quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Estou de volta

Andei por fora, não demasiado tempo, mas o suficiente para me desligar. Por lá apagou-se-me o telemóvel e não tinha comigo nem me lembrava do código para o voltar a ligar. Uma sorte! Li o Grande Sertão: Veredas, do João Guimarães Rosa, um livro apaixonante mas difícil, pois está escrito na linguagem do sertão brasileiro.

Ainda por cima estou a gozar os primeiros dias da minha reforma e supreendentemente, até para mim, não me apetece fazer rigorosamente nada. Eu que, segundo me dizem, ando sempre a correr.

A exceção é a agricultura, mas tenho de ir com calma, pois fui operado a uma hérnia há meses e tenho uma tendinite de um enorme trambolhão que dei em abril.

Já semeei os nabos nos Cebolais e fui ver como paravam as modas lá pelo Ribeiro Dom Bento. As abelhas estão catitas, mas as figueiras cheias de figos podres nos ramos e no chão. Valeram-me as passas que a São e o Cassiano apanharam antes de começar a chover. A macieira grande do lameiro tinha as maçãs todas no chão, podres, uma pena. Surpreendentemente, colhi boas uvas de mesa, o que não era costume, pois um texugo encarregava-se delas todos os anos. Fiquei triste por, eventualmente, ter perdido esse amigo.

Passei pela Tapada e bebi um copo com o João Candeias, que andava nos preparativos para a vindima. Nem eu nem ele nos lembrávamos de um início de setembro tão chuvoso.

Ando pr'aqui a matutar num projeto que pode vir a ser interessante. Darei notícias dele, em breve.

José Teodoro Prata

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois...
Na reforma, parece que nos falta o tempo! O Carlos Jeová dizia-me há uns anos: "Agora que estou reformado, não tenho tempo para nada."
O caso é que ele depois de se aposentar, ainda se enganou e arranjou outro cachopito (que deve ter uns 3 anos) e adotou cerca de 40 cabras. Na situação dele, a coisa explica-se; no nosso, parece que nem tanto. Mas o tio João Ramalho (Broa), também tinha sempre tanto que fazer, que só passava na praça para ir fazer a barba no Zé Fiambre, no sábado, à meia noite! De repente, deixou de ter que fazer nos seus Canavéis e não passou mais na praça. A razão foi simples: morreu! Somos todos da mesma massa. Portanto, calma.
Mas quanto à agricultura pós-reforma podes tirar alguns conselhos com o Chico Alves Barroso (CAB) e com o Ernesto Hipólito que já têm alguma experiência.
Porém, como diz o CAB: "Nós, na reforma, mal nos levantamos, já temos o dia ganho"!
E é verdade.
Agora imagina o teu avô e o meu avô, já com mais de 80 anos, que tinham que se levantar todos os dias a pensar que, se queriam comer batatas, feijões, couves, etc, tinham que as semear!
A nossa infância foi má. Mas, para eles, a vida foi toda má!
Bom regresso, Zé.
Abraços, hã!

M. L. Ferreira disse...

Bem vindo! Já tínhamos saudades destes “encontros”.
Para quem diz que não lhe apetece fazer rigorosamente nada, pelos vistos não tem parado.
É verdade que o contacto com a terra, apesar de algumas desilusões, é um bom remédio para a nostalgia que o quebrar de certas rotinas nos deixa. O final das férias com as netinhas também não deve ter ajudado ao regresso, mas o tempo corre tão veloz que, não tarda, está aí o Natal.
Estou (penso que estaremos todos) muito curiosa quanto ao projeto que aí vem.


M. L. Ferreira disse...

A propósito deste texto, lembrei-me de outro que li há tempos no blogue “Teatro Anatómico”, que começa assim: “Sou hoje um caçador de achadouros de infância”, escreveu Manuel de Barros. “ Vou meio dementado e de enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos”.
Para muitos de nós, que nos criámos a mexer na terra e andámos por outros caminhos, não tenho dúvidas de que este apego que mantemos é mesmo a procura de bocadinhos de infância que fazemos todos os dias; digo eu…

José Teodoro Prata disse...

Giro e certeiro, este texto do Manuel de Barros.