domingo, 10 de maio de 2015

Portugal

NORTE
O vale da ribeira das Lajes e a serra do Chico (e de tantos outros), 
vistos da Tapada da Dona Úrsula.

SUL 
 Seara em sobreiral, no Sobral do Campo, junto ao cruzamento para o Ninho do Açor.

Dizem os estudiosos que a Gardunha é a divisão natural e cultural do país. Quanto à natureza, é bem verdade, como mostram as imagens. Já relativamente à cultura, com o desaparecimento do mundo rural impôs-se uma nova dicotomia: litoral urbanizado/interior abandonado.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Profissional



Nesta Páscoa, lá revisitei mais uma vez a nossa Praça. Esta praça virtual é boa, mas não deixa de ser um sucedâneo e nada há de melhor que a realidade. O ângulo de visão aumenta exponencialmente a luz sem o filtro da poluição da grande cidade e a pureza do ar com os aromas dos campos em flor… nada que se lhe compare.
Depois o encontro (família e amigos) que nos provoca aquele calor na boca do estômago e nos faz chegar uma alegria imensa ao coração. Encontros felizes. Que também os há dos outros, de uma amargura e tristeza medonhas, simbolizados pelo encontro do Senhor com sua mãe e o amigo João, a caminho do Calvário, que o Pe. Jerónimo tão bem nos descreveu na Fonte Velha, na Sexta-Feira Santa e onde encontrei o Tolelas que seguramente não via há mais de trinta anos. Uma alegria das boas.
Num ápice, saltámos anos e anos e encontrámo-nos na inspeção, com os nossos vinte anos, e mais longe ainda na escola primária do edifício dos Paços do Concelho, em que o recreio era a nossa Praça. Espetáculo!!!
Qualquer coisa de mágico esta nossa capacidade de recordar, de revistar o passado, com uma nitidez extraordinária que parece estarmos lá. E não haja dúvida que, quanto mais avançamos no tempo, mais avança a tendência para lá voltar - é dos lugares aonde se torna, sistematicamente, como diria o JMT – até se chegar àquela idade em que nenhuma realidade se sobrepõe à memória e a conversa começa, cada vez mais, a ser cada vez menos.
Quando forem ao Lar, reparem nas pessoas que lá passaram a morar e verifiquem quantos é que ainda têm fome de conversa. É notória a perda da capacidade de sonharem o futuro. Só falam e sonham coisas do passado. A nossa amiga Libânia, pode seguramente dar-nos testemunho dessa realidade confrangedora.
Mau! É melhor mudar de assunto. Devo estar com algum ataque de melancolia, porque não era de nada disto que vos quero falar. O que quero dizer-vos é que sou uma pessoa cheia de sorte e, como tal, o meu cunhado, a pensar nas tradições, vai daí compra, no início do Outono, dois borregos para criar. Um para ele, outro para mim. Como o dele já estava tratado, tive eu que tratar do meu. Quem é que me aconselharam como matador? O Manel Tobias. Que é seguramente o melhor na arte.
Falei com ele e, como já tinha sido meu companheiro na fragata da azeitona de 1976/77, para o “João Potra”, que depois de patrão ficou meu amigo até à morte, que, quando podia, me arranjava umas costeletas de cabrito para o petisco e para quem o Manel trabalhou muitos anos, este não me podia dizer que não, mesmo tendo de ir ao cimo da serra a fazer o trabalhinho.
Pusemos a conversa em dia, enquanto lhe dava apoio no tratamento do bicho. Fiquei embasbacado com a destreza e a ferramentaria do Manel. Faca para sangrar, faca para abrir, compressor para fazer ar para separar a pele. Um verdadeiro artista e eu a lembrar-me da trabalheira que o meu pai tinha para esfolar um cabrito. Uma tarde de volta dele. Às vezes completamente às aranhas, com a carne a agarrar-se à pele, o polegar dorido de tanto escarafunchar e ele desesperado:
- Ó Chico, segura aí essa porra, que vem tudo agarrado.
A nossa sorte é que ninguém nos via, ali a aranhar, e já não havia choradela de Entrudo, mas que aquilo trabalhado dava uma grande paródia, disso não tenho dúvida nenhuma. A questão é que o Tó Manga, amigo da família, por termos sido vizinhos do Cimo de Vila durante anos e anos, prometia-lhe:
- Ó ti Jaquim, fique descansado que eu vou lá a matar-lhe o raio do cabrito.
Depois mais um copo aqui, mais um borreguito ali para matar e raramente aparecia, porque nestas alturas havia sempre muito que fazer…e a serra ainda fica longe.
E depois aquela mão certeira do Manel a abrir a cabeça para tirar a mioleira! Os golpes nas massas e nas mãos. Só visto, e confirma-se a fama. Mas o que mais me impressionou foi quando enfia num buraquito da pele a mangueira ligada ao compressor e o gajo a insuflar, a encher, a encher e eu cá para mim: querem lá ver que o Manel quer por o bicho a voar depois de morto? Ainda lhe deitei a mão a uma perna, com medo que o gajo levantasse voo e lembrei-me do Pigs on the wing dos Pink Floyd.
É a vida, como dizia o outro.


F. Barroso

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Caminhada na Gardunha


No domingo passado, o GEGA organizou uma caminhada na Gardunha, com saída e chegada ao Casal da Serra, e eu, como 80 ou 90% das pessoas que moram junto à Gardunha, não sonhava, nem imaginava a maravilha que ela esconde.
Descobri uma serra cheia de formas morfológicas simplesmente fantásticas. Eu que já vira as de Monsanto, estas não lhes ficam atrás, nem na beleza das formas, nem no tamanho das suas pedras.
São formas quase impossíveis de terem sido feitas pela Natureza, deixando ideia que o homem as moldou.
Dos abrigos naturais para os pastores da serra às formas de algumas rochas que mais pareciam apoios de pedras e aos animais esculpidos pela erosão do tempo ou pela própria formação da pedra.
  A serra deslumbrou-me não só pelas suas formas morfológicas, mas também com a sua vegetação tão própria: uma carqueja mais macia, mais miúda…
Foram 14km de um percurso que passaram à velocidade do vento, sem nos deixar cansados, tal a variedade do espetáculo que nos era oferecido a cada passo que dávamos serra acima.
As explicações dadas pelo técnico da Naturtejo, Carlos Neto de Carvalho, sobre a formação da serra e das pedras vieram ajudar-nos a compreender o porque das formas e da morfologia granítica da Gardunha.
A passagem pelo castro de São Vicente (Castelo Velho) que eu ainda não conhecia, teve em mim um impacto muito especial, como amante de Historia e da de São Vicente em particular.
Ao GEGA, o meu Bem-Haja!


 Adelino Costa

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A lenda do nosso Santiago

O Santiago todo flausino, com a roupa nova.

Dizem os antigos que em primeiro a capela do Santiago não era aqui; era lá em baixo nas lameiras; mas o santo vivia muito desgostoso porque aquele sítio não tinha grandes vistas e havia lá muitas formigas que lhe davam cabo dos pés. Por causa disso, sempre que podia, amontava-se no cavalo e subia pela encosta arriba, até ao cimo do cabeço, aonde tinha vistas mais largas.
Um dia, numa nessas saídas, deu com uma velhinha, que até diziam que era santa, e que lhe perguntou:
«O que é que vossemecê anda aqui a fazer, ó Santiago?»
E ele respondeu-lhe:
«Olá, ando aqui a espairecer, porque já estou muito desgostoso com a capela que me fizeram lá em baixo! Sem vista nenhumas e ainda por cima são tantas as formigas que ando desacorçoado de todo. Vê lá se me mandam fazer uma capela lá em cima, no cabeço, donde possa avistar os meus irmãos que estão no Sobral e no Barbaído e me possa ver livre de tanta formiga.»
«Ó meu santinho, o povo é tão pobre, aonde é que nós vamos arranjar dinheiro pra vos fazermos outra capela nova?»
«Olha, tu bem vês que não sou muito grande, por isso basta-me uma capelinha humilde e pequena como eu. Ainda pra mais há aqui tantos povos ao redor que podeis ajuntar-vos e mandais fazer a capela por todos».
A velhinha andou de terra em terra a contar as palavras do santo e toda a gente se uniu para ajudar a fazer a capela nova no cimo do cabeço. Ficou pequena e humilde, como Santiago pediu, mas ele ficou todo contente porque de lá podia avistar o São Brás e a Santa Cruz, os seus dois irmãos.
 A festa realiza-se sempre no 1.º de Maio e em cada ano é organizada por uma das quatro povoações mais próximas: a Partida, o Violeiro, o Mourelo e o Vale da Figueira.
 Este ano coube à Partida e houve festa rija quase como antigamente.
 
A capela, no cimo do cabeço, com sino e tudo, em dia de festa.

Dizem que, quem puser o chapéu do Santiago, fica livre de males da cabeça e mau-olhado.

A afinar os bombos.

 
Os bombos acompanhados pela concertina e pelo pífaro.

M. L. Ferreira