quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Mais biodiversidade


Há dez anos, após algum tempo sem gente a viver aqui, o meu quintal era um paraíso para todo o género de bicharada. Sempre que cá vinha passar uns dias era frequente cruzar-me com cobras, lagartos, ouriços, sapos, morcegos, para além de muitas espécie de pássaros e insetos.
Depois que me instalei por cá definitivamente, a maior parte das espécies foram desaparecendo. Até as andorinhas, que durante algum tempo ainda fizeram ninhos por baixo da varanda, nos dois últimos anos deixaram de aparecer.
Mas há sempre quem se aproveite, que a crise da habitação chega a todos, e um dos ninhos foi aproveitado por um casal de “Okupas” que choca pelo menos duas ninhadas por época.


Nesta nasceram três crias, mas na anterior tinha nascido cinco.


Durante o choco o pai pouco apareceu, mas depois, sempre atento e cauteloso, andou numa fona para alimentar os filhos, sempre de bico aberto à espera de comida.
 Restam ainda muitos pardais e alguns melros, que partilham comigo as cerejas e os figos e me alegram as manhãs.
Mas uma noite destas, nem queria acreditar: avistei um sapo a passear-se calmamente sobre a relva.


  
E uns dias depois avistei outro, bem mais velho, na horta. Fiquei à espreita e, ao fim dum bocado, já de papo cheio, vi-o “correr” a esconder-se no buraco de uma oliveira, ali perto.  
Estas alterações no meu quintal são uma gota de água no oceano, mas têm-me feito pensar em como a presença humana, só por si, pode causar desequilíbrios enormes na natureza e levar ao desaparecimento de muitas espécies animais. Mas as últimas aparições dão-me a esperança de ainda ver regressar alguns dos outros bichos que já por aqui andavam antes de mim, mas, inconscientemente, desalojei.
Pode ser também que ainda vejamos regressar os coelhos, os esquilos, as raposas e várias outras espécies que ainda há pouco tempo abundavam por cá, mas que estão em risco de desaparecer por efeito dos descuidos ou maldade dos humanos.

M. L. Ferreira

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Doutor Lino

Acabámos de perder um amigo, um lisboeta que adotou São Vicente da Beira como a sua terra. 
E nela cuidou bem do património herdado, tanto do arquitetónico como do natural.

José Teodoro Prata

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Serra da Estrela

https://www.mixcloud.com/RACAB/rubrica-hist%C3%B3ria-ao-minuto-18-09-2018/

José Teodoro Prata

Biodiversidade


O fogo lambeu tudo, dos altos à ribeira da Senhora da Orada. Temia que os esquilos não voltassem a roubar-me nozes e amêndoas. Felizmente eles voltaram, embora menos.
Há semanas andou um a dançar-me em frente ao carro, junto à ponte do Ramalho! Mas essa zona não ardeu.
Numa destas noites, alguém viu os javalis no Baloia, debaixo de uma macieira. Pareciam ovelhas, sobre as patas traseiras, a tentarem chegar às maçãs!

José Teodoro Prata

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Reportagem do litoral


Isto das cataratas tem que se lhe diga…além de me trazer à memória aquele diálogo invariavelmente igual, entre a minha mãe e a minha avó Santa, quando subia ao cimo da Serra do Tamanco para ver como andava a velha sogra e quebrar aquela solidão, pacífica, de não ter vizinhos por perto e de nem os precisar:
 - Então Ti Maria, como é que vossemecê anda? Ó Maria, cá vou indo. Sabes que a velhice, tudo nos traz, mas não é coisa boa… - respondia conformada.
Não podendo nós fugir a tão certeira e eficaz sentença, a verdade é que as cataratas começaram a atacar-me em força, pouco enxergando para além de meia dúzia de palmos à frente do nariz, dando azo a situações completamente inusitadas, como a que vos vou aqui contar.
Há uns anos atrás, descobri um prazer inimaginável: a praia de outono. A luminosidade de outubro e novembro, nada tem a ver com aquela luz metálica e agressiva do estio. Em setembro a vibração começa a decair e em outubro e novembro torna-se serena e doce. A água, devido à baixa amplitude térmica mantém-se um caldo até fins de novembro.
Sem vivalma por perto a praia torna-se o paraíso. O verde-mar a enrolar na areia dourada de onde parte uma estrada refulgente água-fora em direcção ao sol poente, que antes de se esconder se começa a armar em artista e lentamente vai pintando o céu, sobre o horizonte, de amarelos, vermelhos, laranja, negros, sangue e anil. Um deslumbramento que, naquela melancolia, nos leva a acreditar que pode bem haver um grande mago por trás de tudo isto. Porque tudo isto é demasiado belo e misterioso.
Condição sine qua non: não haver vento, nem demasiadas nuvens.
Para fugir ao vento, nos dias em que do Norte nos chega demasiado fresco nas desabrigadas praias da Rainha, Cabana do Pescador, do Rei… fui rumando a Sul, acabando por descobrir a bela praia da Fonte da Telha. Esta praia imensa, que se estende até à Lagoa de Albufeira foi-se revelando, a pouco-e-pouco, como uma praia de rara beleza (tirando a zona do casario desordenado e feio, por entre pinheiros e acácias, que um certo tipo de construção, consta que para um antigo hotel, lhe confere semelhanças com qualquer zona remota do México).
Mas a seguir ao casario a coisa muda completamente de figura. A falésia verdejante a debruçar-se sobre o areal de configuração, helicoidal larga, e a bruma do nascer dia, criam a ilusão de ao longe a falésia penetrar no mar. E depois, à maneira que se vai avançando, a vegetação no topo da falésia começa a rarear e desvenda maravilhas que as chuvas e os ventos foram esculpindo ao longo dos anos: pináculos e cúpulas de rara beleza, que talvez o translucido das cataratas me façam ver de forma, ainda, exageradamente mais maravilhosa.
Acontece que um dia destes, num dos meus passeios matinais por aquele areal imenso, onde já raramente se encontra vivalma, me pareceu ver ao longe o nosso amigo Baldaque. Pareceu-me, não só porque o físico era, mais coisa menos coisa, o dele, mas sobre tudo por causa daqueles óculos redondos, à António Damásio, ultima moda, que era tudo o que o homem tinha em cima.
Encontrava-se virado para o mar cristalino na zona em que as ondas mansas, naquele dia, vinham morrer. Tive a impressão que não deu pela minha presença e pensei: é hoje que vou ver a tal tatuagem secreta que ainda ninguém lhe conseguiu ver.
Estuguei o passo e quando estava a alguns metros dele, para meu espanto, flectiu de agilmente o corpo para a frente ficando com a cabeça junto aos joelhos e perfeitamente alinhado com o sol que se erguia sobre a falésia, parecendo-me que de forma disfarçada, queria que eu reparasse nela.
Pareceu-me realmente ver qualquer coisa, indistinta àquela distância, com a configuração de ave de asas abertas, ali junto ao cóccix: tatuagem, algum sinal ou pura imaginação? Aproximei-me o mais silenciosamente possível e lancei zombeteiramente:
- Como é que um cristão, tão zeloso que foi com missa diária, entrega a um estranho as próprias nalgas para uma brincadeira dessas?
Num ápice se endireitou, virou-se para mim (que não havia mais ninguém) com ar aparvalhado e num inglês, que bem podia ser americano, perguntou:
- What happened?
Fiz de conta que não era nada comigo e comecei a assobiar uma modinha que de repente me surgiu nos lábios e que o meu pai e o irmão Luis costumavam trautear quando a coisa não lhes corria a favor e afastei-me ligeiro. No entanto, aquela posição intrigou-me. Ali imóvel, de cabeça para baixo e alinhado com o astro rei…que raio quereria aquilo dizer?
 Depois de muito investigar em livros antigos, descobri que estaria a adorar do sol em posição Taoista. Pensei: o que se passará na cabeça desta gente para aderir a tão extravagantes filosofias?
…De maneiras que é assim.

FB

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Gostos...


Naquele tempo… melhor, no nosso tempo, contemporâneo, tecnológico; tudo é consentido, os fazedores das artes ou estilos são livres de criar.
Enquanto naquele tempo o artista se preocupava em fazer tal qual era a coisa que queria criar, na contemporaneidade a arte a meu ver é um bocado insipida para o meu gosto, nomeadamente no que toca à pintura, à música…
No que à pintura diz respeito “que respeito”; há uns anos andava em Belém de Lisboa admirando a monumentalidade que por aquelas bandas abunda. Mosteiro dos Jerónimos; Torre de Belém; monumento que nos recorda os descobrimentos; os célebres pastéis, por ai fora.
Em frente ao mosteiro encostado ao rio foi construído na época em que vivemos um edifício que não destoa nem desfeia, pelo contrário, embeleza, enriquece e dignifica os arquitectos da nossa praça. À medida que me aproximava do Centro Cultural ouvia uma bonita música tocada por alguém que sabia da poda com certeza. Aproximei-me, à minha frente um magote de pessoas, a maioria idosas, trajadas a rigor; elas com vestidos pretos cheios de lantejoulas. Eles; com um fatinho preto; o cheiro a naftalina imperava. Dançavam ao som do órgão de um simpático músico cabelo grisalho; tocava magistralmente as nossas melodias de sempre.
Estacionei um pouco as pernas ouvindo e observando aquelas pessoas que dançavam quem sabe, tirando a barriga de misérias “talvez por não balharem no tempo devido”.
Por ali fiquei alguns minutos mais, a família escutando o órgão do Shegundo Galarza.
Numa praça contígua, uma árvore de plástico ou de outra matéria, carregadinha de garrafas verdes, sem folhagem, em frente um grande portal com um reclame que dizia: Exposição Berardo. Entrámos, grandes espaços ocupados pela mostra de arte do nosso tempo.
Gosto mais da arte daquele tempo, mas respeito a arte do nosso tempo. Rabiscos para aqui, vidros partidos aos bocadinhos para ali, uma tela completamente nua, telas cobertas de pinceladas matizadas com várias cores…
Eu sou suspeito, mas comigo iam pessoas deste tempo, vi-os torcer o nariz, não era o único “bota-de-elástico”.
Quando saímos, a tarde já ia velha, Shegundo Galarza continuava a dar música aos dançarinos. Naquele tempo a autarquia alfacinha aos domingos à tarde organizava tardes dançantes.
Seguimos o nosso destino.
Aqui para nós que ninguém nos ouve, não é necessário ir a Lisboa ver exposição tão valiosa; Em Castelo Branco, a autarquia também construiu um Centro Contemporâneo onde se exibe arte do nosso tempo.
Querem saber a verdade! Gosto mais da arte do tempo da Josefa de Óbidos; Miguel Ângelo; Rafael; Da Vinci; Nuno Gonçalves; Vasco Fernandes; João de Ruão…
Mas, como o mundo avança cada dia um bocadinho, respeito.
No parque da cidade prantaram umas escadas de ferro que comunicam com o passadiço de granito; junto ao antigo edifício do comando do quartel de Cavalaria 8, existe um “monumento”…
Em Lagos existe uma estátua do rei D. Sebastião que não se parece com nada.
No Terreiro do Paço em Lisboa quem não pára, para olhar a estátua equestre! E a estátua equestre de D. João IV que se encontra no Terreiro do Paço de Vila Viçosa? E o monumento aos Descobrimentos construído no nosso tempo, que se situa em Belém de Lisboa!…
Abençoadas mãos; que nunca lhes doam, como dizia a minha mãe.
E a música! Os tímpanos ficam “danados” quando escutam músicas, sons sem nexo, sem sumo, barulhentas, sem alma.
Como se sente bem o espírito quando escuta uma melodia que acalma, relaxa; o artista que a canta e os músicos que a tocam conseguem agarrar os espectadores que não se enfadam
A Verdadeira arte “música, escultura, pintura, literatura”… será sempre lembrada, admirada; a outra não passa de uma moda passageira, fugaz, morre a geração, desaparece esta.
Por aqui me fico.

J.M.S