Viriato Soromenho Marques (Diário de Notícias)
Que o 1.º de Maio português continue a oferecer o triste espetáculo de duas centrais sindicais separadas nas suas comemorações é apenas mais uma prova de que o capitalismo continua a ser, com a sua extraordinária capacidade de metamorfose, o grande sujeito da história mundial. O movimento sindical segue no cortejo dos distraídos. Nos últimos trinta anos, a paisagem económica mudou. E, com o atraso habitual, mudaram os ingredientes sociais e a arquitetura política. Muita gente, entre os quais se conta uma multidão inumerável de pequenos e médios empresários, e, certamente, quase todos os dirigentes sindicais europeus, ainda julga que capitalismo e economia de mercado são a mesma coisa. Julgam que a impossibilidade de obterem crédito é uma coisa passageira. Consideram que a atual austeridade é da ordem da conjuntura. Esquecem que o sistema financeiro que não empresta é o mesmo que já custou 4 500 000 000 000 de euros aos contribuintes europeus, não contando com as operações de engenharia do tipo das swap, que acabam sempre no défice público. Os indicadores que nos chegam dos EUA, da Europa e do resto do mundo, incluindo a China, mostram que o capitalismo de hoje deslocou a sua imaginação da esfera da produção de riqueza, onde se revela cada vez mais incompetente e relapso de imaginação, para se concentrar com afã na redistribuição de riqueza disponível, concentrando-a nas mãos de uma superminoria, à custa do empobrecimento das classes médias e da fragilização do trabalho. Os sindicalistas modernos parece que já não leem Marx, mas os super-ricos, esses, continuam a ser praticantes fervorosos da religião da luta de classes.
José Teodoro Prata