domingo, 11 de setembro de 2011

No nosso falar: chapado

A Margarida Gramunha regressou às origens e ouviu a expressão: “Já me chaparam.” (Ver comentário a “O nosso falar: relouquedo”).
Eu também já não a ouvia há muito tempo, mas costumava usá-la regularmente, sobretudo na forma: “Estou chapado.”
Chapar vem de chapa, uma peça de metal, com a forma achatada (espalmada). O verbo chapar significa colocar uma chapa em algo. Por consequência, ser chapado quer dizer receber uma chapa, ser marcado com ela.
Estou chapado” ou “Já me chaparam” querem dizer que o sujeito foi marcado, sofreu ou vai sofrer uma penalização, à qual sente que já não pode fugir. Mas é uma pena suave, embora trabalhosa. Em todo o caso, está lixado!
Por exemplo, tem de se escolher uma pessoa para uma tarefa ou cargo que ninguém ambiciona. Antes da votação, alguém mobilizou os outros para a escolha recair sobre um deles. Este está chapado, vai ser designado, não tem escapatória. Aqui usa-se chapado com sentido de marcado.
Ou um grupo de pessoas combinou e repartiu tarefas. No final, descobre-se que alguém não cumpriu a sua parte e outro terá de ir fazer o que falta. Esse está chapado. Por exemplo, um pastor emprestou um chibo para cobrir as cabras de outro. Combinaram a devolução do chibo passada uma semana. Mas já passou o prazo e o chibo está a fazer falta no rebanho. A solução é o pastor, no final do dia, ir buscar o chibo ao rebanho do outro, em vez de ir descansar. Está chapado. (Este exemplo é do tempo em que não havia telemóveis e de um mundo rural que já quase desapareceu.)
Desconheço a origem do significado que damos a chapar e chapado. A única explicação que encontro é ter origem na recruta militar, usada até ao século XIX. Todos os homens dos 18 aos 60 anos pertenciam a um corpo militar local chamado Ordenanças. Pouco faziam, além de algum treino e certas tarefas. Mas em caso de guerra, cada concelho enviava ao comando provincial um batalhão de ordenanças, formando-se assim os Regimentos de Milícias. Mas isto esporadicamente e por pouco tempo. O pior é que os oficiais das Ordenanças tinham de escolher e enviar, regularmente, certo número de rapazes para fazerem parte do exército de primeira linha, o exército nacional permanente. Era uma grande reviravolta na vida destes jovens, que partiam para longe, a pé ou a cavalo, por alguns anos. Muitos andavam fugidos das autoridades durante muito tempo, pois recusavam-se a deixar a casa familiar.
Eram chapados, isto é, o seu nome fora tirado para irem cumprir serviço militar longe de casa (no nosso caso, na Fortaleza de Almeida). Talvez o seu nome fosse inscrito numa placa de metal.
Esta é apenas uma hipótese de explicação. Todas as achegas são bem-vindas.

Um comentário:

Anônimo disse...

No Tortosendo era mais "Já 'stás tchapado" ou "já levaste uma tchapadela". O Ernesto Hipólito que o diga.

JMTeodoro