sábado, 11 de agosto de 2018

Estar onde não estou



Encontro-me na praça, passa a multidão
mas estou só
deambulo para este ou aquele lado
ninguém me presta atenção
Sinto-me sufocado
gestos, sorrisos e eu sentado
só; grande é minha solidão

As gentes andam passo apressado
pego no megafone e gesticulando
falo para as pessoas que vão passando
estou aqui, qual miasma pasmado
passante olha com desdém mofando
carros rolam, buzinam e vão andando
Tanto movimento, mas estou só

Que saudades da minha terra
não há correrias, nem multidão
ouço as avezinhas, piu, piu…linda canção
A brisa sussurrante e o verdor da serra
água cristalina, pura, corre em cachão
o rebanho pasta no prado e ladra o cão
Quem me dera lá estar… quem me dera

À noitinha ao toque das trindades
as chaminés fumegando
com este ou aquele vou falando
ritual de todas as tardes
O pai-nosso, vou rezando
as pessoas à fonte vão chegando
convivem, falam…que saudades

Zé da Villa

3 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Dá cá a mão, Zé!
E o pior é que já nem este mês de agosto, com a terra cheia de gente, chega para compensar o esvaziamento do resto do ano: por um lado porque já mal conheço a maior parte dos filhos dos da minha geração, e por outro porque a maior parte já não fala a nossa língua, que é aquilo que nos une. Percebo que assim seja, mas nem eles sabem o que perdem…

José Teodoro Prata disse...

Tanta saudade, que seja apenas poética, pois o poeta é um fingidor, já dizia o outro, embora ele fingisse a realidade, que espero não seja o teu caso!

medronheira disse...

Pareces o António Nobre óh Zé. Não deixes dar-te o pasmo, agora, que estou quase aí e preciso de ti. Espero que estejas a figir como suspeita o ZT.
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