domingo, 5 de março de 2023

O nosso São Brás

Do rico espólio de arte sacra de São Vicente da Beira faz parte uma escultura de São Brás, embora nesta freguesia nunca tenha existido o culto ao santo.

A imagem terá vindo de antiga capela de São Brás, no alto do monte junto ao Barbaído. Este território pertencia ao extinto concelho medieval de São Vicente da Beira, onde se criou, no século XVII a freguesia do Freixial do Campo, mas com uma particularidade: a ermida de São Brás continuou a pertencer à Igreja Matriz de São Vicente da Beira, cabendo ao Vigário ir ali dizer a missa da festa do santo, no dia 3 de fevereiro, recebendo como paga a esmola da missa. Isto de acordo com as Memórias Paroquiais de 1758. Segundo Joaquim de Matos, consta que no princípio do século passado ainda se realizavam os festejos em louvor de São Brás, junto à antiga capela, no alto do monte.

Ali existiu também um povoado e uma fortaleza que serão anteriores à época romana, cujas ruínas podem ainda ser observadas.

Texto elaborado e gravado para a rubrica História ao Minuto, da Rádio Castelo Branco

José Teodoro Prata

3 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Segundo a lenda, o Santiago pediu ao povo que lhe construísse a capela num cabeço junto, à Partida, para poder avistar o São Brás e a Santa Cruz que, dizem, eram seus irmãos, e tinham as próprias capelas no Barbaído e no Sobral.
Interessante que a imagem de São Brás tenha vindo para São Vicente, talvez da mesma forma que trouxeram a Santa Bárbara para o Casal da Fraga.

José Barroso disse...

Segundo o José Manuel Santos (conf. publicação no facebook), há uma imagem na capela da Senhora da Orada que as pessoas se tinha habituado a identificar como sendo Santo Anselmo, mas que, afinal, será de São Brás, porque usa luvas, pois era médico! Será a essa que se refere o Zé Teodoro neste post?
Não sou hagiógrafo como vós, mas acho interessante este tema. Não sendo possível aceder à verdadeira fisionomia dos santos, salvo os da era mais moderna, por pintura, busto, fotografia ou filme, é preciso atender aos sinais das representações para os identificar, como será o caso das luvas! S. José aparece com uma açucena branca para indicar a sua pureza, etc, etc. Mas, como é notório, em algumas das imagens, mormente as de três dimensões, muitos artistas, coitados, ficaram a dever bastante à sua habilidade! Enfim, essas imagens valem pela antiguidade.
Talvez pela incapacidade de se chegar à perfeição, pode levantar-se aqui o problema da representação da divindade que sempre foi (e é) proibida pelo Judaísmo e pelo Alcorão. Foi admitida pelo Cristianismo, quer para o seu Fundador, quer para os Santos, porque, alegadamente, as pessoas teriam que ter algo de mais palpável e de menos abstrato. Mas, essa representação continua a ser proibida, na prática, pela Igreja, para Deus-Pai, pela mesma antiga determinação e porque Ele é Espirito. E digo "na prática" porque, de facto, há exceções. No topo da Capela Sistina, Vaticano, (e logo ali!), Miguel Ângelo representou Deus-Pai na Criação do Homem. Outra curiosidade que creio ter a mesma base doutrinal, é que, nos primeiros filmes de Holywood, mesmo admitindo-se as representações de Cristo e, caso Ele entrasse como personagem mas não fosse a figura principal, o ator não podia aparecer de frente. É o caso de "Ben-Hur".
Mas, sobre este assunto, vem-me à memória o chamado Santo Sudário de Turim, um pano onde se diz que foi envolvido Jesus Cristo ao ser colocado no túmulo, que, diz-se, é o fac-símile do rosto do Sepultado e depois Ressuscitado.
Tenho acompanhado o caso. Li o livro escrito por dois dos cientistas que, em 1978, estudaram o Sudário exaustivamente e concluíram que a imagem foi provocada por uma espécie de "queimadura". Dez anos depois, em 1988, o Papa João Paulo II autorizou a datação do tecido, pelo método do Carbono 14, a três entidades distintas (na Suiça, Inglaterra e EUA) e todas chegaram à conclusão que o tecido será da Idade Média, não podendo, pois, ter envolvido o corpo de Cristo. Mas já se puseram em causa esses exames e a dúvida persiste.
O que mais me impressiona é que a Ciência, quer nas análises feitas em 1978, quer depois do exame pelo Carbono 14, em 1988, continua a não encontrar explicação para a imagem (que melhor se pode observar em negativo), a não ser, como já referi, que se trata de uma "queimadura", mas sem compreender como foi gravada!
Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

Conheço a imagem de Santo Anselmo, mas não sei se é esta que está em causa (como de São Brás e do Barbaído). Possivelmente sim.