Mostrando postagens com marcador manoel caetano de morais sarmento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador manoel caetano de morais sarmento. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Os coutos das Vinhas

Das terras baldias de S. Vicente da Beira, nos séculos passados, já demos notícia em dois trabalhos anteriores: “Os Enxidros” e “Coutos e mais enxidros”. Como prometido, aqui deixamos as confrontações dos coutos das Vinhas.

«E logo no mesmo dia, mês e ano atrás escrito e declarado (dezasseis dias do mês de Novembro da era de mil setecentos e sessenta e sete anos), pelo dito Doutor Juiz de Fora e deste Tombo, foi mandado aos medidores medissem os coutos das Vinhas e por eles foi dito que, pelos muitos cantos que em si tinham, se não podiam medir à vista, do que o dito ministro lhes mandou dessem as confrontações dos mesmos.
(…)
E costumam-se arrendar, o ano de restolhos, os pastos deles, por doze mil réis, e o segundo ano se fica por oito mil réis e no terceiro ano se semeiam de pão. E o Cabeço da Velha se costuma arrendar por três mil réis e uns anos vão por mais e outros por menos. E todas estas terras dos coutos são de ervas e só o Cabeço da Velha é do concelho. E nestes ditos preços tem o concelho duas partes e a terça de Sua Majestade Fidelíssima.»

Como um dia me ensinou o meu tio João Teodoro, a tendência natural das pessoas é para aldrabar e, por isso, quem manda não pode transigir.
Condescendeu o juiz de fora à preguiça dos medidores e fez-se a confrontação dos coutos, muito por alto, sem rigor. Tiveram de lá voltar, a 3 de Dezembro de 1768,
«...visto a confusão em que se achavam os Coutos das Vinhas e as contendas que havia sobre o dar das coimas nos ditos coutos...»

«Acharam que principiavam os mesmos no sítio do Penedo Sombreireiro e deste correm direito toda a estrada abaixo, até chegar aonde chamam a Tapada de Simam Dias do Louriçal, e daí vai todo o ribeiro abaixo, até chegar aonde chamam o Porto.
Do dito sítio do Porto vai toda a estrada adiante, que vem do dito lugar do Louriçal para o do Sobral, até chegar à de João Gago, aonde se ferrou um marco defronte da quina da vinha que é de Francisco Joze do Casal da Serra, junto à dita estrada pela parte de baixo.
E deste dito marco pela dita estrada adiante, direito aonde chamam o Vale de Topadela e daí vai toda a estrada velha, que vai do Louriçal para o Sobral, direito à laje do Ribeiro da Ordem e daí vai a dita estrada velha adiante até chegar a um penedo redondo, que está no sítio do fundo da terra, que é do Excelentíssimo Conde desta vila de São Vicente, no qual penedo se fez uma cruz.
E daí vai direito o vale acima, partindo com o limite do lugar do Sobral, até chegar à ribeira, e daí vai toda a dita ribeira acima até chegar ao Casal do Pisco, que também é do mesmo Excelentíssimo Conde.
E daí corre pegando com o dito casal até chegar à Fonte da Portela, vai toda a estrada adiante até chegar ao casal de Antonio de Azevedo, que administra e traz de foro Manoel Vas Rapozo, ao ribeiro que chamam dos Aldeões, e daí vai todo ao longo acima da parede da tapada, que chamam dos Aldeões, que é do Capitão-Mor Manoel Caetano de Morais Sarmento, até chegar ao carril de carro ao cimo do Vale de Miguel Vicente e daí vai direito ao dito Penedo Sombreireiro, aonde se deu princípio a esta demarcação e confrontação.
Os quais coutos se costumam coutar somente de dia de São Tiago por diante, até que se vindimem as uvas das vinhas. E costumam-se vender, como se disse no primeiro termo.»


Parte da Carta Militar n.º 268. À direita da Fonte da Portela, está escrito Curral do Pisco. É erro, devia estar Casal do Pisco. A parte norte dos Coutos das Vinhas, onde se situava o casal que trazia aforado Manoel Vas Rapozo (o Casal do Aires) e os Aldeões, pertence a outra carta militar. Clicar, para ver em pormenor.

Num futuro próximo, apresentaremos a demarcação do Cabeço da Velha, da Fonte da Portela e da fonte concelhia das Vinhas, todos situados dentro destes coutos das Vinhas.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Os Enxidros

Em 1778, no âmbito do inventário dos bens concelhios, ordenado pelo poder central, foi feita a demarcação e confrontação dos Enxidros:

«Aos três dias do mês de Dezembro de mil setecentos e sessenta e oito, em esta vila de São Vicente da Beira, no sítio dos Enxidros, extramuros* da mesma, aonde eu vim e bem assim o Doutor Casimiro Barreto Ferrás de Vasconcellos, juiz de fora* da dita vila e deste tombo*, e bem assim o Licenciado Claudio Antonio Simoins, procurador* do mesmo tombo, e os louvados*, pelo dito ministro foi mandado aos mesmos que, debaixo do juramento que recebido tinham, sem ódio nem afeição de parte a parte, demarcassem e confrontassem esta ervagem* dos Enxidros, o que sendo por eles observado, acharam que principia a demarcação dos mesmos Enxidros no cimo dos Aldeões, partindo com o Vale de Cabra, em um canchal, partindo com Aldeões do Capitão-Mor* desta dita vila, Manoel Caetano de Morais Sarmento, e daí vem direito à estrada, que vem do lugar do Louriçal para esta dita vila, aonde se fez uma cruz em um penedo que se acha junto à estrada, da parte de baixo, entre o souto do dito Capitão-Mor Manoel Caetano de Morais Sarmentoe do Doutor Claudio Antonio Simois, procurador deste tombo, e daí vem toda a dita estrada de carro adiante até chegar aonde chamam o Chafariz de El-Rei e daí parte todo o cabeço acima, direito aonde chamam a Laje do Paço, e daí vai pelo Cabeço do Martinho, aonde se fez uma cruz em uns penedos redondos, que estão no souto* de Martinho da Costa, e daí vai direito ao cimo da barroca* do Reverendo Antonio Theodozio da vila de Alpedrinha, até chegar à terra do Capitão-Mor, donde se fez uma cruz em um canchal*, e do dito canchal vem pela barroca do Carvalhal Redondo direito à estrada que vem para o Vale de Pêro Lourenço até chegar ao Ribeiro de Dom Bento e daí vai o ribeiro abaixo até chegar à ribeira desta vila e daí para a ribeira da banda de além, pela barroca da capela que administra o Reverendo Padre Estevam e daí vai a mesma ladeira aonde vai uma parede entre o casal do Sargento-Mor* e de Vallentim Peres e daí vão correndo a mesma meia ladeira por cima do muro de Joam Antunes, direito à Barroca do Mau e da dita barroca vai a meia ladeira pela barroca adiante direito à barroca de Manoel Caetano, ao cimo dos castanheiros aonde chamam o Areal, e daí vai na mesma direitura a subir a barroca de Rita Caetana, aonde está uma barroca com uma fonte, e daí vai na mesma direitura a lomba adiante e finda ao chão* da capela que administra o Reverendo Padre Antonio Lopes de Carvalho.
E por esta maneira houve ele dito ministro esta medição por finda e acabada e de tudo mandou ele, dito ministro, fazer este termo, que assinou e louvados Costa Feyo e Manoel Leitam da Costa e procurador do concelho* Manoel Vas Rapozo e testemunha que presente estava, Francisco Duarte o mosso, e o procurador deste tombo e eu Joam Barata de Gouvea, escrivão que o escrevi. Ferrás de Vasconcellos. Claudio Antonio Simoins. Joam da Costa Feyo. Manoel Leitam da Costa. Francisco Duarte
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Câmara Municipal de S. Vicente da Beira, Tombo dos Bens do Concelho, Livro 1767-1785, Maço 11)



Glossário:
Barroca - Pequena depressão; sulco no terreno, feito pelas enxurradas.
Canchal - Rocha, pedregulho.
Capitão-Mor - Autoridade militar que chefiava as capitanias de ordenanças do concelho. As capitanias eram as circunscrições militares locais, encarregadas do treino militar de todos os homens dos 18 aos 60 anos, os ordenanças, e do recrutamento dos soldados para o exército do Reino. Em 1778, Manoel Caetano de Morais Sarmento já deixara o cargo, apesar de continuar a ser chamado por este titulo. O novo capitão-mor era então Francisco Caldeira Leitaõ de Britto Monis, avô do 1.º visconde da Borralha.
Chão - Propriedade agrícola de policultura intensiva, sobretudo para hortaliças e leguminosas. Normalmente, era terra de regadia.
Ervagem - Pastagem. Espaço baldio, onde crescem ervas espontâneas.
Extramuros - A vila de S. Vicente da Beira não tinha muralhas. Neste caso, a expressão designa um local fora da malha urbana.
Juiz de fora - Autoridade máxima do concelho, em representação do rei. Presidia à Câmara Municipal.
Louvados - Testemunhas
Procurador - É o representante de uma das partes. Neste caso, Claudio Antonio Simois representava os interesses do rei de Portugal.
Procurador do concelho - Manoel Vas Rapozo representava os interesses da população do concelho.
Sargento-Mor – Autoridade militar abaixo do capitão-mor que chefiava as capitanias de ordenanças do concelho. Em 1778, o sargento-mor era Joze Duarte Ribeiro do Casal da Serra, mas com propriedades na Vila, assim como em Tinalhas e no Freixial do Campo, de onde seria natural.
Souto - Mata de castanheiros.
Tombo - Inventário dos bens.