retábulos franciscanos foram acrescentadas pequenas partes, pois a adaptação ao
espaço menor da capela terá motivado alguns cortes mais descuidados. É que a
Igreja de São Francisco do extinto convento feminino franciscano era maior que
a Igreja da Misericórdia e por isso o retábulo que hoje temos seria
originalmente bastante maior. Já agora, a Igreja de São Francisco localizava-se
no local onde depois o sr. José Lourenço fez um palheiro, cujo edifício ainda
existe, encostado à casa que foi dos meus avós maternos e onde, na minha
infância, viviam os meus tios Zé Lopo e Maria José Prata.
O meu pai participou na construção desse palheiro e contou-me
que na abertura dos alicerces foram encontrados imensos ossos de pessoas ali
sepultadas. Também o Pe. Branco me disse que na rua, em frente ao referido
palheiro, apareceram imensos ossos humanos aquando da abertura das valas para o
saneamento básico, nos últimos anos da década de 60 do século passado. Até
cerca de 1826, data da construção do nosso cemitério, enterravam-se as pessoas
dentro e em redor das igrejas!
Altar principal. No brasão, ao alto, pode ver-se o símbolo franciscano do braço desnudado de Cristo (aquando da sua morte) cruzado com o braço com o hábito franciscano. O retábulo é policromado, porque tem várias cores: amarelo dourado, azul e rosa. É de estilo barroco e terá sido construído cerca de 1700: porque a época áurea do convento terá sido na segunda metade do século XVII e na primeira metade do século XVIII; porque, na azulejaria barroca, o século XVII é o período do policromado (várias cores) e o século XVIII do monocromado (azul sobre fundo branco). Algo de semelhante se terá passado com a talha dourada. Já agora, este conceito vem do facto destes retábulos serem feitos de madeira trabalhada, talhada com o formão, e serem depois revestidos com tinta amarelo dourado / folha de ouro.
Os retábulos laterais, que eram muito pobres, foram significativamente melhorados. A estes retábulos foram acrescentados altares. Neste, do lado da Epístola (à direita do celebrante, quando virado para o altar), foi colocado São Brás.
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Restauro do retábulo do altar da Orada
No próximo domingo, dia 25 de maio, pelas 12:20h, realizar-se-á a cerimónia de inauguração do restauro do retábulo da ermida de Nossa Senhora da Orada, São Vicente da Beira, evento integrado na romaria anual à mesma Senhora.
Este acontecimento reveste-se de enorme importância, pois o
dito retábulo, que adorna o altar-mor da capela, é policromado, data do século
XVII e foi trazido da Igreja de São Francisco do extinto convento das religiosas
franciscanas, que existiu nesta vila entre meados do século XVI e 1834, data da
sua extinção.
E à enorme importância deste evento acresce o facto de o dito
retábulo se encontrar em péssimo estado, a desfazer-se em pó, temendo-se a sua
perda irreversível, se não fosse recuperado já.
Bastava esta obra para que o nome de Leopoldo Rodrigues, o presidente
da Câmara que tornou esta recuperação possível, fique ligado para sempre à
valorização do nosso património cultural e religioso. Por mim, o meu profundo
obrigado.
(A foto do brasão franciscano do retábulo é do Jaime da Gama
e foi tirada em 2015)
José Teodoro Prata
terça-feira, 20 de maio de 2025
terça-feira, 13 de maio de 2025
Milho-rei
Na última sessão do projeto Conta-me histórias, realizada no Casal da Fraga, o Marinheiro e o Chico Insa falaram da descamisa, nas Quintas, onde houveram nascimento e criação. E a Teresa Marcelino cantou as cantigas que nela se cantavam. Depois a Libânia escreveu este texto, com as histórias que contaram e outras informações que recolheu.
Gosto
de broa. Tanto que, em tempos, quase achava estranho o desabafo de quem, como os
nossos pais e muitas gerações de avós, não teve outro pão em criança: «Quero cá
agora broa! Enchi a barriga dela em novo, que era o pão que havia: broa e
centeio; trigo, só nas Festas.» Quase achava estranho porque me lembrava dela
ainda a fumegar, aberta pelas mãos da minha avó, logo à saída do forno, regada com
um fio de azeite. E era um regalo, nos dias em que passava a Ti Palmira, o
Maiaca ou o Pinura, uma fatia de broa com uma sardinha assada a pingar por cima,
comida nas escadas da Casa do Casal, entrada de tanta gente…
Não
vão longe os tempos em que, fins de abril, princípios de maio, todos os
lameiros à roda da Ribeira estavam prontos para a sementeira do milho. Era
trabalho para toda a família e, se fosse preciso, podia sempre contar-se com a
mão de algum vizinho. Depois da semente na terra, estando a Lua de feição, passado
pouco tempo era um mar de verde por aí acima.
Durante
meses não havia descanso a arrelentar, sachar, mondar e regar. Em alturas de
seca havia quem tivesse que regar a meio da noite, alumiado pela Lua ou à luz da
lanterna (em tempos idos, o avistamento destas luzes alimentou o imaginário
popular, que acreditava tratar-se de almas penadas a vaguear pelo mundo). Lá
para finais de setembro o milho estava pronto a ser colhido. Nos anos bons,
cada grão deitado à terra dava umas três maçarocas. Não haveria fome na mesa
nem na manjedoura.
Naquele
tempo, entre o Rabaçal, o Vale Caria, a Senhora da Orada, o Ribeiro Dom Bento e
as Quintas viviam para cima de dez famílias, algumas com muitos filhos. Quase
toda a gente tinha terras suas, e quem não tinha arrendava-as ou tratava-as ao
terço, como a Ti Maria Etelvina ou o Ti Luís Teodoro, que eram terceiros do
António Neto.
Era
uma vida difícil e de muito trabalho. As crianças vinham a pé para a escola, às
vezes descalças e mal agasalhadas. Há quem ainda não se tenha esquecido dum par
de reguadas em cada mão só porque, para fugir dum aguaceiro, se demorou num
curral à espera que estiasse. Há também quem ainda sinta o gelo a estalar na
sola dos pés, memórias de quando vinha por aquele caminho abaixo, nas manhãs
frias de inverno.
Os
mais velhos trabalhavam de sol a sol durante quase todo o ano. Domingos, só
para a missa; quando muito, um copo com algum amigo, que o ganal não esperava.
Só se perdia algum dia para ir ao mercado ou à feira do Fundão, onde se aviava
o que era preciso e vendia o que se pudesse, quase sempre alguma cabeça de gado.
Com tanto trabalho, não havia tempo para grandes folguedos, mas qualquer
oportunidade que aparecesse servia para tirar a barriga de misérias. Era assim
no tempo das descamisas.
«Antigamente
as pessoas eram mais dadas e ajudavam-se umas às outras naquilo que podiam. Na
altura de colher o milho, era só dizer:
- Ó Ti Matias (é só um exemplo), amanhã vamos
colher o milho, apareçam para a descamisa.
No
fim da ceia as pessoas iam chegando, as que tinham sido convidadas e outras só
por terem ouvido dizer. Naquele tempo havia poucas ocasiões para divertimentos,
e as descamisas, por serem à noite, eram oportunidades que ninguém queria
perder, principalmente os rapaz e as raparigas. Quando se sabia duma,
passava-se logo a palavra.
À
medida que chegavam, sentavam-se numa roda à volta do monte de milho colhido
durante o dia. Não havia lugares marcados, mas toda a gente fazia por se sentar
ao pé de alguém por quem tinha alguma preferência, às vezes amores secretos.
Arranjaram-se muitos namoros assim.
Os serões
eram sempre animados a contar piadas e anedotas que punham toda a gente a rir;
e quando alguém começava a cantar:
Ó
malmequer mentiroso,
Quem
te ensinou a mentir?
Toda a gente ia atrás:
Tu
dizes que me quer bem,
Quem
de mim anda a fugir.
Desfolhei
o malmequer
Num
lindo jardim de Santarém,
Malmequer,
bem me quer,
Muito
longe está quem me quer bem.
Malmequer
não é constante,
Malmequer
muito varia,
Vinte
folhas dizem morte,
Treze
dizem alegria.
E
atrás desta vinham outras: “Milho verde”, “No cimo daquela serra”, “Água leva o
regadinho”… Mas as mãos não paravam, entre a pressa de acabar o trabalho para
começar a festa, e a cata de uma maçaroca vermelha.
Quando
se ouvia gritar:
- Milho-rei!
Milho-rei!
Calava-se
tudo a ver quem tinha sido o felizardo ou a felizarda. Quem quer que fosse,
levantava-se e corria a roda a dar um abraço a toda a gente. Para os mais novos
era uma libertação, que podiam abraçar-se às claras, sem a censura própria
daqueles tempos. Desconfiava-se mesmo que alguns rapazes já levavam de casa uma
maçaroca vermelha, só para poderem abraçar as raparigas.
No
fim do trabalho, os donos ofereciam qualquer coisa para comer e beber, quase sempre
pão com queijo, passas, maçãs… e aguardente para os homens ou jeropiga para as
mulheres A seguir fazia-se um bailarico ao toque de realejo. Naquele tempo havia
muitos rapazes que sabiam tocar bem, mas o Joaquim Feijão, o João Borrego e o
Manel Primo, que vinha do Casal da Serra de propósito, eram dos melhores e estavam
lá sempre caídos.
O
meu pai é que, mal começava o baile, punha-se logo:
- Ó
meninos, dois palmos, dois palmos!
E
levantava as mãos espalmadas, unidas pelos polegares. Até parecia que se pegava
algum mal, quando o que a gente queria era divertir-se.
E por aqueles dias havíamos de ter outros serões iguais, quer fosse na descamisa do António Remualdo, do Francisco Insa, do João Serra, do António Passaraço, ou doutro vizinho qualquer.»
ML Ferreira
sexta-feira, 4 de abril de 2025
O nosso falar - Dar a salvação
Uma
das melhores formas de aprender é por imitação, principalmente quando se trata
de regras de convivência social. Dar a salvação é um bom exemplo. Desde
crianças que começámos a dizer bons dias,
boas tardes ou boas noites a toda a gente por quem passávamos (os mais velhos
ainda nos lembramos de ouvir Nosso Senhor
lhe dê bons dias; Nosso Senhor o
ajude; Vá com Deus, Nosso Senhor o acompanhe…). Ninguém nos
disse que tínhamos de o fazer, mas imitávamos o que víamos aos nossos pais e a
outros adultos significativos, sempre que passavam por alguém na rua, fosse ou
não gente da terra.
Negar
a salvação era a pior ofensa que se podia fazer a alguém, e só acontecia quando
a zanga era séria; por isso, a primeira vez que íamos à cidade (para muitos era
a ida a Castelo Branco para o exame da quarta classe) achávamos estranho que as
pessoas passassem umas pelas outras e não dessem a salvação, como se andassem
todas zangadas. A situação piorava quando, como aconteceu com alguns de nós,
íamos viver para uma cidade maior. Sentíamos que parte da nossa humanidade
tinha ficado para trás.
Regressados
à terra, muita coisa mudara: as crianças tinham-se feito homens e mulheres e já
não tínhamos o nosso pai e a nossa mãe a esperar-nos à porta de casa. Apesar
disso continua a ser reconfortante passar por alguém na rua e, muitas vezes,
poder ir para além dum apressado «bom dia». Estranhamente, começa a ser
frequente cruzarmo-nos com pessoas, geralmente mais novas, que, de tão
mergulhadas nas próprias bolhas, passam pelos outros como seres invisíveis.
Há
quem diga que é só falta de educação; é possível que seja sobretudo sinal de um
tempo de maior isolamento e solidão…
ML Ferreira
sábado, 29 de março de 2025
Alheiras e brincadeiras
A matação tinha, no nosso passado, uma dupla função:
económica e social (Albano Mendes de Matos, “A Matação na Gardunha”. 2007).
Económica, pois garantia às famílias a proteína para alimentar os corpos ao
longo de todo o ano; social, porque era uma reunião de família e até agregava
amigos e vizinhos mais chegados.
A interajuda era por isso uma constante, começando na véspera
da morte do animal e prolongando-se pelos dias necessários, até o fumeiro estar
repleto e a salgadeira cheia. E, nessa partilha de tarefas e saberes, nunca
faltava o convívio, muitas vezes em forma de brincadeiras.
O Chico, matador experiente e grande contador de histórias
passadas, contou-nos algumas. Havia um homem muito mulherengo, que achou no
bolso do casaco a genitália de uma porca várias vezes parideira acabada de
matar. Ficou furioso e logo apontou um culpado. Não, disse uma mulher, fui eu,
para que tenhas uma ao teu dispor, sempre que te apetecer e essa é bem grande!
Outro costume das matações era os homens meterem nos bolsos
dos rapazes os cascos (as sapatas/as unhas) que tiravam das patas dos porcos.
Arrancá-las era das tarefas mais complicadas, pois tinham de ser bem queimadas,
até ficarem quase em brasa, depois eram pontapeadas e finalmente arrancadas com
um puxão violento e rápido, antes que se queimassem as mãos, que se queriam
calejadas. Um dia, alguém arrancou uma unha e atirou-a ao ar, na urgência de a
largar. Um rapaz abalou aos gritos e saltos, pois a unha quase em fogo
entrara-lhe pelo colarinho da camisa desabotoada e descera pelas costas.
Estes meses frios, próprios para as matações, seriam dos
períodos do ano mais complicados para aqueles dos cristãos-novos que nos
séculos passados persistiam secretamente nas crenças e práticas do judaísmo.
Para os povos do Médio Oriente, o porco é um animal imundo, que não se deve
comer. Tanto o judaísmo como o islamismo incorporaram essa regra na sua
teologia, embora a crença seja possivelmente anterior a estas religiões. É
estranho que mesmo ao lado, na civilização egípcia, muito anterior àquelas, se
acreditava que a deusa Nut, a abóbada celeste, era uma porca deitada a
alimentar as suas crias, os corpos celestes (devorava-os ao amanhecer, por isso
estão ocultos à luz do dia, mas vomitava-os no crepúsculo da tarde, tornando-se
visíveis na escuridão da noite). Outros povos no passado e no presente (Nova
Guiné) consideram o porco um animal sagrado e por isso o sacrificam e consomem apenas
em moimentos especiais, como oferenda aos deuses. Sabendo nós que judeus e
muçulmanos não comem porco por ser imundo, mas consomem galinha, igualmente devoradora
de imundices, será que esta interdição de comer carne do porco teve antes
origem, em épocas primitivas, no seu carácter sagrado? Aqui socorremo-nos
novamente da obra “A Matação na Gardunha” de Albano Mendes de Matos.
Desconhecemos a origem da crença e os nossos antepassados
cristãos novos também não saberiam, nem isso lhes interessaria, se fosse essa a
sua fé. Para a esconder, inventaram as alheiras, enchidos feitos de carnes de aves e caça, com
que compunham o fumeiro e assim enganavam os vizinhos cristãos velhos. Mas como
evitar a “festa” da matação, sobretudo para aqueles bem inseridos nas
comunidades e até unidos por laços de sangue?
Crenças à parte, o porco devia ser bem alimentado, o que
dependia muito das posses dos seus donos. A sua rotina alimentar constava da
habitual lavadura, água obtida de uma pré-lavagem das loiças da alimentação
humana, a que se misturavam os farelos (cascas dos cereais). Pelos campos,
apanhavam-se saramagos, labaças, beldroegas… Na minha infância, contava-se que
o Doutor Alves dissera a alguém que desse couves ao porco para tornar a sua
carne mais saborosa. Comia, pois, couves, nabos e botelhas da horta e meses ou
semanas antes da matação engordava-se com bolota e bagaço dos lagares. Era uma
delícia comer o rabo do porco cozido, acompanhado de legumes, no Domingo Gordo!
(Coisas de que falámos na 6.ª sessão do Conta-me histórias,
no Casal da Fraga, dia 17-03-2025)
José Teodoro Prata
quarta-feira, 26 de março de 2025
Quaresmas
Chamamos-lhes quaresmas (as brancas) e por este dias enfeitam os nossos campos. Estas estão nos bordos do caminho, no Ribeiro Dom Bento, para as Quintas e a Senhora da Orada.
Nome científico: Saxifraga granulata.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 20 de março de 2025
A matação
Aqui,
sou a única mulher entre vários homens, quase todos partilhando semelhanças,
físicas e de modos, comuns a irmãos, filhos, tios e primos. Estão de copo na
mão, à roda de uma fogueira, perto da pocilga. «Não tem menos de oito arrobas!»,
gaba-se o dono, que andou a engordá-lo a bolota e bagaço nas últimas semanas. Há
quem se ria do exagero.
Esvaziados
os copos, um dos homens entra dentro da pocilga, ata uma corda numa das patas
do porco e tenta arrastá-lo para fora. Mas ele não quer sair, e grunhe, aflito.
Entram mais dois: um empurra o animal pelo rabo e o outro puxa-o pelas orelhas.
Já cá fora, ajudados por outros homens, levam-no até perto de um banco de
madeira, comprido e largo; juntando forças, estendem-no em cima, deitado de
lado, e tentam amarrar-lhe as patas com cordas, mas o animal continua a grunhir
e a estrebuchar, e quase cai do banco abaixo. Os homens enervam-se e berram,
atribuindo culpas uns aos outros, mas, por fim, conseguem imobilizá-lo. O dono
do porco desculpa-se com outros afazeres e afasta-se.
Uma
mulher aproxima-se com um alguidar de barro e coloca-o por baixo do pescoço do
porco, já bem lavado e seco. O matador espeta a faca de forma certeira e o
sangue escorre, farto, para o alguidar onde a mulher o apula e vai mexendo com
uma colher de pau. Depois de muita luta, o animal desiste, e deita cá para fora
o último sopro de vida. Há quem se ria: «Olha, já deitou a morcela!».
Alguns
homens vão chamuscando o corpo do porco com carqueja a arder; outros, por traz,
raspam-lhe a pele com a navalha que cada um traz no bolso. Demoram-se mais nas
orelhas, até ficarem bem limpas, e nos pés, até saltarem as unhas. O cheiro a pele
e a pelo queimado mistura-se com o cheiro a sangue e a medo. Depois de bem
lavado, carregam o animal para a loja, preso no chambaril pelas patas
traseiras, e penduram-no na sonave.
O
dono do porco reaparece; chegam também algumas mulheres; uma com um tabuleiro
de madeira debaixo do braço. É nele que o matador coloca as tripas retiradas através
de um corte feito desde a cabeça até ao rabo do animal. Corta depois um pedaço
de toucinho da barriga e entrega-o a uma delas: é para o seventre. Um homem
reclama a passarinha e as morejas para o petisco a acompanhar a prova do vinho
da última colheita.
Três
mulheres abalam para a ribeira; uma com o tabuleiro à cabeça; as outras com
baldes cheios de laranjas, sal e vinagre, para lavarem das tripas. As outras
juntam-se na cozinha e, enquanto umas se ocupam do almoço, outras pegam em
facas e tesouras, e todas sabem o que têm a fazer. A forma como aproveitam a
carne ensanguentada, a cortam e temperam com sal, cominhos, salsa e sumo de
laranja, tudo misturado no alguidar onde guardaram o sangue, diz bem da
experiência e das memórias colhidas de mães e avós. Na rua, os homens falam
mais alto, alguns já a justificar o dito «Porco morto, aguardente no corpo;
porco virado, mais um copo emborcado; vira-se outra vez….», que cumpriram à
risca.
À
mesa, entre novos e velhos, sentam-se para cima de vinte pessoas; quase só
homens, que as mulheres, depois da sopa, não param de encher travessas com
arroz de bacalhau, feijão baqueado, batatas cozidas, ervas e seventre, que vão
servindo aos homens. «E o vinho, já se acabou? Tragam mais vinho, não quero copos
vazios em cima da mesa!» reclama o dono da casa.
O
cheiro à morcela da prova, acabada de assar, espevita o resto da gula de todos.
- Parece que este ano ainda estão melhor!» Comenta
alguém.
- Cá na minha casa é tudo bom, que eu trato o
ganal como é dado!
- Estás a dizer que eu não trato bem o meu?
- Então quanto é que o teu pesava? Vá, diz lá!
- Cento e dez…
- Pois fica sabendo que o meu há de pesar mais
uns vinte.
- Como é que sabes? Já o pesaste?
-Não pesei, mas avalia-se pelos presuntos, ou
não sabes que é pelos presuntos que se vê?
- O que eu sei é que todos os anos dizes a
mesma coisa e depois vai-se a ver…
- Quando? Quando é que eu disse que o meu pesava
mais que o teu e era mentira?
A
cunhada interrompe:
- Já chega! Mas será possível que sempre que
vocês os dois se juntam à mesa, há discussão?
- Se sou ofendido, não tenho que me defender?
Que diabo!
- Acabem lá com isso e comam as papas, que
estão de comer e chorar por mais.
E a
conversa prossegue durante o café, amolecida agora por mais um copinho de
aguardente «para ajudar a desmoer»:
-Este até me seguia. Era só dizer: «anda,
anda» e ele vinha atrás de mim. Levava-o para o leirão de baixo para comer a
azeitona caída e no fim era só dizer: «Anda embora», e ele vinha.
O matador
não quis ficar atrás:
- Um cabrito que eu lá tinha também era a
coisa mais esperta que já se viu. A mãe rejeitou-o e tive que o criar a biberão.
O corno andava comigo para todo o lado. Eu vinha para aqui e ele vinha, eu ia
para ali e ele ia. Pelo Natal chamaram-me aí numa casa para ir matar um cabrito.
Fui e quando volto o gajo vem ter comigo, que sempre que chegava, ele vinha ter
comigo. Chego-me à beira dele para lhe fazer uma festa e o gajo cheira-me e
começa recuar, desconfiado. Chamo-o “Anda cá”, e ele foge-me. Fiquei preado!
“Anda cá, seu filho duma cabra, que eu já te enxofro”, corri atrás do gajo e
pumba: acertei-lhe mesmo no meio dos cornos. Nem fui capaz de o comer… Isto
para dizer que os animais são espertos… Mais que algumas pessoas.
Depois,
volta-se para o dono da casa:
- Mas
se te custa tanto matar os bácoros, porque é que os crias? Deixa-te disto.
- Já
estava criado, o que é que querias que lhe fizesse? Fazia como a Ti Porquéria
que teve lá um que até já tinha os dentes revirados?
- Eu
sou franco, também não é trabalho que goste de fazer, mas se não sou eu e mais
um ou dois que ainda por aí há, quem é que mata algum porco que por aí se vai
criando? Dantes havia cá muitos matadores: era o Mudo, o Fernando Latoeiro, o
João da Resgate, o Fecisco Ramalho…; no Casal era mais o Jaquim Pique, mas
havia outros que também se ajeitavam. Nesse tempo, por esta altura, não tinham
mãos a medir. Quase que se governavam só com os presentes que recebiam. Tudo do
bom e do melhor; só de lombo, quem desse menos que uma mão-travessa, estava
chapado…
Já
era noite quando o matador foi desmanchar o porco. Depois, ajudado pelo dono,
meteu os presuntos e outros bocados de carne e toucinho na salgadeira, cada
peça devidamente separada da outra com sal: por cima as que se comiam mais
cedo; por baixo as que ficavam para o tarde.
As
mulheres terão ainda muito que fazer durante alguns dias a cortar e temperar as
carnes e gorduras destinadas aos enchidos: primeiro as morcelas, depois as
chouriças e no fim as farinheiras. As varas do fumeiro vão ficar penduradas sobre
a lareira até tudo estar capaz de ser guardado para ser comido pelo ano fora.
ML
Ferreira
segunda-feira, 17 de março de 2025
Como eram as matações e as descamisas
Ontem, o Conta-me histórias foi diferente, mais antropologia,
etnologia e etnografia do que as habituais pequenas histórias passadas com as gentes da nossa
comunidade. Mas a conversa foi muito animada e a maioria dos mais de 30
participantes deram o seu testemunho sobre os temas abordados: as matações e as
descamisas. Ficou o registo áudio, agora a passar a escrito.
A Lurdes Marcelino até nos surpreendeu com duas canções das
descamisas da sua juventude (noutras regiões designadas por desfolhadas). Uma
delas cantada pelo rancho vicentino e a outra imortalizada pelo Zeca Afonso:
Milho Verde.
O grande ausente-presente foi o Dr. Albano Mendes de Matos, do Casal da Serra, a propósito do seu estudo A Matação na Gardunha.
No final, um magnífico lanche, graças à generosidade da
Libânia e da Lurdes Marcelino. Obrigado também à direção do Centro Cultural e
Recreativo do Casal da Fraga.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Projeto Conta-me histórias, 6.ª sessão
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Cantar as Janeiras
https://www.facebook.com/zemanel.santos.1485/videos/616414840758419
As Janeiras cantavam-se e ainda se cantam, no mês de janeiro. Os cantores, grupo de amigos ou membros de uma instituição (por exemplo a Ordem Terceira, este ano) vão de porta em porta cantar as Janeiras, na expetativa de receber alguma paga.
As quadras que se seguem são de uma recolha realizada
por Maria Isabel dos Santos Teodoro e publicadas no seu livro Etnografia de S.
Vicente da Beira (e Arredores), editado em 2022.
Em cada quadra, repetem-se os versos terceiro e quarto
(bis). As reticências (...), quando existem, assinalam o local em que se deve
cantar o nome da pessoa, variável conforme a pessoa a quem os cantores se
dirigem. Os cantores cantavam algumas ou todas estas quadras e/ou outras que
achassem conveniente.
Refrão
Glória
a Deus dizem os Anjos
Todos
cheios de alegria
Já nasceu
o Deus Menino
Filho
da Virgem Maria
Inda
agora aqui cheguei
Pus o
pé numa escada
Logo o
meu coração disse
Aqui mora
gente honrada
S.
José se levantou
Uma vela
s´acendeu
Pr´adorar
o Deus Menino
Que à
meia-noite nasceu
De quem
é aquele chapéu
Que além
está dependurado?
Ai é
do menino…
Que é
um homem muito honrado
De quem
é aquele anel
Que além
está a luzir?
Ai é
da senhora…
Que pró
céu vai a subir
De
quem é aquela tesoura
Que está
de cima daquela cadeira?
Ai é
da menina…
Que é
uma bela costureira
Menina
…
Meu raminho
de salsa crua
Quando
sai de sua casa
Alumia
toda a rua
Viva lá
menina…
Meu raminho
de oliveira
Ainda
anda neste mundo
Já no
céu tem a cadeira
Levante-se
sra. Maria…
Desse
banquinho de cortiça
Venha-nos
dar as Janeiras
Uma
morcela ou uma chouriça
Levante-se
sr.…
Desse
banquinho de prata
Venha-nos
dar as Janeiras
Que está
um frio que mata
Esta
casa está caiada
Do telhado
até ao chão
Aos senhores
que aqui moram
Deus lhes
dê a salvação
Os donos
da casa abriam a porta e ofereciam aos cantores filhós, chouriças, vinho, etc.
Depois cantavam:
Despedida,
despedida
Despedida
vamos dar
Deus queira
que daqui a um ano
Cá tornemos
a voltar
Se não
lhes abrissem a porta, cantavam:
Trinca
martelos
Torna
a trincar
Este barbas
de chibo
Não tem
nada pra nos dar
José
Teodoro Prata
















