sábado, 1 de janeiro de 2011

2.º Aniversário

E já vão dois, dois anos de vida Dos Enxidros.
Este foi o da consolidação do blogue, pelo menos a nível do seu autor, pois tornaram-se-me mais claros os aspectos em que valia a pena apostar e os que devia abandonar.
Os leitores aumentaram de número, sobretudo de fora da freguesia e até do país, embora dentro também tenha havido uma maior difusão. Em cada semana, mais de 100 pessoas consultam o blogue. O número de comentários publicados é enganador, pois muitos leitores comunicam comigo apenas através do meu endereço electrónico pessoal.
Fazer este “jornal semanal” on-line tornou-se-me quase uma necessidade viciante, embora nem sempre tivesse disponibilidade de tempo e espírito, para publicar trabalhos com o nível de qualidade que se impõe.
Para este novo ano, deixo a garantia da continuação deste contacto semanal convosco e o pedido de uma ainda maior colaboração da vossa parte.
Com os votos de bom Ano Novo, deixo-vos um trecho de uma história minúscula de Eça de Queirós, chamada “A Catástrofe”. Tem mais de cem anos, mas uma enorme actualidade, neste tempo de crise, agravada pelos especuladores mundiais e ampliada por uma comunicação social medíocre.
A mensagem, que só parcialmente pode ser captada neste trecho, aposta em cada português como forma de resolver os problemas do país. A mudança tem de iniciar-se em cada um de nós, para que o país melhore e as elites dos poderes sejam mais competentes e menos corruptas. E assim se concretizarão os votos de bom Ano Novo!

«Os Governos! Podiam ter criado, é certo, mais artilharia, mais ambulâncias; mas o que eles não podiam criar era uma alma enérgica ao País! Tínhamos caído numa indiferença, num cepticismo imbecil, num desdém de toda a ideia, numa repugnância de todo o esforço, numa anulação de toda a vontade... Estávamos caquécticos! O Governo, a Constituição, a própria Carta tão escarnecida, dera-nos tudo o que nos podia dar: uma liberdade ampla. Era ao abrigo dessa liberdade que a Pátria, a massa dos portugueses tinha o dever de tornar o seu País próspero, vivo, forte, digno da independência. O Governo! O País esperava dele aquilo que devia tirar de si mesmo, pedindo ao Governo que fizesse tudo o que lhe competia a ele mesmo fazer!... Queria que o Governo lhe arroteasse as terras, que o Governo criasse a sua indústria, que o Governo escrevesse os seus livros, que o Governo alimentasse os seus filhos, que o Governo erguesse os seus edifícios, que o Governo lhe desse a ideia do seu Deus!
Sempre o Governo! O Governo devia ser o agricultor, o industrial, o comerciante, o filósofo, o sacerdote, o pintor, o arquitecto – tudo! Quando um país abdica assim nas mãos dum governo toda a sua iniciativa, e cruza os braços esperando que a civilização lhe cai feita das secretarias, como a luz lhe vem do Sol, esse país está mal: as almas perdem o vigor, os braços perdem o hábito do trabalho, a consciência perde a regra, o cérebro perde a acção. E como o governo lá está para fazer tudo – o país estira-se ao sol e acomoda-se para dormir. Mas, quando acorda – é como nós acordámos com uma sentinela estrangeira à porta do Arsenal!»

Nota: Para ler a história, na íntegra, clicar no título do livro, em cima.

Um comentário:

Valentina disse...

Olá boa noite, tenho sido uma leitora assídua do blog, e gostaria de lhe dizer José Prata que gosto imenso de ler as suas cronicas. Não deixo passar um domingo sem ir ao "dos enchidros".bem haja por este cantinho e por tão bem falar das tradições da nossa vila. Cumprimentos Valentina