sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Carta de amor

O Ernesto emprestou-me há tempos um livro que é uma preciosidade da literatura portuguesa. O livro chama-se Ninguém em Nenhures e o autor é Virgílio Godinho. Segundo ele, ”… é um livro é de ficção, sendo pois imaginários os lugares, as pessoas e os factos descritos…”; mas, ao lê-lo, revi-me de tal maneira nos personagens e situações descritas que acho que a ação se poderia passar na nossa terra, tendo como protagonistas muitos de nós.
O livro é uma edição da Sociedade de Expansão Cultural, de 1972. Parece que está esgotado. Que pena, porque valia mesmo a pena comprá-lo! …
Mas aqui fica um bocadinho. É uma carta de amor escrita pelo Lebre, um dos principais personagens do livro, que o autor descreve da seguinte forma: 
Lebre e boas fisgas são noções estreitamente associadas, de sorte que se torna necessário achar um para se obter as outras. Porém, achar o Lebre é bico d’obra, pois nunca ninguém sabe, ao certo, onde o tipo espairece. Tanto poisa aqui como nana acolá, ora num valado a passar pela brasa, ora a trolhar num biscate, ora a fingir que guarda cabras ou muito simplesmente a pastar por hortas alheias. É como o vento de Abril, não tem quadrante certo…”.

Numa altura em que o romantismo e as cartas de amor parece terem caído em desuso, aqui fica a prova de como, num tempo em que não se sonhava com filmes como Emmanuelle, autores como Henry Miller e muito menos com a Internet, o amor era uma coisa simples e inocente (seria mesmo?):

«Manina felora a prumêra veis questes dois se prantaram neças facias fequei logo cãs minhas á banda e há sigunda centi um bexaroco a ruer-mos bofese indo cá tanho… manina felora eu cá fasso fixegas purreras su avel que le mostre a queu dei prá mor dele traguer a nha carta à manina ó rica arrolinha quer falar pra mim!!!!! Manina felora eu sou o Lebre já cassei uns cuelhos prá manina indeide cassar mais os oitros não sabem sagravatalos eu cassus polas urelhas e gosto de bócei prumero eu pus o penso na do ti porfeçor ospois fis ma triquixa ca manina a oitra é ma lasque tamãe mas bocei indé mais eu agoira gosto mais da manina cadela tem as canelas mai gordas cás dela e eu gosto da gorda a manina tamãe é ma lasque e ma brasa munto gostava eu dassuprala nambore cumigo oilhe cus cuelhos não lão de faltar hai ca ricas nalginhas????? Si me decér que não atão atraco-má oitra inscreva ma resposta e dena o avel eu dêxo o ganhar há gerra das aranhas mas fêxea bem cum resina dacalitro pra mor dele a não ler ele pódir meter na pá ós oitros sacanitas eh não sengane eu sou o Lebre que sacina por su mão hadeus hadeus inté hai prumera hai as nalginhas…….! Narciso Lopes».

Um romântico, este Lebre!


M. L. Ferreira

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os Batismos, em 1801

BATISMOS, 1801
Igreja de Nossa Senhora da Assunção
São Vicente da Beira
Algumas notas:
a) A Igreja Matriz de São Vicente tinha 4 sacerdotes ao seu serviço: o vigário Francisco Marques Goulaõ, o cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves, o tesoureiro Joze Barata e o juiz Joze Gonçalves (este só aparece uma vez referido como padre). O vigário e o cura seriam familiares, talvez primos, pelos apelidos Marques Goulão. Mas o vigário era mais velho, pois ainda escrevia Goulam, Gonsalves, Conceissam…, enquanto o cura já escrevia Goulaõ, Gonçalves, Conceiçaõ…

b) Neste ano de 1801, nasceram 3 crianças fora do casamento: uma foi exposta e por isso se desconhecem os pais (n.º 29), e duas eram filhos naturais, de mães solteiras (n.º 17 e n.º 26). As duas mães vieram de fora, São Romão e Penamacor, trabalhando provavelmente como criadas em casas de pessoas abastadas. Aliás, a importância social das pessoas que surgem como padrinhos e testemunhas comprova isso mesmo.

c) Já é possível começar a reconstituir algumas famílias, com apenas os batismos de 1800 e 1801, mais as informações constantes do meu livro sobre as Invasões Francesas. Ex.: Joze Custodio Ribeiro estava casado com Maria Hipolito Cassiana, morava na Rua do Convento, era capitão das Ordenanças, trazia, com Francisco Ferreira, o foro das freiras do convento franciscano (cobrava as rendas das suas terras e ficava com a terça parte), tinha 42 anos, em 1801, e era pai do Padre João Ribeiro e de Antonia, solteira, em 1801.
Outro exemplo: nos números 22 e 23, é possível reconstituir 3 gerações da família Ricardo, originária do Souto da Casa e dos Pereiros, que foram, durante dezenas de anos, os ermitões da Senhora da Orada e cujos descendentes ainda moram no Casal da Fraga.
O Capitão-Mor Francisco Caldeira, fundador da futura Casa Conde, em São Vicente, foi padrinho de Delfina (n.º 30). Faleceu pouco tempo depois, em 19 de outubro de 1803.

d) Neste ano, foram madrinhas três recolhidas do convento (Flora Maria, Brites Caterina da Conceiçaõ e Izabel Antonia). Não podendo estar presentes, foram substituídas, no ato do batismo, por uma outra pessoa. Não é claro que fossem freiras. Podiam ser raparigas ou mulheres ali recolhidas de livre vontade ou por imposição familiar. Na época, os conventos funcionavam como uma espécie de lares para as senhoras solteiras ou viúvas das elites sociais. Mas há alguma contradição entre o recolhimento em que viviam (são designadas por recolhidas) e o serem conhecidas e convidadas para madrinhas, nos batizados. Terão sido das últimas utentes do convento, pois, em 1835, já estava parcialmente em ruínas e só lá vivia a madre abadessa.

e) Os registos de batismo não indicam a povoação onde a criança nasceu. A naturalidade indicada em cada registo desta listagem conclui-a eu, a partir da residência dos pais. Mas há alguma margem de erro!

f) Nos finais deste século XIX, houve grandes mudanças na geografia dos concelhos, incluindo a extinção de alguns, como o de S. Vicente da Beira. Assim, não há gralha ao indicar o Orvalho como integrando o concelho do Fundão, ou o Chão do Cordeiro, da freguesia do Souto da Casa, pertencer agora à Pampilhosa da Serra. Neste caso, tenho dúvidas, pois há outras freguesias entre esta freguesia e este concelho. Talvez houvesse duas povoações com o mesmo nome e atualmente só já exista a da Pampilhosa.


 1.
Nome: Anna
Naturalidade: Paradanta ou São Vicente
Pais: Joze Leitaõ, de São Vicente, e Maria Roza, da Paradanta
Avós paternos: Joze Leitaõ, das Rochas de Baixo, e Ignes Faustina, de São Vicente
Avós maternos: Manoel Leitão e Maria Rodrigues, ambos da Paradanta
Data de nascimento: 25-12-1800
Data de batismo: 01-01-1801
Padrinhos: Joaquim Joze e sua mulher Maria da Conceiçaõ, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Tesoureiro Joze Barata e Joze Antonio Rolaõ, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

 2.
Nome: Antonio
Naturalidade: Mourelo ou Tripeiro
Pais: Joaquim Rodrigues, do Tripeiro, e Brites Leitoa, do Mourelo
Avós paternos: Manoel Rodrigues Diabinho e Izabel Francisca, ambos do Tripeiro
Avós maternos: Mathias Leitaõ, do Mourelo, e Maria Mendes, de Almaceda
Data de nascimento: 10-01-1801
Data de batismo: 18-01-1801
Padrinhos: Antonio Fernandes e Maria Martins, da Partida
Testemunhas: O Vigário (Pe. Francisco Marques Goulaõ) e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

 3.
Nome: Anna
Naturalidade: Mourelo
Pais: Joaquim Rodrigues Fidalgo, das Rochas de Cima, e Jozefa Maria, do Mourelo
Avós paternos: Manoel Rodrigues, das Rochas de Baixo, e Maria Leitoa, dos Pereiros
Avós maternos: Joze Alves, do Mourelo, e Maria Martins, da Foz Giraldo, freguesia do Orvalho, termo do Fundão
Data de nascimento: 03-02-1801
Data de batismo: 08-02-1801
Padrinhos: Manoel Alexandre e sua filha Anna, solteira, ambos da Partida
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Antonio, de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

 4.
Nome: Joaõ
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Francisco Martins, de Alcains, e Maria Rodrigues da Conceição, das Sarzedas, moradores em São Vicente
Avós paternos: Francisco Rodrigues e Anna Joaquina, de Badajoz, Espanha
Avós maternos: Antonio Rodrigues Craveiro e Maria do Carmo, ambos das Sarzedas
Data de nascimento: 13-02-1801
Data de batismo: 22-02-1801
Padrinhos: Joze Custodio Ribeiro e sua mulher Maria Hipolita Cassiana (tocou por ela o seu filho Pe. Joaõ Ribeiro) todos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Rodrigues Marques, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

5.
Nome: Maria
Naturalidade: Vale de Figueiras
Pais: Joze Antonio, do Vale de Figueiras, e Puqueria Antunes do Descoberto, freguesia de Bogas de Baixo
Avós paternos: Antonio Fernandes da Partida, e Maria Francisca, do Vale de Figueiras
Avós maternos: Joaõ Francisco, do Descoberto, e Joanna Antunes da Malhada Velha, freguesia de Silvares
Data de nascimento: 15-03-1801
Data de batismo: 22-03-1801
Padrinhos: Francisco Martins e sua mulher Maria Nunes, do Vale de Figueiras
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Oliveira, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

6.
Nome: Flora
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Manoel Lopes, de Castelo Novo, e Secilia Maria da Conceiçam, de São Vicente
Avós paternos: Domingos Lopes, de Castelo Novo, e Izabel Gonsalves, da Orca, termo de Castelo Novo
Avós maternos: Martinho Mendes e Maria Roloa, de São Vicente
Data de nascimento: 15-03-1801
Data de batismo: 22-03-1801
Padrinhos: Manoel dos Reis, de São Vicente, e Flora Maria, solteira, recolhida no Mosteiro de São Vicente (tocou, com procuração, Francisco Leitam, de São Vicente)
Testemunhas: Pe Joze Barata e Joze Gonsalves, de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

7.
Nome: Jozefa
Naturalidade: Partida
Pais: Manoel Fernandes, da Partida, e Inocencia Gama, do Engarnal, freguesia de Almaceda
Avós paternos: Agostinho Fernandes, da Partida, e Gregoria Francisca, do Vale de Figueiras
Avós maternos: Joaõ Rodrigues, do Engarnal, e Izabel Antunes, de Almaceda
Data de nascimento: 20-03-1801
Data de batismo: 29-03-1801
Padrinhos: Domingos Rodrigues, da Partida, e Maria Gama, do Mourelo, casada com Joze Luis Roque
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joaõ Antonio Rolaõ, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

8.
Nome: Joze
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Custodio Joze dos Santos e Rita Maria, de São Vicente
Avós paternos: Francisco Antonio dos Santos e Anna Joaquina, de São vicente
Avós maternos: Joze Gonçalves e Jozefa Maria, de São Vicente
Data de nascimento: 19-03-1801
Data de batismo: 31-03-1801
Padrinhos: Joaquim Joze Gonçalves, solteiro, e Barbara Gomes, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

9.
Nome: Francisco
Naturalidade: Tripeiro
Pais: Manoel Vas, do Tripeiro, e Joaquina Vas, de Almaceda
Avós paternos: Domingos Vas, de Martim Branco, e Anna Martins, de Almaceda
Avós maternos: Joze Vas Nunes e Domingas Lopes, de Almaceda
Data de nascimento: 26-03-1801
Data de batismo: 04-04-1801
Padrinhos: Simaõ Martins e Felicia Martins, solteiros, de Almaceda
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves, de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

10.
Nome: Francisco
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joaõ Rodrigues Castanheira, de São Vicente, e Maria Gonçalves, da Torre, freguesia do Louriçal do Campo
Avós paternos: Jacinto Rodrigues Castanheira e Maria Leitoa, ambos de São Vicente
Avós maternos: Manoel Fernandes Serra, do Louriçal, e Maria Gonçalves, da Torre
Data de nascimento: 30-03-1801
Data de batismo: 04-04-1801
Padrinhos: Francisco Rodrigues, solteiro, filho de Maria Leitoa, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

11.
Nome: Joaquina
Naturalidade: Partida
Pais: Manoel Rodrigues, da Partida, e Maria Martins, do Ribeiro de Eiras, freguesia de Almaceda
Avós paternos: Jacinto Rodrigues, da Partida, e Francisca Maria, do Vale de Figueiras
Avós maternos: Luis Martins, do Ribeiro de Eiras, e Caterina Freire, das Rochas de Baixo
Data de nascimento: 15-04-1801
Data de batismo: 23-04-1801
Padrinhos: Manoel, solteiro, filho de Manoel Alexandre, da Partida, e Joaquina, solteira, filha de Luis Martins, do Ribeiro de Eiras
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

12.
Nome: Antonio
Naturalidade: Tripeiro ou Mourelo
Pais: Joze Mateus, do Tripeiro, e Maria Francisca, do Mourelo
Avós paternos: Joze Mateus, do Maxial, termo das Sarzedas (Maxial do Campo), e Joana Gonçalves, do Tripeiro
Avós maternos: Antonio Fernandes Baranda e Maria Francisca, ambos do Mourelo
Data de nascimento: 17-04-1801
Data de batismo: 26-04-1801
Padrinhos: Antonio, solteiro, filho de Antonio Fernandes Baranda, do Mourelo, e Christina, solteira, filha de Manoel Roque, do Tripeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

13.
Nome: Francisco
Naturalidade: Vale de Figueiras
Pais: Manoel Rodrigues, do Vale de Figueiras, e Maria Nunes, da Pay Agoa (Paiágua)
Avós paternos: Joam Rodrigues e Maria Leitoa, do Vale de Figueiras
Avós maternos: Joam Nunes e Izabel Pires, da Paiágua
Data de nascimento: 25-04-1801
Data de batismo: 03-05-1802
Padrinhos: Francisco Leitaõ, do Vale de Figueiras, e Jozefa Leitoa, solteira, da Partida
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

14.
Nome: Joze
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Antonio da Silva, da Orca, e Brites Leitoa, de São Vicente
Avós paternos: Antonio da Silva, de Alcains, e Eugenia Martins, da Orca
Avós maternos: Domingos Leitaõ, do Mourelo, e Maria Antunes de São Vicente
Data de nascimento: 21-05-1801
Data de batismo: 28-05-1801
Padrinhos: Pe. Joze Barata e Brites Caterina da Conceiçaõ, recolhida no mosteiro de São Vicnete (tocou, com procuração sua, Joaõ Barata de Gouveia)
Testemunhas: Pe. Francisco Joze de Mesquita e Joze Fernandes, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

15.
Nome: Anna
Naturalidade: Partida
Pais: Silvestre Francisco, da Malhada Velha, e Roza Maria, da Partida
Avós paternos: Manoel Francisco, da Malhada Velha, e Roza Martins, do Discuberto (Descoberto)
Avós maternos: Joze Martins, do Castelejo, e Maria Lopes, dos Pereiros
Data de nascimento: 22-05-1801
Data de batismo: 01-06-1801
Padrinhos: Domingos Martins Rato e sua mulher Maria Freire, do Ribeiro Deiras (Ribeiro de Eiras)
Testemunhas: Joze Martins, da Partida, e o Pe. Joze Barata, de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

16.
Nome: Maria
Naturalidade: Mourelo
Pais: Manoel Joze, de Aldeia Fundeira, freguesia de Campelo, bispado de Coimbra, e Jozefa Custodia, do Mourelo
Avós paternos: Antonio Joze e Maria Simoins, de Aldeia Fundeira
Avós maternos: Manoel Rodrigues Frances, do Violeiro, e Custodia Gonçalves, do Mourelo
Data de nascimento: 02-06-1801
Data de batismo: 07-06-1801
Padrinhos: Patricio Joze e sua mulher Maria Rodrigues, do Mourelo
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

17.
Nome: Antonio
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Pai incógnito e Jozefa Rita, solteira, de São Romão, bispado de Coimbra
Avós paternos: Incógnitos
Avós maternos: Manoel Marques e Maria Ferroa, de São Romão
Data de nascimento: 11-07-1801
Data de batismo: 18-07-1801
Padrinhos: Pe. Joaquim Marques
Testemunhas: O Vigário Francisco Marques Goulaõ e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

18.
Nome: Jozefa
Naturalidade: Mourelo ou Tripeiro
Pais: Manoel Antunes, do Mourelo, e Maria Rodrigues, do Tripeiro (1.º matrimónio do pai e 2.º da mãe)
Avós paternos: Maximo Antunes, do Mourelo, e Maria Leitoa, dos Pereiros
Avós maternos: Manoel Rodrigues Diabinho e Izabel Francisca, do Tripeiro
Data de nascimento: 12-07-1801
Data de batismo: 19-07-1801
Padrinhos: Joaõ Rodrigues, do Engarnal, e Jozefa, solteira, filha de Justino Lourenço, do Tripeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

19.
Nome: Mathias
Naturalidade: Casal da Serra
Pais: Manoel Martins, do Casal da Serra, e Izabel Duarte Serra, do Louriçal
Avós paternos: Antonio Martins, de Almaceda, e Joana das Neves, do Casal da Serra
Avós maternos: Manoel Fernandes Zibreira e Maria Serra, do Louriçal
Data de nascimento: 15-07-1801
Data de batismo: 23-07-1801
Padrinhos: Mathias Henriques e Maria da Conceiçaõ, sua filha
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

20.
Nome: Maria
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Leitaõ Canuto e Maria Izabel, de São Vicente
Avós paternos: Manoel Leitaõ Canuto e Francisca Maria, de São Vicente
Avós maternos: Manoel Fernandes, do Castelejo, e Izabel Maria, de São Vicente
Data de nascimento: 27-07-1801
Data de batismo: 30-07-1801
Padrinhos: Pe. Caetano Joze dos Santos e Izabel Antonia, recolhida do convento de São Vicente (tocou, com procuração sua, o Pe. Francisco Joze de Mesquita)
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

21.
Nome: Joze
Naturalidade: Partida
Pais: Francisco Rodrigues e Izabel Venancia, da Partida
Avós paternos: Antonio Rodrigues, do Engarnal, e Ignes Gonçalves, da Partida
Avós maternos: Venancio Freire, da Partida, e Florençia Roballa, de Penamacor
Data de nascimento: 07-08-1801
Data de batismo: 13-07-1801
Padrinhos: Manoel Venancio, do Casal da Serra, e Jozefa, solteira, tia paterna do batizado e natural da Partida
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

22.
Nome: Maria
Naturalidade: S. Vicente da Beira (Senhora da Orada)
Pais: Ricardo Joze, do Souto da Casa, e Gertrudes Maria Antunes, da Senhora da Orada – São Vicente (1.º casamento da parte da mãe e 2.º da parte do pai)
Avós paternos: Francisco Borges e Felicia de Oliveira, do Souto da Casa
Avós maternos: Joze Antunes e Izabel Rodrigues, dos Pereiros
Data de nascimento: 06-08-1801
Data de batismo: 13-08-1801
Padrinhos: Francisco Fernandes, moleiro, e sua filha Anna, solteira, ambos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

23.
Nome: Jozefa
Naturalidade: S. Vicente da Beira (Senhora da Orada)
Pais: Jacinto Antunes, da Senhora da Orada (São Vicente) e Izabel Leitoa, da Paradanta
Avós paternos: Joze Antunes e Izabel Rodrigues, dos Pereiros
Avós maternos: Manoel Leitaõ da Roza e Maria Rodrigues, da Paradanta
Data de nascimento: 20-08-1801
Data de batismo: 27-08-1801
Padrinhos: Manoel e Jacinta, solteiros, ambos filhos de Manoel Leitaõ da Roza, da Paradanta
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

24.
Nome: Joana
Naturalidade: Partida
Pais: Manoel Venancio, da Partida, e Joana Maria, do Casal da Serra
Avós paternos: Venancio Freire, da Partida, e Florencia Robala de Penamacor
Avós maternos: Manoel Francisco e Maria Fernandes, do Casal da Serra
Data de nascimento: 21-08-1801
Data de batismo: 01-09-1801
Padrinhos: Joze Francisco, solteiro, filho de Manoel Francisco, e Joana Freire
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Agostinho Fernandes, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

25.
Nome: Antonia
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joaõ Antonio Marques e Maria Rita, de São Vicente
Avós paternos: Antonio Nunes da Pas, de Cebolais de Cima, e Maria Marques Leitoa(?), de São Vicente
Avós maternos: Joze Mendes Rapozo, de São Vicente, e Luiza Maria, da Póvoa de Rio de Moinhos
Data de nascimento: 11-09-1801
Data de batismo: (não indicada)
Padrinhos: Pe. Antonio Ribeiro e Antonio, solteira, filha de Joze Ribeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Pe. Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

26.
Nome: Joaõ
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Pai incógnito e Maria de Souza, solteira, de Penamacor
Avós paternos: Incógnitos
Avós maternos: Joze Leitaõ Pananso(?), de São Vicente, e Izabel Carrasca, de Penamacor
Data de nascimento: 12-09-1801
Data de batismo: 18-09-1801
Padrinhos: Pe. João Ribeiro e Antonia, solteira, filha de Joze Ribeiro, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Pe. Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

27.
Nome: Francisco
Naturalidade: Violeiro
Pais: Ivo Joze e Izabel Fernandes, do Violeiro
Avós paternos: Joze Mendes, do Souto da Casa, e Joana Martins, do Violeiro
Avós maternos: Manoel Pires e Joana Fernandes, do Violeiro
Data de nascimento: 13-09-1801
Data de batismo: 20-09-1801
Padrinhos: Manoel Pires e Inocencia, solteira, filha de Joze Pires, do Violeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Pe. Joaõ Ribeiro
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

28.
Nome: Joam
Naturalidade: Partida
Pais: Rodrigo Duarte, do Souto da Casa, e Maria Robala, da Partida
Avós paternos: André(?) Duarte, do Freixial (Fundão), e Maria Lopes do Carmo, do Souto da Casa
Avós maternos: Venancio Freyre, da Partida, e Florencia Robala, de Penamacor
Data de nascimento: 12-09-1801
Data de batismo: 27-09-1801
Padrinhos: Joam Figueira e Rozario, solteira, filha de André Duarte, ambos do Souto da Casa
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

29.
Nome: Maria
Naturalidade:
Pais:
Avós paternos:
Avós maternos:
Data de nascimento: Exposta pela meia-noite amanhecendo para o dia 16-09-1801
Data de batismo: 30-09-1801
Padrinhos: Manoel Rodrigues da Conceição
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Manoel Vas, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

30.
Nome: Delfina
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: António da Costa, de Corvos à Nogueira, bispado de Viseu, e Antonia Maria, de São Vicente
Avós paternos: Manoel da Costa e Maria da Costa, de Corvos à Nogueira
Avós maternos: Diogo Gomes e Joana Maria(?), de São Vicente
Data de nascimento: 29-09-1801
Data de batismo: 09-10-1801
Padrinhos: Capitão-Mor Francisco Caldeira e … … Jozefa Margarida Pinto de Macedo … (tocou, por procuração, Joaquim Joze de Brito), todos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joam Calmaõ(?)
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

31.
Nome: Mathias
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Henriques e Ana Maria de Oliveira, de São Vicente
Avós paternos: Mathias Henriques e Maria Rofina, ambos de São Vicente
Avós maternos: Agostinho Gonçalves, do Sobral do Campo, e Maria Joana, de São Vicente
Data de nascimento: 08-10-1801
Data de batismo: 18-10-1801
Padrinhos: Mathias Henriques e Maria, solteira, sua filha
Testemunhas: O Vigário Francisco Marques Goulaõ e o Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

32.
Nome: Inocencia
Naturalidade: Violeiro
Pais: Joze Rodrigues, do Violeiro, e Maria Fernandes, do Salgueiro do Campo
Avós paternos: Miguel Rodrigues, do Engarnal, e Maria Antunes, do Violeiro
Avós maternos: Bartholomeu Fernandes, do Salgueiro do Campo, e Maria Fernandes, de Martim Branco
Data de nascimento: 08-11-1801
Data de batismo: 15-11-1801
Padrinhos: Francisco Fernandes, de Rochas de Baixo, e Innocencia, solteira, filha de Joze Pires, do Violeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

33.
Nome: Antonio
Naturalidade: Paradanta ou Pereiros
Pais: Antonio Leitaõ, da Paradanta, e Maria Martins, dos Pereiros
Avós paternos: Joze Leitaõ, da Paradanta, e Maria Fernandes, da Partida
Avós maternos: Anacleto Antunes, dos Pereiros, e Izabel Martins, do Ribeiro d´Eiras
Data de nascimento: 15-11-1801
Data de batismo: 22-11-1801
Padrinhos: Manoel Leitaõ e sua mulher Roza Maria, da Paradanta
Testemunhas: Pe. Caetano Joze dos Santos e Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

34.
Nome: Caetano
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Caetano, de São Vicente, e Anna Rita, de Póvoa de Mileu, freguesia da Sé, Guarda
Avós paternos: Joaõ Joze, de São Vicente, e Maria Lourença, de Castelo Novo
Avós maternos: Andre Francisco e Rita Maria, de Póvoa de Mileu
Data de nascimento: 13-11-1801
Data de batismo: 22-11-1801 (batizado à nascença, por estar em perigo de vida, segundo a parteira, pelo Pe. Caetano Joze dos Santos)
Padrinhos: Não indicados
Testemunhas: Pe. Caetano Joze dos Santos e Pe. Joze Barata
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

35.
Nome: Joze
Naturalidade: Paradanta ou Partida
Pais: Domingos Rodrigues, da Paradanta, e Maria Francisca, da Partida
Avós paternos: Joam Rodrigues, da Paradanta, e Maria Rodrigues, do Chão do Cordeiro, freguesia do Souto da Casa
Avós maternos: Agostinho Fernandes, da Partida, e Gregoria Francisca, do Vale de Figueiras
Data de nascimento: 28-11-1801
Data de batismo: 06-12-1801
Padrinhos: Manoel Rodrigues Peradanta e sua filha Maria, da Partida
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulam

36.
Nome: Manoel
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Paulino, de São Vicente, e Rita Maria, do Castelejo
Avós paternos: Paulino Leitaõ, de São Vicente, Maria Luiza, de Alpedrinha
Avós maternos: Sebastiaõ Fernandes e Felicia Gomes, do Castelejo
Data de nascimento: 06-12-1801
Data de batismo: 13-12-1801
Padrinhos: Manoel Joze, residente na freguesia de Santa Maria, Castelo Branco, e Anna do Carmo, mulher de Manoel Roque, residente na freguesia de São Miguel da Sé, Castelo Branco
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Pe. João Ribeiro
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

37.
Nome: Joam
Naturalidade:
Pais: Bartholomeu António, do Pé da Serra, Sarzedas, e Genoveva Maria, do Tripeiro
Avós paternos: Antonio Barata, de ?, e Jacinta Rodrigues, do Pé da Serra
Avós maternos: Domingos Vas, do Tripeiro, e Anna Martins, de Almaceda
Data de nascimento: 06-12-1801
Data de batismo: 13-12-1801
Padrinhos: Joze dos santos, solteiro, do Sobral, e Rozaura, solteira, filha de Faustino Lourenço (?), do Tripeiro
Testemunhas: Pe. Joze Barata e o Pe. Joze Gonsalves, juiz da Igreja
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

38.
Nome: Domingos
Naturalidade: Paradanta ou S. Vicente da Beira
Pais: Joaõ Leitaõ, da Paradanta, e Maria Vitoria, de São Vicente (1.º casamento da parte da mãe e 2.º da parte do pai)
Avós paternos: Manoel Leitaõ, da Paradanta, e Roza Rodrigues, do Chão do Cordeiro, Souto da Casa
Avós maternos: Joaõ Pedro, de Almaceda, e Vitoria Maria, de São Vicente
Data de nascimento: 19-12-1801
Data de batismo: 26-12-1801
Padrinhos: O Vigário Francisco Marques Goulaõ e Dona Leonor Angelica, solteira, filha de Vicente Joze de Azevedo (tocou o seu irmão, o Cadete Joaquim de Andrade), de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Pe. João Ribeiro, ambos de São Vicente
Sacerdote: O Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

39.
Nome: Antonia
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Manoel do Espirito Santo, de São Miguel d´Acha, e Barbara Maria, de São Vicente
Avós paternos: Joze Gonçalves Ilene(?) e Paula de São Pedro, de S. Miguel d´Acha
Avós maternos: Jacinto Rodrigues Castanheira e Maria Leitoa, de São Vicente
Data de nascimento: 18-12-1801
Data de batismo: 26-12-1801
Padrinhos: Pe. João Ribeiro e sua irmã Antonia, solteira, filhos de Joze Ribeiro, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

40.
Nome: Joam
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Joze Antonio de Oliveira e de Maria … da Vizitaçaõ, naturais de São Vicente
Avós paternos: Joze Antonio e Maria Gama, de São Vicente
Avós maternos: Joam de Couto, da Roda, freguesia de São Julião de Mangualde, e Maria Roza, de São Vicente
Data de nascimento: 16-12-1801
Data de batismo: 26-12-1801
Padrinhos: Joam de Couto e sua mulher Maria do Carmo, de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonçalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

41.
Nome: Maria
Naturalidade: S. Vicente da Beira
Pais: Manoel Duarte e Joana Cazemira, de São Vicente
Avós paternos: Mathias Marcos e Maria Duarte, de São Vicente
Avós maternos: Fernando Joze e Ignes da Conceissam, de São Vicente
Data de nascimento: 22-12-1801
Data de batismo: 31-12-1801
Padrinhos: Joaquim Joze dos Santos (tocou, com procuração, Francisco Joze do Espirito Santo, da Póvoa de Rio de Moinhos) e Maria Antonia, ambos de São Vicente
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joze Gonsalves
Sacerdote: O Vigário Francisco Marques Goulaõ

42. 
Nome: Maria
Naturalidade: Partida
Pais: Joze Martins, do Vale de Figueiras, e Maria Roza, da Partida
Avós paternos: Francisco Martins do vale de Figueiras, e Maria Nunes, de São Vicente
Avós maternos: Francisco Joze, de São Vicente, e Rosa Leitoa, da Partida
Data de nascimento: 28/12/1801
Data de batismo: 03/01/1802
Padrinhos: Manoel Martins e sua mulher Maria Anna, ambos da Partida
Testemunhas: Pe. Joze Barata e Joaõ Antonio Rolaõ
Sacerdote: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

José Teodoro Prata

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Novo ciclo


Começou um novo ciclo, no poder autárquico local.
Na Câmara Municipal de Castelo Branco, a presidência de Joaquim Morão dá lugar à de Luís Correia, ambos do Partido Socialista.
O mesmo acontece a nível da freguesia, onde, à presidência de João Prata, com José Duarte e Catarina Martins, sucede a de Vitor Louro, acompanhado por José Duarte e Ana Jerónimo Patrício, também do Partido Socialista.

Resultados da freguesia de S. Vicente da Beira:

Para a Câmara Municipal: PS - 61, 98%; PSD - 26,04%

Para a Assembleia de Freguesia: PS - 51,96%; PSD - 42,42%

Ver mais resultados em: http://autarquicas2013.mj.pt/



José Teodoro Prata

domingo, 29 de setembro de 2013

O RENEGADO (texto integral)

O RENEGADO

Prólogo

Antes de mais, quero alertar para o facto de serem usados bastantes regionalismos, neste texto, por palavras ou expressões. Alguns, simplesmente, não existem nos dicionários, mas são conhecidos e utilizados, sobretudo pelos mais velhos. Devem ser interpretados segundo o sentido que lhes é dado no interior do país, especialmente na Beira Baixa, o que às vezes é difícil, dada a sua volatilidade, como acontece com todas as línguas, face ao passar das gerações.
Outro alerta é para a circunstância de se usarem algumas alcunhas associadas a nomes de pessoas. As alcunhas são muito frequentes em S. Vicente da Beira. Podem ser consideradas ofensivas. Mas quando aqui se referem é no sentido carinhoso.
Esta história foi-me contada pelo Ti’ Aurélio Moreira que este ano completa a bonita idade de 94 anos e, à época, teria os seus 30. Mas contou-ma muito rápido, no sítio do antigo Tronco, em três ou quatro penadas, portanto, com muito poucos pormenores. Não houve tempo para mais.
Ele próprio viveu alguns dos acontecimentos, sobretudo, da parte final da história, in loco. Mas nada sabia e, em boa verdade, nada podia saber, sobre o que se passou na Tapada quando o Renegado chegou a casa do Ti’ Zé Maria Prata, onde apenas se encontrava a esposa e os filhos deste.
Nestas condições e, como não pude contactar outras pessoas com conhecimentos da realidade fáctica (e sei que as há), vi-me obrigado a ficcionar a maior parte das cenas, das quais não tenho a mínima ideia como terão sucedido. Mas o fundo da história, esse, está lá.
Na parte final da narrativa há de o leitor inteirar-se, se quiser fazer o favor, do fim das aventuras deste homem. Segundo reza a crónica da tradição oral, de que a fonte me deu fé, terminou assim a vida do Renegado que assolou a região da Serra da Gardunha e com ele o mito daquele que, na fantasia destas gentes, ficou conhecido como PISTOTIRA, de que apenas aqui contamos uma aventura.
De tal maneira esta história estava enraizada na população que, muitas vezes, quando um homem da vila se dirigia a um miúdo, de alguma forma zombando um pouco dele, lhe perguntava: «Então, ó Pistotira! O que é que andas a fazer?»
Há outras histórias de outros Renegados da Gardunha, igualmente interessantes e com mais ou menos riqueza de factos, drama humano e recheadas de romantismo de que é sedento o nosso povo. Mas isso fica para depois.   
Não posso acabar, sem deixar de lamentar aquela cena que, essa, corresponderá a factos reais que me foram contados, em concreto, pelo Ti’ Aurélio, em que alguns dos da turba batiam no Pistotira.
É certo que, dentro da cadeia, ele não se encontrava amarrado de pernas. Se estava amarrado de mãos, não se sabe; ou esse ponto não me foi esclarecido. Mas sabe-se que era uma pequena multidão contra apenas um homem, sozinho, no meio do ajuntamento e isso não tem desculpa.
O que pode é haver alguma tolerância se atendermos à mentalidade da época, à euforia do acontecimento e talvez aos efeitos do álcool que, eventualmente, não deixaria de estar presente.       

______________________

O RENEGADO

A invernia nas faldas da Gardunha, naquele ano, como de costume, era das antigas. E aquele dia não era diferente dos demais. O céu estava carregadíssimo de nuvens negras. Anoitecera, tinham dado as cinco da tarde no relógio velhinho da torre. pouco se enxergava. Chovia água, se Deus a dava!
O forte temporal que se abateu sobre o povoado enregelava os corpos e o vento soprava, assanhado, fazendo remoinho nos telhados, levantando a telha mourisca de algumas casas que metiam água como se fora a Fonte Velha, cuja nascente, mesmo diminuindo um pouco, não falece, nem nos anos de maior seca.
Havia necessidade de consertar os algerozes por fora, durante o dia, mesmo debaixo de chuva ou tirar as tchincas das telhas, por dentro, pelo forro, às apalpadelas, com a candeia de azeite, de luz a tremelicar. Porque, no verão, o Ti’ Manel Ubre se encarregaria de correr o telhado, preparando-o para o inverno seguinte.  
A chuva enchera ribeiros e regatos. Vinha tocada a vento! Um homem acobertado atrás do casacão de surrobeco, mesmo que levasse por cima um guarda-chuva largo, de pastor, de pano grosso e ainda que vestisse safões de pele de cabra e polainas, não evitava que a água lhe entrasse pela véstia.
A termo de se ver tão abundantemente ensopado nos bragais mais chegados ao corpo, que começava a sentir aquela impressão desagradável da roupa molhada pegada ao pelo. Uma caminhada pela serra por mor de compromissos de negócio ou jornada no campo e era certo e sabido que se ficava alagado até aos fundilhos!  
«Nossa Senhora! Tanta água! Estava tentada a dizer que isto aqui na Tapada é o inferno, se não rezassem os Santos Livros que o inferno é de fogo! Credo! Está uma noite de lobos! E eu sozinha, sem ter aqui vizinhos. com os meus meninos, prestes a dormir!»
Estava a Ti’ Mari’ de Jesus nestas cogitações e, nisto, ia jurar que tinha ouvido, fora, o barulho de pancadas na porta.
«Quem é?» Mouta! «Quem é que está?» E não retornava resposta.
Teria sido uma saraivada mais forte de pedrisco e vento a matraquear na madeira? Não! Tinha a certeza que ouvira bater!
O Ti’ Maria, o seu homem, não seria. É certo que ele não tinha chave, pois havia apenas uma e essa estava na fechadura. À noite, tinha que bater quando chegava a casa, porque a porta estava sempre fechada por dentro. Mas, se fosse ele, à uma, batia à porta de uma forma que ela logo reconheceria pelo toque e pela intuição de mulher. E à outra, não era ainda a hora habitual do seu regresso.
Nos dias em que a intempérie não permitia afazeres no campo, costumava entreter-se, até mais tarde, com os amigos, na venda do Ti’ João Arrebotes, na praça, por baixo da casa onde vive o Coné.
Tirou-se de cuidados, levantou-se do banquinho em que estava sentada ao lume, onde fez o caldo, afoita, que ela ainda era nova e um pedaço de mulher! Embrulhou o tronco e a cabeça num xaile para não ir diretamente do calor para o frio e evitar, assim, constipar-se. Agarrou na candeia e dirigiu-se ao corredor que dava para a porta da rua. Rodou a chave da fechadura para a esquerda, correu o trinco e abriu.  
Surgiu-lhe pela frente, de alto a baixo, no recorte retangular das lajes de granito das ombreiras, uma sombra, com contorno de gente, mas mal definido. A fraca luz da candeia e o negrume da noite, não deixavam perceber quaisquer feições. Dava apenas para ver que se tratava de um vulto de homem.
Fosse quem fosse o visitante, visto assim de repente, metia respeito! Mas como por ali tudo corria na paz do Senhor, a dona da casa, embora receosa, susteve a surpresa, sem apanhar grande cagaço.
Levantou a candeia com uma mão e pôs a outra à frente do vento para que não se apagasse a chama, aproximou-a daquela visão fantasmagórica que ali aparecera inopinadamente e lhe pôde ver melhor a cara. Mas não o reconheceu. Nem de perto, nem de longe. Nunca o tinha visto!
Estava postado na moldura da porta, encharcado, e tiritava do gelo da noite. Tinha barba e cabelos negros bastante compridos e em desalinho, com alguns laivos grisalhos. Homem dos seus 50 ou a passar, atarracado, mas espadaúdo.
Via-se que se encontrava fisicamente debilitado, certamente pela fome ou pelos trabalhos e agruras da vida. Apresentava um aspeto andrajoso, mais do que permitiam os costumes. Mas parecia ainda mais maltratado, porque saltava imediatamente à vista que não tinha quaisquer cuidados com a barba e os cabelos.
Apercebeu-se que estava ali aquela mulher e, eventualmente, crianças dentro da casa e que, por ora, não havia qualquer presença de homem. Mas não fez qualquer gesto intimidatório. Pelo contrário. Procurou fazer um ar sereno e um tanto humilde, como convinha a um visitante.
Fosse porque era pessoa de bem, que se tivesse por ali perdido na serrania, a caminho da Charneca ou do Louriçal, mas isso estava por provar; fosse porque precisava de se enxugar e de uma mão amiga que lhe estendesse um pedaço de pão e um prato de sopa quente. Parecia esgalfado!
Perante a porta aberta de uma casa de família, com o aconchego, mesmo momentâneo, que isso podia representar para si, a sua voz era baixa, calma e vacilante, diante da mulher que lha abrira.
«Deixe-me enxugar no seu lume, por um bocado e dê-me um prato do seu caldo; seja por quem tem.»
Tratando-se de um indivíduo estranho, mal apresentado, com ar de poucos amigos e, ainda por cima, aparecer ali àquela hora e com aquele tempo, tudo isto tinha posto a mulher, de início, em alerta. Mas esta postura do homem, de falinhas mansas, que parecia que deitava a alma ali no chão de pedra do limiar da entrada, levou-o a ganhar alguma confiança.
Parecia apenas um pobre homem. Um ferrabrás. Um maltês, sem pau nem manta. Um faminto, sem eira nem beira, como tantos outros. Um pobre diabo; ou, quando muito, um fora da lei de pequenos delitos, de roubar para saciar a fome. Que bem podia ter pertencido à quadrilha do do Telhado, se tivesse sido seu contemporâneo. Um herói mais romântico que sanguinário.
E, por aqui, havia tempo sem notícia de assaltos a pessoas ou casas, por delinquentes de vário grau de gravidade. Que iam de pequenos furtos a ameaças com faca ou arma de fogo ou mesmo morte de homem, como se dizia à boca pequena, porque isso não era fácil de confirmar.  
«O que é que o traz por aqui com este tempo, homem de Deus?»
«Perdi-me aqui na serra…»
«Entre, ali para o lume a aquecer-se, que eu lhe arranjo uma tigela de sopa quente. E não faça muito barulho, que os meus filhos estão no quarto a dormir.»
O homem entrou. A dona da casa atiçou melhor o lume, com um abano e pôs mais dois troncos de pinho até fazer uma valente boutcha que iluminava a pequena cozinha até ao teto. O inesperado visitante despiu o velho casaco que trazia e pôs-se de pé diante da ala, que atingia quase um metro de altura. Virava-se, alternadamente, de frente e de costas e logo as suas roupas soltaram rolos de vapor para o ar, como se fosse uma panela a ferver, tal era a quantidade de água que trazia em cima.
Mais ou menos meia hora, esteve nesta espécie de rito gestual, a enxugar-se. Foi o tempo durante o qual teve ainda que suster a fome de lobo que trazia, antes de sentir o sabor da sopa que lhe havia sido prometida.
Mas era necessário. Já tinha feito tantos sacrifícios, era mais um! Não podia sorver uma sopa quentinha das que aquecem a alma e ao mesmo tempo sentir a roupa molhada em cima do corpo! Era como se fosse apenas meio prazer. Ao cabo, sentou-se num banco em frente à lareira, bastante mais reconfortado.
«Há lá lume como o seu, senhora Maria! Isso há ele! Ná! E para mim, nesta hora, é como uma santa bênção!»
«Por que jornada e por que trabalhos vem a estes sítios num dia como este e da maneira que tem estado este ano, criatura do Senhor? Não o conheço por cá!»
«Sou um homem das serranias acima do Fundão, onde estou acantonado. Tenho vida errante e ando por caminhos tortuosos, porque preciso de comer. A fome e a penúria empurraram-me, por minha culpa, para o abismo. Vejo-me forçado a procurar alimento e a descer ao povoado, como os lobos.»
E mais não adiantou. Teria teto com soalho, na serra? Vivia da agricultura e calcorreava a montanha em busca de oportunidade de negócio para algumas peles ou para uma ou outra cabeça de gado? Como era e como não era a sua vida e como angariava proventos para se alimentar?
A Ti’ Mari’ de Jesus procurou uma malga na cantareira, onde tinha a loiça deborcada e deitou o caldo para dar ao inusitado visitante, a fumegar, apetitoso, ainda a escaldar, que a panela ainda fervia quando meteu nela a concha para o tirar! Estendeu-lha, com um bocado de broa.
«Aqui tem e que lhe faça bom proveito!»
«Bem haja e que Deus lhe dê saúde, que a merece.»
O homem comeu sofregamente, ainda a queimar, aquela reconfortante malga de sopa de couve e feijão, onde assomava um pedaço de toucinho do alto, cozido. Comeu tudo e soube-lhe a pútegas porque a magana da fome era de dias. Pousou a malga sobre a pequena mesa da cozinha, delicadamente.
«A senhora Maria acudiu-me numa hora difícil. Estou certo que Deus lhe de contar este gesto para desagravo dos pecados, quando um dia estiver diante d’ Ele; mas que esse dia venha ainda longe!»
«Bem haja, bem haja!»
Toda esta aparente cordialidade tinha deixado, primeiramente, no espírito da dona da casa alguma tranquilidade. Mas os lapsos e as explicações pouco convincentes e pouco esclarecedoras da vida errática do metediço, não eram de molde a configurá-lo, como acontecia com os mais, como um homem de assento. Tudo isto e mais as histórias que por ali se contavam, de vez em quando, sobre renegados e assaltantes dos caminhos, começaram a levá-la a ficar um pouco inquieta.
Enquanto ele comia a sopa, a mulher tinha reparado que pegava na colher de forma diferente do habitual, segurando-a como quem pega no cabo de uma ferramenta pesada, com o polegar oposto aos restantes dedos; em vez de a suster de forma usual, entre o polegar e o indicador. E descobriu que isso se devia a faltarem ao homem dois dedos da mão direita: o mínimo e o anelar. Dessa maneira ele disfarçava a imperfeição física. O sinal indissipável daquele corpo, pelo muito que teria penado durante a vida, que se adivinhava muito aventurosa. O homem estava marcado!
Isto conferia com uma daquelas histórias de terror sobre homens que se acoitavam na serra e se acercavam das redondezas das povoações para roubar casas e pessoas. A própria mulher ouvira dizer que um dos tais foragidos era conhecido por ter dois dedos a menos numa mão. Mas como nunca tivesse tido um mau encontro com gente dessa laia, graças ao Senhor; nem ouvido falar de forma fidedigna desses acontecimentos, pareciam-lhe loas do soalheiro, do imaginário, do disse que disse. E atirava-as, inexoravelmente, para o sótão do esquecimento porque tinha mais que fazer!
Mas o raio é que tudo o que se passava, desde um bom migalho, paredes adentro da sua própria casa, condizia com algumas das descrições dessas histórias!
Um farroupilha de homem que lhe apareceu numa noite de cães, de chuva, frio e vendaval, esfomeado e a tiritar, que mais parecia um ladrãozeco; narrando uma história pouco consistente, não contando, ostensivamente, o que parecia dever contar; tudo fazia pouco sentido e não merecia credibilidade. E, sobretudo, agora, a falta dos dois dedos na mão do homem, tal como ela ouvira numa das histórias que ali corria!
A Ti’ Mari’ de Jesus começou a ligar as pontas. Congeminou, congeminou, tirou a sua conclusão e ficou em pulgas!
«Meu Deus, é ele! É ele! É o Pistotira!»
«Tenho em casa um bandido! Um matador dos caminhos! Aquele que dizem que tem dois dedos a menos numa das mãos e de quem se têm contado histórias de roubos, ameaças e assaltos! Nossa Senhora! Credo! O que é que eu fui fazer ao dar guarida a este homem na minha própria casa!»
Assim mesmo manifestava a dona da casa o seu pânico. E não era para menos! Não pelo que tinha acontecido até ali, pois o homem até se tinha revelado cordato e educado. Na verdade, nada de mau se tinha passado. Mas se era quem ela pensava, a sua inquietação redobrou ao menos pelo que ainda poderia vir a suceder. Pois, verdadeiramente, nada sabia dele. Podia ter estado a fingir o tempo todo e ser uma pessoa malfazeja, muito diferente do que até ali aparentara. E mudar a sua atitude, tornando-se agressivo, capaz de roubar os seus haveres e até agredi-la ou fazer mal aos filhos.
Fazia exames de auto mortificação, condenando-se a si mesma por não se ter apercebido da espécie de indivíduo que metera em casa. Como cristã, limitara-se a oferecer-lhe hospitalidade. Agora não podia arriscar mais. Tinha que engendrar um plano para se ver livre daquele intrometido que sabia agora tratar-se de alguém com má fama, a condizer com os sinais do Pistotira.  
Mas para levar adiante tal façanha, a dona da casa não podia dar-se por achada. Nada de dar a entender que tinha acabado de descobrir a verdadeira identidade do meliante. Conversa daqui, conversa dali, para entreter, sobre o tempo, a vida assoberbada e as dificuldades das gentes da região. A páginas tantas, desculpou-se dizendo que tinha que ir ver as crianças aos quartos, onde estariam prontas para rezar a oração da noite e adormecer.
«Ó alma de Senhor, vou ver as crianças que estão para adormecer e já venho! Ponha aí mais duas cavacas de pinheiro, enxugue-se melhor e aqueça-se para a jornada que, ao que imagino, deve ser longa!»
E lançou ainda, como forma de robustecer a sua própria (mas aparente) confiança e dominar o medo:
«O meu homem não deve tardar. Nestes dias pequenos costuma chegar mais cedo para a ceia!»
«Vá, vá, Ti’ Maria, vá!»
Esgueirou-se a mulher, quase a correr, pela porta estreita do fundo da cozinha e dirigiu-se ao quarto onde se encontrava o filho mais velhito, dizendo-lhe em surdina:
«Filho, não faças barulho, mas estamos metidos num grande sarilho!»
«Levanta-te, agasalha-te bem com um casaco velho, grande, que ali está na cadeira. Pega num dos guarda-chuvas que estão atrás da porta e acoita-te bem debaixo dele para não te constipares com a chuva e o frio. Sai devagarinho e vai depressa dizer ao teu pai à venda do Ti’ João Arrebotes que está aqui em nossa casa o malandro do Pistotira! Não te demores. Vai num pé e vem no outro. Vá, anda lá, filho!»
O miúdo andava pelos seus 12 anitos e era vivo e fino. Mal pôs o pé fora de casa, leve como era e habituado como estava às correrias da brincadeira, a saltar paredes e cômoros, calcorreou a rua num ápice até à praça. E, em menos de um amém, estava à porta da taberna do Ti’ João Arrebotes. A entrada era vedada a jovens e crianças daquela idade.
Lá dentro, os homens formavam, entre si, diversos grupos dispostos em roda, que tagarelavam segundo o assunto de interesse de cada um; fosse por causa do tempo; fosse por mor das fainas agrícolas e dos negócios. Alguns rapazes contavam dichotes uns aos outros, por brincadeira, como forma de mangar e passar o tempo; outros jogavam o tanguinho por pontos, à rodada. A vozearia era elevada porque cada um se queria fazer ouvir por cima do barulho que pairava no ar.
O miúdo esperava fora quando um dos homens ia sair e se dirigia ao urinol de água corrente que existia por baixo da Fonte da Praça, a mijer; e onde alguns também iam despejar a saburra do odre avinhado. Chamou-o.
«Ó senhor; senhor!»
Como não havia luz pública, com o fraco brilho que vinha do candeeiro, de dentro da taberna, o outro não o reconheceu.
«De quem és tu rapaz? O que é que tu queres! tocaram as avé marias e ainda aqui andas a esta hora?! devias estar em casa! Descuida-te e ainda levas uma sova do teu pai com algum cinto!»
«Sou filho do Ti’ Maria Prata; está dentro; diga-lhe que chegue aqui; quero dar-lhe um recado; depressa!»
«Ah! O quê? Ti’ Maria? Ah! Então, espera aí. Espera aí, rapaz!»
Veio o Ti’ Maria e o filho pô-lo ao corrente do que se estava a passar na sua casa, na Tapada, acima da vila, como lhe dissera a mãe; e que estava o bilontra dum homem que parecia mesmo o Pistotira.
O Ti Maria ainda que dissesse de si mesmo que era “o número um de S. Vicente”, batendo com o direito no chão, para reforçar o discurso laudatório; e ainda que fosse bem constituído, forte de pulso, capaz de enfrentar o mais pintado, mesmo assim, ficou varado com a notícia. E principiou a vociferar:
«O Pistotira na minha casa?! O Pistotira debaixo do meu teto, onde tenho a mulher e os filhos?! Pode ser! Vou deitar a mão àquele alma do diabo! Àquele desgraçado! Ah, se me faz mal à Maria ou aos filhos! Vou persegui-lo até ao quinto dos infernos!»
Assim mesmo gritava ele, fora de si, que o seu receio não era por ele próprio, mas pela família.
Porém, pelo facto de o vadio se encontrar dentro de casa, dava a lei ao dono possibilidade de usar de auto defesa. Podia detê-lo por suas próprias mãos, da forma que fosse possível, sem prévio recurso às autoridades. No limite, levado por sério receio, podia até matá-lo. Disso tinha a certeza. Tanto mais que se tratava de um suspeito, um tratante com fama de ladrão e assaltante. Estava legitimado!
Alvoroçou-se a taberna com a clamunha! Pariu ali a galega! O que é, o que não é? Pouco a pouco, todos foram sabendo a razão do alarido. A história do Pistotira e a sua fama eram por demais conhecidas na região.
E logo o Ti’ Zé Maria se apressou a ir direito à Tapada a ver pelos seus próprios olhos o que lá se passava, prontamente secundado pelo Ti’ Zé Pedro, mais conhecido por Zé Gato e amigo de longos anos. Queriam prender o Pistotira!
Mas, tratando-se de deter alguém, o alvoroço e o alarido eram maus conselheiros. Iriam certamente alertar o homem e este escapulir-se-ia, que ele tinha aprendido a ser lesto de pernas, qualidade que o tinha safado em muitos apertos, dos quais, pelo que se contava, a sua vida era pródiga. 
Decidiram, então, calar-se quanto podiam e foram rua acima, silenciosos, tanto quanto o permitiam a emoção da tarefa e a exaltação do vinhito que tinham emborcado no Arrebotes. Os outros, talvez uns 15, ficaram na praça, mas não arredavam pé da porta da taberna, na expectativa, a ver o que a coisa dava.  
Os outros dois lá iam. À frente o dono da casa, que se esforçava por pôr no semblante o ar mais natural possível, como se fosse da venda, de seroar, sem nada saber, quase ombreado pelo Ti’ Zé Gato. Como já tinham combinado, este ficaria à entrada da soleira da porta, em silêncio, para o que desse e viesse. Era preciso prevenir, não fosse o homem estar armado com faca ou com algum pistoleco e pudesse haver derramamento de sangue.
O indivíduo continuava a aquecer-se, lá dentro, ao lume, como se fora visita de bem. A Ti’ Mari’ de Jesus entrava e saía da cozinha, atarefada com os afazeres da casa, como de costume, que o dia seguinte era de trabalho, assim o tempo o permitisse. Os filhos dormiam. Tudo numa aparente paz doméstica.
Bateram à porta e ela foi abrir, com o coração aos pulos, procurando disfarçar a agitação interior. Era o seu homem. Que percorreu o corredor e, breve, apareceu no traço da porta da cozinha.
«Boa noite», entrou logo a dizer. E assim que deparou com o homem:
«Temos visitas?»
«Temos», respondeu a mulher. «Esta criatura apareceu aqui encharcado, cheio de fome e de frio. Tem estado a enxugar-se. Comeu uma tigela de caldo quente com toucinho e pão e tem estado a aquecer-se para seguir jornada.»
Tudo isto fazia parte da encenação que não fora, mas parecia ter sido combinada. Ainda não se sabia se o indivíduo estava ou não armado. Era preciso tato e bom senso para não deixar que pudesse criar perigo para qualquer dos membros da família.  
E o Ti’ Maria dirigindo-se a ele: «Então e você o que o traz por estas paragens, se não leva a mal o perguntar?»
«Perdi-me por esta serra.»
«Com um tempo destes a perder-se na serra?!... Nem os lobos por andam e os cães mal ladram nos casais!»
«Pois sim, mas tenho que porfiar… Vida e corpo a sustentar…»
«Homessa! E como vai o amigo?» Disse o Ti’ Maria ao mesmo tempo que lhe estendia a mão para o cumprimentar. O outro ia também a estender-lhe a mão. E é quando o dono da casa confirma aquilo que esperava e era por demais conhecido da história que se contava acerca do Pistotira: a falta dos dedos da mão! A sua marca corporal tinha-o denunciado!  
«Ah! Seu malandro! Seu ‘filha da puta’! Você é mas é o Pistotira, procurado por assaltos a casas e pessoas, que inquieta muito tempo a gente destas terras com ameaças e extorsão de bens! Então você vem aqui, alberga-se abaixo das minhas telhas, mesmo nas minhas barbas, bem sei eu se com intuito de roubar-me o que é meu e molestar a minha família?! Você está preso! Preso, ouviu?! de pagá-las agora todas juntas!»
Enquanto isto dizia, o Ti’ Maria, que era um homem na força da maturidade, deitou-lhe os galfarros aos gorgomilos, atafegou-o e imobilizou-o, para que não se socorresse de alguma faca ou arma de fogo, caso a trouxesse.
Quando viu que fora descoberto, o homem ainda esboçou alguma resistência, mas podia ele nada contra o Ti’ Maria! É que, este, redobrou de esforço e energia. À uma, porque estava em sua casa o que lhe dava mais ânimo e confiança, que tinha para dar e vender. E, por outra, tratava-se de se safar a si próprio e à sua família daquele perigo e inconveniência!
O Ti’ Gato que aquilo ouvira entrou também de rompante na cozinha para ajudar o amigo. Seguro e imobilizado o Pistotira, manietaram-no pelos pulsos, por forma a não poder fazer qualquer gesto agressivo.
A intenção era metê-lo na cadeia que se situava por baixo da antiga casa da câmara, na praça, uma espécie de fortaleza de granito. Dali não fugiria! No dia seguinte, seguiria debaixo da força de cabos de ordens, a pé, até Castelo Branco, para ser presente a tribunal. Era a oportunidade de o Pistotira ir, finalmente, enfrentar a justiça e ser condenado pelas patifarias que tinha praticado durante anos.
Se assim pensaram, melhor o fizeram. Sempre de olho nele porque apesar das mãos atadas, as pernas estavam livres e podia tentar fugir, mal se descuidassem os seus captores. Um de um lado, outro do outro e ele no meio, levaram-no até à praça.
A chuva amainara, mas percebia-se que o astro permanecia nublado. Nenhuma estrela era visível no firmamento. A noite era breu e, como se sabe, não havia luz na via pública.
em frente da taberna do Ti’ João Arrebotes, à vista da pouca claridade que vinha de dentro, puderam os presentes divisar o prisioneiro e os que o traziam preso e amarrado. Cresceu a algazarra. A notícia correu por todas as tabernas da redondeza. Todos os que souberam do caso, foram aparecendo, gradualmente, até formarem um adjunto de 25 ou 30 homens. Uns mais maduros, outros na força da mediana idade e outros ainda rapazes acima de casadoiros, feros e capazes de arremeter contra castelos!
Acercavam-se do energúmeno, primeiramente, por curiosidade. Queriam ver de perto o vilão mas também, de algum modo, herói de aventuras. Afinal tinha sido preso um dos homens de que tanto se falava, cuja fama de malfeitor corria pela Beira. Um dos fora da lei que há muito se tinham assenhoreado daquelas serras. Podiam agora tocar-lhe, que estava ali à distância de um braço. Como se só pelo toque pudessem confirmar a existência daquela figura quase lendária que lhes parecia ter saído da fantasia dos livros de quadradinhos. 
Foi chamado o regedor que, após se inteirar do caso, confirmou a detenção. O forasteiro dormiria no local apropriado e no dia seguinte seria levado a Castelo Branco. O resto ficaria à responsabilidade das autoridades da comarca. Todos acreditavam que a situação dispensava investigação. Podia dizer-se que o caso era público e notório e não necessitava de prova, tal a má fama de que o indivíduo gozava em toda a riba Gardunha. Mas, se necessário, testemunhas contra ele não faltariam.   
Era preciso metê-lo no calabouço. Veio um candeeiro. A turba iniciou a marcha com o clamor que a circunstância deixa adivinhar e o prisioneiro no meio, atado de mãos, em direção ao edifício onde se situava a cadeia, no topo da praça. Elevou-se a gritaria, o homem sempre vigiado pelos cabos de ordens e por muitos populares. Formavam-se grupos de indivíduos que transbordavam euforia, abraçados uns aos outros, aos urros, que iam e vinham, dentro da roda do ajuntamento, aos avanços e às arrecuas. 
Entraram pela porta que hoje dá acesso ao gabinete do presidente da Junta de Freguesia, aberta para a praça velha, agora praça Dr. Hipólito Raposo. O rés do chão era amplo, mas havia divisão dos espaços, de acordo com as necessidades. Uns destinados à zona das detenções, outros aos serviços administrativos e outros com funções auxiliares ou não especificadas. 
Até ali, tinha-se criado à volta do indivíduo um halo de proteção. Uma espécie de estado de graça generalizado entre os membros da malta, pela surpresa e curiosidade que suscitara a sua aparição. Mas começaram a levantar-se, a pouco e pouco, vozes de censura. A admiração deu lugar à chalaça, primeiro, e à provocação, depois. Desvaneceu-se a fantasia da lenda e veio ao de cima a lembrança do desassossego provocado pelo malfeitor nas populações, durante anos. 
Dentro da cadeia, pendurou-se o candeeiro em sítio adequado, suficientemente alto para iluminar o local, com o detido no meio do aglomerado das pessoas e o regedor e os cabos de ordens por perto.
Circulava entre os presentes, entusiasmados pela façanha conseguida, um cântaro de tinto do Arrebotes, oriundo da muito ténue encosta ensolarada das Vinhas do Poço, abaixo da Fonte da Portela, a expensas da rapaziada ali reunida.
A certa altura da função, fosse por força da excitação do préstimo feito à sociedade, prendendo o facínora; fosse pelos copos escorropichados desde que anoitecera, às cinco da tarde daquele dia de inverno; e, com as veias das frontes a latejar, as testas brunidas e o hálito vinolento, turvou-se-lhes o espírito.
«Hás de pagá-las agora, cão», dizia um. «Safado!» Dizia outro. «Espera-te o degredo em África para o resto da vida!» Regougava aquele. «Acabou-se o teu reinado, ladrão!» Volvia ainda um outro.
            Dizendo isto, atento o currículo de torpezas do biltre, antecipavam-lhe já um futuro negro, mesmo antes de a justiça se pronunciar. E a vingança, ainda que ligeira, já começara. Um passava por ele e dava-lhe uma lambada; outro um pontapé; outro, ainda, empurrava-o e caçoava dele. E assim se viu o homem encurralado e sozinho.    Salvo seja, parecia mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo entre os algozes. É certo que ele era culpado e pecador e merecia castigo. Mas até na condenação um homem tem direito à dignidade.
«Ah! Damonho! Tantas fizeste que vais acabar a espernear numa corda!» «Chegou o teu fim! Não voltas a ver sol nem lua!» Iam dizendo os do bando.
E porque torna e porque deixa, levaram umas boas duas horas nesta léria, bem regadas de tinto.
Não tugiu. Uma palavra dele e aumentaria ainda mais a sanha da chusma.
Tanto quanto lhe era possível e porque, até àquele dia, em todas as ocasiões se tinha saído por cima do cadafalso que lhe haviam armado, principiou logo a pensar em tirar partido da ineficácia daqueles cérebros toldados pela exasperação. Que era nada menos que uma mistura feita de muita emoção e alguns meios quartilhos de tinto do Arrebotes! Tinha que espreitar uma aberta para dar às de vila diogo, se não queria ir bater com os costados na enxovia. 
A tramoia ameaçava prolongar-se noite dentro e pela madrugada fora, até à saída do prisioneiro para Castelo Branco. Porém, a certa altura, não se sabe bem o que sucedeu. Se foi algum gesto feito à toa; se terá sido alguma pancada com intenção de alguns causarem a desordem e fazer justiça popular já ali, criando as condições de impunibilidade para os autores; se foi por falta de combustível. Fosse lá por que razão fosse, o que se sabe é que o candeeiro se apagou de repente e ficou tudo às escuras! Pânico! 
«Aqui d’el rei que o preso foge!» «Aqui d’el rei!» «Acudam!» «Agarrem-no!» «Não o deixem fugir!» Gritavam. E andavam feitos tarantas na escuridão, às apalpadelas, aos encontrões uns nos outros, sem atinarem ou enxergarem o que quer que fosse.
            Era a oportunidade do Pistotira! Ele já tinha mirado uma janela que dava do edifício da cadeia para a praça velha, situada a cerca de apenas um metro de altura do chão, hoje serviço da Junta de Freguesia. Encontrava-se aberta. A pequena multidão, desleixada pelo excesso de confiança da sua missão, não a fechara.
Mal se apagou a luz e ele se sentiu livre, afastou os vigias mais próximos com dois encostos. A coberto daquela abençoada escuridão, deu dois saltos empurrando mais alguns dos que inopinadamente lhe estorvavam o caminho. Que ele, como já se referiu, era lesto de pernas e ágil de movimentos. Habituado que estava a livrar-se de encrencas como esta, deu um pulo pela janela e estava na rua como pássaro fora da gaiola!
Em menos tempo do que se leva a rezar uma avé maria, afastou-se do local e pôs-se de largo. Os do adjunto, meio a tatear, lá acenderam o candeeiro. Foi então que puderam confirmar a falta do prisioneiro. E vieram logo para a rua onde reinava a grande aliada do fugitivo, a treva, às apalpadelas. Ainda deram umas voltas pela zona da praça, pensando que, com a noite que estava, ele não iria muito longe. Mas podiam lá eles apanhá-lo com a mente que levava, incendiada pelo ânimo, direito à liberdade!
Nunca o apanharam. E assim acabou, que se saiba, a aventura do Pistotira por estas serras. Teria rumado a sul, onde continuou a fazer das suas.

Uns anos depois, no Vale de Santarém, em desavença com alguém a quem teria cobiçado os haveres, em fuga desenfreada, caiu num poço que se lhe atravessara no caminho e que não lobrigou, afogueado como ia a escapulir-se, mais uma vez, para não perder a liberdade.
Terá sido a sua derradeira aventura. Consta que ficou muito mal nessa queda e que acabou mesmo por morrer quando a GNR quase lhe terá arrancado as orelhas ao puxá-lo do poço. 

José Barroso 

Nota: Publica-se o texto em versão integral, para que os leitores o possam ler no seu todo e não por partes, como aconteceu na primeira publicação. 
José Teodoro Prata