sábado, 9 de novembro de 2024

Uma mulher, um telemóvel

 Isto hoje mete drama!, aviso já.

Aqui, a dois passos de Almada (quinze minutos a pé, de minha casa) há um parque. Daqueles verdes, muitas árvores, alguns caminhos que se bifurcam e se cruzam, para se andar, de terra batida, outros já com piso de alcatrão, bastantes empedrados. Parque da Paz, o nome de baptismo. A toda a volta, autoestrada, estradas várias, principais, muito trânsito.

Sou dos assíduos, ao cantar dos galos. Conheço praticamente todas as pessoas que lá vão, a maioria caminhando apenas, uns poucos a correr. Conheço-os pelo andar, a andarem para mim, um bom-dia quando nos cruzamos; outros, à minha frente como a desafiar-me a apanhá-los, outros ainda, mais rápidos, vindos de trás, a ultrapassar-me - é pelo andar, sim, que os identifico.

Nas mesmas horas, quase sempre os mesmos; dá-se por quem falta, e, se aparece alguém novo, dá-se por isso.  

Não conhecia aquele andar! Lá mais à frente, onde a vereda dos carvalhos cruza com o caminho principal, vinda daí, uma senhora. Até me pareceu alguém de São Vicente! Acompanhei-a como pude, a uns 80 metros de distância, depois 100 e por aí adiante, até a perder de vista. À altura do nariz, seguro na mão direita da senhora, um telemóvel - por onde ela lia, concentrada, sim, em andamento. Opinioso, como toda a gente, quando a vi encaminhar-se para fora do parque, do lado que tem mais trânsito, pensei para mim: "Oxalá, não tenhas algum azar!"

Curioso q.b., sou assim, mas não ao ponto de me deslocar dez metros para dar fé de um acidente automóvel; nem de perguntar a quem passa, com ar de saber, "o que é que se passou ali?". Só vos posso dizer que ouvi a sirene de uma ambulância, para aqueles lados, parou, depois arrancou, ainda com maior ruído. Nem sei se foi a senhora do telemóvel, atropelada, sei lá!, nem se ela sempre é de São Vicente...

Quando, e se, souber alguma coisa, volto à antena.

S. Baldaque, um vosso criado.  

Um comentário:

Anônimo disse...

O privilégio que é ter um parque desses (via as fotografias...) quase á porta! É pena que nem toda a gente consiga utilizá-lo para se libertar de todos os ruídos que nos envolvem ao longo do dia.
Já agora, se a ambulância foi para a mulher do telemóvel, que ela não fosse de São Vicente...
MLFerreira