https://www.facebook.com/zemanel.santos.1485/videos/616414840758419
As Janeiras cantavam-se e ainda se cantam, no mês de janeiro. Os cantores, grupo de amigos ou membros de uma instituição (por exemplo a Ordem Terceira, este ano) vão de porta em porta cantar as Janeiras, na expetativa de receber alguma paga.
As quadras que se seguem são de uma recolha realizada
por Maria Isabel dos Santos Teodoro e publicadas no seu livro Etnografia de S.
Vicente da Beira (e Arredores), editado em 2022.
Em cada quadra, repetem-se os versos terceiro e quarto
(bis). As reticências (...), quando existem, assinalam o local em que se deve
cantar o nome da pessoa, variável conforme a pessoa a quem os cantores se
dirigem. Os cantores cantavam algumas ou todas estas quadras e/ou outras que
achassem conveniente.
Refrão
Glória
a Deus dizem os Anjos
Todos
cheios de alegria
Já nasceu
o Deus Menino
Filho
da Virgem Maria
Inda
agora aqui cheguei
Pus o
pé numa escada
Logo o
meu coração disse
Aqui mora
gente honrada
S.
José se levantou
Uma vela
s´acendeu
Pr´adorar
o Deus Menino
Que à
meia-noite nasceu
De quem
é aquele chapéu
Que além
está dependurado?
Ai é
do menino…
Que é
um homem muito honrado
De quem
é aquele anel
Que além
está a luzir?
Ai é
da senhora…
Que pró
céu vai a subir
De
quem é aquela tesoura
Que está
de cima daquela cadeira?
Ai é
da menina…
Que é
uma bela costureira
Menina
…
Meu raminho
de salsa crua
Quando
sai de sua casa
Alumia
toda a rua
Viva lá
menina…
Meu raminho
de oliveira
Ainda
anda neste mundo
Já no
céu tem a cadeira
Levante-se
sra. Maria…
Desse
banquinho de cortiça
Venha-nos
dar as Janeiras
Uma
morcela ou uma chouriça
Levante-se
sr.…
Desse
banquinho de prata
Venha-nos
dar as Janeiras
Que está
um frio que mata
Esta
casa está caiada
Do telhado
até ao chão
Aos senhores
que aqui moram
Deus lhes
dê a salvação
Os donos
da casa abriam a porta e ofereciam aos cantores filhós, chouriças, vinho, etc.
Depois cantavam:
Despedida,
despedida
Despedida
vamos dar
Deus queira
que daqui a um ano
Cá tornemos
a voltar
Se não
lhes abrissem a porta, cantavam:
Trinca
martelos
Torna
a trincar
Este barbas
de chibo
Não tem
nada pra nos dar
José
Teodoro Prata
Um comentário:
Eram vários grupos que se revezavam e, pela calada da noite, vinham animar as ruas de Vila.. De repente ouvíamo-los à nossa porta e, quantas vezes, tínhamos que sair da cama (ainda não havia eletricidade nem televisão) para ir oferecer aquilo que havia mais à mão; e era se não queríamos passar pela vergonha de ouvir o "Trinca martelo"...
Nos últimos anos, durante algum tempo, o grupo do Rancho ainda manteve a tradição, mas depois também acabou.
Este ano ouvi cantar ao longe, e ainda tive esperança que chegassem ao Casal, mas o tempo não ajudou. Talvez para o ano...
Também não nos podemos queixar muito por estas tradições se irem perdendo na nossa terra (pelo Reconquista vamos tendo notícia de como elas se vão mantendo noutras localidades). Parece que o Quim Santos é o único que ainda acredita e vai teimando...
ML Ferreira
Postar um comentário