Há poucos dias que nos deixou e já sentimos saudades dessa grande gargalhada!
Escrevo-lhe
porque sei que acreditava ir para um lugar melhor do que este em que nos
deixou. Já desconfiava dessa fé desde que demos a volta pelas terras do antigo
concelho de São Vicente: sempre que entrava numa igreja, ajoelhava-se junto ao
altar e orava. E disse-mo no penúltimo encontro anual em que participei, no
Tortosendo. O Zé Augusto relembrou-o agora, na missa que celebrou em sua
homenagem. Não a minha história, mas uma outra, uma conversa que teve com o
Ernesto Hipólito, quando em maio se veio despedir da nossa Orada:
- Se este
sítio é tão bonito, imagina como será o céu!
A propósito,
o Zé Augusto fez uma prática muito bonita na sua missa. Terá sentido orgulho ao
ouvi-lo!
Mas voltando
ao princípio. Escrevo-lhe porque sinto o peso da responsabilidade de lhe ter
faltado com um pedido que nos fez, a mim e outros que o acompanharam da Igreja
para a Casa do Povo, na festa da sua boda de ouro sacerdotal. Ao toque das
concertinas minhotas do António Madeira e pela concertina beirã do Costinha,
confessou-nos que o som da concertina era a música da sua meninice e que queria
ser acompanhado por concertinas, quando morresse.
- Eu espero
o tempo que for preciso para reunir os tocadores!
Como o Mário
de Sá-Carneiro?:
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Mas o que
iam pensar de nós, os seus amigos e os seus familiares? Mesmo sabendo que
acreditava ir para um lugar melhor, eu nem tive coragem de partilhar o seu
desejo. Desculpe-me esta cobardia. E depois havia toda a logística, toda a
burocracia…
Deixou-nos
numa época terrível, em que a sua alegria, a sua cidadania e o seu humanismo
tanta falta fazem ao mundo. Mas deixou-nos o seu exemplo, assim saibamos nós
honrar a sua memória! E já que acredita, vá-nos dando umas dicas, quando achar
necessário, pelas formas que melhor entender. Até um dia!
José Teodoro Prata
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