sábado, 22 de julho de 2017

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Comunidade

Um dia, o Pe. Jerónimo confidenciou-me que tem uma enorme admiração pelos autarcas, de qualquer partido. Todos se entregam à comunidade que os elegeu, sacrificando as suas vidas a troco de nada, pois o subsídio que recebem muitas vezes nem dá para as despesas.
Estou de acordo com ele e por isso ando há que tempos para tratar o tema de hoje.
A “feira medieval” que marcou o fim do mandato da anterior equipa da Junta de Freguesia foi uma excelente festa (não gosto de feiras medievais, mas adoro as reconstituições históricas, tão ao gosto dos nórdicos), mas teve aspetos deploráveis. Houve momentos em que o jovem casal que dramatizou a animação quase caiu em desespero, tal era o alheamento de tanta gente, para não dizer recusa ostensiva em colaborar. Acho que pouquíssimas pessoas se aperceberam disto, mas vim de lá envergonhado e por isso enviei uma mensagem ao jovem casal a pedir desculpas.
Rei morto, rei posto. Ainda não havia rei posto, mas o antigo rei pouco mais tempo estaria no poder. Depois, não sei como se fez a transição do poder velho para o novo, mas desconfio que sem grandes proximidades.
Já me esquecera daquele episódio, mas infelizmente recordei-o neste janeiro, aquando da passagem do testemunho na Misericórdia, entre a antiga mesa e a eleita. Não estive presente, mas senti que os velhos não apareceram, porque já não era nada com eles, e os novos não terão sentido a sua falta.
Sei que os processos eleitorais têm a sua dinâmica própria, às vezes necessariamente injusta para algumas pessoas. Mas penso que, à parte disso, devemos valorizar tanto os que saem como os que entram e o momento da passagem do testemunho devia ser de grande confraternização e partilhas.
É uma questão de civismo. Vai sendo tempo de sermos uma comunidade madura!

Notas:
- Genericamente, as outras terras não são melhores que nós, temos algumas próximas bem piores, mas com os defeitos dos outros posso eu bem!
- Durante séculos, até há poucas dezenas de anos, os nossos poderes estiveram sempre nas mãos de uma pequena elite, marginalizando completamente a esmagadora maioria da população, que aliás estava demasiado ocupada com a sobrevivência, com o pão de cada dia. Por isso temos andado a aprender, é natural. Mas talvez seja chegado o tempo de dar o passo seguinte!
- Querem um exemplo de são convívio? No início do verão passado, um grupo de vicentinos promoveu uma ação de protesto contra a não limpeza das valetas da nossa estrada. Num domingo de manhã, juntaram-se e foram limpar eles as valetas. Quem me contou, disse-me que era um grupo de pessoas que queria concorrer à Junta de Freguesia contra a atual equipa. Estavam no seu direito e louvo a iniciativa.
Mais tarde, soube que o José Duarte (Zé Pasteleiro) ofereceu o almoço a todos, na Senhora da Orada. Embora possamos considerar este ato como um enorme furo político (ele é membro da atual junta), tenho a certeza de que nele esta fraternidade foi genuína.

José Teodoro Prata

Nada se perde...


José Teodoro Prata

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Comentários novos

Há novidades em "O primeiro Moreira?".

José Teodoro Prata

A nossa vida

(…) Sendo assim, vou continuar com os meus escritos para ir enchendo papel, o papel só tem valor se tiver palavras, frases, desenhos, rabiscos…se não tiver nada, não passa de uma folha em branco ou de outra cor. Não é sobre este assunto que quero escrevinhar algumas palavras.
Vamos a isto.
  A vida de um ser humano tem uma duração limitadíssima, o máximo cem anos mais dez, menos dez. A maior parte das pessoas quando ultrapassam os noventa têm uma saúde muito frágil, estão limitadíssimos, os reflexos já não são o que eram, passam as horas à espera…
  É a regra, embora haja pessoas com uma memória invejável, ainda se movimentam razoavelmente bem; não é a regra.
  A qualidade de vida não acompanhou a longevidade, os lares são um bom exemplo daquilo que estou a dizer. As funcionárias de manhã levantam os velhinhos, muitos deles são transportados em cadeiras de rodas, entram na sala, sentam-nos no sofá e ali ficam até à hora do pequeno-almoço.
  Voltam novamente para o sofá até ao lanche e assim sucessivamente. Findo o jantar, cama.
  Quem se movimenta ainda se levanta e dá uma volta pelo corredor, quem não se mexe…
  Coitados deles, tanto lutaram, de repente ficam incapacitados, à merce dos semelhantes.
  O destino tem destas coisas, longevidade igual a limitação. As pessoas acomodam-se, não têm outro remédio, os filhos trabalham, vivem longe.
  Precisam de muito carinho, muita atenção e amor. Quantos há que foram “despejados” nos lares pelos familiares e nunca mais lhes ligam, não querem saber deles, esqueceram-se depressa dos trabalhos, das canseiras, dos sacrifícios que passaram para os criarem.
  Um dia terão a recompensa, alguém lhes fará o mesmo.
   A vida é feita de bons e maus momentos, é uma labuta diária e constante; impostos, obrigações, problemas de toda a ordem, de vez em quando surge um dia de alegria, de festa
  O nascimento de um filho, o baptizado, a licenciatura, uma promoção no trabalho, um aumentozito… coisa pouca em oposição aos maus momentos.
  Invejas, doenças, incompreensões, ódios, compromissos assumidos… A vida é uma chatice, mesmo assim, julgo que a maioria gosta de cá andar. De vez em quando há alguém…põe fim à vida, porquê? Só ele sabia. Um desgosto, uma dívida que não conseguiu controlar… Quem termina bruscamente com a existência lá terá as suas razões, não o podemos condenar, que tenha uma vida mais favorável na outra…
  Se houver alguém que consiga adivinhar através de sinais o pensamento da pessoa com pensamentos suicidas que o acompanhe e o demova a fazer tão tresloucado ato.
  Tudo se remedeia desde que haja compreensão entre os homens.
  Uma casa centenária, velhinha, pode ser reconstruida e durar outro tanto tempo, mas também pode ser destruída num instante e nunca mais ninguém a torna a ver.
  Com o suicida acontece a mesma coisa, se alguém o amparar, salva-se, se ninguém lhe deitar a mão, num instante termina…
  Todos sabemos que a vida são dois dias, é tão frágil a vida; vela acesa exposta numa corrente de ar, uma aragem... A vida começa num choro, tal como a fogueira começa por fumegar, depois vem o brasido, para finalmente terminar em cinza.
  Olhem: a vida, quanto mais estica, mais curta fica
  Fiquem bem!


J.M.S

domingo, 16 de julho de 2017

Luís e José



Nota: Ambos os poemas são de Luís de Camões.

José Teodoro Prata

sábado, 15 de julho de 2017

Balcaria


Olival com rega gota a gota, no Balcaria. 
Atrás da casa e na área que se vê acima da estrada já há medronheiros.
Ao fundo, na raiz da serra, a casa do ermitão, da Orada.

Os nossos mais velhos sempre disseram Balcaria.
O Zé Barroso escreve Vale de Caria, como seria originariamente.
Mas eu volto ao Balcaria, até porque nos documentos dos séculos XVIII e XIX aprendi que a nossa região é nortenha, neste aspeto (trocava o v pelo b em inúmeras palavras).

José Teodoro Prata

Nota: O texto foi alterado após o comentário do Zé Barroso.