quarta-feira, 21 de abril de 2021

A Guerra Colonial no jornal Pelourinho

 Em fevereiro de 1961 o jornal “Pelourinho” noticiava assim o assalto ao Santa Maria: 


Pouco mais de um mês após este acontecimento, começou a Guerra Colonial; primeiro em Angola, e depois em Moçambique e na Guiné.

Ainda durante o mês de março Salazar faz seguir para Luanda o paquete Niassa com os primeiros militares mobilizados. Eram cerca de dois mil jovens, a maior parte recrutados nas zonas rurais, mal preparados e mal equipados, como já se vira na altura da Grande Guerra (existe muita informação, de fácil acesso, sobre o assunto…).

Da nossa freguesia também foram muitos jovens. Não terá havido nenhuma família que não tenha chorado a partida de um filho ou parente próximo ao longo dos quase 14 anos que durou a guerra. E a tristeza pelos que partiam era partilhada por todos os vizinhos da terra. Por solidariedade, mas também por antecipação, porque quem tinha filhos ainda crianças e jovens, sabia que a vez deles havia de chegar.

Ao longo dos anos que durou a guerra, o jornal “Pelourinho” teve uma coluna em que publicava notícias enviadas de África pelos nossos militares. Chegavam frequentemente, ao longo de todo o ano, mas havia datas em que as saudades doíam mais: o Natal, a Senhora da Orada, a festa do Senhor Santo Cristo.

Partilho alguns recortes que retirei de jornais que me emprestaram. São apenas exemplos que nos contam muito do sofrimento de que, passados quase cinquenta anos, muitos ainda não conseguem falar. As fotografias não são famosas, mas penso que se consegue ler o essencial das mensagens, que, penso, é necessário lembrar para não esquecermos a História e, neste caso, as suas vítimas. 



Maria Libânia Ferreira

4 comentários:

José Barroso disse...

É com a rede da Internet aos solavancos, em S. Vicente da Beira, que escrevo, como outrora escreviam as mãos trementes dos soldados de Portugal em terras ultramarinas!
Lemos aquela significativa notícia do assalto ao "Santa Maria" e dos primeiros atos de guerra em Angola; conhecemos alguns dos que escreveram estas cartas (Tó Spínola, João do Restaurante Mila, Lucian Duarte, João José (casado com a minha prima Hermínia), etc... Documentos tão simples, mas que, talve por isso, nos transportam de forma tão realista, àquele tempo cinzento e muitas vezes negro, pelas mortes que atigiram Portugal e a nossa Vila.
É bem certo que, numa expressão que tem tanto de feliz como de verosímil, Ortega e Gasset afirma que (e cito de memória), "o homem é ele e as suas circunstâncias". Estes nossos conterrâneos, assim como tantos outros milhares, estavam naquela missão com o mesmo sentido de responsabilidade e de dever, com o sacrifício e com as saudades da família e da terra, com que estariam numa outra qualquer. Penso que temos que ver isto assim: as dificuldades deles (e mais ainda a imolação dos que morreram) não foi inútil: era no que eles acreditavam, porque foi o que lhes disseram que estava certo e era a verdade da época para quem governava o país. As cartas e as outras notícias bem o revelam!
"O que é a verdade?" Eias a pergunta que Pilatos faz a Jesus de Nazaré
no interrogatório do Seu julgamwnto. Com efeito, a verdade (como também se dizia na série X Files - Ficheiros Secretos - anda algures por aí). Hoje, totalmente em paz, acreditamos noutros valores. Mas outros povos podem ter (e têm certamente) outra verdada histórica. A verdade aparecerá, por isso, sempre como coisa relativa. Eu, porém, acredito naqueles valores que não podem deixar de ser universais: tolerância, humanidade, liberdade e solidariedade. Estamos num momento histórico que nos permite bater por eles. É isso que devemos fazer.
Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

Aos solavancos, mas sempre inspirado, o José Barroso.
É verdade, estes nossos amigos deram o seu melhor num período muito difícil das suas vidas, mesmo que o melhor de então tenha sido algo que agora eles próprios verão com outros olhos. Mas é mesmo assim: cada um deles, na altura, foi ele e a sua circunstância. Como aliás acontece sempre com toda a gente.
À margem, aparecem os heróis dos valores universais, mas até esses são resultado da sua circunstância.

José Teodoro Prata disse...

E é bonito ver estes jovens da altura partilharem com a sua comunidade momentos das suas vidas e os seus estados de alma, a tantos milhares de quilómetros de distância.

M. L. Ferreira disse...

A mim, o que mais me sensibiliza nestas cartas é ver a preocupação que estes jovens, a viver no inferno que foi aquela guerra, ainda se preocupavam em dar ânimo à família, sobretudo às mães, que eles sabiam andar sempre de lágrima no olho. As guerras são mesmo a pior coisa do mundo, como dizia o pai da Ti Lurdes Barroso.
Só por isso, que bom o 25 de Abril!