domingo, 20 de outubro de 2013

Gafanhotos ou grilos?

O admirável mundo novo chegou, não em todas as áreas, claro está, mas no que respeita à informação e comunicação é mais que verdade.
Esta história dos gafanhotos, não me passou ao lado. Tive dela conhecimento na nossa Praça virtual que é o blogue dos enxidros e há dois ou três anos fui à Senhora da Orada numa altura que estava deles super povoada. Mesmo a escolher onde por os pés era impossível não pisar uns quantos. E é claro que um gajo criado na serra, não fica insensível ao ver uns bicharocos tão estranhos, que nunca vira ao longo de todos estes anos.




Este ano, o meu sobrinho Bernardo tirou umas fotos magníficas para a minha investigação e que aqui partilho convosco (a do azevinho está já publicada nos enxidros, mas usei-a para mostrar a dimensão do problema) e vai daí, quem não sabe pergunta, se quiser ficar a saber mais do que sabe.
Através dum compadre meu que é investigador no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, a questão foi colocada a um seu colega Professor nos seguintes termos:

As fotos anexas são de uma espécie desconhecida na região, que começou a surgir há meia dúzia de anos e que agora surge ao milhares (milhões) no final da primavera, princípio do verão, na vertente sul da serra da Gardunha, mais concretamente em S. Vicente da Beira, concelho de Castelo Branco.
Há um grande dilema sobre se serão gafanhotos ou grilos, mas são realmente bizarros e não muito parecidos com qualquer das espécies referidas, daí o pedido de ajuda…”

A resposta do especialista veio rápida:

“Trata-se de um tetigonídeo do género Ephippiger. As duas primeiras fotos são de uma fêmea; terceira, de machos. São insectos mais próximos dos grilos (pertencem à mesma subordem, Ensifera) do que dos verdadeiros gafanhotos (pertencem à subordem Caelifera). Em algumas regiões da Beira-alta, chamam-lhes cigarras, mas obviamente estão muito distantes das verdadeiras cigarras que pertencem uma ordem diferente (Hemiptera).
 Já tinha tido notícia em anos anteriores de situações semelhantes, no Norte, não sei se da mesma espécie, uma vez que nunca recebemos exemplares para identificar.”

É obvio que uma resposta destas é só a indicação de uma janela para quem a quiser abrir. E no admirável mundo novo em que vivemos fiz umas perguntas ao dr. Google, que me mandou falar com a dra. Wikipédia (um casal fascinante), e qual não é o meu espanto quando lhes pergunto se já tinham visto algum desses bicharocos que dão pelo nome de Ephippiger e eles me mostraram logo um, que parece que tinham ido buscar à Vila.
Depois veio-me à lembrança o apelo da FAO, Agência das Nações Unidas responsável pela agricultura, a encorajar o consumo de insetos em larga escala para combater o problema da escassez de alimentos, até porque cerca de dois biliões de pessoas no planeta, já têm nos insetos uma base importante da sua alimentação.
Então, surgiu-me a ideia de que talvez seja possível criar uma fileira de negócio do gafanhoto da Gardunha, tipo pastel de Belém, como sugeriu o anterior Ministro da Economia e ganharmos a nossa independência económica. Para isso, na próxima primavera, temos que apanhar uns quantos para eu pedir ao dr. Francisco George, diretor-geral da Saúde, que os mande analisar para apurar se são comestíveis.
Entretanto, estou já a organizar um livro de receitas chinesas, tailandesas e vietnamitas, das mais saborosas que há (segundo eles), para podermos expandir o negócio, para a Europa, África e Ásia.
É um negócio que não precisa de investimentos vultuosos ao princípio. Matéria-prima há com fartura. Umas frigideiras bem grandes, (como as das filhós). Azeite do Sobral, virgem extra. Alecrim, orégãos, malaguetas e outras especiarias… Já me estou a lamber.
Vou falar com o meu querido amigo João Passarasso, que é um rapaz com dinheiro, com muito espaço no quintal da sua nova casa e sobretudo com uma bela visão de futuro.
Estou certo que poderá tornar-se um grande investidor, grande consumidor e um grande divulgador por terras de França.

Não se riam. Isto é paródia, mas não é inverosímil. O futuro o dirá…

Bom apetite a todos. Por enquanto, claro, só para as vossas investigações…

outubro de 2013.

Francisco Barroso

10 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Amigo Francisco.

Depois de ter analizado e mandado analizar a técnicos alemães este teu projecto cheguei a várias conclusões que passo a citar:
A produção é sazonal ( Junho a Agosto ); logo, terás que adquirir cinco hectares de estufas para não haver quebra de produto no mercado.
Em caso de excesso de produção poderás optar pela conserva em lata. Por ser um produto de última geração é lógico que as embalagens sejam de abertura fácil.
Para te reafirmar a minha amizade desde já me disponibilizo a fornecer gratuitamente os caralhetos para o respectivo tempero.

Teu sempre amigo

Ernesto Hipólito





Anônimo disse...

O meu primo Chico é um vendedor de jogo (como ele diz). Os que o conhecem sabem que é um filósofo que fala da realidade do Homem e da sua condição, tema sobre o qual tem vindo a escrever. É também um observador da vida e da Natureza. A prova é esta.
Falta agora alguém tentar explicar as razões da mutação destas espécies. E aqui está a tal janela aberta para quem se queira aventurar. Estudar a nossa fauna e a nossa flora para melhor a preservar. Não será essa uma tarefa importante e útil? Com certeza. O GEGA (Grupo de Estudos e Defesa do Património Cultural e Natural da Gardunha), como sede em S. Vicente da Beira, teria aqui uma palavra a dizer.

Zé Barroso

Anônimo disse...

Francisco, se o projecto for para a frente, estou cá de colaborar. Não com o capital, como o João Passarasso, nem os caralhetos como o Ernesto, mas pode ser com trabalho duro, na apanha da matéria prima.
O negócio é capaz de ser viável… É que na época alta de ocupação das encostas da Gardunha pelos ditos cujos, passou por aqui o nosso Fernando com um garrafão de cinco litros cheio deles. Disse que era para os matar (mais um ato de civismo a juntar a outros que lhe conhecemos), mas se os despejou por aí, alargou consideravelmente a área de produção…
Bora lá!

M.L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Dos grilos nem falo, ando farto deles.
Mas caralheto... Que palavra!
Há dias, à refeição, surgiram as palavras Chanfana, esmoer... Outras que tais!

Anônimo disse...

Quanto aos caralhetos, era assim que ouvia os meus avós e os meus pais chamarem às malaguetas ou piripiris. Não ouvia o termo há muito tempo, mas ainda bem que o Ernesto lhe deu vida, apesar de parecer estranho…
Hoje também fui a casa duma tia minha que estava a sprugar maçãs para cozer. E já agora, não sei se sabem, mas aqui para a charneca chamamos Rebardeiras a Ribeira de Eiras. Convenhamos, bem mais fácil de dizer!...

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Quando falei em vender jogo referia-me a esta parte do negócio dos gafanhotos. O outro também falava na exportação de 'charters' de pastéis de nata...E o Ernesto decidiu vir condimentar a conversa! Tudo na brinca, mas o que é certo é que o S. João tinha que os comer quando pregava pelo deserto! A FAO sabe o que diz!
Agora, o Zé Teodoro é que me parece um pouco desatualizado do nosso dicionário. Mas a Libânia já lhe explicou. O que no resto do país é malagueta, em S. Vicente pode ser caralheto. Alguém quer tentar saber a origem deste termo?
Finalmente, moro na freguesia de Eiras, Coimbra, que ainda abrange parte da avenida Fernão de Magalhães, a estação principal de caminho de ferro e se estende para norte da cidade. E tem uma bonita ribeira! Já tinha ouvido falar em Rebardeiras; não fazia ideia que se referia a uma terra chamada Ribeira de Eiras!
Uma caixinha de surpresas este blogue!

Zé Barroso

Anônimo disse...

Soube-me a pútegas vir aqui à praça e constatar que os meus amigos continuam generosos e sonhadores.
agradeço especialmente ao Ernesto (os caralhetos) e à Libánia a disponibilidade para integrarem o projeto.
Não se esqueçam que o nosso destino é a felicidade e que somos nós que temos de a construir com pensamentos e ações.

E.H. disse...

Num segundo comentário ( que se perdeu )sobre os gafagrilos do Francisco eu explicava que o emprego daquele termo para as malaguetas não fora feito de ânimo leve.
Quis em primeiro lugar que o nosso Zé Teodoro (que adora palavras esquisitas)se deliciasse com mais uma.Está visto que não consegui!
Em segundo lugar devo confessar que o meu lado maligno me levou a aplicar aquela palavra para ver qual era a reacção do Zé ( dono do blog ) chegando a pensar (velhaco) que ele não a iria aplicar.
Como já devem ter visto neste comentário sou muito capaz de não escrever a palavra caralheto

Ernesto Hipólito

José Teodoro Prata disse...

Mas eu lambuzei-me com o caralheto. O problema é que ando à rasca com tanto trabalho e só tive tempo para fazer aquele comentário insípido, que ninguém percebeu.
O que vale são os muitos colaboradores que vai tendo o nosso (já só formalmente é que é só meu e talvez por pouco tempo) blogue.
Um abraço para todos.

Anônimo disse...

Os caralhetos também eram usados para esfregar na boca dos miúdos quando diziam asneiras, para os castigar.
Também fui contemplada e fiquei com a boca a assar, não sei se foi algum irmão ou irmã que me fez isso, pois a minha mãe nunca conseguiu, diz ela, que eu parasse de dizer asneiras.