quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Premonição

 No seu tempo, foi um grande jornal, o Pelourinho! Durante os anos em que foi publicado serviu de aconchego para os muitos sanvicentinos espalhados pelo mundo, levando-lhes notícia do que ia acontecendo nas terras de cada um (todos os números tinham notícias das várias povoações da freguesia, o que é admirável).

Atualmente, penso, é um documento importante para fazermos a História, em variadas dimensões, da nossa terra.

O artigo que aqui deixo foi publicado em setembro de 1960 (número 2 do Pelourinho), e, entre outras coisas também importantes, dá-nos conta do que era a pobreza, naquele tempo, em São Vicente: 75 crianças pobres recorriam ao “sótão da caridade” para terem uma refeição de pão com sopa ou leite.

O artigo não é claro sobre se o número se referia só ao mês das férias, ou à média anual; de qualquer forma é um número muito grande, o que, já naquele tempo, não augurava nada de bom.

Pelos vistos nem o Senhor Santo Cristo nos pode socorrer…  

 

M. L. Ferreira

4 comentários:

Anônimo disse...

O Pelourinho e, certamente, estas iniciativas seriam do Padre Sílvio, um homem muito à frente na nossa terra naquele tempo, atentas as condições de que dispunha. Talvez por isso lhe tivessem feito a folha! Na altura (1960) eu tinha 8 anos e estou confuso porque não sei se este "sótão da caridade" é o mesmo que a "cantina escolar" que, segundo parece que li (conf. o Prof. Florentino Beirão), haveria participação do Estado. Estarei a fazer uma grande confusão? Se era a cantina escolar eu também lá ia comer e tomar o óleo de fígado de bacalhau. Mas, apesar de ser uma forte hipótese os ricos da terra contribuirem (como se prova pela notícia), não creio que isso pudesse ser uma ajuda permanente. Fiquei admirado de a Mariana, filha do Robles Monteiro e da Amélia Rey Colaço ter contribuído para esta iniciativa! Eles que nunca passaram grande cartão à vila. Portanto, o Estado e, quiçá, a Caixa Escolar deveriam contribuir.
Em todo o caso, este era um tempo em que o que se fazia no campo da intervenção social era tudo à base da ideia assistencialista e não do Estado Social. E ainda há gente a votar em partidos como a Inicitiva Liberal e o Chega. Deixem-nos para lá ir, deixem...
Abraços, hã!
José Barroso

José Teodoro Prata disse...

De realçar o donativo de Amélia Rey Colaço, o pai faleceu em 1948 e a doação da filha é de 1960. Cem mil réis era uma pequena fortuna na época!
Quanto à "confusão das cantinas", uma terá dado origem à outra e penso também que com o apoio do Estado, certamente muito diminuto.

M. L. Ferreira disse...

Perguntei à Menina Zezita, que por altura deste artigo já trabalhava na escola, se se lembrava de haver outro sítio onde os alunos iam comer, e ela disse que não, que só havia a cantina. É verdade que, a esta distância, pode haver algum lapso de memória, mas, ainda assim, não seria apenas uma cantina escolar, pois estava aberta mesmo nos meses de férias (nada de mais, quando ainda agora ouvimos notícias de cantinas escolares que funcionam o ano inteiro para assegurarem uma refeição diária a muitas crianças).
Não consegui compreender como é que eram financiadas as despesas da cantina dos nossos tempos de alunos (também lá ia almoçar muitas vezes e obrigada tomar o tão odiado óleo de fígado de bacalhau), mas, para além de outros fundos, havia muitos “benfeitores” particulares (o Pelourinho publicava regularmente o nome das pessoas que doavam dinheiro ou géneros para a cantina).
Quanto ao facto da Mariana Rey Colaço ter doado 100 escudos, penso que terá sido porque ela veio a São Vicente por essa altura, já depois da morte do marido. É verdade que 100 escudos era muito dinheiro, naquele tempo! Vá lá a gente fazer contas… Já nem para um carioca de limão!


Anônimo disse...

Creio que sabemos pouco sobre a relação de Robles Monteiro, Amélia Rey Colaço e Mariana Rey Monteiro com SVB. Como se vê.
Tenho para mim que há muitas ideias feitas e histórias mal contadas.
A ver vamos.
JMT