quinta-feira, 29 de abril de 2021

O bordado no CCCCB

Pontos do mundo no Centro de Cultura Contemporânea

João Carrega - 29/04/2021 - 11:40

O Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco tem patente, até 13 de junho, a exposição Pontos.pt, que tem na sua génese o Bordado de Castelo Branco e as Tapeçarias de Portalegre.

A exposição estará patente até 13 de junho. Foto: CCCCB

As colchas em bordado de Castelo Branco e as tapeçarias de Portalegre juntaram-se numa exposição patente no centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco, inaugurada no passado dia 25 de abril. Pontos.PT, como foi designada reúne o melhor das duas artes, numa viagem que remonta ao século XVI, e que pode ser percorrida até ao próximo dia 13 de junho.

“Esta é uma exposição que apresenta o que de melhor existe do Bordado de Castelo Branco, desde o final do século XVI até à atualidade”, começou por referir Teresa Antunes, diretora do Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco.

“Nesta mostra fomos também buscar a tapeçaria de Portalegre, que tem o seu ponto”, diferente do do Bordado de Castelo Branco, e que no seu conjunto “são peças simbólicas dos nossos territórios e de Portugal no mundo”, acrescentou Teresa Antunes. Na inauguração marcaram presença os autarcas de Castelo Branco, José Augusto Alves, e de Portalegre, Adelaide Teixeira, os quais sublinharam a importância desta mostra de caráter transfronteiriço, dado que envolve também a parceria da Universidade de Salamanca.

Citado em nota enviada à nossa redação, José Augusto Alves sublinha o facto de “Castelo Branco ser um concelho repleto de história e tradições que sobrevivem ao longo dos séculos e que nos orgulhamos de promover”.

O autarca albicastrense recorda que as colchas de Bordado de Castelo Branco “apresentam desenhos bordados com fio de seda natural e existem desde do século XVI. São, por isso, verdadeiros tesouros que nos orgulhamos de promover”. No entender de José Augusto Alves, ao englobar nesta iniciativa a “tapeçaria de Portalegre estamos a engrandecer esta exposição”.

Comissariada por Ana Pires e Vera Fino, a exposição já foi apresentada em Salamanca, e carateriza-se “pela intensa policromia e luminosidade conferidas pelos fios de seda e pela sua base em linho cru”.

De resto o Bordado de Castelo Branco constitui uma forte aposta da autarquia albicastrense que criou o Centro de Interpretação, com oficina, num edifício histórico situado na Praça Velha, e certificou, em 2018 o Bordado pela Comissão para a Certificação de Produções Artesanais Tradicionais.

Do jornal Reconquista desta semana. Imperdível, pelo bordado de Castelo Branco e pela tapeçaria de Portalegre, mas também pela beleza do edifício (na Devesa, ao lado do do Cine Teatro Avenida). 

José Teodoro Prata

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Bordado de Castelo Branco - 2

Há duas semanas, publiquei aqui o texto do primeiro de três podcasts que fiz para a Rádio Castelo Branco, sobre o bordado de Castelo Branco. Ele serviu apenas de introdução ao texto que hoje vos apresento, este sim recheado de boas informações sobre São Vicente da Beira.

Como imaginar que São Vicente foi, no século XVIII, além de um grande centro de industrial de lanifícios, um dos centros de maior produção de bordado?

Luísa Fernandinho publicou nos Estudos de Castelo Branco, Nova Série, n.º 4, os resultados de uma investigação aos inventários dos órfãos existentes no Arquivo Distrital de Castelo Branco.

Pretendia-se averiguar a existência de colchas de Castelo Branco nestes inventários. Entre os fins do século XVIII e a primeira metade do século XIX há referência a 160 colchas bordadas a seda nas localidades de Salgueiro, Palvarinho, Malpica, Escalos de Baixo e de Cima, Alcains, Cafede, Monforte, Sarzedas, Vila Velha de Ródão e arredores, Lousa, São Vicente, Tinalhas, Freixial, Póvoa e Mata.

Colchas brancas contam-se cerca de 500, concentradas em Vila Velha de Ródão, Lousa, Alcains, Escalos de Cima e São Vicente.

Há ainda registos de antecamas de vários tipos, destacando-se Monforte com o maior número. Também surgem toalhas de linho bordadas a seda, principalmente na zona de São Vicente.

Além do pano de linho utilizavam-se o pano rei, sobretudo em Alcains, Lousa e Escalos de Baixo e de Cima, principalmente nos inícios do século XIX, e o tecido pita, fabricado a partir das fibras da piteira ou figueira das Índia, usado apenas na Lousa, entre 1807 e 1818.

O valor das colchas bordadas a seda podia atingir os 9 000 réis no século XVIII, mas desceu no século XIX para 4 000 réis. Mas havia colchas a valer 10 a 20 000 réis.

Estes inventários aparentam pertencer a famílias com posses, quer pelos apelidos familiares conhecidos, quer pela quantidade e valor dos bens móveis e imóveis registados.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 21 de abril de 2021

A Guerra Colonial no jornal Pelourinho

 Em fevereiro de 1961 o jornal “Pelourinho” noticiava assim o assalto ao Santa Maria: 


Pouco mais de um mês após este acontecimento, começou a Guerra Colonial; primeiro em Angola, e depois em Moçambique e na Guiné.

Ainda durante o mês de março Salazar faz seguir para Luanda o paquete Niassa com os primeiros militares mobilizados. Eram cerca de dois mil jovens, a maior parte recrutados nas zonas rurais, mal preparados e mal equipados, como já se vira na altura da Grande Guerra (existe muita informação, de fácil acesso, sobre o assunto…).

Da nossa freguesia também foram muitos jovens. Não terá havido nenhuma família que não tenha chorado a partida de um filho ou parente próximo ao longo dos quase 14 anos que durou a guerra. E a tristeza pelos que partiam era partilhada por todos os vizinhos da terra. Por solidariedade, mas também por antecipação, porque quem tinha filhos ainda crianças e jovens, sabia que a vez deles havia de chegar.

Ao longo dos anos que durou a guerra, o jornal “Pelourinho” teve uma coluna em que publicava notícias enviadas de África pelos nossos militares. Chegavam frequentemente, ao longo de todo o ano, mas havia datas em que as saudades doíam mais: o Natal, a Senhora da Orada, a festa do Senhor Santo Cristo.

Partilho alguns recortes que retirei de jornais que me emprestaram. São apenas exemplos que nos contam muito do sofrimento de que, passados quase cinquenta anos, muitos ainda não conseguem falar. As fotografias não são famosas, mas penso que se consegue ler o essencial das mensagens, que, penso, é necessário lembrar para não esquecermos a História e, neste caso, as suas vítimas. 



Maria Libânia Ferreira

domingo, 18 de abril de 2021

O juiz Ivo Rosa e o Processo Marquês

 Não costumo publicar posts sobre a justiça e muito menos sobre política, mas, vi e ouvi tanta coisa sobre o assunto que, desta vez, se me permitem, uso também as redes sociais para botar opinião. É mais uma, entre milhares.

Sobre Sócrates tudo pode ser dito! Parece que ele próprio faz e diz muita coisa sobre si mesmo! Alguém que estudou no ISEC de Coimbra na mesma época e, como ele, também frequentava o café Samambaia no Bairro Norton de Matos, me disse que ele era um pelintra.

Mais ou menos nessas condições, chegou a ministro e depois a primeiro ministro (PM). Uma vez no poder, usou-o para traficar todas as influências que se lhe ofereceram, a fim de subir na vida. Mas uns fazem-no a custo, outros a qualquer custo. E uma coisa, convenhamos, é diferente da outra!

Considero que os políticos em Portugal não são muito bem pagos, embora sobre isto haja imensas opiniões, todas respeitáveis, é claro. Depois de uns anos no ativo, a maioria deles não está pelos ajustes de ficar a receber uma qualquer tença vitalícia para regressar à normalidade da vida. Acham, a meu ver mal, que o País lhes deve "relevantes serviços públicos" e pretendem enriquecer, como se isso fosse um direito que lhes assiste!

Sócrates não foge à regra. E tanto ele como muitos outros — mas, felizmente, não serão todos — usam, enquanto podem, o lugar que ocupam para alcançar esse objetivo! Portanto, na minha ótica, o problema que se põe em relação a estas pessoas é, tão simplesmente, apenas um: EDUCAÇÃO DEFICIENTE. O que parece uma coisa de somenos, mas não é! É a falta de educação que traz o interesse desmedido, a mentira e a desonestidade, que levam a crimes como a fraude e a corrupção, etc.

Por sua vez, é isso que, como se tem visto, vem minando as democracias de tipo ocidental, que dispõem de uma vertente social capaz de se preocupar com os mais desfavorecidos. Embora isso, a maior parte das vezes, seja mais um estado de alma que uma realidade objetiva. Infelizmente!

Ora, Sócrates, pelo seu trajeto na política, será como tantos outros. Mas parece ser o político português a quem mais tem sido apontada uma conduta duvidosa, por factos pouco ou nunca devidamente esclarecidos. Basta lembrar o episódio das habilitações académicas! Depois, aparece com milhões de euros nas suas contas bancárias, sem que, até hoje, tenha conseguido explicar a sua origem! E aí está toda a questão, porque, a obtenção de vantagens indevidas, sobretudo enquanto desempenhou o cargo de PM, sem dúvida que na nossa justiça é tratada como um tipo crime. Em face dessa realidade ele tem que mentir, distorcer, usar subterfúgios, desculpas esfarrapadas, etc. Pelo que se diz o Processo Marquês está cheio de tudo isso, de imensas contradições!

Além disso, sobre Sócrates, sabemos muitas outras coisas, tão pródiga, sobre o assunto, tem sido a comunicação social. Sabemos por exemplo que Sócrates teve um Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro — não sei se nomeado pelo seu governo — que nunca o investigou. O antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha de Nascimento, mandou destruir provas do caso Freeport. Talvez o tenha feito dentro da sua competência de magistrado. Não duvido. Mas há uma coisa que não devemos desconhecer: é que estes dois senhores estiveram no lançamento de um livro do antigo PM, onde, creio eu, não deviam ter comparecido, atentos os cargos que desempenhavam. De facto, não se tratava de qualquer sessão solene de Estado!

A este propósito, tem-se constatado que das coisas mais reveladoras da falha de personalidade deste homem, é ele publicar livros sem os ter escrito e de comprar parte da edição (com os tais milhões) para aparentar grandes tiragens!

Com todas as dúvidas que o comportamento de Sócrates levanta, mas, enquanto político, ele está — deve estar— sujeito ao escrutínio do povo que o escolheu (ainda que indiretamente), e pode-se fazer um juízo ético.

Posto isto, deve acrescentar-se que outra coisa é a justiça, que tem uma forma muito própria de tratar dos seus assuntos e que as pessoas muitas vezes não compreendem. Desde que o juiz Ivo Rosa fez, há dias, a leitura do despacho de instrução, que muitos concidadãos nossos, se têm manifestado. E a maioria fê-lo contra aquele juiz. Inclusivamente, circulam notícias sobre um abaixo- assinado com vista à sua destituição!

Em palavras mais simples: por que razão a justiça não conseguiu deitar a mão a Sócrates e até agora apanhá-lo? Pela razão de que a justiça não pode julgar por simples desconfianças. Nem pode assentar as suas condenações sobre contradições. Por conseguinte, sem factos com prova, ninguém pode ser condenado! E é isto que deve acontecer numa sociedade civilizada. É isto que nos distingue da barbárie! Quem não sabe um pouco de Direito não compreende estas aparentes injustiças e classifica decisões como a do juiz Ivo Rosa como protetoras dos ricos e poderosos. E não é disso que se trata. O que é dito a um estudante de Direito é que vale mais soltar 10 culpados que condenar um inocente! Daí que tenha chegado até nós um sábio princípio latino "in dubio pro reo" que, praticamente toda a gente conhece. Neste sentido, é ainda um sinal civilizacional o facto de, em processo penal, ser o Estado a ter que provar a culpa e não o agente do crime a sua inocência.

Sucede ainda outra coisa: as pessoas parece que estão a passar por cima da acusação de CORRUPTO, que, perante todo o país, o juiz Ivo Rosa fez a Sócrates! E que, esse mesmo juiz, o pronunciou e leva a julgamento por 6 crimes de branqueamento de capitas e falsificação de documentos!

Dito isto, não consigo descortinar muito bem a razão do ar de vitória que o arguido Sócrates afivelou na sua própria cara! Para mais, tratando-se de um antigo PM. Uma pessoa com educação teria vergonha! Embora seja mais que adquirido que o descaramento é mais uma das características da falha de personalidade deste sujeito. Por tudo isto, na minha ótica, o juiz Ivo Rosa, andou bem.

Resta apenas dizer que, todavia, foi dito — não sei se por alguém que conhece o processo — que o referido juiz contou os prazos de prescrição dos crimes de corrupção a partir do primeiro ato. Se bem creio, nos crimes continuados, esse prazo deve ser contado do último ato. Há quem aponte, por isso, um erro técnico do juiz Ivo Rosa, do que eu duvido. Em todo o caso, se assim for, não creio que se tenha tratado de um erro deliberado. (a)

Finalmente, quero dizer que, da mesma forma que devemos confiar na seriedade do juiz Ivo Rosa (noutros, como Rangel, nem tanto!), também devemos acreditar, em geral, na nossa justiça. E que o arguido ainda poderá vir a ser julgado pelos crimes agora declarados prescritos. Aguardemos, com serenidade, o que, sobre o assunto, tem a dizer o Tribunal da Relação.

JOSÉ BARROSO

(a) Entretanto, fui informado de que a contagem desse prazo foi fundamentada num polémico Acórdão do Tribunal Constitucional.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Bordado de Castelo Branco - 1

Fiz uma série de três podcasts sobre o bordado de Castelo Branco, para a Rádio Castelo Branco, que estão agora a ser transmitido. Aqui vos deixo o texto do primeiro deles.

O bordado de Castelo Branco é feito a fio de seda natural sobre pano de linho. Originário do século XVI, terá tido o seu período mais fecundo no século XVIII, beneficiando da criação de manufaturas de seda e da obrigatoriedade do plantio de amoreiras.

Este artesanato decaiu no século XIX, devido às doenças que afetaram o bicho da seda e à concorrência dos produtos industriais, então uma novidade.

O bordado de Castelo Branco renasceu nos inícios do século XX, pelas mãos de Maria da Piedade Mendes, natural do Estreito, que herdou um conjunto de colchas de linho bordadas a seda, as quais lhe serviram de modelo para os trabalhos que desenvolveu ao longo da vida e que inspiraram outras bordadeiras.

Em 1939, o Centro n.º 2 da Mocidade Portuguesa Feminina do Colégio de Nossa Senhora de Fátima dedicou-se à confeção deste bordado, em Castelo Branco.

No ano de 1941, a Junta da Província da Beira criou uma Escola de Bordados.

Entretanto, o Liceu e a Escola Industrial apostaram no ensino do bordado, na disciplina de “Lavores Femininos”.

Em 1956, a Mocidade Portuguesa Feminina criou o Centro de Indústrias Regionais, dedicado ao bordado de Castelo Branco.

Nos anos 60, o Museu Francisco Tavares Proença Júnior abriu uma seção expositiva de bordado e na década seguinte criou uma Oficina-Escola do bordado de Castelo Branco.

Atualmente, a produção pública de bordado encontra-se centrada no Centro de Interpretação do Bordado, que a Câmara Municipal abriu, em 2017, no bairro do Castelo.


José Teodoro Prata

domingo, 11 de abril de 2021

Estamos sempre a aprender

 A pandemia tem destas coisas. Já praticamente esgotara o que ler, quando descobri, de entre os livros da minha filha, um sobre as origens das atuais grandes religiões do Mundo. É curioso que todas elas definiram os seus princípios-base na mesma época, séculos VII a IV antes de Cristo, período designado por Era Axial.

Em cada capítulo apresenta-se a evolução ideológica de cada religião, todas asiáticas exceto uma, curiosamente a única laica: a filosofia grega. Na ânsia de perceber muitas coisas, apenas li as partes referentes ao judaísmo e à filosofia grega, mas no final fui presenteado com uma síntese de todas as grandes religiões, curiosamente quase iguais umas às outras.

Houve momentos traumáticos, como aquele em que descobri que os hebreus eram semitas autótones da Palestina e não originários da cidade de Ur, no sul do atual Iraque, de onde partira o patriarca Abraão. E não é que os hebreus nunca passaram aqueles séculos no Egito, de onde foram resgatados por Moisés? Os egípcios oprimiram-nos, sim, mas porque conquistaram a Palestina e a governaram durante muito tempo. Num caso e no outro, os livros de História continuam a contar histórias aos alunos...

A coisa boa foi a recuperação do Sócrates como o grande pensador dos valores da civilização dita ocidental. Afinal aquele homem humilde, feio, mal vestido, valeu muito mais do que o seus grandes discípulos Platão e Aristóteles. O Platão estragou logo tudo ao separar as ideias da realidade concreta, o que veio a provocar muitas desgraças e sofrimento à Humanidade.

Deixo-vos a imagem da última página:


José Teodoro Prata

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

Francisco Domingos Martins

Francisco Domingos Martins nasceu a 27 de Novembro de 1891, no Casal dos Meios (hoje abandonado e chamado A.º de Meios, nas margens da ribeira do Mourelo, na estrada entre a Partida e o Violeiro, a chegar a este lugar). Era filho de Domingos Martins, proprietário, e de Joaquina Maria. Ficou órfão de mãe ainda não tinha feito 2 anos. O pai voltou a casar passado pouco tempo, mas também ele veio a falecer em 1903, tinha Francisco 11 anos.

Uma vez que a segunda mulher de seu pai não quis ficar a tomar conta dos enteados, Francisco foi criado pelo tio paterno, Augusto Martins, do Ninho do Açor. Posteriormente, passou a viver com outro irmão de seu pai, João Martins, no Juncal do Campo. Por fim, foi morar em casa de uma irmã da sua mãe, no Padrão, onde ficou até se emancipar.

Segundo consta, chegou a estar algum tempo no Seminário de Cernache do Bonjardim, onde outro tio paterno, o Padre José Martins, seria director (esta informação de o Padre José Martins ser o diretor do Seminário não está confirmada).
Assentou praça em 21 julho 1911, então com 19 anos. Foi presente no Grupo de Baterias de Artilharia de Montanha, sendo incorporado no batalhão, em 13 de janeiro de 1912. Passou ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 1 novembro de 1913, e foi destacado para a província de Angola, para onde seguiu a 3 dezembro 1914, fazendo parte da 1.ª Expedição enviada para aquela colónia portuguesa em África. Terá participado nas ações de defesa e recuperação dos postos invadidos pelos alemães a partir da Namíbia. Embarcou de regresso à Metrópole, a 21 outubro de 1915, chegando a Lisboa em 4 de novembro.

Francisco Martins veio a casar com Maria de Jesus Freire, natural de Almaceda, no dia 8 de Fevereiro de 1917. Logo após o casamento, foi novamente mobilizado para África. Ainda partiu para Lisboa, mas não chegou a embarcar e regressou a Almaceda, ficando aí a viver até cerca de 1930. Terá sido perto desse ano participante activo na Junta de Freguesia de Almaceda, embora se desconheça o cargo que desempenhou. Foi já durante esse tempo que se mudou para o Mourelo, onde chegou a ser Regedor/Cabo de Ordens e onde passou o resto da vida.

Não falaria muito dos tempos que passou em África. Segundo o bisneto Hugo dos Santos Gomes Martins, falava apenas dos animais exóticos que viu em Angola, principalmente dos crocodilos, dos quais tinha muito medo, e de uma ou outra escaramuça pontual, sem mais detalhes.


Do seu casamento com Maria de Jesus nasceram oito filhos, seis dos quais morreram ainda crianças.

Sobreviveram:

1.    Emília Martins, que casou com António Martins e tiveram 1 filha;

2.    Maria Joaquina, que casou com António Martins dos Santos e tiveram 2 filhos.

Francisco Martins faleceu no dia 18 de Março de 1973. Tinha 81 anos.

Está sepultado no cemitério de São Vicente da Beira, onde ainda se encontra a sua campa.

(Pesquisa feita com a colaboração do bisneto Hugo dos Santos Gomes Martins)

Maria Libânia Ferreira

Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

Nota: Alterado após o comentário do Hugo Martins

domingo, 4 de abril de 2021

O abastecimento de água

 Aqui vos deixo o texto do podcast transmitido pela Rádio Castelo Branco esta semana.

José António Calmeiro, antigo diretor dos Serviços Municipalizados de Castelo Branco publicou, no jornal Reconquista, um artigo em que faz a história do abastecimento de água a esta cidade.

A falta de água foi sempre um problema de Castelo Branco e por isso surgiu um primeiro projeto de abastecimento de água, em 1895, o qual não se concretizou, tendo o dinheiro sido gasto em algumas obras na cidade.

Em 1932 voltou-se ao projeto, sem qualquer apoio do Estado, com a construção da barragem do Penedo Redondo, próximo da nascente da Ocreza, no Casal da Serra.

As obras foram concluídas em 1945, sendo presidente da Câmara Augusto Beirão, que criou os SMAS (Serviços Municipalizados) e nomeou Salles Viana para os gerir.

Mas esse ano de 1945 teve uma pluviosidade anormalmente baixa e abastecimento iniciou-se com cortes de água.

O problema persistiu nos anos de maior seca e por isso se construiu a barragem do Pisco, na Ribeirinha, em São Vicente. Mas também esta solução de 1966 se revelou insuficiente, pois a cidade não parava de crescer e foram construídas redes de distribuição de água a todo o concelho, nas décadas de 70 e 80. O ano de maior carência foi o de 1981, em que a água só correu nas torneiras 3 horas por dia.

Em 1986 arrancaram as obras da barragem de Santa Águeda, na Ocreza, que resolveram definitivamente o problema do abastecimento de água ao concelho e à região, pois o sistema de distribuição foi alargado aos concelhos do Fundão, Idanha e Vila Velha de Ródão.

José Teodoro Prata