Ana Jerónimo
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sábado, 22 de julho de 2017
quinta-feira, 20 de julho de 2017
Comunidade
Um dia, o Pe. Jerónimo confidenciou-me
que tem uma enorme admiração pelos autarcas, de qualquer partido. Todos se
entregam à comunidade que os elegeu, sacrificando as suas vidas a troco de
nada, pois o subsídio que recebem muitas vezes nem dá para as despesas.
Estou de acordo com ele e
por isso ando há que tempos para tratar o tema de hoje.
A “feira medieval” que
marcou o fim do mandato da anterior equipa da Junta de Freguesia foi uma
excelente festa (não gosto de feiras medievais, mas adoro as reconstituições
históricas, tão ao gosto dos nórdicos), mas teve aspetos deploráveis. Houve
momentos em que o jovem casal que dramatizou a animação quase caiu em
desespero, tal era o alheamento de tanta gente, para não dizer recusa ostensiva
em colaborar. Acho que pouquíssimas pessoas se aperceberam disto, mas vim de lá
envergonhado e por isso enviei uma mensagem ao jovem casal a pedir desculpas.
Rei morto, rei posto. Ainda não havia rei posto,
mas o antigo rei pouco mais tempo
estaria no poder. Depois, não sei como se fez a transição do poder velho para o
novo, mas desconfio que sem grandes proximidades.
Já me esquecera daquele
episódio, mas infelizmente recordei-o neste janeiro, aquando da passagem do
testemunho na Misericórdia, entre a antiga mesa e a eleita. Não estive
presente, mas senti que os velhos não
apareceram, porque já não era nada com eles, e os novos não terão sentido a sua falta.
Sei que os processos
eleitorais têm a sua dinâmica própria, às vezes necessariamente injusta para
algumas pessoas. Mas penso que, à parte disso, devemos valorizar tanto os que
saem como os que entram e o momento da passagem do testemunho devia ser de grande
confraternização e partilhas.
É uma questão de civismo.
Vai sendo tempo de sermos uma comunidade madura!
Notas:
- Genericamente,
as outras terras não são melhores que nós, temos algumas próximas bem piores, mas
com os defeitos dos outros posso eu bem!
- Durante
séculos, até há poucas dezenas de anos, os nossos poderes estiveram sempre nas
mãos de uma pequena elite, marginalizando completamente a esmagadora maioria da
população, que aliás estava demasiado ocupada com a sobrevivência, com o pão de
cada dia. Por isso temos andado a aprender, é natural. Mas talvez seja chegado
o tempo de dar o passo seguinte!
- Querem um
exemplo de são convívio? No início do verão passado, um grupo de vicentinos
promoveu uma ação de protesto contra a não limpeza das valetas da nossa
estrada. Num domingo de manhã, juntaram-se e foram limpar eles as valetas. Quem
me contou, disse-me que era um grupo de pessoas que queria concorrer à Junta de
Freguesia contra a atual equipa. Estavam no seu direito e louvo a iniciativa.
Mais tarde,
soube que o José Duarte (Zé Pasteleiro) ofereceu o almoço a todos, na Senhora
da Orada. Embora possamos considerar este ato como um enorme furo político (ele
é membro da atual junta), tenho a certeza de que nele esta fraternidade foi
genuína.
José Teodoro Prata
segunda-feira, 17 de julho de 2017
A nossa vida
(…)
Sendo assim, vou continuar com os meus escritos para ir enchendo papel, o papel
só tem valor se tiver palavras, frases, desenhos, rabiscos…se não tiver nada,
não passa de uma folha em branco ou de outra cor. Não é sobre este assunto que
quero escrevinhar algumas palavras.
Vamos
a isto.
A vida de um ser humano tem uma duração
limitadíssima, o máximo cem anos mais dez, menos dez. A maior parte das pessoas
quando ultrapassam os noventa têm uma saúde muito frágil, estão limitadíssimos,
os reflexos já não são o que eram, passam as horas à espera…
É a regra, embora haja pessoas com uma
memória invejável, ainda se movimentam razoavelmente bem; não é a regra.
A qualidade de vida não acompanhou a longevidade,
os lares são um bom exemplo daquilo que estou a dizer. As funcionárias de manhã
levantam os velhinhos, muitos deles são transportados em cadeiras de rodas,
entram na sala, sentam-nos no sofá e ali ficam até à hora do pequeno-almoço.
Voltam novamente para o sofá até ao lanche e
assim sucessivamente. Findo o jantar, cama.
Quem se movimenta ainda se levanta e dá uma
volta pelo corredor, quem não se mexe…
Coitados deles, tanto lutaram, de repente
ficam incapacitados, à merce dos semelhantes.
O destino tem destas coisas, longevidade
igual a limitação. As pessoas acomodam-se, não têm outro remédio, os filhos
trabalham, vivem longe.
Precisam de muito carinho, muita atenção e
amor. Quantos há que foram “despejados” nos lares pelos familiares e nunca mais
lhes ligam, não querem saber deles, esqueceram-se depressa dos trabalhos, das
canseiras, dos sacrifícios que passaram para os criarem.
Um dia
terão a recompensa, alguém lhes fará o mesmo.
A vida
é feita de bons e maus momentos, é uma labuta diária e constante; impostos,
obrigações, problemas de toda a ordem, de vez em quando surge um dia de
alegria, de festa
O nascimento de um filho, o baptizado, a
licenciatura, uma promoção no trabalho, um aumentozito… coisa pouca em oposição
aos maus momentos.
Invejas, doenças, incompreensões, ódios, compromissos
assumidos… A vida é uma chatice, mesmo assim, julgo que a maioria gosta de cá
andar. De vez em quando há alguém…põe fim à vida, porquê? Só ele sabia. Um
desgosto, uma dívida que não conseguiu controlar… Quem termina bruscamente com
a existência lá terá as suas razões, não o podemos condenar, que tenha uma vida
mais favorável na outra…
Se houver alguém que consiga adivinhar
através de sinais o pensamento da pessoa com pensamentos suicidas que o
acompanhe e o demova a fazer tão tresloucado ato.
Tudo se remedeia desde que haja compreensão
entre os homens.
Uma casa centenária, velhinha, pode ser
reconstruida e durar outro tanto tempo, mas também pode ser destruída num
instante e nunca mais ninguém a torna a ver.
Com o suicida acontece a mesma coisa, se
alguém o amparar, salva-se, se ninguém lhe deitar a mão, num instante termina…
Todos sabemos que a vida são dois dias, é tão
frágil a vida; vela acesa exposta numa corrente de ar, uma aragem... A vida começa
num choro, tal como a fogueira começa por fumegar, depois vem o brasido, para
finalmente terminar em cinza.
Fiquem bem!
J.M.S
domingo, 16 de julho de 2017
sábado, 15 de julho de 2017
Balcaria
Olival com rega gota a gota, no Balcaria.
Atrás da casa e na área que se vê acima da estrada já há medronheiros.
Ao fundo, na raiz da serra, a casa do ermitão, da Orada.
Os nossos mais velhos sempre disseram Balcaria.
O Zé Barroso escreve Vale de Caria, como seria originariamente.
Mas eu volto ao Balcaria, até porque nos documentos dos séculos XVIII e XIX aprendi que a nossa região é nortenha, neste aspeto (trocava o v pelo b em inúmeras palavras).
José Teodoro Prata
Nota: O texto foi alterado após o comentário do Zé Barroso.
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