quarta-feira, 7 de junho de 2023

Estalinhos

 

Para muitos de nós, que nos criámos sem grandes brinquedos, as plantas eram o que tínhamos mais à mão para as nossas brincadeiras.

Na primavera era uma festa, com tanta variedade de formas, cores, cheiros, sabores, texturas…. Comíamos algumas, doces como mel; outras, amargosas que nem vinagre. Fazíamos colares e grinaldas para fazermos de princesas, e desfolhávamos malmequeres para saber se éramos correspondidas na inocência dos primeiros amores.

No mês de maio floriam os estalinhos, mesmo a tempo da festa do Corpo de Deus. Era uma altura em que o povo se unia, mas também rivalizava no empenho que punha na variedade de desenhos e cores com que tecia os tapetes que se desenrolavam pelas ruas por onde passava a procissão.

Nós, as crianças, ajudávamos no trabalho, mas aproveitávamos também esta flor para brincarmos e fazermos os nossos jogos: arrancávamos os “dedais” da planta, apertávamo-los pela boca e batíamos com eles na testa ou na mão a ver quem fazia o estalinho mais sonoro.

Tudo era bom para a brincar, como às vezes nos ralhavam os nossos pais. Mas diziam por dizer, por não quererem confessar que também já tinham tido as mesmas brincadeiras, herdadas dos mais velhos sabe-se lá desde quando.

Com a geração dos nossos filhos os jogos e brincadeiras tornaram-se completamente diferentes. Na dos nossos netos (quem os tem…), nem é bom falar. É verdade que há muitas e boas exceções, e as tecnologias têm as suas vantagens, mas as práticas que nos entram frequentemente pelos olhos levam-nos a temer que muitas das crianças atuais se tornem, no futuro, completamente analfabetos motores, sociais e emocionais. Também muito limitados em imaginação e criatividade. Isto num tempo em que as ciências que estudam estes fenómenos do desenvolvimento humano na sua globalidade poderiam dar uma ajuda para tornar os indivíduos mais equilibrados e o mundo bastante melhor. Só que não estamos a dar-lhes a devida atenção.     

M. L. Ferreira


Digitalis purpurea L., comummente chamada dedaleira, pelo formato de suas flores que lembram dedais, é uma erva lenhosa ou semilenhosa da família Scrophulariaceae, nativa da Europa.

Os nomes troques e tróculos, que também a designam, têm origem onomatopaica e são alusivos à prática popular de fazer as flores desta planta estoirarem, fechando-lhes o bocal com os dedos e esmagando o resto da flor com a outra mão, por molde a produzir um baque sonoro. Como refere a Libânia, nós usamos antes o termo estalinhos.

Das folhas secas das plantas extrai-se a Digoxina, substância que é utilizada para fazer medicamentos para diversos problemas do coração, como insuficiência cardíaca congestiva, fibrilação arterial e em alguns casos, arritmia cardíaca.

José Teodoro Prata

(Fonte: Wikipédia)

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembro-me de estar doente, acho que foi com sarampo ou algo do género (nunca apanhei tinha e outras doenças; para a varíola já havia vacina) e de a minha mãe me trazer estalinhos para me entreter. Com sarampo, tanto quanto me lembro, não podíamos andar na claridade, tínhamos que estar na obscuridade de casa. As minhas impressões de infância da flor são idênticas às vossas. Nós não tínhamos nada e tudo servia para a brincar, como era o caso dos estalinhos.
A planta é bonita e também dava para pôr num jarro com água em cima da mesa.
Mas eu, não há muito tempo, acho que ouvi dizer qualquer coisa sobre intoxicações com a planta. Não consigo lembrar-me bem da notícia. Parece, porém, que tem alguma lógica, vistas as propriedades da substância de que é portadora. Todavia, mais uma vez se verifica o que é habitual: os venenos só são mesmo venenos em certas doses. Na devida proporção, podem até ser remédios. Quem diria que essa droga tem sido usada como remédio cardíaco!
A Natureza é fantástica.
Abraços, hã!
J. Barroso